terça-feira, 28 de agosto de 2007

Conversando com um santo

Um dia, passeando na floresta, eu encontrei um santo; confesso que foi uma grande surpresa para mim, nunca pensei encontrar um dia, ainda por cima em uma floresta, um santo.Fiquei emocionada, não sabia se ria ou chorava, se reclamava ou rezava....puxa! quanta emoção !
Emoção e surpresa maior de ver que o santo não queria ser santo, vê se pode?
Um santo de verdade que não quer ser santo !
Ele ficou chateado comigo no começo e até constrangido, olhou sério para mim e disse-me com sincera compaixão :
- Mulher, me deixa em paz !
Sou santo sem querer e por acaso. Essa benção eu não mereço.
- Como? Isso é maneira de um santo falar ?
E ele respondeu irritado :
- Como não ? Isso é maneira de rezar ?
E foi nesse exato momento que as coisas se complicaram no céu e na terra...
Fiquei envergonhada, emocionada, sem saber o que pensar, sempre achei difìcil pensar nas coisas santas e agora na frente de um santo não acho mais nada, estou aflita e perdida...
.Olhei para o céu e disse :
- Deus meu pai, que santo entranho é esse?
Ele, que também parecia estar aflito e perdido, olhou também para o céu e disse:
-Deus meu pai, essa eu não merecia !
- Seu santo, por favor, serà que podemos conversar ?
- Conversar o quê ? aqui é lugar de repouso e meditação
- Concordo plenamente com o senhor, aliàs vim aqui pra isso, mais não entendo a irritação do senhor, afinal, todo mundo quer ser santo, ser poderoso, curar os doentes, ser imortal, venerado e adorado por todos, e o senhor fica chateado com isso ?
- Mais claro, cansei de sò me procurarem para pedir favor, quero isso e aquilo, e não sei mais o quê.... e a caridade ? a compaixão ? a solidariedade ? o amor ? o perdão ? ninguém se lembra disso ? veja quanta miséria, quanta injustiça, quanto egoismo, quantas crianças sofrendo e morrendo de fome, quantas guerras mesquinhas, covardes....
- Mais jà que o senhor é santo, porquê não faz tudo isso acabar ? afinal, trabalho de santo é fazer milagre ! ?
- Minha filha, milagre é viver....amar....perdoar....!
-È difìcil para mim ver essas coisas como milagre.....
-Eu não falei ? bem que eu te disse, conversar pra quê ? nessa terra sò tem louco, e louco estou ficando....não aguento mais ser santo !
- Essa eu não merecia....não merecia mesmo.......!!!

A eloquëncia

A eloqüencia é uma arte de dizer as coisas de tal maneira : 1° que aqueles a quem nòs falamos possam escuta-las sem dificuldade e com prazer; que eles se interessem a elas, de maneira tal que o amor-pròprio os leve naturalmente a fazer uma reflexão.
Ela consiste então em uma correspondência que nòs nos esforçamos de estabelecer entre o espìrito e o coração daqueles a quem nòs falamos de um lado, e do outro os pensamentos e as expressões das quais nòs nos servimos; o que supõe que nòs teriamos estudado muito bem o coração do homem para saber todos os sentimentos secretos, e para encontrar em seguida as justas proporções do discurso que nòs queremos acordar a esses sentimentos.
È preciso se colocar no lugar daqueles que devem nos escutar, e fazer ensaio no seu pròprio coração do tom que nòs damos a seu discurso, para ver se um é feito para o outro, e se nòs podemos nos assegurar que o auditor serà como forçado de se render.
È preciso encerrar-se, o màximo que for possìvel, no simples natural; não fazer grande o que é pequeno, nem pequeno o que é grande. Não é suficiente que uma coisa seja bela, é preciso que ela seja pròpria ao sujeito, que não tenha nada de excessivo nem nada que falte.

- Pascal- Pensamentos ( 15-130-Appendice au fragment 15 )

Maria

Maria não tem jeito
De jeito nenhum
Ela não gosta de americano
Mais adora dòlar, hamburguer, rock e coca-cola
Maria todo mundo !
Também não gosta de francês
Mais sò usa perfume Chanel, Dior, Caron.....
Sò se veste nas casas de alta costura francesa
Maria chique !
Detesta russo
Mais adora caviar
Maria da antiga esquerda
Não gosta de Cuba
Mais sò fuma havana
Maria Fidelissima Castro Neves
Neves negras
Negras Marias !
Maria sem festa
Não gosta de valsa
Nem de forrò
Mais quando a tristeza bate
Maria vira carnaval !
Cana........cacau.........carnaùba
Olé ! Olé ! Olà !
Vem de samba
Vem de là
Maria bamba
E Marias mil
Saudades de ti Brasil !

Maria gosta mesmo
È de feijão com arroz
Mais isso é coisa de Maria pobre
E Maria pobre
Não é gente
È ninguém
Ela deixa sua terra
Para longe, bem longe
Ser alguém !
Mais ela sò consegue ser
Aparência vazia de alguém
Coisa de louco !
Maria mesmo
È Maria Graça
Que ri e enfrenta
Sua desgraça
Maria sempre
Que vai e luta
Com garra e coragem
Maria Brasil !
Na floresta negra
Verde.........mar..........azul anil........
Maria cores mil !

sábado, 25 de agosto de 2007

Dialética e Aufhebung.

" A dialética é o princìpio de todo movimento e de toda vida "

O botão desaparece na explosão da florada, e nòs poderiamos dizer que o botão é refutado pela flor. Quando o fruto aparece, igualmente, a flor é denunciada como um falso ser-estar da planta, e o fruto se introduz no lugar da flor como sua verdade. Essas formas não são apenas distintas, mais ainda cada uma reprime a outra, porque elas são mutualmente incompatìveis. Mais ao mesmo tempo a natureza fluida delas faz que isto seja momentos de unidade orgânica na qual elas não se rejeitam unicamente, mais na qual uma é tão necessària quanto a outra, e essa igual necessidade constitui sozinha a vida do todo.

- A Fenomenologia do Espìrito, Prefàcio, Trad. J.Hyppolite, Aubier-Montaigne, 1941.


A Ciência da lògica

Nòs consideramos ordinariamente a dialética como uma arte exterior que produz arbitrariamente a confusão de conceitos indeterminados e uma aparência de contradição. [.....] Muitas vezes também nòs sò consideramos a dialética como uma sorte de jogo de balanço de um raciocinio que avança e que recua, e de qual o vazio està escondido pela sutileza que é pròpria a essa maneira de raciocinar.
[.....]
È da mais alta importância de apreender e de compreender o princìpio dialético. È ele que na realidade é o princìpio de todo movimento, de toda vida e de toda atividade, da mesma maneira que ele é a alma de todo conhecimento cientìfico verdadeiro. [.....]. Por exemplo, quando nòs dizemos que o homem é mortal, nòs consideramos a morte como alguma coisa que tem sua razão de ser nas circunstâncias exteriores, e segundo essa maneira de encarar a morte existiria no homem duas propriedades particulares, a de viver, e também a de morrer. Mais a verdadeira maneira de se representar a coisa consiste em considerar a vida como tal como tendo nela mesma o germe da morte, e o término em geral como tendo nele mesmo sua contradição, e partindo como se suprimindo ele mesmo. [.....]
Ademais, a dialética se afirma em todas as esferas e em todas as formas da natureza e do espìrito; por exemplo no movimento dos corpos celestes. Um planeta està em tal momento em tal lugar, mais ele està virtualmente em outro lugar, e ele traz à existência essa oposição com ele mesmo no seu movimento.
[.....] Quanto a presença da dialética no mundo do espìrito, e particularmente no domìnio do direito e da vida social, serà suficiente de lembrar aqui como a experiência universal nos ensina que um estado, uma ação levados a seu extremo limite se transformam ordinariamente no seu contràrio. [.....] A sensibilidade também, a sensibilidade fìsica como espiritual, têm sua dialética. Nòs sabemos como os extremos da dor e da alegria passam um no outro. O coração cheio de alegria se alivia nas làgrimas, e em certas circunstâncias a dor mais profunda se manifesta pelo sorriso.
[.....]
Mais nesse ponto em qual a dialética tem por resultado um termo negativo, este é ao mesmo tempo, e isso precisamente na qualidade de resultado, um termo positivo, pois ele contém como absorvido nele [ como abolido/conservado - "als aufgehoben" de Aufhebung ] o ponto de onde ele resulta, e não existe sem ele. Isto é a determinação fundamental da terceira forma da idéia lògica - "savoir" - " para saber"- da forma especulativa ou razão positiva.

- A Ciência da Lògica, I, Trad. A. Verà, Germer- Baillère, 1874 -


Dialética e Aufhebung.

A dialética é para Hegel " a alma de todo conhecimento cientìfico verdadeiro ". Ela não constitui para ele um método exterior a seu objeto, um diàlogo filosòfico sobre um sujeito sério onde se chocam opiniões opostas, como podia pensar Platão. Ao contràrio, Hegel vê na dialética " na realidade o princìpio de todo movimento, de toda vida e de toda atividade". A dialética é o motor da realidade. Nòs estamos então bem longe do método tese-antitese-sìntese que nòs encontramos nas dissertações escolares.

Para memòria........

A dialética é segundo Hegel " a alma de todo conhecimento cientìfico", " o princìpio de todo movimento, de toda vida e atividade".

No livro A Fenomenologia do Espìrito (1807), de qual é o extrato acima, Hegel dà uma imagem. Examinemos o botão de uma planta. Ele se desenvolve e dà nascimento a florada. Esta " nega" o botão que lhe dà origem. Da mesma maneira, o aparecimento dos frutos vai negar a florada. Do botão ao fruto, a planta evolui graças a um processo negativo que Hegel chama dialética. A "totalidade viva" que a constitui, do germe ao fruto, não é uma "sìntese", pois não existe no ser e no tornar-se da planta nada de estàtico, como indica o conceito difìcil hegeliano Aufhebung.


Supressão e conservação


O Aufhebung não tem equivalente direto em francês. Ele significa ao mesmo tempo "negação", "abolição" "abrogação" ou " supressão", mais também "conservação" ou "estabilidade". Hegel o utiliza para indicar como, no trabalho negativo da dialética, os momentos negados são portanto conservados. A florada de uma planta, continuando com o exemplo dado, "nega" realmente o botão. Mais essa negação também não significa a pura perda do botão. A florada o conserva na medida em que ela lhe deve sua existência. Ao contràrio, se nòs queimassemos o botão, nòs o negarìamos simplesmente e verdadeiramente. A conservação do botão, que nega a florada, indica realmente que nòs temos com a dialética, uma relação direta com uma totalidade viva e positiva. Para Hegel, tudo o que é verdadeiramente real obedece ao princìpio de Aufhebung, que seja na natureza, na història ou no pensamento puro.



Contradição interiorizada


Apenas, a dialética e o Aufhebung não se comportam da mesma maneira. Pois na natureza, os momentos dialéticos podem "coexister" exteriormente um ao outro. Por exemplo, os pòlos elétricos positivo e negativo "coexistem" no espaço. Ao contràrio, na història, os momentos dialéticos se sucedem. A Grecia Antiga, por exemplo, desapareceu e ,com ela, sua concepção particular da democracia, reservada a uma parte reduzida da população. Nossa concepção da democracia reclama a liberdade de todos. Ela nega então o princìpio grego. Mais ao mesmo tempo, ela não se fez sem ele. A democracia grega é ao mesmo tempo negada e conservada ( aufgehoben) no nosso sistema polìtico. A història se desenvolve dessa maneira atravéis um processo de interiorização dos contràrios.
Essa concepção original da dialética teve numerosas repercussões. No marxismo, principalmente, que fala de " materialismo dialético" para explicar a història como uma luta de classes. A idéia de interiorização realizou igualmente as bases da teoria das ciências històricas. De uma maneira mais geral, nòs utilizamos nos dias de hoje os termos de dialética e Aufhebung para explicar por exemplo, como o indivìduo e a sociedade se opõem definindo-se e enriquecendo-se um as custas do outro.

F.G.


Aufhebung.


Termo hegeliano. Derivado do verbo alemão aufheben, ele significa ao mesmo tempo " supressão" e "ultrapassagem", e exprime as representações cìclicas e "linearias" da temporariedade històrica. Para Hegel, a història se desenvolve em uma sucessão de ciclos ou momentos dialéticos, que provocam um irreversìvel movimento "lineario" assegurando a realização do Espìrito e , pelo mesmo fato, a plena realização da humanidade.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

A teoria das idéias.

" È pelo reflexo da beleza primitiva que as coisas são belas "

[ Sòcrates ] - Se alguém vier me dizer o que faz que uma coisa é bela, ou a vivacidade das cores, ou suas formas e outras coisas semelhantes, eu deixo de lado todas essas razões, que sò fazem me perturbar, e eu me asseguro eu mesmo sem maneiras e sem arte e talvez muito simplesmente, que nada a torna bela a não ser a presença ou a comunicação da beleza primeira, de qualquer maneira que essa comunicação se faça, pois nessa matéria eu não afirmo nada, a não ser que todas as coisas belas são belas pela presença da beleza. È na minha opinião a resposta mais exata, para mim como para qualquer outra pessoa, e enquanto eu manter a minha posição, eu espero com muita certeza jamais me enganar, e poder responder com toda segurança, eu e toda outra pessoa além de mim, que é pelo reflexo da beleza primitiva que as coisas são belas.


-- Platão, Phédon, 100c - 1000, Trad.v.Cousin, È. Bossange Frères, 1822.


O banquete

[ Cébès ] - Realmente eu pude, Sòcrates, te iniciar até um certo ponto nos mistérios do amor: mais para os ùltimos graus desses mistérios, tudo o que eu acabei de te dizer é apenas uma preparação. [.....]
Aquele que quer compreender verdadeiramente, deve, desde muito cedo, começar a procurar os corpos belos. Primeiro, se ele é bem guiado, ele sò deve amar uma pessoa, e a partir disso conceber e gerar belos discursos. Em seguida, ele deve reconhecer que a beleza que reside em um corpo é irmã da beleza que reside nos outros. E é justo de procurar o que é belo em geral, nosso homem seria muito pouco sensato de não encarar de maneira alguma a beleza de todos os corpos como uma ùnica e mesma coisa.
[.....]
Apois isso, ele deve considerar a beleza da alma como bem mais refinada do que a beleza do corpo, de maneira que uma alma bela, aliàs acompanhada de poucos enfeites exteriores, seja suficiente para atrair seu amor e seus cuidados [.....]. Por isso ele serà levado a considerar o belo nas ações dos homens e nas leis, e a ver que a beleza moral é em tudo de uma mesma natureza; então ele aprenderà a olhar a beleza fìsica como pouca coisa.
Da esfera da ação ele deverà passar na esfera da inteligência e comtemplar a beleza das ciências, dessa maneira chegando a uma vista mais extensa da beleza, lançado no oceano da beleza, e todo inteiro nesse espetàculo, ele gera com uma inesgotàvel fecundidade os pensamentos e os discursos mais magnìficos e mais sublimes da filosofia; até que ele perceba uma ciência, a da beleza de qual eu ainda vou falar.Aquele que nos mistérios do amor avançou até o ponto onde nòs estamos atravéis uma contemplação progressiva e bem guiada, alcançando o ùltimo grau da iniciação, verà de repente aparecer a seus olhares uma beleza maravilhosa: beleza eterna, não gerada e não perecìvel, exemplo de decadência como de crescimento, beleza que não tem uma forma sensìvel, um rosto ou uma forma corporal, que também não é tal pensamento ou tal ciência particular; que é absolutamente idêntica e invariàvel por ela mesma; de qual todas as outras belezas participam. [.....]
O verdadeiro caminho do amor, que nòs tenhamos encontrado por si mesmo ou que nòs sejamos guiados por outra pessoa, é de começar pelas belezas desse mundo, e os olhos ligados a beleza suprema, de se elevar sem cessar passando de uma certa maneira por todos os graus de uma escala, de um ùnico corpo a dois, de dois a todos os outros, dos corpos belos aos belos sentimentos, dos belos sentimentos aos belos conhecimentos, até que, de conhecimento em conhecimento, nos alcançemos o conhecimento por excelência, que sò tem como objeto o belo ele mesmo, e que nòs acabemos por conhece-lo como ele é em si mesmo.
O que pode dar um preço a essa vida, é o espetàculo da beleza eterna. Junto a um tal espetàculo, o que seriam o ouro e o adorno, as belas jovens pessoas de quem a vista te perturba? Qual não seria o destino de um mortal a quem lhe seria dado de contemplar o belo sem mistura, na sua pureza e simplicidade, não mais revestido de carne e de cores humanas, e de todos os inùteis adornos condenados a perecer, a quem seria dado de ver face a face, na sua forma ùnica, a beleza divina !


- Platão, O banquete, 210B - 211A, Trad. V. Cousin, Pichon et Didier, 1831.

O belo e a teoria das idéias

Ateniano, nascido em 428 antes de J.-C. em uma familia nobre, Platão é aos vinte anos discìpulo de Sòcrates.Quando seu mestre morre, ele continua sua formação em Mégare, no Egito e na Sicilia pythagoricienne. Aos 40 anos, ele funda em Athena a Academia, universidade cientìfica, literària e polìtica, onde ele terà Aristote e Démosthéne como alunos. Ele morre em Athena em 348, com a idade de 80 anos.


Mitos e diàlogos

A filosofia de Platão se movimenta sem cessar entre dois pòlos: os diàlogos com uma lògica incisiva, onde as razões dos interlocutores se confrontam em uma procura entusiasmada da verdade, e as grandes narrações, os famosos "mitos", onde Platão expõe uma visão feita de imagens do universo, da humanidade e da destinação da alma. Sua teoria das idéias, entre racionalismo e misticismo, ilustra essa ambivalência.
Essas idéias (eidos, aspectos), independentes do espìrito humano, são as essências do ser e das coisas. Elas têm uma realidade superior aos seres materiais ( os homens, as plantas, os objetos inanimados...) que sò são reflexos.
Por isso é ilusòrio de querer definir a beleza atravéis um elemento material, ou um exemplo concreto, como diz Sòcrates no diàlogo Phédon, pois ela se situa em uma esfera diferente do mundo sensìvel. As coisas belas, muitas vezes dessemelhantes entre elas ( um quadro não tem nenhum traço material comum com uma mùsica), tiram sua beleza da união delas ( " participação") com a Idéia da beleza, que resplandece discretamente nelas.
Durante toda a sua obra, Platão aprofundarà essa doutrina das Idéias, esboçando um domìnio ideal hierarquizado, desligado do mundo tangìvel por uma separação radical ( chorismos). O diàlogo do Sofista ( 249e), mais tardivo, verà nessa separação até mesmo um ser dotado de inteligência e de vida. È dessa maneira que Plotin, grande leitor de Platão, descreverà a segunda " hypostase", lugar do pensamento divino. Apois ele, Augustin e a teologia medieval falarão do intelecto divino.
Segundo Platão, o homem, naturalmente desligado do domìnio ideal, pode ser levado a ele atravéis a educação ou o diàlogo socràtico. No livro o Banquete, a "prêtresse" Diotime apresenta todavia um outro guia: o Amor (Eros). Gênio ligando o mortal ao imortal, o sensìvel e o inteligìvel, ele faz o homem sair dele mesmo produzindo filhos ou obras belas, ultrapassando dessa maneira sua condição mortal. Purificado pela filosofia, ele leva o apaixonado da Beleza ao Belo verdadeiro, convertindo seu desejo de belos corpos no desejo, mais elevado, das belas ações, dos belos caràteres e em seguida das belas ciências. Procurado atravéis seus reflexos sensìveis, o Belo em si se revela enfim na contemplação pura.

Uma dubla posteridade

A doutrina das Idéias terà uma dubla posteridade. Seduzida por sua abstração, a tradição racionalista procurarà nela as condições do pensamento cientìfico, correndo o risco de leva-la a um dado subjetivo.
È dessa maneira que no século XVII, Descartes farà das idéias uma produção do espìrito humano. No século XX, Husserl tentarà no seu livro " Recherches logiques" (1900) de demonstrar a objetividade das idéias. Por outro lado, inùmeros artistas de Michel-Ange a Mallarmé, verão na arte uma via de acesso as Idéias. Enfim, para Kant, principalmente no seu livro " Crìtica da faculdade de julgar" (1790), as idéias se apreendem também atravéis a experiência estética

.- O.S. -

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

No Piauí, se a Philip

Rede varejista do Piauí boicota produtos Philips

terça-feira, 21 de agosto de 2007

A filosofia como sistema

" Exprimir o Verdadeiro, não como substância, mais também como sujeito "

.Segundo minha maneira de ver, que serà justificada apenas na apresentação do sistema, tudo depende desse ponto essencial: apreender e exprimir o Verdadeiro, não como substância, mas precisamente também como sujeito. [.....]
O verdadeiro é o todo. Mais o todo é apenas a essência se desenvolvendo e se realizando na medida do seu desenvolvimento. Do Absoluto é preciso dizer que ele é essencialmente Resultado, quer dizer que no fim ele é apenas o que ele é na verdade.[....]A verdadeira figura na qual a verdade existe sò pode ser o sistema cientìfico dessa verdade. Colaborar nessa tarefa, aproximar a filosofia da forma da ciência - esse objetivo alcançado, ela poderà depositar seu nome de " amor do saber " para ser efetivamente real - eis a minha proposta

.- A Fenomenologia do Espìrito, Prefàcio, Trad. J. Hyppolite, Aubier - Montaigne, 1941

Estética

[.....] Pois todas [ as ciências], fazendo parte de um sistema que tem por objeto o conhecimento do universo como formando um todo organizado, estão em uma relação contìnua e se supõem reciprocamente. Elas são como os grilhões de uma corrente que volta sobre ela mesma e forma um cìrculo.

- Estética, Tome I, Trad. C. Bénard, Germer - Baillère, 1875.



Enciclopédia das Ciências Filosòficas

Filosofar sem sistema não tem nada de cientìfico. Ainda mais que uma tal filosofia sò exprime vistas subjetivas, ela é acidental no conteùdo. Um conteùdo sò tem valor como um momento do conjunto: fora disso, ele é apenas uma suposição gratuìta ou uma certeza puramente pessoal. Por outro lado, està errado de dar o nome de filosofia a uma filosofia fundada em um princìpio limitado e distinto, o princìpio de uma filosofia verdadeira, é de encerrar todos os princìpios particulares.
[.....]
A enciclopédia das ciências filosòficas se distingue das Enciclopédias ordinàrias no fato que estas são em geral apenas um agregado de diversas ciências que nòs reunimos de uma maneira arbitrària e empìrica, e entre as quais existem aquelas que sò tem o nome de ciência, e sò oferecem elas mesmas uma reunião de conhecimentos.
[......]
Cada uma das partes da filosofia é um todo sistemàtico, uma esfera a parte; mais a idéia filosòfica se encontra em uma determinação particular, em um elemento especial. Todavia, precisamente porque cada cìrculo é uma totalidade em si, ele sai dos limites de seu elemento e torna-se a base de uma esfera mais vasta.
O todo se apresenta em consequência como um cìrculo dos cìrculos, dos quais cada um é um elo necessàrio, de tal maneira que o sistema de todos os elementos respectivos exprime a idéia total, que se encontra ao mesmo tempo em cada idéia particular.

- Hegel, Enciclopédia das Ciências Filosòficas ( 1817), 14 sq., Trad.A.Véra, Germer - Baillière, 1867 - 1869.


A Ciência da lògica


[....] A relação do conhecimento especulativo [ a filosofia] com as outras ciências consiste no que estas tiram da experiência, mais a filosofia admite e emprega essa relação; que consiste, em outros termos, no fato que ela reconhece o geral, as leis, os gêneros que as ciências contêm, e de fato o seu conteùdo, mais introduzindo ao mesmo tempo nessas categorias outras categorias, e comunicando dessa maneira às primeiras o valor e a significação pròpria delas. A diferença entre ela e essas ciências sò consiste nessa ponto de vista na mudança dessas categorias.

- Hegel, A Ciência da lògica ( 1812 - 1816 ), IX, Trad. A.Véra, Germer - Baillière, 1874.

A filosofia como sistema

Hegel é considerado nos dias de hoje como o filòsofo do sistema. Seguindo o exemplo de Spinoza, ele construiu sua filosofia na forma de um sistema cientìfico de qual todas as partes são ligadas entre elas pela razão. Elas se inscrevem em " uma relação mùtua e que se supõem reciprocamente". Essa alta idéia da razão se situa na herança do pensamento moderno. Hegel não vê mais com efeito na filosofia um simples " amor da sabedoria" - filosofia, em grego, vem das palavras philo, amor, e sophia, sabedoria - mais um " saber efetivamente real".


O ser e o pensamento


Seu estìmulo é um problema que atormenta o pensamento de Kant, que é o mestre incontestàvel do Aufklärung, o Iluminismo alemão. Kant com efeito estabeleceu um abismo entre o pensamento e o ser, entre o entendimento e a inacessìvel coisa em si. Na qualidade de idealista alemão, ao contràrio, Hegel afirma a identidade do ser e do pensamento. Sua originalidade consiste a pensar que essa reconciliação é o resultado de um trabalho progressivo do espìrito, trabalho que se inscreve no tempo da història do mundo.
Em 1817, dez anos apois a publicação do livro A Fenomenologia do espìrito, ele publica o livro " Précis de l'encyclopédie des sciences philosophiques", no qual ele mostra como os conceitos fundamentais das ciências se organizam racionalmente em um todo orgânico e evolutivo. A lògica se ocupa dos conceitos fundamentais do pensamento puro, aplicàveis a todo objeto: ser, não-ser, qualidade, quantidade,substância, etc. A filosofia da natureza desenvolve os conceitos do que é objetivo e exterior: espaço, tempo, corpo, gênero, especie, etc. Enfim, a filosofia do espìrito mostra o percurso pelo qual o espìrito vem reconciliar-se com ele mesmo.
Para isso, o espìrito deve ultrapassar sua subjetividade e tornar-se objetivo. O "espìrito objetivo" é dessa maneira o Estado dotado de uma constituição na qual as leis são ao mesmo tempo produções do espìrito e das realidades objetivas.
Enfim, sua Encyclopédia se encerra nas três manifestações do "espìrito absoluto" que são, segundo ele, a arte, a religião e a filosofia.
Destas manifestações a filosofia é a ùltima expressão na medida em que seus objetos, os conceitos, são puras produções do espìrito, enquanto que na arte e na religião o espìrito ainda se mistura com a matéria ( o bronze, o tecido, etc.) ou as representações exteriores ( por exemplo, a vida do Cristo hà dois mil anos ).Com a filosofia, a identidade do sujeito e do objeto se encontra perfeitamente realizada. O sistema no fim, " alcança" seu pressuposto idealista.


Circularidade e encerramento

A palavra encyclopédia ela mesma implica essa circularidade: não vem ela do grego Kirklos, cìrculo ? Hegel concede com efeito seu sistema como "um cìrculo dos cìrculos".Essa circularidade permite ao sistema de voltar aos seus pròprios pressupostos para funda-los. Para Kierkegaard, pai do que nòs chamaremos o existencialismo e detrator de Hegel, essa idéia de sistema fechado projeta a filosofia fora da vida como ela é vivida, com suas dùvidas, suas esperanças, suas vontades. Ela supõe também que nòs possamos dominar os conceitos fundamentais de todas as ciências, o que parece muito ambicioso, sobretudo nos dias de hoje.
Por essa razão, os filòsofos fizeram uma cruz na pretensão hiperbòlica de Hegel. Mas, como nòs podemos ver no pensamento de Wittgenstein, Heidegger e seus herdeiros, a filosofia permanece no seu caminho: ela quer menos constituir um edificio conceitual sobre fundamentos seguros, como queria Descartes, do que cavar cada vez mais profundamente os pressupostos que determinam nosso pensamento.

- F.G -



Wittgenstein, Ludwig (1889-1951)

Figura filosòfica de grande importância do século XX, esse filòsofo britanico de origem austrìaca é antes de tudo um pensador da lògica e da linguagem. No seu primeiro perìodo, em Cambridge ao lado de Bertrand Russel, ele mostrou a impossibilidade do pensamento filosòfico ou mais precisamente, da linguagem filosòfica. No seu segundo perìodo, ele se interessou a linguagem ordinària e a seus "jogos" nos quais a vida social se organiza. A filosofia corresponde, para ele, a interferências entre as diferentes formas de vida ( e da linguagem ), que é preciso descobrir. Wittgenstein não procura mais fundar a linguagem mais a aprofundir os pressupostos de nossas " formas de vida".

Existencialismo

Trata-se menos de uma doutrina estabelecida do que de temas comuns a vàrios filòsofos ( Heidegger, Jaspers, Kierkegaard, Gabriel Marcel, Sartre....) que todos concedem uma grande importância a subjetividade e a anàlise concreta da vivência. Cada um està sozinho diante ele mesmo para decidir do sentido que ele darà a sua vida. Para o existencialismo cristão (Kierkegaard), a angùstia exprime sobretudo a transcendência absoluta de Deus no homem confrontado as escolhas éticas e religiosas. Para Heidegger, a angùstia não pode ser ultrapassada. Para Sartre, a absoluta contigência da existência torna impossìvel a existência de Deus mais permite ao homem de ser livre.

domingo, 19 de agosto de 2007

Riscos para a democracia na América Latina

Lamentável a situação em que se encontra a imprensa no nosso Continente. A liberdade de expressão foi seriamente tolhida, na Venezuela, pelas repetidas investidas do coronel Chávez, como parte do seu plano de estruturar um poder total no seu país. Legislativo e Judiciário já foram submetidos pelo Executivo. Faltava a Imprensa. E com o fechamento da cadeia televisiva RCTV, que há 53 anos divulgava livremente o pensamento no país vizinho, iniciou-se a última etapa de estabelecimento do totalitarismo chavista.

Duplamente lamentável a situação, se levarmos em consideração que, na recente reunião da Organização dos Estados Americanos, ocorrida no Panamá, somente dois países se manifestaram claramente contra o atentado de Chávez à liberdade de expressão: Estados Unidos e El Salvador. Os representantes dos demais países ficaram em cima do muro, alegando razões de filigrana jurídica, dizendo, por exemplo, que a convocação da reunião do colegiado americano era para discutir questões econômicas. Ora, nada mais urgente, para evitar o deterioro das economias desta parte do mundo, do que garantir o livre funcionamento das instituições democráticas, dentre as quais a Imprensa exerce uma função importantíssima. Os maiores países latino-americanos, México, Argentina e Brasil, simplesmente ficaram em silêncio. Tanto medo faz-me lembrar o temor que tinham os países europeus, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, diante do avanço do totalitarismo hitlerista, que já começava a transbordar as fronteiras alemãs. Em face dos candidatos a ditadores totalitários, os governos dos países livres ficam com medo. E é esse medo o maior incentivo para os inimigos da democracia prosseguirem na sua caminhada de atentados às instituições livres.

Será muito triste se, daqui para frente, continuar essa onda de pusilanimidade, diante de um ditador nato, que não faz o mínimo esforço para esconder os seus propósitos totalitários e que passa por cima de qualquer ordem institucional, nacional ou internacional. Pagaremos caro, nós latino-americanos, se os nossos governos continuarem nessa pasmaceira covarde. Se as forças vivas das nossas sociedades não sacudirem a poeira do comodismo e não ocuparem as ruas, exigindo dos seus governantes responsabilidade diante desta grave situação de ameaça às instituições democráticas. Os países do Mercosul deveriam fazer valer a cláusula de defesa da democracia, na atual conjuntura, condicionando a aprovação do ingresso da Venezuela no organismo regional, ao respeito pelas instituições democráticas.

Foi de uma desfaçatez abominável a atitude do assessor internacional do Presidente Lula, o senhor Marco Aurélio Garcia, quando afirmou que o ditador venezuelano em nada tinha ofendido à democracia. Teria sido de desejar, de outro lado, que o Presidente brasileiro tivesse exteriorizado uma posição mais claramente comprometida com a defesa da democracia no Continente, condenando, de forma clara, o golpe baixo do governo chavista contra a liberdade de expressão. Parece como se o Executivo partisse da premissa de que tem de resguardar a imagem do Chávez sob qualquer pretexto. Lembremos que a sobrevida do ditador venezuelano é, em grande medida, efeito da oportuna ajuda que o governo brasileiro lhe deu, há alguns anos atrás, quando um navio da Petrobrás garantiu o abastecimento de combustível ao país vizinho, num momento em que parcela significativa da sociedade venezuelana manifestava-se contrária às medidas ditatoriais do Presidente desse país.

Tolerância tem limite. Os imperativos ideológicos do Foro de São Paulo não podem ser sobrepostos à defesa das instituições livres, no nosso Continente. A sociedade brasileira não tem muito a esperar de grupelhos de desordeiros como o MST que, prontamente, alinhou-se a favor do mandatário venezuelano. Posição semelhante teve o PT, numa lamentável confusão entre interesse partidário e conveniência nacional. Trata-se, afinal, do partido do atual Presidente da República.

Felizmente, manifestou-se, de forma corajosa, contra o arbítrio do ditador venezuelano, o nosso Senado Federal. Diante da ofensa perpetrada contra o Brasil, nos seus brios, pela declaração infeliz do autocrata caribenho, no sentido de que o Poder Legislativo do nosso país era simples moleque-de-recados de um governo estrangeiro, era de se esperar uma mais contundente manifestação do nosso Presidente. Não foi isso o que ocorreu. Tomara que a sociedade brasileira, pela boca dos seus intelectuais, grêmios profissionais, Universidades, etc., reaja à altura. Se não o fizermos, estaremos dando uma forcinha à total derrubada das instituições democráticas na Venezuela. Esse fato, se consumado, trará sobre o nosso Continente um indesejável efeito-dominó de menosprezo pela democracia. Alguns países pequenos, reféns dos petrodólares do Chávez, já se manifestaram abertamente em defesa do ditador. Não podemos esquecer as décadas de lutas para instaurar no meio latino-americano a democracia, depois da longa série de ditaduras militares que escureceram o ambiente, no decorrer da segunda metade do século passado.


Ricardo Vélez Rodríguez/Coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”, da UFJF.

sábado, 18 de agosto de 2007

Revolução e liberdade.

"A liberdade é a mais alta destinação do espírito humano"

A liberdade universal não pode então produzir nem uma obra positiva nem uma operação positiva; [.....] ela é apenas a fúria da destruição. [.....] A única obra e operação da liberdade universal é então a morte, uma morte [.....] que não ealiza nada, pois o que é negado, é o ponto vazio de conteúdo, o ponto de Sí mesmo absolutamente livre. É dessa maneira a morte mais fria e a mais plana, sem outro significado que o de cortar uma cabeça de repolho ou engolir um gole de água.
É na "platitude" dessa sílaba sem expressão [a "morte"] que reside a sabedoria do governo, o entendimento da vontade universal, sua realização. O governo é ele mesmo nada mais que o ponto que se fixa ou a individualidade da vontade universal. O governo, uma decisão e uma execução que procede de um mesmo ponto, quer e executa ao mesmo tempo uma ordem e uma ação determinadas. Ele exclui então de um lado os outros indivíduos de sua operação, e por outro lado ele se constitui ele mesmo como tal que ele seja uma vontade determinada, e por essa razão oposto a vontade universal. O governo não pode então se apresentar de outra maneira do que como uma facção. O que nós chamamos governo, é apenas a facção vitoriosa, e justamente no fato de ser uma facção se encontra imediatamente a necessidade de seu declínio; e o fato que ela esteja no governo a torna inversamente facção e culpada. Se a vontade universal se limita a ação efetiva do governo como ao crime que ele comete contra ela, então o governo, ao contrário, não tem nada de determinado ou de exterior por onde o erro da vontade oposta a ele se manifestaria, pois na frente dele, como a vontade universal efetiva, só existe a pura vontade ineficiente, a intenção. Ser suspeito se substitui a ser culpado, ou em significação e no efeito; e a reação externa contra essa efetividade que reside no interior simples da intenção consiste na destruição brutal desse "Si próprio" no elemento do ser de quem nós não podemos tirar nada mais do que seu próprio ser.

- A Fenomenologia do Espírito, Tome II, VI ("O Espírito") - Hegel - Trad. F. Hyppolite, Aubier - Montaigne, 1941 -


Estética

A faculdade mais elevada que o homem possa encerrar nele mesmo, nós chamamos com uma única palavra, a liberdade. A liberdade é a mais alta destinação do espírito humano. Ela consiste no fato que o sujeito não encontra nada de estrangeiro, nada que o limite no que está na frente dele, mas onde ele se encontra em si mesmo. Está claro então que a necessidade e a infelicidade desaparecem. O sujeito está em harmonia com o mundo e se satisfaz nele. Aqui expira toda oposição, toda contradição. Mas essa liberdade é inseparável da razão em geral, da moralidade na ação e da verdade no pensamento. Na vida real, o homem tenta primeiro destruir a oposição que está nele através da satisfação de suas necessidades físicas. Mas tudo nesses prazeres é relativo, limitado, terminado. Ele então procura em outro lugar, no domínio do espírito, a encontrar a felicidade e a liberdade através a ciência e a ação. Pela ciência, com efeito, ele se liberta da natureza, apropria-se dela e a submete a seu pensamento. Ele torna-se livre através a atividade prática realizando na sociedade civil a razão e a lei com as quais sua vontade se identifica, longe de ser escravizado por elas. Contudo, se bem que, no mundo do direito, a liberdade seja reconhecida e respeitada, seu lado relativo, exclusivo e limitado é evidente em tudo; em tudo ela encontra limites. O homem então, encerrado por todas as partes no término e aspirando a se libertar, ele dirige seus olhares em direção de uma esfera superior mais pura e mais verdadeira, onde todas as oposições do término desaparecem, onde a liberdade, se desenvolvendo sem obstáculos e sem limites, atinge seu objetivo supremo. [.....] Se elevar pelo pensamento puro a inteligência dessa unidade, tal é o objetivo da filosofia.

- Estética (Póstumo, 1835), tome I, - Hegel - Trad. C. Béhard, Germer - Baillère, 1875 -


Revolução e liberdade

Quando começa a Revolução francesa em 1789, Hegel tem 18 anos. No seminário de teologia em Tübirigen onde ele estuda, as noticias do outro lado da Alemanha circulam secretamente. La Marseillaise é traduzida em segredo; Hegel participará na plantação das árvores da Liberdade. Os intelectuais da época esperam que esse vento de liberdade patriótico soprasse em breve na Alemanha, que está nessa época dividida em múltiplas "principautés" dominadas por governos muitas vezes autoritários. Mas os anos passam e na França, o sangue não pára de escorrer. Porque?


Interpretação do Terror

No livro A Fenomenologia do Espírito, publicado em 1807 no momento em que Napoleão que Hegel admira entra na Iéna, a cidade onde Hegel ensina e também onde ele propõe uma interpretação original desses acontecimentos. O problema se situa segundo ele na maneira pela qual a liberdade é reivindicada. De um lado, a vontade geral reclama a liberdade e a igualdade para todos. De outro lado, os revolucionários são levados a falar em nome da vontade geral. Um conflito se instaura por essa razão entre a consciência singular e a consciência universal. Quando eles procuram encarnar a vontade geral, os revolucionários se tornam de fato os partidários de uma facção política. Ora quem diz facção política diz fração da vontade geral, e toda facção torna-se suspeita diante a facção governante. Esse mecanismo dá origem em 1793 à política de salvação pública e ao reino do Terror. Uma simples desconfiança de divergência é suficiente para uma condenação a morte. Hegel tenta então decifrar o célebre slogan revolucionário "a liberdade ou a morte", ele associa a morte a vontade de suprimir todo "particularismo", esses particularismos políticos e sociais que eram um dos fundamentos do Antigo Regime. Se a liberdade absoluta dos revolucionários conduz a morte, é porque ela é a negação pura do particularismo. A morte, escreve Hegel, é o "vazio". Nesse vazio, nada pode subsistir. A liberdade é proclamada, mais ela torna-se destruição.
A Revolução francesa se desenvolve nesse contexto. Os revolucionários não conseguem concretizar a liberdade absoluta. As instituições não conseguem assegurar a liberdade de todos. Para Hegel, a lição é clara: a verdadeira liberdade de um Estado supõe um sistema racional do direito e uma separação dos poderes, concretizados por instituições duráveis, independentes dos indivíduos que são encarregados delas.
A liberdade consiste, nesse contexto, a reconhecer a racionalidade das leis e das instituições, das quais o cidadão se submete e aproveita delas. Será a responsabilidade dos pós-revolucionários de realizar esse objetivo.


O Tornar-se do Espírito

A filosofia de Hegel é dessa maneira animada pela convicção, que ele compartilha com sua geração, que o espírito é universal e livre. A liberdade é a "destinação" do homem (ver o segundo texto de Hegel, Estética). Para Hegel, se o homem é livre por essência, ele deve também tornar-se livre nos fatos. Esse trabalho do espírito se inscreve no tempo da história, e a Revolução Francesa marca uma das etapas essenciais, mesmo se ela se acompanha de uma "fúria da destruição". Por essa análise, Hegel consegue conceituar a derrapagem da Revolução em direção ao Terror. Análise muito atual e que pode levar a se questionar, após o historiador François Furet (1927-1997), se essa derrapagem não seria de ordem estrutural e conceitual, inerente então a toda revolução, sejam quais forem os atores e as reivindicações......

- F.G -

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Os limites do bom senso.

"Só o conceito pode produzir a universalidade do saber"


Pensar? Pensar de maneira abstrata? Rette sich, Wer Kann! Salve-se quem puder! Eu penso já gritar dessa maneira algum traidor, comprado pelo inimigo, que vai infamando contra esse ensaio porque ele trata de metafísica. Pois metafísica - da mesma maneira que abstrato, e mesmo pensar - é uma palavra diante da qual cada pessoa, mais ou menos, foge como se ela estivesse diante um pestífero. [....]
De toda maneira, explicar o que é pensar e o que é o abstrato parece aqui perfeitamente supérfluo; pois é precisamente porque a boa sociedade sabe muito bem o que é a abstração que ela foge quando a encontra. [....]
Tudo o que me é preciso, é citar, com o apoio da minha proposição, exemplos que cada um aceitará que eles a contêm. Eis um exemplo: Um assassino é levado ao lugar da execução. Para a pessoa comum, ele não é nada mais do que um assassino. Algumas damas dizem talvez por acaso a observação que o assassino tem um corpo bem feito, que ele é bonito, que ele é interessante. Essa mesma pessoa comum acha a observação atroz. Como? Bonito, um assassino? Como é possível ter o espírito tão deformado ao ponto de achar bonito um assassino? È para acreditar que vocês não são melhores do que ele! Eis a corrupção moral que reina nas pessoas distintas, acrescentará talvez o padre que conhece o fundo das coisas e dos corações. [....]
Eis o que se chama ter o pensamento abstrato: ver apenas no assassino essa qualidade abstrata que ele é um assassino e destruir nele, com a ajuda dessa simples qualidade, todo o resto de sua humanidade.

- Quem pensa abstrato? - Hegel - (1807), Trad. E. De Dampierre, Le Meine de France, 1963.


A fenomenologia do espírito

Para todas as ciências, as artes, os talentos, as técnicas, é evidente a convicção que nós não podemos possui-las sem trabalho e sem fazer o esforço de aprende-las e de praticá-las. Se alguma pessoa tendo os olhos e os dedos, a quem nós fornecemos o couro e um instrumento, não é dessa maneira capaz de fabricar sapatos, nos dias de hoje domina o preconceito segundo o qual cada um sabe imediatamente filosofar e apreciar a filosofia porque ele possui a unidade necessária na sua razão natural - como se cada um não possuísse também dessa maneira no seu pé a medida do seu sapato. [....]
Quanto a filosofia no sentido próprio do termo, nós vemos apenas a revelação imediata do divino e o bom senso, que não se preocuparam de se cultivar com a filosofia ou uma outra forma de saber, se considerando imediatamente como equivalentes perfeitos, excelentes suplentes desse longo caminho de cultura, desse movimento tão rico quanto profundo através do qual o espírito alcança o saber; mais ou menos como nós dizemos que a chicória é um bom substituto do café. [....]
Se nós reclamamos "uma via real" em direção da ciência [a filosofia], nenhuma pode ser mais confortável do que aquela que consiste a se abandonar ao bom senso e, para caminhar pelo menos com seu tempo e a filosofia, ler os relatórios críticos das obras filosóficas, e mesmo os prefácios e os primeiros parágrafos das obras elas mesmas, pois os primeiros parágrafos dão os princípios gerais sobre qual tudo se repousa; e quanto aos relatórios críticos, eles dão ainda uma apreciação que, justamente porque ela é uma apreciação, está acima da matéria apreciada. Nós seguimos esse caminho vestidos modestamente; mas o sentimento do eterno, do sagrado, do infinito, percorre ao contrário com roupas sacerdotais um caminho que é ele mesmo o ser imediato no centro, a genialidade das idéias profundas e originais, e raios luminosos sublimes de pensamento. [.....] [Contudo] os verdadeiros pensamentos e a penetração científica só podem ser adquiridos pelo trabalho do conceito. Só o conceito pode produzir o universalidade do saber. Ela não é a indeterminação ordinária e a indigência mesquinha do senso comum, mas um conhecimento culto e realizado completamente.

- A fenomenologia do Espírito (807) - Hegel, Prefácio, Trad. J. Hyppolite, Aubier - Montaigne, 1941


Os limites do bom senso

Nós reclamamos muitas vezes da filosofia que ela deixa suas alturas para falar uma linguagem ordinária. Nós queremos filósofos pedagogos. Como era Platão nos seus diálogos botando em cena Sócrates, por exemplo. Ou os filósofos do Iluminismo, como Voltaire. Estes eram animados pela vontade de tornar o saber acessível a todos. Para Georg Wilhelm Friedrich Hegel, essa ambição é vã. Pois para ele, o pensamento ordinário e a filosofia não falam a mesma língua. Ou melhor: a filosofia consiste precisamente em um trabalho radical sobre a língua. Hegel gosta das palavras. Ele inventa várias, a "historicidade" (Geschichtlichkeit) por exemplo. Ele diferencia, lá onde o senso comum não vê absolutamente nada, a realidade e o ser, o objeto e a coisa. Uma "idéia" não é para ele um simples "conceito".


Uma nova língua

Como explicar essas diferenças? Eis o problema: é preciso outros conceitos, como o conceito de "determinidade" (Bestimmtheit) - Um outro neologismo! - que complicam mais ainda a língua filosófica. Após Hegel, o vocabulário especifico tornou-se um instrumento necessário. E a filosofia, um assunto de especialistas.
Não se trata apenas de um problema de linguagem. Pois se o pensamento ordinário não tem as palavras do filósofo, ele também não tem seu pensamento. Ele é, como ilustrou Platão no mito da caverna, naturalmente prisioneiro do mundo das sombras. Seus modelos de pensamento o condenam a circular sempre através dos mesmos lugares comuns. Ao menos que a filosofia lhe dê uma escada. O livro A Fenomenologia do Espírito (1807), obra que teve um impacto imenso, tem justamente como objetivo de levar a consciência ordinária até a filosofia.


Uma verdadeira capacidade (savoir-faire)

O caminho é árduo, e muitas pessoas consideram esse livro como um dos textos mais difíceis da história da filosofia. Para seu autor, como indicam os dois textos acima, nenhuma "via real" conduz á filosofia. Dizendo de outra maneira, é preciso se investir completamente e colocar seu saber a prova. Porquê a filosofia seria acessível a todos, ele se interroga, quando na medida em que nós temos um sapato furado, nós o entregamos naturalmente ao sapateiro, artesão reconhecido por sua competência? Existe evidentemente um "savoir-faire" filosófico e é preciso prova-lo. Por essa razão ele se aplica, quando ele mostra, por exemplo, que a oposição entre o sujeito e o objeto é uma ilusão. Nós compreendemos porque a filosofia aparece como "um mundo pelo avesso".


Além dos lugares comuns

Muito abstrata, a filosofia? Ao contrário, é o pensamento ordinário que constantemente abstrai os pensamentos de sua profundeza essencial. Eis o que mostra o texto satírico "Quem pensa abstrato?" Um assassino passa diante uma multidão, que faz seus comentários: "como ele é bem feito!", "ele é um homem bonito!", etc. Idéias abstratas, que esquecem o essencial: é realmente um homem que nós enviamos para a morte. O assunto reconsidera o conjunto de nosso sistema de pensamento. A filosofia se ocupa precisamente disso: do homem, da vida, da morte, e não da aparência do assassino.Com Hegel, a filosofia tornou-se humana. Certo, os ensaios de filosofia popular vendem-se muito bem, mas eles obtêm raramente o respeito dos filósofos. Porquê? Porque eles vulgarizam muito constantemente nas diferenciações conceituais que, desde duzentos anos pelo menos, fazem o essencial do "savoir-faire" filosófico.

- François Gauvin -

domingo, 12 de agosto de 2007

Quem Foi o Verdadeiro Dr. Nikola Tesla?


"Nós pensamos em sua contribuição muito mais freqüentemente que as de Ampère e Ohm. . . o motor de indução e nosso sistema de força são monumentos duradouros a Nikola Tesla." Dr. E.F.W. Alexanderson.

Ao contrário de tantos pioneiros estreitamente especializados na história elétrica, a questão sobre quem Nikola Tesla realmente foi tem muitas respostas, dependendo da perspectiva do questionador. Apesar do fato de muitas de suas publicações técnicas ainda serem acessíveis, de várias biografias estarem disponíveis, e dele ter tido um impacto bastante amplo (não só na profissão de engenharia elétrica, mas também na sociedade como um todo) hoje poucas pessoas têm uma noção realmente equilibrada de quem ele era e o que ele fez. Isto é particularmente verdade de suas contribuições seminais para a tecnologia do rádio. Um número notável de artigos foram compostos para o público geral sobre Tesla - provavelmente tantos quanto sobre qualquer outro cientista na história. (Existem especiais de TV, peças, recitais, poesias e até mesmo canções populares sobre o homem.) Uma bibliografia anotada de Tesla foi publicada vinte e dois anos atrás que continha mais de 3.000 referências (e o número cresceu dramaticamente desde então).2 Várias revistas, jornais, sociedades e até mesmo "web-rings" foram criados como mídia exclusivamente dedicada para a discussão de suas atividades. Enquanto volumes poderiam (e foram) escritos sobre o cavalheiro, os autores presentes verão o trabalho dele de nossas perspectivas como cientistas e engenheiros.

Tesla recebeu sua educação formal no Instituto Politécnico em Graz, Áustria (ele se matriculou com graduações em matemática, engenharia mecânica e engenharia elétrica) e na Universidade de Praga (onde ele executou estudos graduados em Física). Depois de um período de prática profissional em Budapeste (onde, em 1882, ele concebeu a idéia de um campo magnético giratório para mover maquinaria elétrica), Estrasburgo (onde ele construiu que o primeiro motor polifásico), e Paris, ele imigrou para os EUA com a idade de 28 anos em 1884. Com sua descoberta do campo magnético giratório e a publicação de seu celebrado documento de 1888 sobre um novo sistema de motores e transformadores de corrente alternada, sua posição na história da ciência e tecnologia elétrica estava permanentemente estabelecida.3 Depois de palavras de elogio ao inventor diante de uma reunião da Sociedade Real em Londres em 1892, Lorde Rayleigh declarou que Tesla possuía um grande dom para descoberta elétrica. Em 1896, no Franklin Institute na Filadélfia, Lorde Kelvin diria, "Tesla contribuiu mais para a ciência elétrica que qualquer homem até sua época". Suas descobertas e criações fundamentais atravessam a ciência básica, sistemas, tecnologia e componentes. Ele foi um dos primeiros cientistas a assimilar a distinção entre ressonância global e distribuída e, depois de se reunir em 1892 com Heinrich Hertz em Bonn, foi o primeiro a patentear a amplificação de voltagem através de ondas estacionárias em ressonadores distribuídos.4,5 (A técnica seria usada subseqüentemente por David Sloan,6 E.O. Lawrence, e Louis Alvarez no desenvolvimento evolutivo dos aceleradores de partículas modernos.7)

A unidade MKS de indução magnética foi adotada em honra a Tesla em 1956. É conhecimento comum entre engenheiros elétricos que ele foi o inventor do campo magnético giratório, do motor de indução e do sistema de distribuição de energia de corrente alternada polifásica* atualmente usado ao longo do mundo civilizado. † Haraden Pratt, Presidente IRE e posteriormente presidente do Comitê de História do IRE, uma vez escreveu, "Nossa era industrial existente deixaria de funcionar sem as primeiras e maiores contribuições de tesla".8 Porém, a maioria dos engenheiros elétricos não sabe que, tão tarde quanto 1943, com base nas patentes de seu "Apparatus", ele (não Marconi‡) foi reconhecido pelo Tribunal Supremo dos EUA como tendo prioridade na invenção do "Rádio". 9,10,11,12 Ainda menos cientistas da computação sabem que, quando certos fabricantes de computador tentaram patentear portas lógicas digitais depois da Segunda Guerra Mundial, o Escritório de registro de patentes dos EUA afirmou que Tesla (na virada do século) tinha prioridade na implementação elétrica de portas lógicas para comunicações seguras, sistemas de controle e robótica. Como resultado, um monopólio em lógica eletrônica não pôde ser assegurado privadamente nos anos 50.

Escrevendo na volumosa edição de 50º aniversário dos Proceedings of the IRE, R.M. Page identifica o Dr. Tesla como o primeiro que "... sugeriu o uso de ondas eletromagnéticas para determinar a posição, velocidade, e curso relativos de um objeto em movimento",13 e agora parece ser reconhecido amplamente que Tesla, em 1900, foi o primeiro a propor o conceito moderno de radar. 14 Certamente, a entrevista de Tesla com H. Winfield Secor15 aparece nas histórias sobre o radar. 16,17 Ele mantém prioridade legal em controle remoto por rádio, robótica experimental, e comunicação segura por divisão de freqüência multiplexada.18 A técnica de multiplicador de voltagem cascata em multiestágio ("carregando condensadores em paralelo e descarregando-os em série"), depois aperfeiçoada por Greinacher (1920), e Cockcroft e Walton (1932), com uma variante patenteada na Europa por Marx (1923), foi patenteada nos EUA por Tesla em 1897. 19 Durante o centenário de 1984 do IEEE, o Comitê de Atividades Profissionais do IEEE identificou Nikola Tesla entre os "doze apóstolos" da engenharia elétrica. 20 Das primeiras Transações da AIEE nós vemos que Tesla compareceu regularmente a reuniões de AIEE e freqüentemente participou em discussões prolongadas ao fim das apresentações de documentos. Ele foi selecionado para representar a AIEE no Congresso Elétrico realizado em Frankfort em 1892, e foi nessa época que viajou para Bonn para discutir com Heinrich Hertz sobre pesquisa de transmissão sem fios. Tesla serviu a profissão de engenharia elétrica em seus cargos mais altos. No início da década de 1890, ele foi eleito como vice-presidente do que é agora o IEEE. (Na época de sua eleição, Alexander Graham Bell presidiu a AIEE. Tanto Bell quanto Tesla receberiam posteriormente o prêmio de mais alta honra da AIEE.) Tesla serviu dois anos sucessivos como vice-presidente do AIEE. O primeiro livro escrito sobre Tesla era uma coleção de suas conferências públicas, e foi editado e publicado pelo terceiro Presidente do AIEE (Thomas Commerford Martin). 21 Também deveria ser notado que Tesla foi eleito como um Membro Completo do AIEE (agora o IEEE), como também a Associação americana para o Avanço da Ciência, e uma dúzia de outras sociedades profissionais. Ele foi honrado pelo Preussische der Akademie der Wissenschaften em Berlim, e o Presidente do IEE (britânico) disse uma vez, "Tesla foi o maior inventor elétrico que nós alguma vez tivemos em nosso grupo de membros". 22 Ele recebeu mais de 13 títulos honoris causa (Doutorados e assim por diante) de tais instituições diversas como Columbia, Yale, e as Universidades de Paris, Viena, Praga, Sofia, e muitas, muitas mais.

Recentemente, outro fato fascinante sobre Nikola Tesla veio à luz. Depois de todos estes anos, está documentado agora que ele foi nomeado para um Prêmio Nobel não dividido em Física em 1937. 23 (o nomeador de Tesla, Dr. Felix Ehernhaft, de Viena, havia sido um daqueles que nomearam Albert Einstein para o Prêmio Nobel em 1921.)

Tesla possuía um talento notável para encantar e surpreender seus admiradores ao mesmo tempo em que enfurecia seus críticos. (O fenômeno continua até hoje.) É infeliz que, apesar do fato que várias biografias populares estão atualmente disponíveis, ainda não existe nenhuma autoridade formal definitiva (além de suas próprias publicações dispersas) para consultar sobre os assuntos técnicos de sua carreira científica intrigante e colorida. Tesla foi estimado pelos seus pares como um homem de ciência de primeira classe. Aqueles entendendo mal sua estatura profissional deveriam considerar cuidadosamente o respeito e admiração conferido pelos maiores cientistas vivos de sua própria era (Kelvin, Helmholtz, Crookes, Dewer, Rutherford; premiado com Nobel: Rayleigh, Bragg, Bohr, Millikan, Einstein, Compton, Appleton; e muitos outros incluindo reitores universitários, membros da comunidade de defesa, e até mesmo consultores científicos para o Presidente dos Estados Unidos). É impossível abordar adequadamente as credenciais profissionais ou realizações do Dr. Tesla neste espaço limitado. Contudo, pode ser dito com certeza que ninguém desde o Dr. Franklin§ mexeu mais com o mundo científico e de engenharia.

- Tesla Technology Research, Inc., 2527 Treelane Ave., Monrovia, CA 91016-4951 (email:
Wysock@ttr.com)

PV Scientific Instruments, Inc., 309 Second St., Ithaca, NY 14850 (email: pvsci@arcsandsparks.com)

Com relação ao sistema de corrente alternada polifásica, Bernard Behrend, Vice-presidente do AIEE, disse, "Desde o aparecimento das Pesquisas Experimentais de Faraday em Eletricidade nenhuma grande verdade experimental tão grande foi expressa de forma tão simples e clara. . . Ele [Tesla] não deixou nada a ser feito para aqueles que o sucederam". (Minutas da reunião de maio 1917 AIEE.)

† Dr. Charles F. Scott, ex-Presidente do AIEE (agora o IEEE) e Presidente do Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Yale, disse, ôA evolução de energia elétrica da descoberta de Faraday em 1831 até a grande instalação inicial do sistema polifásico de Tesla em 1896 [em Niagara Falls] é indubitavelmente o mais tremendo evento em toda história da engenharia.ö [Electrical Engineering, agosto, 1943, pp. 351-355.]

‡ Embora tenha tomado aos tribunais várias décadas para resolver isto, os fatos eram bem compreendidos por homens técnicos imparciais da época. Robert H. Marriott, o primeiro Presidente da IRE (1912), uma vez disse que Marconi havia ô... feito o papel de um demonstrador e engenheiro de vendas. Uma companhia para acúmulo de dinheiro foi formada, a qual tentando obter um monopólio, procurou anunciar a todo o mundo que Marconi era o inventor e que eles possuíam a patente em telegrafia sem fios que lhes garantia um monopólio.ö [Radio Broadcast, Vol. 8, No. 2, dezembro, 1925, pp. 159-162.]

§ Benjamim Franklin e Nikola Tesla ambas partilham honras de Yale, a Sociedade Real (Londres), e a Sociedade Filosófica americana.

sábado, 11 de agosto de 2007

O Computador Quântico Desatador de Nós

Se você possui um computador, esteja certo de que ele é um ‘clássico’. Não que seja velho ou de um modelo venerado pelo estilo, mas porque funciona basicamente de acordo com a chamada física clássica criada pelo inglês Isaac Newton há trezentos anos. Neste sentido, ele não difere muito de um ábaco de mais de 2.500 anos atrás – que era pouco mais que um amontoado de pedrinhas movidas manualmente para efetuar cálculos. A diferença é que ao invés de pedras, os computadores de hoje lidam com elétrons, e em lugar de mãos, possuem chips repletos de componentes minúsculos para movê-los de lá para cá na velocidade da luz.

Além da física clássica contudo, existe a física quântica desenvolvida no começo do século XX. É uma física desconcertante: Niels Bohr, dinamarquês que ajudou a criá-la, já avisava que “qualquer um que possa contemplar a mecânica quântica sem ficar perplexo não a entendeu propriamente”. E se a física quântica é assim, computadores baseados nela não seriam muito diferentes. Capazes de realizar literalmente ‘tudo ao mesmo tempo agora’, computariam inúmeras possibilidades e resultados de uma só vez. Frente a eles, nossos computadores não só são clássicos, como seriam realmente obsoletos.

No entanto os computadores quânticos permanecem até agora pouco mais que uma grande promessa. Construí-los provou ser muito difícil, principalmente porque a mesma propriedade que lhes garante efetuar cálculos simultâneos é fruto de uma frágil condição, a sobreposição de estados. Nela, ao invés de bits digitais (uns e zeros) poderíamos ter qubits – quantum bits, capazes de ser uns e zeros ao mesmo tempo.

O mais longe a que se foi até hoje na área foi alcançado no final de 2001, quando cientistas do centro de pesquisas Almaden da IBM juntaram nada menos que um bilhão de bilhão de moléculas especialmente projetadas para funcionar como um computador de apenas sete qubits. Isolados do mundo externo em sua frágil sobreposição de estados, os sete qubits puderam assumir 128 estados diferentes de uma só vez e o complexo sistema fatorou o número 15, isto é, descobriu que 15 = 3 x 5.

Está bem, pode não parecer muito impressionante, mas outra vez a possibilidade demonstrada, e aqui de forma concreta, é que foi imensa. A fatoração de um número é justamente o tipo de problema para o qual computadores quânticos poderiam exibir sua superioridade sobre os clássicos.


Nós Matemáticos

física seja ela clássica ou quântica pode fornecer modos essencialmente diferentes de realizar na prática um cálculo, mas a matemática também não está atrás em oferecer novas perspectivas. E elas podem surgir de onde menos se espera, como do estudo de nós.

Nós matemáticos são um tanto diferentes daqueles que acabam surgindo para nosso azar nos cabos atrás de computadores ou nas mangueiras de jardim. Eles não têm pontas soltas, e desfeitos são apenas um círculo. De toda a infinidade de nós complexos que podem ser criados, a tarefa que os matemáticos assumiram é tentar descrevê-los de forma a saber quando dois nós aparentemente diferentes são iguais – e vice-versa.

Quem já viu ‘nós mágicos’ pode ter uma idéia da dificuldade do problema. Mágicos podem enroscar uma série de laços em uma corda, mas ao puxá-la, descobre-se que nenhum nó verdadeiro foi formado (ver imagem). Isso não é realmente mágica, é topologia em ação: a área da matemática que lida com estas relações de ligação. Se este fosse um nó matemático, com as pontas ligadas, o nó mágico complexo que você juraria que deveria ficar preso revela ser topologicamente equivalente a um círculo sem nós. Conseguir calcular isto sem precisar puxá-lo é tão difícil que ainda não se conseguiu descobrir uma fórmula geral para tal.

Em 1984 entretanto, chegou-se bem mais perto. Vaughan Jones, da Universidade da Califórnia, desenvolveu um polinômio capaz de descrever uma série de nós a partir dos seus diversos cruzamentos e revelar se dois nós são topologicamente iguais ou não. Isso deu todo um novo fôlego para o estudo matemático de nós, ainda que o polinômio de Jones tenha mostrado ser extremamente difícil de calcular para nós mais complexos. De fato, mostrou-se que calculá-lo é tão difícil quanto fatorar um número enorme.


Nós na Quântica

Até aqui só falamos de dificuldades, mas surpreendentemente, somando a dificuldade de construir computadores quânticos com a de calcular nós matemáticos, surgiu uma luz. A idéia é fazer com que a própria natureza puxe os nós em nível quântico e calcule assim o polinômio de Jones. Ela foi proposta inicialmente por Edward Witten, uma das principais figuras no desenvolvimento de outra teoria de ponta da física, a das supercordas (isso mesmo, de supercordas físicas a nós matemáticos).

Assim como a natureza automaticamente “calcula” o tempo que levará para um martelo cair no seu pé com determinada velocidade antes mesmo que você possa lembrar da fórmula da gravidade de Newton, ela poderia puxar os nós e calcular o polinômio de Jones rapidamente. E então, vem a ligação final: como o polinômio é equivalente a toda uma série de outros problemas difíceis, poder resolvê-lo com facilidade significa poder resolver todos os outros também.

A possibilidade leva ao computador quântico topológico, explorada entre outros pelo matemático Michael Freedman do centro de pesquisas da Microsoft, e o físico Alexei Kitaev, do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Eles procuram concretizar tal tipo de computador através de um estranho sistema físico, o fluido quântico de Hall. Nele, surgem “quasi-partículas” que se ‘lembram’ do caminho que percorreram no fluido, e assim podem revelar se se cruzaram ou descruzaram, fazendo o equivalente a puxar um laço para ver que nós tem.

A grande vantagem desta proposta é que, ao contrário dos frágeis qubits, ter a informação codificada e processada em laços e nós é muito mais estável – como um laço de cadarço pode resistir a muitas sacudidas.

Até agora, mesmo o computador quântico topológico é uma promessa: o sistema explorado ainda é muito simples para permitir cálculos suficientemente complexos. Mas se os físicos e matemáticos aprenderem a amarrar o sapato de forma quântica, nossos computadores poderão ser clássicos em todos os sentidos. O que seria ótimo.


Duas fendas e a sobreposição de estados

O célebre físico Richard Feynman, ganhador do prêmio Nobel em 1965 e, casualmente, integrante de uma escola de samba do Rio em 1952 (onde tocou uma frigideira com uma colher), descreveu o experimento de fenda dupla como o “mistério central” da mecânica quântica. Se você o entendesse, entenderia a quântica – mas parafraseando Bohr, Feynman também declarou que “ninguém entende a mecânica quântica”.

O experimento foi realizado em 1801 pelo inglês Thomas Young, e em si não é incompreensível. Basicamente, faz-se com que uma única partícula de cada vez – como uma de luz, um fóton – passe por uma fenda e atinja um detector, que pode ser um filme fotográfico. Revelando o filme, veremos que a imagem formada é uma linha, da forma da fenda, com borrões à volta desvanecendo. Nada muito misterioso. Mas é com apenas uma fenda.

Com duas fendas, espera-se que se formem então simplesmente duas linhas, com mais alguns borrões desvanecendo. O que ocorre no entanto é que o padrão formado é de uma série de listras, um padrão de interferência. Contrariando todo o bom senso, é como se cada partícula passasse pelas duas fendas ao mesmo tempo, em uma sobreposição de estados, e interferisse com ela mesma. É este resultado, confirmado e reproduzido inúmeras vezes, que é incompreensível e misterioso, situando-se no cerne da física quântica. Mas é tão real quanto uma maçã caindo.


Kentaro Mori, revista Newton

As hidrelétricas do Rio Madeira


Antonio Oliveira Santos - Presidente da Confederação Nacional do Comércio

A reunião das Nações Unidas no Rio de Janeiro, em 1992, constituiu um marco histórico ao tratar do relacionamento racional e harmonioso entre o Homem e a Natureza. Da Declaração de Princípios da “ECO-92”, consta o seguinte compromisso: “Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável e têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza”.
A feliz expressão “desenvolvimento sustentável” diz tudo: adotar todos os procedimentos para alcançar o maior desenvolvimento possível, sem comprometer as possibilidades de desenvolvimento em favor das futuras gerações. Não há, no caso, qualquer antagonismo anacrônico entre o desenvolvimento e a preservação. A questão está em fazer uso da moderna tecnologia, para sustentar o desenvolvimento de forma solidária, responsável, e não predatória.
O Governo brasileiro empreende uma dura luta nessas duas frentes, buscando elevar rapidamente o ritmo de crescimento da economia nacional e a criação de empregos, ao mesmo tempo utilizando racional e prudentemente seus recursos naturais, em especial suas reservas biológicas, tais como a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica.
Nesse contexto, ressalta-se que, sem dúvida, um dos mais sérios problemas nacionais é o que se refere ao desemprego da mão-de-obra, sabendo-se que, tristemente, cerca de 50% dos trabalhadores nacionais estão desempregados ou empregados em atividades marginais, na economia informal, sem carteira assinada e, portanto, à margem de todos os benefícios de legislação social.
Impõe-se, pois, perseguir obstinadamente a expansão dos investimentos indispensáveis ao crescimento do PIB nacional e à geração de empregos. É nesse campo que surge a questão crucial de reaparelhar a infra-estrutura social e econômica, onde se destaca a geração de energia, que se situa na base do processo de crescimento. A Natureza deu ao Brasil fantásticos recursos hidrelétricos, entre os quais se destacam as possibilidades de construção no Rio Madeira, das Usinas Santo Antonio e Jirau, com capacidade para produzir nada menos do que 6,5 mil MW de energia limpa e barata.
Mas o crescimento econômico do País, ao mesmo tempo em que representa uma prioridade nacional, encontra sérias resistências, principalmente na área do licenciamento ambiental, onde, visivelmente, se nota a presença de interesses estrangeiros, interpretados por suspeitas ONGs internacionais, aliadas à ingenuidade nacional.
É evidente que os eventuais conflitos que possam ser gerados pela construção dessas duas importantes hidrelétricas têm solução técnica, já demonstradas por competentes especialistas das grandes empresas ligadas aos projetos, entre elas Furnas e Odebrecht. Por isso, é inadmissível que as obras projetadas se atrasem, indefinidamente, pela ação obstinada de alguns setores governamentais. O que mais se condena em relação ao IBAMA, por exemplo, é que oferece uma obstrução sistemática, mas não se preocupa em oferecer soluções técnicas, ainda mais quando se sabe que as alternativas viáveis, termoelétrica ou nuclear, são sabidamente mais poluentes e de custos mais elevados.
Afinal, tudo indica que chegamos ao ponto crucial das decisões, com a atitude decisiva e clarividente do Presidente Lula, de remover esses inexplicáveis obstáculos, que entravam projetos destinados à melhoria de vida de uma população de cerca de 30 milhões de brasileiros, na região amazônica, e condenam o País a um crescimento medíocre, no contexto internacional.


Publicado no Jornal do Brasil de 26/05/2007.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Tommaso Campanella


Tommaso Campanella nasceu em Stilo, no dia 5 de Setembro de 1568. Ainda muito jovem, já se revelava em seu espírito o pendor para a filosofia. Seu pai, contrariando-lhe a vocação, quis fazer dele um jurista, ao que Campanella se opôs tenazmente. Sua primeira obra foi a Philosophia Sensibus Demonstrata (1), que lhe valeu a acusação de heresia. Tendo deixado o convento em que iniciara os estudos, empreendeu uma viagem pela Itália, através da qual ficou conhecendo os homens mais ilustres do seu tempo.
Voltando a Stilo e sempre preocupado em operar uma reforma que servisse para enfraquecer o domínio da autoridade, Campanella iniciou sua atividade política tentando organizar uma conspiração contra o despotismo espanhol. Isso o levou ao cárcere, onde permaneceu vinte e sete anos. Libertado em 1626, seguiu para Roma, onde foi bem recebido pelo papa Urbano VIII. Logo, porém, tornou-se alvo de novos ataques e, perseguido, foi obrigado a fugir para a França. Morreu em Paris, em 1639.
Mártir do livre pensamento, Campanella ocupa, também como filósofo, um lugar importante entre os grandes homens de sua época. Suas obras, quer o Prodromus Philosophiae Instaurandae (2), quer os Dogmata Universalis Philosophiae (3)., quer a Realis Philosophiae Partes Quatuor (4), oferecem aspectos doutrinários que, embora discutíveis, não deixam de ser extremamente interessantes.
A Cidade do Sol é a mais popular das obras de Campanella. Essencialmente idealista, está no mesmo plano da Utopia, de Thomas More (5), e da República, de Platão (6). Sem entrar na apreciação do sistema proposto por Campanella, é forçoso reconhecer em A Cidade do Sol uma das obras-primas da literatura universal.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Diálogo poético......

João – essa fome zero tá zerando mesmo, né compadre?
Zé – eu não sei não… sempre fui péssimo em matemática, só tirava zero, fome zero? meu prato está sempre vazio, vazio = zero…. opa….
João – calma Zé, você está filosofando o zero e misturando os patos com os macacos
Zé – patos com macacos?
João – brincadeira filosòfica Zé….brincadeira….
Zé – agora enrolou tudo no meu tamborim enluarado, pobre do meu ventre esfomeado…
João – opa….agora você está poetando
Zé – poetando?
João – sim….poesia….poeta…
Zé – Ah! eu? poeta?
O que foi que eu disse mesmo?
João – que você està enluarado no teu cérebro esfomeado
Zé – é poético mesmo.
poesia danada!
a inspiração me pega quando eu menos espero
agora entendi o teorema da fome zero
João - ???
Zé - ????
João – tá zerando mesmo a danada!
Zé – como diz o cantor…arte tem que ser simplicidade…pra fosforecer
João – Fosfore o quê?
Zé – fosforecer João, fosforecer!
João – Ah! eu não sei falar direito nem escrever
Zé – o Lula também não
João – o poeta?
Zé – que poeta nada…. o bicho, aquele cheio de braços tentaculares tenebrosos…. o bicho derruba até avion
João – cheio de braços e não sabe escrever…. só sabe zero…. zero na massa…. zero!
Zé – pois é, o bicho só sabe zerar, por isso prato vazio e o céu cada vez mais sombrio…!

Pelo Brasil!

Vamos fazer um minuto de silêncio!

Obstáculos à Liberdade na América Latina



“Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é
permitido, mas não me deixarei escravizar por coisa alguma".
São Paulo
Primeira Epístola aos Coríntios
(1 Cor. 6, 12)

“Nada é mais rico em privilégios do que a arte de ser livre;
mas nada é mais árduo que o aprendizado da liberdade”
Alexis de Tocqueville

A liberdade individual é uma conquista relativamente recente da Humanidade e corre o risco de ser uma experiência efêmera, tantos são os óbices que se acumulam contra sua universalização. Mesmo nas sociedades em que ela existe em maior grau a tentação totalitária está sempre presente, fazendo com que seja permanentemente atual a advertência de Thomas Jefferson “O preço da liberdade é a eterna vigilância”. É de sua lavra também a frase “Jurei, no altar de Deus, eterna hostilidade contra todas as formas de tirania sobre a mente humana”. Conhecido como o “membro silencioso” do Congresso Continental, Jefferson falou através de sua pena, rascunhando a Declaração de Independência aprovada quase sem emendas em 4 de julho de 1776, onde pela primeira vez declarava-se que “Acreditamos serem verdades evidentes por si mesmas que todos os homens nascem iguais; que são dotados pelo Criador com alguns direitos inalienáveis, entre os quais a vida, a liberdade e a busca da felicidade”.

Tomava corpo a institucionalização das condições políticas para que o homem pudesse exercer a liberdade interior preconizada por São Paulo na Epístola em epígrafe. A procura de um regime político que permita a grandeza de escolhermos nosso próprio destino, baseados unicamente na nossa consciência, é muito antiga. Começa pela tradição bíblica do livre arbítrio, passa pela busca incessante de Sócrates e seus discípulos e pela pregação cristã e se espraia pela tradição anglo-saxônica. Quando os barões e os prelados ingleses extraíram quase a fórceps, em 15 de junho de 1215, a Magna Carta do Rei João Sem Terra, não imaginavam que, pensando apenas em si mesmos e nos seus interesses imediatos, estavam estabelecendo as bases dos modernos Parlamentos e daquele Congresso Continental quinhentos anos mais tarde em que Jefferson se pronunciaria.

Documento infelizmente pouco conhecido na atualidade a Magna Carta foi a primeira tentativa anglo-saxônica de limitar o poder de um tirano mediante o império da lei. Foi responsável, entre outras coisas, pelo estabelecimento do que hoje se chama devido processo legal (due process of law) ao estatuir na sua cláusula 39 que: “Nenhum homem livre será preso, encarcerado, despojado de seus bens, colocado fora da lei, banido, ou ferido de qualquer maneira – nem o perseguiremos ou faremos perseguir – a não ser pelo julgamento legal de seus pares ou pela lei da terra”. Igualmente estabeleceu pela primeira vez o direito de livre comércio. A cláusula 41 rezava: “Todos os mercadores poderão, de maneira certa e segura, sair ou entrar da Inglaterra e aqui permanecer, ou por aqui passar, tanto por terra como por água, para comprar ou vender sem que lhes sejam cobrados impostos odiosos (evil taxes) (...)”. Na mesma cláusula ainda defende o princípio da reciprocidade diplomática e da simetria em caso de guerra: “(...) deverá ser do nosso conhecimento, ou de nossos magistrados, como nossos mercadores que estiverem em terras em guerra conosco serão tratados. Se os nossos estiverem a salvo lá, os de lá estarão a salvo em nossas terras”. (A moderna guerra assimétrica é justamente o oposto do disposto nesta cláusula).

Também inaugurou o direito inalienável de livre trânsito, hoje negado em várias “democracias”. Na cláusula 42 estabeleceu que: “A partir de hoje qualquer pessoa, salvo por crime de deslealdade, pode sair do nosso reino e a ele retornar, são e salvo, por terra ou água, exceto talvez por breves períodos em tempo de guerra, e os prisioneiros e foras da lei, para o bem comum do reino (...)”.

Outra lição que se pode tirar da história deste documento, fundamental para o individualismo, é que interesses à primeira vista exclusivamente egoístas revelam-se ao longo do tempo benéficos para o assim chamado bem comum. Desde que os indivíduos sejam deixados em paz e fora das garras dos “engenheiros sociais”, os quais pensam que conhecem melhor que os indivíduos livres, o melhor para o “bem comum”, agora chamado “social”. Se os barões e prelados não tivessem lutado em causa própria não gozaríamos hoje os benefícios de suas exigências. Hoje, os barões e prelados são exatamente os “engenheiros sociais” que também atuam exclusivamente em causa própria, para aumentar o seu poder, mas alegam ser os representantes das causas da sociedade como um todo. Não se fazem mais barões e prelados como na Idade Média!

As diferenças cruciais entre as revoluções Francesa e Americana residem nestes dois pontos: a importância da liberdade individual e a delimitação do poder dos governantes. Enquanto na primeira simplesmente se substituiu um tirano coroado pela tirania da maioria, gerando governantes jacobinos ainda mais tirânicos, na segunda o tirano foi substituído pela Carta dos Direitos e pela limitação do poder dos governantes, isto é, pelo Império da Lei e não dos homens. Todo o texto enxuto e claro da Constituição Americana é uma seqüência de limitações do poder dos governantes sobre os governados. Na verdade, a Constituição se refere sempre a estas limitações, obrigando o respeito a elas por parte do governo; os indivíduos e as entidades privadas não estão a elas obrigados. É o reinado do individualismo, da liberdade do homem embora limitada pelos valores cristãos. Ama o próximo como a ti mesmo, é o que coloca os limites do “nem tudo convém”, diferenciando-o do simples egoísmo que não leva os demais em consideração.

Esta liberdade individual inclui as liberdades de querer, optar, pensar, falar, escrever, opinar e publicar. De trabalhar em qualquer ocupação à sua escolha, de ter posses e dispor livremente delas, sem constrangimentos, inclusive testar, de escolher seu cônjuge livremente e assim criar seus filhos educando-os dentro dos seus princípios. Liberdade de consciência e de culto, de estabelecer-se onde melhor lhe pareça, sair ou entrar livremente de seu país. De definir seu próprio conceito de existência, de sentido da vida e do universo. Toda a cooperação do governo deveria ser no sentido de assegurar e defender estas garantias protetoras da vida, das pessoas e da propriedade privada.

Não foi outra coisa que levou o Ocidente, principalmente os Estados Unidos da América e a Inglaterra, ao impressionante surto de descobertas e invenções do final do século XIX e início do XX. Na esteira da Revolução Industrial que datava já de um século houve um incremento monumental do acúmulo de capital que permitiu uma imensa expansão em todos os setores da economia. Certamente o fim da Guerra Civil Americana e a expansão para o Oeste levada a efeito por indivíduos livres, cada vez mais distantes dos centros do poder, tiveram um papel relevante na evolução do próprio conceito de liberdade. Nem mesmo na época dos Grandes Descobrimentos ocorreu esta evolução, pois ou eram projetos estatais ou dependeram enormemente da mão gorda do Estado. Vasco da Gama, Colombo, Cortez e Cabral estavam mais para funcionários da Coroa do que para campeões da liberdade. Muito diferente foi a Conquista do Oeste Americano realizada sob a égide de homens livres que corriam para ganhar suas vidas e de suas famílias e a tudo estavam dispostos para defender o que iam conquistando. Remember the Alamo, Davy Crocket, Sam Houston, Stephen Austin, Lewis & Clark. Por que não “Doc” Holiday e Wyatt Earp e seus irmãos. É o espírito dos cowboys, da liberdade das pradarias - tão desprezados pelos intelectuais de gabinete que não se arriscam nem em ir até a esquina - que constituiu a saga formadora dos Estados Unidos da América.

Armando Ribas coloca a questão em seus devidos termos: “Onde estaríamos se os cowboys não tivessem ganho dos Sioux, Apaches, Comanches e outros? Poderíamos pensar que os caçadores de búfalos que dançam com lobos seriam capazes de destronar o Kaiser, vencer a Hitler, Mussolini e Hiroíto e conter o Império Soviético e a China de Mao? Certamente não, a vitória nesta luta pela liberdade que se iniciara em Filadélfia foi e seguirá sendo a dos cowboys que acreditaram nos direitos individuais e lutaram por eles, e não dos que chegaram ao Terceiro Milênio pela mão da Razão do Estado, sublimada pelo voto universal na Social Democracia” (Entre Cowboys y Jacobinos).

A TRISTE HISTÓRIA DA LIBERDADE DA AMÉRICA LATINA

Os Founding Fathers antes de chegarem ao texto constitucional discutiram longamente as relações entre liberdade, justiça, democracia e o significado da expressão todos os homens nascem iguais. Os Federalist Papers são uma mostra eloqüente desta discussão. Isto nunca ocorreu na Europa e, conseqüentemente, no nosso Continente. Herdamos de forma crua os princípios igualitários da democracia franco-germânica e, inevitavelmente, herdamos também a propensão européia às tiranias. Ironicamente a obra mais conhecida de Hayek não se aplica aqui: não estamos e nunca estivemos no Caminho da Servidão, vivemos nela desde sempre e o que necessitamos é descobrir um Caminho para a Liberdade! A servidão nos foi transferida in natura das metrópoles ibéricas, plenamente exercidas durante o período colonial e nossas independências foram feitas por homens que nada sabiam da verdadeira liberdade por terem sido criados na Espanha ou Portugal onde a tirania era a tônica. A independência dos países não resultou em liberdade para seus povos. Já nascemos como prisioneiros que só conhecem os limites da sua cela e nem podem imaginar como o mundo pode ser fora dela.

Juan Bautista Alberdi (1810-1884), conhecido como o “Pai da Constituição Argentina” de 1853, a única Constituição liberal que a ibero-mérica conheceu em toda sua história, deixa claro que “A liberdade da Pátria é a independência com relação a todo país estrangeiro. A liberdade do homem é a independência do indivíduo com relação ao governo de seu país. A liberdade da Pátria é compatível com a maior tirania e ambas podem co-existir num mesmo país. A liberdade do indivíduo deixa de existir pelo próprio fato da Pátria assumir a onipotência do país” (A Onipotência do Estado é a Negação da Liberdade Individual). “Esta verdade tem sua confirmação cabal no exemplo que nos oferecem os próprios Generais tidos como ‘Libertadores da América’. (...) Não bem concluída a guerra contra a Espanha, Bolívar e San Martin se colocaram à testa de movimentos da política interior com o objetivo de fundar pela espada a liberdade doméstica (...). O fracasso não tardou em mostrar-lhes seu erro (...)” (Peregrinación del Luz del Dia o Viajes y Aventuras de la Verdad en el Nuevo Mundo).

Neste caso o Brasil também está em pior situação que nossos vizinhos. Nossa “independência” não passou de uma pantomima: foi proclamada por um Príncipe português de caráter duvidoso, cujos principais interesses eram os bordéis e reinar em Portugal, a mando d’El Rei, seu pai que o recomendou colocar a coroa na sua cabeça “antes que um aventureiro brasileiro o faça”. A diferença com George Washington é deprimente: logo após o fim da Guerra de Independência o Coronel Lewis Nicola escreveu a Washington, como representante dos oficiais descontentes com o tratamento que lhes dispensava o Congresso, sugerindo que ele se tornasse Rei, pois contaria para isto com o apoio da maioria das “pessoas com vantagens materiais” do país. Sua resposta indignada foi peremptória: “não sei qual conduta de minha parte pode ter encorajado esta sugestão, pois os senhores não podiam ter encontrado alguém para quem tais esquemas sejam mais desagradáveis e repugnantes”. E acrescentou: “Se os senhores têm alguma consideração por si mesmos ou sua posteridade, ou respeito por mim, devem banir estes pensamentos de suas mentes e nunca comunicar, direta ou indiretamente a ninguém, um sentimento desta natureza”. (George Washington: A Brief Biography, Mount Vernon Ladies’ Association of the Union)

É ainda Alberdi quem o diz: “O despotismo e a tirania freqüentes nos países da América, não residem no tirano nem no déspota mas na máquina ou construção mecânica do Estado, pela qual todo o poder de seus indivíduos, refundido e condensado, cede em proveito de seu governo e cai em mãos de sua instituição. O déspota e o tirano são o efeito e o resultado, não a causa, da onipotência dos meios e forças econômicas do país, colocadas na posse do estabelecimento de seu governo e do círculo pessoal que personifica o Estado pela maquinaria do próprio Estado”. “Nos Países Anglo-Saxônicos (Estados Unidos e Inglaterra) liberdade nunca significou independência de uma potência estrangeira, mas independência de cada indivíduo em relação ao Governo da Nação (...) a liberdade da Nação tem como limite sagrado a liberdade individual”. (A Onipotência do...)

A natureza do que é chamado de democracia no nosso Continente não inclui a noção de liberdade individual. A maioria possui uma visão populista da relação entre Estado e Sociedade. As pessoas esperam que o Estado resolva seus problemas básicos: emprego, moradia, comida, saúde, educação e aposentadoria o mais cedo possível. Estes fatores são descritos em nossas Constituições como “direitos dos cidadãos”. A Constituição Brasileira de 1988 – a “Constituição-cidadã” – chega a prever absurdos como a taxa máxima de juros – que, se fosse respeitada impediria todas as transações econômicas do país – e a ridícula cláusula que define saúde como “direito de todos e obrigação do Estado”! Numa sociedade que respeita seriamente sua Constituição, qualquer indivíduo poderia acionar juridicamente o Governo por um reles resfriado!

Mas é aí que está o ponto: enquanto os Anglo-Saxões fazem constituições enxutas para serem obedecidas principalmente pelos governantes – a da Inglaterra nem tem uma redação unificada mas leis esparsas somadas ao direito consuetudinário – nós herdamos o furor de regulamentação das monarquias ibéricas produzindo Constituições intermináveis onde todos os detalhes das vidas dos cidadãos são previstos. Faltou prever alguma coisa? Providencia-se uma lei ou emenda para incluí-la. Nenhuma profissão pode deixar de ser regulamentada, nos moldes das guildas medievais, nos mínimos detalhes. É decepcionante que os próprios cidadãos peçam para ser regulamentados porque acreditam que assim estarão protegidos, e não se dão conta de que, de regulamentação em regulamentação, tornam cada vez mais forte o Estado e mais fracos os indivíduos! Como conseqüência, os movimentos contrários à liberdade e à propriedade privada se aproveitam exatamente do regime democrático para assumir o poder e liquidar o próprio sistema que os elegeu. É de se notar a sutil modificação introduzida no Estado de Direito: ao acrescentar a palavra Democrático, liquida-se com o próprio Estado de Direito e coloca-se em seu lugar a tirania das maiorias e o aniquilamento progressivo das minorias. Jamais passou pela cabeça dos framers da Constituição Americana ou dos legisladores britânicos a expressão democratic rule of law mas tão somente rule of law, sem adjetivos.

HÁ ESPERANÇA?

O meu otimismo me obriga a pensar que sim embora o exame da realidade me leve a crer que não, pois cada vez mais nos enterramos na tirania e a perspectiva é de que passemos da cela às masmorras. A população cada vez mais exige direitos inconquistáveis e os governantes prometem cada vez mais sabendo plenamente que são promessas vãs. Tinha plena razão Alexander Tyler quando dizia que “[a democracia] Só pode existir até que os eleitores descubram que podem votar por mais dinheiro do tesouro público para si mesmos. Deste momento em diante a maioria sempre votará nos candidatos que prometem a distribuição de mais dinheiro do tesouro público, tendo como resultado que uma democracia sempre acaba em razão de políticas fiscais frouxas, liberais e irresponsáveis e são seguidas por uma ditadura”.

Os candidatos sabem que as promessas não poderão ser cumpridas, mas as fazem porque seu objetivo é bem outro: provar que o regime democrático não funciona e que é preciso cada vez mais restringir as liberdades individuais para o “bem social” – na verdade para o bem deles mesmos. Atacam as liberdades mais invejadas e cobiçadas, a da propriedade privada e a da individualidade, pois sabem que contarão com o apoio dos que nada ou pouco possuem e dos que são incapazes de exercer plenamente sua individualidade.

A primeira é “a fonte mais comum e duradoura da formação de partidos (fractions). Aqueles que possuem e aqueles que não possuem propriedades sempre formam distintos interesses na sociedade”. (James Madison, The Federalist n 10). O que os invejosos não desconfiam é que, depois desta, todas as demais liberdades virão de roldão, inclusive as suas.

Já a espontaneidade individual não faz parte “do ideal da maioria dos reformadores sociais e morais mas, pelo contrário, é olhada ciumentamente como um problema e talvez como uma obstrução rebelde à aceitação geral dos que estes reformadores, em seu próprio julgamento, pensam ser o melhor para a humanidade”. (John Stuart Mill, On Liberty)

É claro que a ânsia de liberdade existe nos nossos povos como em quaisquer outros mas para isto seria necessário abandonar esses falsos “privilégios” e aí entram as dificuldades em aprender a ser livre: é, como dizia Tocqueville, um trabalho árduo. Mas que deve ser começado antes que não haja mais tempo. O Seminário que me coube organizar e coordenar, sob a inspiração de Armando Ribas, é uma primeira tentativa: reunir intelectuais para, tal como na Argentina da década de 30 do século XIX, em condições muito semelhantes às atuais, “refletir como deve ser a república (...) a geração de 1837 atuou para dar vida à Constituição, às instituições republicanas e as formas de vida de uma sociedade moderna”, como nos diz na apresentação de seu livro Los Fundadores de la Republica, outro participante do Seminário, Ricardo López Göttig.

Mas esta é a mais assimétrica das batalhas já que os defensores da liberdade são ciosos do que defendem, e lutam como indivíduos, enquanto os inimigos coletivistas da liberdade lutam como um exército de formigas obedecendo a ordens pavlovianas.

A aceitação e apoio entusiásticos do Presidente da Associação Comercial de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, do Diretor do Instituto de Economia Gastão Vidigal, Marcel Solimeo e do Redator-Chefe do Diário do Comércio, Moisés Rabinovici foi um raio de otimismo que espero que frutifique.


Rio de Janeiro, 10 de agosto de 2006


HEITOR DE PAOLA - Organizador Técnico e Coordenador do Seminário sobre Democracia Liberal: Liberdade, Democracia e o Império das Leis