quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Os paradoxos da ação polìtica

[.....] O bom governante, quer dizer bom na sua pròpria ordem, decide sempre sem conhecer perfeitamente, pois ele se confronta perpetualmente com a urgência da ação. Ele não deve insistir muito nas suas pròprias dùvidas, mesmo se é sadio que ele as tenha. Mas ele sabe que ele não pode durante muito tempo dissimular a realidade com grandes palavras: ele se executa a dureza do real.
È conveniente de rever a aplicação dos termos " convicção" e "responsabilidade", pois eles não cansam a postura do homem polìtico. Que todo polìtico digno desse nome deva enunciar convicções e se esforçar de agir para lhe conferir uma dimensão concreta, é uma certeza. Ele deve também agir com responsabilidade, quer dizer apreciar o estado do paìs onde ele age, medir a influência das forças nacionais ou internacionais, que, a um dado momento, são mais poderosas que o Estado, levar em conta também a receptividade da opinião - sobre a qual ele também pode agir - e agir com esse "poder social" que ele não pode apagar de repente. A vontade não é jamais absoluta, nem jamais nula. Essa consideração exige muito em termos de convicção como responsabilidade.
Os homens polìticos podem exprimir convicções mas elas podem ser muito vagas para serem seguidas de atos. Quantos polìticos afirmaram tais convicções relativas aos direitos fundamentais, à exigência de uma maior igualdade, ao crescimento da independencia da justiça ou à luta contra a corrupção, mas se encontraram demunidos, com mais ou menos honestidade intelectual, quando se trata de traduzi-las em atos ? Vàrias vezes, esse fracasso concreto na aplicação do projeto deles não era por causa do cinismo - mesmo se este veio em seguida, quando trata-se de se justificar - , mas ao esquecimento de uma realidade. A polìtica não é da ordem da paz, mesmo se ela deve visa-la. Ela não é uma troca de argumentos, segundo o modo racional descrito por Habernas, que pode sempre chegar ao consensus, mas muitas vezes seguindo a ordem da confrontação.
A polìtica é fundada em conflitos, conflitos de repartição, e das rivalidades de interesses. Uma convicção, mesmo aquela que tem a aparência mais desinteressada, representa sempre um interesse entre outros que deve, para triunfar, desfazer interesses rivais. È preciso compreender dessa maneira todo processo de democratização, compreendido no sentido amplo. Ela não pode deixar todo mundo indemne e alegre.
Um comentàrio se impõe sobre o interesse geral. Como homem dotado de crenças, o homem polìtico poderà as vezes ter a convicção intima que ele age em favor do interesse geral. Um polìtico que desprezaria essa noção poderà muito bem ser o homem de uma facção e de um "clan", e verdadeiramente ser tentado por certas formas de corrupção. O povo também tem uma certa representação do interesse geral, certo nem unânime nem concordante, e terà tendência a negar o dirigente que parecerà não estar preucupado disso. Ora, esse interesse geral, no sentido rigoroso não existe. Não é nem o interesse da maioria, nem o interesse do povo compreendido como classe. Todos esses outros interesses que não são legitimos; eles são mesmo vàrias vezes constitutivos de um programa polìtico e são percebidos pelas frações da população como o interesse geral, mas eles lhe são por natureza estrangeiros. A démystification do interesse geral é uma das funções atribuìdas aos intelectuais. Ela conduz não a invalidar a polìtica como expressão de posições particulares, mas ao contràrio a explica-las e a mostrar a origem e as motivações das decisões polìticas. È melhor então sem dùvida falar de interesse nacional, noção que indica ao mesmo tempo a finalidade por natureza do polìtico e lhe restitue sua dimensão polêmica, pois nòs não podemos lhe dar uma definição consensual. O interesse nacional supõe debates e decisões.
A expressão de convicções não é então a expressão de uma verdade, mas de escolha, sempre contestadas e contestàveis. Não existe polìtica unamiste - mesmo se certas polìticas são mais amplamente aprovadas do que outras - mas toda ação é a de um partido. Nòs podemos imaginar algumas regras gerais de responsabilidade que participam da natureza da polìtica, que não saberia querer seu pròprio desaparecimento. Assim, seria absurdo de imaginar uma polìtica Indiferente à Ruina do paìs, à Insegurança de seus habitantes, à DESTRUICÃO de TUDO o que FAZ a Força do Estado e que Leva a Uma Decadência Irreversìvel. Mas se nòs podemos excluir esse Caso Extrêmo e pouco pedagògico, a Responsabilidade polìtica deve se conceber primeiro com relação àqueles que afirmam suas convicções e que, a maioria , escolheu de aprovar seu projeto. O polìtico é responsàvel primeiro com relação àqueles que esperam muito dele e que ele não pode enganar. A idéia de um homem polìtico acima das rivalidades, que poderia conduzir uma polìtica de união da nação, constitue uma grande ilusão. A necessidade pràtica impõe as vezes de levar em conta os adversàrios e de não trata-los bruscamente - ou de preferência sò é preciso faze-lo quando nòs estamos certos de ter os meios de aniquila-los. Mas a procura de um acordo mais amplo é o caminho mais certo de trair suas convicções como sua responsabilidade.
Permanece a questão da mentira, no centro da articulação entre convicção e responsabilidade na ação concreta. Existem duas maneiras falsas da apresentar os aspectos do problema. A primeira consiste em justificar a mentira em nome da responsabilidade: seria lìcito na medida em que ela seria "corollaire" de uma responsabilidade, tràgica ou solitària, de interesses superiores que não poderiam ser divulgados e de quais a natureza deles obrigaria a recorrer à dissimulação. A segunda leva a condenar a mentira em nome da convicção: a partir do momento em que ela seria exprimida e seria a base de um contrato de confiança entre o prìncipe e o povo, nenhuma mentira seria aceita, e toda ação deveria ser transparente pois tal seria a ùnica maneira de verificar a conformidade com o objeto enunciado.Essas duas regras opostas são um pouco curtas. O que é a mentira ?
Primeiro, o fato de dissimular uma realidade ou certos atos. Ora, em um mundo que não é de maneira alguma pacificado e onde todo fato torna-se um elemento de polêmica, verdadeiramente, como toda informação, uma arma de combate, a mentira é um instrumento de governar como qualquer outro. Ela não poderia por isso, em uma democracia, constituir seu princìpio. Sobretudo, a afirmação de uma convicção não saberia ser mentirosa, ao menos de desnaturar e pervertir o conjunto do sistema de referências polìticas no cidadão. Este não apreende mais a continuidade da ação que anima o poder e não existe mais nenhuma adequação possìvel entre a palavra e a coisa. Mas em termos pragmàticos, a ùnica questão interessante é a seguinte: até onde a mentira pode ir sem suscitar uma intolerância geral e catastròfica com relação aos dirigentes polìticos ? A polìtica é muitas vezes da ordem do teatro, pois ela repousa nas emoções. Nòs podemos as vezes admitir que o polìtico tenha que mentir para fazer triunfar uma causa justa: ele pode também enunciar que uma moral é verdadeira - o que não pode ser defendido rigorosamente - e que os princìpios são eternos. Mas uma polìtica que cria seu pròprio mundo fechado de ilusões que não podem aproximar-se da realidade é perversa e antidemocràtica. A pior coisa é a mentira que não é crua. Os cidadãos sabem então que os homens polìtico mentem para eles. Eles não têm conhecimento dos fatos e das ações reais, mas eles não acreditam mais em uma realidade dos discursos. È a realização da democracia de ter não somente reduzido nossa tolerância à mentira, mas de ter construìdo os sistemas de contrapeso e de Contra-Poder, o Prìncipe deve então primeiro aprender a não mentir ou a não se encontrar obrigado de faze-lo. Machiavel, atualmente, não teria dito outra coisa - e não mentir é com certeza uma arte difìcil e complicada.

Pour une nouvelle philosophie politique - Nicolas Tenzer - Puf
Quadrige - Essais - Debats -

- Nicolas Tenzer é alto funcionàrio, presidente do Centro de estudo e reflexão para a ação polìtica ( CERAP ) e diretor da revista Le Banquet. Ele é o autor de numerosas obras de filosofia polìtica e de ensaios relativos a atualidade e ensina em escolas e universidades francesas e estrangeiras.

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