sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Origem do Estado.

O sociòlogo me diz: " Nòs serìamos tentados de explicar toda a organização social pela necessidade de comer e de se vestir, o Econômico dominando e explicando então todo o resto, mas é possìvel que a necessidade de organização seja anterior à necessidade de comer. Nòs conhecemos povos felizes que não têm nenhuma necessidade de vestimentas e colhem o alimento deles estendendo a mão; mas eles têm reis, padres, instituições, leis, uma polìcia; eu concluo que o homem é cidadão por natureza, e que ele gosta da administração por ela mesma.- Eu concluo, eu lhe disse, outra coisa, é que o Econômico não é a primeira necessidade. O sono é bem mais tirânico que a fome. Nòs concebemos um estado onde o homem se alimentaria sem dificuldades; mas nada o dispensarà de dormir; tão forte e tão audacioso que ele seja, ele serà sem percepções, e por conseguinte sem defesa, durante o terço de sua vida mais ou menos. Então é provàvel que suas primeiras inquietudes lhe vieram dessa necessidade; ele organizou o sono e a vigilância: alguns montaram a guarda enquanto os outros dormiam; tal foi o primeiro esboço da cidade. A cidade foi militar antes de ser econômica. Esses selvagens de quem você fala, tinham que se defender contra seus vizinhos, contra os animais ferozes, contra as cobras. Eu creio que a Sociedade é filha do medo, e não da fome. Melhor ainda, eu diria que o primeiro efeito da fome deve ter sido de espalhar os homens em vez de os reunirem, todos indo procurar seu alimento justamente nas regiões menos exploradas. Mas, enquanto o desejo os espalhava, o medo os reunia. De manhã, eles sentiam a fome e se tornavam anarquistas. Mas de noite eles sentiam a fadiga e o medo, e eles amavam as leis.


Assim, como você gosta de desfazer o tecido social afim de compreender como ele é feito, não esqueça que a relação "militar" é o suporte de todas as outras, e ela é como a base que mantem a tapisserie.


- Bem, ele disse. Nòs arrumaremos as necessidades na ordem seguinte: a necessidade de ser protegido ou de dormir em paz, em seguida a necessidade de comer, e enfim a necessidade de possuir, que é apenas a necessidade de comer na imaginação antes de sentir a fome ?


- Eu não sei, lhe respondi, se você tira do medo todas as virtudes sociais que ele encerra. O sono é o pai dos vigilantes e das forças armadas; ele é o pai dos sonhos também; disso um outro medo, o medo dos mortos e dos fantasmas, de onde saiu as religiões. O soldado afastava os animais ferozes, e o padre afastava os espìritos. Uma caserna e um templo, tais foram as bases da sociedade primitiva. Foi bem mais tarde que a màquina e a usina terminaram a obra.


- E a necessidade de procriar, onde a colocaremos ?


- Eu a colocaria, eu lhe disse, ao lado do Econômico, entre as necessidades antisociais. Pois todas duas armam o homem contra o homem. Mas o sono é um rei ainda mais poderoso. Nòs elogiamos o sol, mas nòs tememos a noite. Eis porque a trompa dos pastores e a sineta dos rebanhos fala tão forte ao nosso coração, quando o dia vai embora. O noite, "rainha das cidades".



- Alain - Propos sur les pouvoirs - Folio essais.

Nenhum comentário: