domingo, 27 de setembro de 2009

Castelo de Montségur

O Castelo de Montségur localiza-se na comuna de Montségur, no Departamento do Ariège, na região do Midi-Pyrénées.naFrança.

Situa-se no topo da montanha, a 1.207 metros acima do nível do mar, em posição dominante sobre a vila. Atualmente é considerado como um dos Castelos cátaros.

Com efeito, este castelo foi implantado no local arrasado da antiga aldeia fortificada que constituía, até ao cerco de 1244, o local de resistência dos cátaros. As cotas arquitecturais demonstram que o atual castelo foi construído com base na antiga medida davara inglesa que apenas foi introduzida ulteriormente, o que demonstra que este foi parcialmente reconstruído pela família do novo senhor de seus domínios, o Marechal da Fé Guy II de Lévis, após a sujeição dos cátaros em 16 de março de 1244.


História

O sítio do atual castelo conheceu três grandes épocas construtivas, ao longo das quais a fortificação evoluiu:

Uma primitiva estrutura foi erigida no cume da montanha (denominado em língua francesa como "pog"[1]) da qual não se sabe muito a não ser que se encontrava em ruínas por volta de1204, data na qual aquela vila foi fortificada sob a direção de Raymond de Péreille. A esta vila fortificada, ou "castrum", os arqueólogos denominaram de Montségur II.


A fortificação cátara

O dispositivo defensivo desta fortificação era diferente daquele que observamos atualmente. O "castrum", em si mesmo, compreendia a residência fortificada do senhor dos domínios, o "castellum" (que foi, sem dúvida, restaurado pela casa de Lévis obtendo a sua conformação atual) e a vila cátara da época, envolvidas por uma cintura fortificada. Do lado da atual via, sobressaem três muros de defesa, onde o primeiro se situa ao nível da atual bilheteria onde se adquirem as entradas para as visitas pagas ao castelo. Em uma outra face do "pog", a cerca de oitocentos metros, se ergue uma torre de vigia, (sobre a rocha de "La Tour") dominando uma falésia de oitenta metros de altura. A entrada do "castrum" sob esta torre é defendida por uma barbacã. No interior do recinto da fortificação se erguia uma vila da qual nada mais resta do que alguns terraços a Noroeste do atual castelo. Sobre estes últimos, encontram-se as fundações de muitas habitações, de escadas para comunicação entre os terraços, uma cisterna e um silo.

Montségur abrigou uma importante comunidade cátara. Em 1215, o Quarto Concílio de Latrão denunciou a fortificação como um reduto de heréticos. Em 1229, o papel de Montségur como um abrigo para a Igreja Cátara foi reafirmado pelo Tratado de Meaux-Paris de 1229. A partir de 1232 este papel não cessou de se reafirmar. Paralelamente, o castelo acolheu igualmente os cavaleiros faiditas[2], que haviam perdido as suas terras pelo Tratado de 1229. Entre estes últimos destacam-se os nomes de Pierre-Roger de Mirepoix, primo de Raymond de Péreille, que veio a ser o comandante militar de Montségur.



O cerco do castrum

Na primeira metade do século XIII, a fortificação de Montségur sofreu nada menos do que quatro assédios, dos quais apenas um logrou sucesso:

Este último foi desencadeado pelo massacre de alguns inquisidores em Avignonet (1242) por um grupo de cerca de sessenta homens procedentes da guarnição de Montségur. O senescalde Carcassonne e o arcebispo de Narbonne (Pierre Amiel) foram incumbidos de assediar a fortificação, por ordens de Branca de Castela e Luís IX. Em maio de 1243, os cruzados, em número que ascendia a seis mil homens, cercaram Montségur.

O equilíbrio de forças durou até ao Natal de 1243, quando um punhado de "alpinistas" logrou, após uma audaciosa escalada noturna, assenhorear-se da torre de vigia. A partir deste momento, um "trébuchet" foi içado e ali instalado, passando a atirar, sem descanso, sobre a posição cercada, conforme o testemunham as inúmeras bolas de pedra cortada encontradas no sítio. Cerca de um mês mais tarde, talvez após uma traição local, a barbacã caiu nas mãos dos assaltantes. Um último assalto, lançado em fevereiro foi rechaçado, mas deixando os defensores extremamente enfraquecidos.


A rendição da praça-forte

Castelo de Montségur, França: vista interior.

A 1 de março de 1244, Pierre-Roger de Mirepoix se viu forçado a negociar a rendição da praça-forte. Os termos foram os seguintes:

  • a vida dos soldados e dos leigos seria poupada;
  • os "perfeitos" que negassem a sua fé seriam salvos;
  • uma trégua de quinze dias foi acordada, para que os cátaros que desejassem se preparar e receber os últimos sacramentos.

A 16 de março, a fortificação se abriu novamente. Todos os cátaros que não abjuraram da sua fé, pereceram sobre a fogueira, que engoliu assim, um pouco mais de duzentos supliciados (o número varia ligeiramente de acordo com as fontes) incluindo a esposa, a filha e a sogra de Raymond de Péreille.

A tradição sustenta que a fogueira foi montada a cerca de duzentos metros do "castrum" no chamado "Prat dels Cremats" (campo dos queimados) onde uma estela contemporânea foi erigida pela Société du souvenir et des études cathares. Sobre esta última figura a inscrição: "Als cathars, als martirs del pur amor crestian. 16 mars 1244" (Aos cátaros, aos mártires do puro amor cristão. 16 de março de 1244). Entretanto, parece que o verdadeiro local da fogueira está situado sobre a colina acima do estacionamento à direita do desfiladeiro voltado sobre Montferrier[3].


Montségur sob o domínio da família de Lévis

Após a tomada do castelo em 1244, os domínios do "pog" retornam a Guy II de Lévis, Marechal da Fé, senhor oficial de Mirepoix desde o Tratado de Paris de 1229. Os restos da aldeia cátara foram arrasados assim como o recinto fortificado externo. O "castellum" foi restaurado e redimensionado para abrigar uma guarnição de cerca de trinta homens que ali se conservará até à assinatura do Tratado dos Pirinéus (1659). Um documento de 1510 refere o castelo como "defensável". Após o século XVII, perdida a sua função estratégica, o castelo foi abandonado, mergulhando em ruínas.


A reabilitação do castelo

O castelo foi classificado como monumento histórico em 1875 e o "pog", sobre o qual está situado, acrescentado a esta classificação em 1883.

Desde então, o sítio não parou de incendiar a imaginação popular a tal ponto que muitos não hesitaram em escavar o "pog" a título pessoal, em busca de um tesouro supostamente ali oculto.

A campanha de restauração do castelo, iniciada paradoxalmente apenas em 1947 sustou estas degradações mas apagou, ao mesmo tempo, alguns testemunhos arqueológicos. Esta restauração motivou uma prospecção espeleológica da montanha, promovida pela Société spéléologique de l'Ariège. Esta última conduziu, em 1964, à exumação de uma sepultura no local denominado "aven du trébuchet".

Em 1968 foi fundado o Groupe de Recherche Archéologique de Montségur et Environs (GRAME), que desde então vem conduzindo várias campanhas de prospecção arqueológica no sítio.


Os mitos em torno de Montségur

Deve-se ao pesquisador do Ariège, Napoléon Peyrat, a partir de 1870, a redescoberta entusiástica de Montségur, e à inspiração de sua pena a atmosfera romântica que desde então cerca o local, a tal ponto que ainda hoje é difícil para um determinado público admitir que o templo do Paráclito seja apenas um pequeno castelo francês reconstruído no século XIV.


O fenômeno solar em Montségur

A cada ano, no solstício de Inverno, o primeiro raio de sol no horizonte atravessa o castelo no sentido do seu comprimento, e o solstício de Verão, atravessa os quatro arcos da torre de menagem a Noroeste, com uma precisão milimétrica.

Certos autores vêem neste fenômeno uma ligação entre o culto solar e a religião dos Cátaros.


O tesouro dos cátaros

Acredita-se que Montségur tenha abrigado o rico tesouro atribuído aos Cátaros. Deste suposto tesouro, entretanto, não dispomos de muitos subsídios. Dois fatos alimentam as especulações em torno do mesmo:

  • o primeiro é a fuga, a cavalo, do "Perfeito" Mathieu e do diácono Bonnet, em torno do Natal de 1243, portando "ouro e prata e uma ínfima quantidade de moeda". Acredita-se que este tesouro tenha chegado a Cremona, na Itália, onde uma outra importante comunidade Cátara viveu à época. Esta suposição é reforçada pela comprovada correspondência epistolar entre as duas comunidades.
  • um segundo tesouro teria sido salvo durante a trégua de março de 1244, uma vez que é referido que quatro indivíduos evadiram-se de Montségur com um carregamento. Os historiadores conjecturam que este tesouro reuniria numerosos textos heréticos conservados pelos "Perfeitos" na fortificação.


O graal pirenáico

Montségur foi considerado como sendo o castelo depositário do Santo Graal. Este teria se constituído em uma das peças do suposto tesouro dos Cátaros: o cálice no qual José de Arimatéia teria recolhido o sangue de Jesus Cristo sobre o monte Gólgota para alguns, ou a esmeralda caída da coroa de Lúcifer quando da queda dos Anjos, para outros. O Alemão Otto Rahn foi o artífice deste mito, que lhe foi inspirado por um erudito de Ussat-les-Bains, Antonin Gadal.

Otto Rahn havia estudado a história dos Cátaros e apaixonou-se por esta área do Languedoc, rica em lendas. Desse modo, desde 1932, havia se instalado na pequena estação termal de Ussat-les-Bains, no Hotel Marronniers do qual assumiu a gestão. Graças às teorias poéticas de Antonin Gadal, escreveu a "Croisade contre le Graal" que contribuiu ativamente, após a publicação do primeiro ensaio sobre Montségur de Napoléon Peyrat, para a renovação do interesse pela Occitania.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Castelo_de_Montségur

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Sendivogius, Michael.

1. Dates
Born: Skorsko or Lukawica, Poland, 2 Feb 1566
Died: Cravar, Silesia, Jun [?] 1636
Dateinfo: Both Dates Uncertain
Lifespan: 70 Note that Pollak indicates that the year of birth is uncertain--either 1556 or 1566. Pollak and Brückner claim he died in 1646. The generally accepted dates, however, are 1566-1636.
2. Father
Occupation: Aristocrat
His parents, Jacob Sedizimir and Catherine Pelsz Rogowska, were both of noble families and had a small estate near Nowy Sacz, in the Cracow district.
They are said to have been wealthy.
3. Nationality
Birth: Skorsko or Lukawica, Poland
Career: Prague, Czechoslovakia, Poland, and Germany
Death: Cravar, Silesia
4. Education
Schooling: Leipzig, Vienna
No confirmed primary or secondary education; probably stuied in a monastic school in Krakow.
1590, entered the University of Leipzig. In this year he met Alexander Seton in Germany.
1591, moved to the University of Vienna.
No mention of a B.A.
5. Religion
Affiliation: Catholic (assumed).
6. Scientific Disciplines
Primary: Alchemy
7. Means of Support
Primary: Patronage, Government, Personal Means
Secondary: Merchant
1593, entered the service of Emperor Rudolf II in Prague as a courier and later served simultaneuosly as secretary to the Polish King Sigismund III.
1594, he married Veronica Stieber, a wealthy widow.
In 1595 his name appears on the rolls of the University of Altdorf, probably as an imperial official rather than as a student. He may also have visited Rostock, Ingolstadt, and Cambridge.
Toward the end of the 1590s Sendivogius became increasingly influential at court. In 1597, he bought the Fumberg estate from the widow of the English Alchemist Edward Kelley. He also owned two other estates (Lukawic and Lhota). In 1598, he was named privy councillor and was granted such large sums of money that he soon became one of Bohemia's most significant landowners.
1597-8, on order from Rudolph II, he travelled to the East, visiting Greece et al.
In 1599, he left Prague after having been imprisoned for swindling his patron, the rich Merchant Koralek. He returned to Poland, where Wolski introduced him to King Sigismund III. He was recalled to Prague in 1602 and named privy councillor.
In 1605, while on a diplomatic mission to France, to act as an intercessor for the release of Seton from a Saxon prison, he was lured to the court of Duke Friedrich of Wuerttemberg at Stuttgart. He was imprisoned, but released.
After a visit to Cologne (1607), he returned to Poland, where he became a courtier to Queen Constantia, the second wife of Sigismund III. With crown marshall Mikolaj Wolski he established many smithies and iron and brass foundries in Krzepice, which later became a leading industrial center. This was undoubtedly lucrative, for he soon became the owner of several houses in Cracow. (I list this under Merchant.)
Around 1619, he transferred allegiance to Emperor Ferdinand II, for whom he established lead foundries in Silesia. In 1626 he was appointed privy councillor at a salary of 500 Fl. (later 1000 Fl.), and in 1631, as compensation for long-unpaid salaries, he received the estates of Cravar and Kounty in Crnow county, Moravia.
8. Patronage
Types: Merchant, Court Official, Aristrocrat, Government Official
Upon his arrival in Prague Sendivogius stayed with the physician Nikolaus Loew von Loewenstein, through whom he met the patrician merchant Ludwig Koralek von Teschin, who was an early patron. Sendivogius began his alchemical work in Koralek's own laboratory. Koralek lent Sendivogius 5600 "Schock meissnisch" (which I presume was some form of currency from Meissen) around 1595. Sendivogius still owed 2000 Schock in 1599. Sendivogius was accused of involvement in Koralek's death in 1599.
He served Emperor Rudolf II and Sigismund III simultaneously in the 1590s. He became a favorite and trusted friend of Rudolf II through his alchemical work. In 1599, he was accused before the municipal court of Prague of being responsible for the death of a friend and fellow alchemist, Koralek, and sentenced to prison. After intervention from Sigismund III and/or Herrn von Hasenberg, a patron of alchemists, he was released. Rudolf's inaction in getting him out of prison soured him, and he left Prague.
He was lured to the court of Duke Friedrich of Wuerttemberg at Stuttgart in 1605, who had noticed Sendivogius' claim in De lapide philosophorum (1604) to possess the secret of the philosopher's stone. The Duke put Sendivogius in prison. Sigismund III, Rudolf II, and several German princes intervened and Friedrich grew alarmed. He arranged for Sendivogius to escape and put the blame on his court alchemist, Heinrich Muehlenfells, who was condemned to die.
Also related to his patronage by the Polish King Sigismund III: he was courtier to Queen Constantia, Sigismund III's second wife.
Already in 1575, in Poland, he had the support of Mikolaj Wolski, then Starost (a kind of royal sheriff, often in charge of district courts) of Krzepice (near Czestochowa), and later Crown Marshall.
In 1603, Sendivogius resumed alchemical work at Krzepice with continued support from Wolski and Jerzy Mniszek, the Wojewod (Palatine) of Skandomeirz. (Mniszek was famous for his role in sponsoring the false Dmitri's efforts to claim the throne of Muscovy.)
1619, he transferred allegiance back to the court of the Holy Roman Emperor, now Ferdinand II, to whom he was appointed privy councillor (1626) and from whom he received two estates (1631).
According to the D.S.B., "He was undoubtedly a political double agent."
9. Technological Involvement
Type: Metallurgy
Sendivogius was responsible for establishing foundries in Krzepice and Silesia, and he evidently made a fair amount of money out of it. He also established lead foundries in Silesia.
10. Scientific Societies
Memberships: None
Connections: His friends included the alchemists Alexander Seton, Joachim Tancke, Oswald Croll, J. Orthel, J. Kapr von Kaprstein, V. Lavinus, R. Egli, Martin Ruland, Michael Maier, and Ludwig Koralek. In 1615-16 he visited Johannes Hartmann's laboratory at Marburg.
Sources
  1. J. Svatek, Culturhistorischen Bilder aus Boehmen (Vienna, 1879), pp. 78-84. [DB200.5.S88]
  2. Aledsander Brückner, Dzieje Kultury Polskiej, vol. II Polska u Szczytu Potegi. 2nd ed. (Wydawnictwo J. Przeworskiego: Warszawa, 1939), p. 230. Roman Pollack, Bibliografia literatury polskiej. Pismiennictwo staropolskie. Warsaw: Panstwowy Instytut Wydawn., 1963-5, III: 229-31.
  3. Bogdan Suchodolski, gen. ed., Historia Nauki Polskiej, 3 vols. Wroclaw: Zaklad Narodowy imienia ossolinskich wydawnictwo Polskiej Akademii Nauk, 1970. Vol. 1: Sredniowiecze, by Pawel Czartoryski and Odrodzenie by Pawel Rybicki. Vol. 2 Barok: by Henryk Barycz and Oswiecenie by Kazimierz Opalek.
Not Available and Not Consulted
  1. H. Barycz, "Rozwoj nauki w Polsce w dobie Odrodzenie," Odrodzenie w Polsce. Materialy Sesji Nauk. PAN 25-30 Pazdziernika 1953 r. T. 2: Historia Nauki. Cz. 1 w-wa 1956 pp. 61-2; 135-6. Osob. pt. Dzieje nauki w Polsce w epoce Odrodzenia.
  2. R. Bugaj, W poszukiwaniu kamienia filozoficznego. O Michale Sedziwojo, najslnniejszym alchemiku polskim. (Warsaw, 1957).
  3. T. Estreicher, "Z dziejow alchemii," Przeg. Powszechny, 1927 t.
  4. 174 s. 178-83.
  5. C. Lechicki, Mecenat Zyg. III, (Warsaw, 1932).
  6. W. Hubicki, "The True Life of Michael Sendivogius," Actes du XI Congres international d'histoire des sciences, 4 (Warsaw, 1965), 31-5.) A.Z. Szydlo, The Life and Work of Michael Sendivogius, Ph.D. thesis University College, London Univ., 1992.

Eliphas Levi Zahed

A Origem Religiosa

O abade francês Alphonse Louis Constant, conhecido nos meios ocultistas como Eliphas Levi Zahed (tradução hebraica de seu nome), é considerado por muitos, o mais importante ocultista do século XIX. Eliphas nasceu no dia 8 de fevereiro de 1810 em Paris, filho do sapateiro Jean Joseph Constant e da dona de casa Jeanne-Agnès Beaupurt. Possuía uma irmã, Paulina-Louise, quatro anos mais velha.

Quando pequeno, Levi possuía grande aptidão para o desenho. Mesmo assim, seus pais o encaminharam para o ensinamento religioso aos 10 anos, quando ingressou no presbitério da Igreja de Saint-Louis em L'Île, onde aprendeu catecismo com o abade Hubault. Aos 15 anos, devido ao seu brilhantismo e dedicação ao sacerdócio, foi encaminhado ao seminário de Saint-Nicolas du Chardonnet, e começou a se aprofundar nos estudos lingüísticos de forma tão notável que logo lia a Bíblia em sua versão original. Em 1830, foi cursar filosofia no seminário de Issy. Mais tarde, ingressou em Saint-Sulpice para estudar teologia.

Após terminar o curso de teologia, Eliphas ascendeu na hierarquia da Igreja e foi aceito nas ordens maiores, ordenando-se subdiácono. Começou a lecionar em um colégio para moças e, seguindo com dedicação a carreira eclesiástica e seus estudos religiosos, escreveu uma peça bíblica chamada Nimrod, e vários poemas religiosos que projetaram sua imagem dentro da Igreja.

Entretanto, o jovem Alphonse sentiu o peso de tantos anos de reclusão e ascetismo. Conheceu uma jovem, pobre, tímida e retraída que os outros padres haviam se recusado a atender e preparar para a comunhão. Eliphas não só aceitou a tarefa, como prometeu tratá-la como filha. A menina, que se chamava Adele Allenbach, de uma beleza pura e cândida, pareceu a Eliphas ser a imagem da própria Virgem Maria. Essa beleza juvenil correspondeu para ele a uma "iniciação à vida", pois amou-a ternamente como se fosse uma deusa, marcando para sempre em sua vida.

Eliphas foi ordenado diácono, em 1835, mas no ano seguinte, quando estava para atingir o cargo de sacerdote, confessou ao seu superior o que havia sentido com relação à jovem, anos antes. Desse momento em diante, as portas da carreira eclesiástica se fecharam brutalmente para ele, o que lhe causou uma grande consternação e abalou sua visão de Deus e do mundo religioso.

Aos 26 anos, Eliphas saiu do seminário e começou uma nova jornada em sua vida. Sua mãe, ao saber de sua saída, suicidou-se. E isso, somado ao fato de que muitos boatos que começaram a circular, diziam que havia sido expulso do seminário pelo seu envolvimento com uma jovem, o deixou muito abalado.

A Descoberta do Ocultismo

Sem experiência do mundo, Eliphas teve muitas dificuldades para encontrar um emprego, principalmente pelos boatos que denegriam sua imagem. Assim, percorreu grande parte da França, trabalhando algum tempo num circo e, em Paris, como pintor e jornalista, atividades que o levaram a conhecer um grande número de intelectuais e estudiosos. Com seu amigo Henri-Alphonse Esquirros, fundou uma revista denominada As Belas Mulheres de Paris, na qual aplicava-se como desenhista e pintor e Esquirros como redator.

Em 1839, Eliphas dirige-se a um local no qual entraria em contato com o oculto e as leituras consideradas proibidas e perigosas para os cristãos, descobrindo que não havia perdido a inclinação para a vida mística e religiosa. Na cidade de Solesmes, havia um convento dirigido por um abade que não seguia as regras oficiais da Igreja e que tinha em seu acervo de documentos, grande quantidade de livros e textos gnósticos, muitos deles ligados à magia e aos seres de outros planos. Assim, Eliphas, estimulado pelos acontecimentos em sua vida, mergulha nessas leituras, procurando entender as relações entre Deus, o homem, o pecado e o Inferno. Lia os mais diversos autores em busca das respostas e, lendo livros da Senhora Guyon, chega à conclusões que mudariam a sua maneira de pensar dali em diante, como ele próprio chegou a descrever: "A vida e os escritos dessa mulher sublime, abriram-me as portas de inúmeros mistérios que ainda não tinha podido penetrar; a doutrina do puro amor e da obediência passiva de Deus desgostaram-me inteiramente da idéia do inferno e do livre arbítrio; vi Deus como o ser único, no qual deveria absorver-se toda personalidade humana. Vi desvanecer o fantasma do mal e bradei: um crime não pode ser punido eternamente; o mal seria Deus se fosse infinito!".

Partiu, então, de Solesmes com uma profunda paz no coração. Não acreditava mais no inferno! Já sem se fixar em emprego algum, Levi começou a escrever e divulgar suas descobertas místicas, que iam diretamente contra as idéias oficiais da Igreja. Também entrou em contato com os escritos do místico sueco Emmanuel Swedenborg (1688 - 1772), que Levi dizia serem capazes de conduzir o neófito pelo "Caminho Real", embora não contivessem a "Verdadeira Verdade".

Após publicar sua Bíblia da Liberdade, Levi foi preso, acusado de profanar o santuário da religião, de atentar contra as bases da sociedade, de propagar o ódio e a insubordinação, e teve de pagar uma multa considerável para a época.

Em 1845, já influenciado por grandes magos da Idade Média, como Guillaume Postel, Raymond Lulle e Henry Cornelius Agrippa, Levi escreve sua primeira obra ocultista, chamada O livro das Lágrimas ou O Cristo Consolador.

No ano seguinte Eliphas se casa com Marie-Noémie Cadiot. Matrimônio esse, que acabou sendo um verdadeiro suplício para ele. Influenciado pela esposa, Levi chegou a escrever panfletos políticos incitando o povo contra o governo e a ordem vigente. Foi condenado a um ano de prisão e ao pagamento de mil francos de multa, acusado de estimular o povo ao ódio e ao desprezo do governo imperial; cumpriu seis meses da pena, graças à interferência de Noémie junto ao governo.

No ano de 1847, nasce a filha de Levi. Menina de saúde frágil que por várias vezes, esteve próxima da morte. Numa dessas ocasiões, Eliphas usou seu conhecimento dos sacramentos e das artes mágicas e reviveu a menina, numa cerimônia semelhante ao batismo cristão. Mas, em 1854, a menina não mais resiste às constantes debilitações e falece, para desespero do pai. Essa perda o marcou profundamente e influenciou para que seu casamento não durasse muito.

Eliphas chegou a fundar um clube político, em 1848, mas no ano seguinte abandonou-o, para dedicar-se exclusivamente ao Ocultismo.

A Consolidação do Grande Mestre

Embora saibamos que os estudos ocultistas de Eliphas começaram no mosteiro, a data de sua iniciação, propriamente dita, ainda é duvidosa. Sabe-se que ele colaborou e foi amigo do iniciador do famoso mago Papus. No entanto, tudo indica que o ocultista polonês Hoene Wronski, tenha sido o introdutor de Eliphas no "Caminho". Inclusive, Wronski ao falecer em 1853, em Paris, deixou setenta manuscritos catalogados por sua esposa, à Eliphas Levi, havendo outros que foram doados à Biblioteca Nacional de Paris.

No ano seguinte a morte de Wronski, Levi foi para Londres, onde teve contato com vários ocultistas que queriam ver os prodígios e milagres que ele era capaz de realizar. Ao que parece, esses praticantes viam na magia mais um objeto de curiosidade, do que um caminho de auto-realização. Isso fez com que Eliphas rapidamente se afastasse deles, isolando-se no estudo da Alta Cabala, fato que acabou abrindo ainda mais sua percepção mágica.

Eliphas encontrou, nesse período, um Grande Adepto (uma pessoa que atingiu um dos Grandes Graus dentro das Ordens da Senda Real e da realização divina), que se tornaria seu grande amigo: Edward Bulwer Lytton. Os dois Mestres teriam trocado informações iniciáticas sobre as sociedades ocultistas, das quais certamente eram os grandes expoentes. Inclusive, consta que teriam realizado trabalhos espirituais em conjunto, indo desde invocações a contatos com seres de outras esferas de realidade. As anotações desses trabalhos foram parar nas mãos de Papus, e publicadas posteriormente. Nesse material, existem registros sobre três visões de Levi e Lytton: de São João, de Jesus e de Apolônio de Tiana (na qual Apolônio é descrito como um velho). Nessas invocações e visões, teriam entrado em contato com forças que lhes revelaram os mistérios dos Sete Selos do Apocalipse, possibilitando a compreensão da Cabala Mágica; conheceram eventos futuros sobre a vida de ambos e sobre a humanidade; conheceram a Magia Celeste; também fora-lhes dito sobre as chaves dos milagres e de todos os prodígios mágicos; e, parte mais difícil da busca mágica, como manter e honrar os saberes conquistados na Senda e na Busca pelo Real Caminho.

Em 1855, Eliphas começou a publicar a Revista Filosófica e Religiosa, sendo que vários artigos da mesma, seriam posteriormente utilizados em seu livro A Chave dos Grandes Mistérios. Nesse mesmo ano, publica sua obra mais conhecida: Dogma e Ritual da Alta Magia, desvendando as várias faces do saber mágico. Publica também, o poema Calígula, retratando na personagem, o imperador Napoleão. Desse modo, é preso imediatamente, sendo solto após algum tempo.

Em 1859, publicou História da Magia, em que relata o desenvolvimento mágico ao longo da história, e que compõe, com os dois livros anteriores, o conjunto de livros ocultistas tidos como uma "bíblia", por todos os que vieram a estudá-los.

Eliphas estava sempre cercado por grande número de amigos e discípulos, todos eles com conhecimentos profundos; muitos estavam ligados às várias linhas mágicas e sociedades esotéricas que existiam na Europa do século 19, a maioria deles, compondo a elite cultural parisiense da época. Mesmo assim, ainda que tendo acesso a todo o luxo que desejasse, Eliphas manteve uma vida bem simples, mantendo sempre o seu espírito em um estado de paz e quietude. Sempre tomava cuidado com o que comia e bebia, evitando os extremos de calor e frio, e vivia numa casa fresca e arejada. Também se dedicava a exercícios moderados para manter o corpo forte. Aos que adoeciam e o procuravam, sempre recomendava remédios naturais e um estilo de vida como o que levava: simples e dedicado.

Em 1862, publicou aquela que, segundo ele próprio, era sua obra mais elaborada: Fábulas e Símbolos. Consta que o livro não contou apenas com a erudição de Levi, mas que ele estava inspirado por forças maiores, como se as idéias simplesmente nascessem, e a própria Vontade Divina agisse, movendo suas mãos. Ele se sentia em extrema comunhão com a Luz que envolvia seu trabalho.

O Destino Selado

Seu trabalho ficou cada vez mais conhecido e não havia quem não quisesse conhecer Eliphas. Entretanto, quando tudo transcorria calmamente, uma visita mudou sua a pacata vida.

Era um rapaz bem vestido, com um sorriso sarcástico e que, em tom jocoso, cumprimentou Eliphas formalmente, entrando na casa como se fosse sua própria. Assustado, Eliphas procurou descobrir quem era aquele rapaz. O jovem disse que, embora não o conhecesse, ele sabia tudo sobre sua vida, tanto seu passado quanto seu futuro, e continuou, dizendo: "Sua vida está regulada pela lei inexorável dos números. Sois o homem do Pentagrama e os anos terminados pelo número cinco sempre vos foram fatais. Olhai para traz e julgai: em 1815 vossa vida moral começou, pois vossas recordações não vão além, em 1825 ingressastes no seminário e entrastes na liberdade de consciência; em 1845 publicastes A Mãe de Deus, vosso primeiro ensaio de síntese religiosa, e rompestes com o clero; em 1855 vós vos tornastes livre, abandonado que fostes por uma mulher que vos absorvia e vos submetia ao binário. Notais que se houvésseis continuado juntos, ela vos teria anulado completamente ou teríeis perdido a razão. Partistes em seguida para a Inglaterra; ora, o que é a Inglaterra? Ela é o Iod da Europa atual; fostes temperar-vos no princípio viril e ativo. Lá vistes Apolônio, triste, barbeado e atormentado como estavas naquele período. Mas esse Apolônio, que vistes era vós mesmo; ele saiu de vós, entrou em vós e em vós permanece. Vós o revereis neste ano de 1865, mais bonito, radioso e triunfante. O fim natural de vossa vida está marcado (salvo acidente) para o ano de 1875; mas se não morrerdes neste ano, vivereis até 1885".

Após isso, riu-se e incitou Levi com ambições e alusões à sua grande capacidade mágica e erudição. Além disso, durante todo o tempo, mostrou desprezo pela figura de Cristo e ainda disse:"Vós negastes minha existência, chamo-me Deus. Os imbecis denominam-me Satã. Para o vulgo chamo-me Juliano Capella. Meu envelope humano tem vinte e um anos; ele nasceu em Bordéus; tem pais italianos".

O estranho visitante, então partiu, e jamais os biógrafos de Eliphas Levi encontraram qualquer traço do mesmo. O ano de 1865, como ele tinha predito, foi triunfal para Eliphas, pois a publicação de sua Ciência dos Espíritos trouxe-lhe enorme reputação entre os ocultistas de seu tempo.

Da vida para a História

Em 31 de maio de 1875, como o visitante daquele dia havia profetizado, Eliphas Levi falece. Sua morte transcorreu sem agitações. Com coragem e resignação, ele se manteve calmo, pois sabia que sua missão havia sido realizada, tanto no que diz respeito a realizações externas como espirituais. Deixou poucos bens materiais, já que sempre viveu humildemente. Em seu testamento, deixou apenas manuscritos e algumas obras de arte em nome de pessoas próximas, e também algo para a caridade.

Eliphas Levi não foi só um grande ocultista, mas um grande homem. Não se dedicou apenas a descobrir e desenvolver suas habilidades mágicas; seus feitos não eram o objetivo do caminho verdadeiro, mas uma conseqüência; o efeito das experiências de contato com o Deus que sempre habitou em seu coração. Eliphas procurava a conexão com o saber maior; queria desenvolver seu espírito para que ele rompesse a prisão do dualismo e superasse o universo das ilusões e das aparências. Seus livros são chaves que ajudam os iniciados a abrir portas, descobrindo a sabedoria dos mais diversos planos de existências. Através de seus estudos pode-se compreender a verdadeira Kabbalah, a qual permite entender o mecanismo da vida e da criação nos mais diversos planos de existência.

Acima de tudo, Eliphas demostrou ser um exemplo, de como se devem portar os grandes mestres ocultistas, agindo com humildade, calma e sabedoria; permitindo que sua aura permeie o ambiente e transmita a Luz em todas as direções. Deixando para a humanidade, como sua grande e maior obra, a própria vida.



http://www.spectrumgothic.com.br/ocultismo/personagens/eliphas.htm