"O homem se coloca em uma brecha, no intervalo entre o passado terminado e o futuro infiguràvel. Ele sò pode manter-se nesse intervalo na medida em que ele Pensa, quebrando assim, através sua Resistência às forças do passado infinito e do futuro, o fluxo do tempo indiferente.
Cada geração nova, cada homem novo deve redescobrir laboriosamente a atividade do Pensamento. Durante muito tempo, para fazer isso, nòs pudemos recorrer à tradição. Ora nòs vivemos, na idade moderna, o gasto da tradição, a Crise da Cultura.
Não se trata de restabelecer o fio rompido da tradição, nem de inventar um suplente ultra-moderno, mas de saber se Exercer a Pensar para se Mover na brecha.
Hannah Arendt, através ensaios de interpretação crìtica - particularmente da tradição e dos conceitos modernos da Història, da Autoridade e da LIBERDADE, das relações entre Verdade e Polìtica, da Crise da Educação - , Quer nos Ajudar a Saber como Pensar em nosso século".
- Folio essais -
Oito exercìcios de Pensamento Polìtico
Prefàcio.
A Brecha Entre o Passado e O Futuro
"Nossa herança não é precedida de nenhum testamento".
Voilà talvez o mais estranho dos aforismos estranhamente rìgido nos quais o poeta René Char condena a essência do que quatro anos na Resistência vieram a significar por toda uma geração de escritores e homens de letras europeus. O Desmoronamento da França, evento para eles totalmente inesperado, tinha esvaziado de um dia para o outro, da cena polìtica do paìs deles, abandonanando-a à um guignol de coquins ou de Imbecis, e eles que, justamente, não haviam jamais participado dos affaires oficiais da III Repùblica foram aspirados pela polìtica como pela força do vazio. Assim, sem pressentimento e provavelmente de encontro às suas inclinações conscientes, eles foram levados a constituir bon gré mal gré um domìnio pùblico onde - sem o aparelho oficial, e ocultos aos olhares amigos e hostis - todo o trabalho que importava os affaires do paìs era efetuado em Ato e em Palavras.
Isso não durou muito tempo. Apòs alguns curtos anos eles foram liberados do que eles tinham pensado à l'origine ser um "fardo" e rejeitados no que eles sabiam agora ser a Idiotie sem peso de seus affaires pessoais, mais uma vez separados do "mundo da realidade" por uma espessura triste, a "espessura triste" de uma vida privada orientada sobre nada senão sobre ela mesmo. E eles se recusavam " de [se] reconduzir até o princìpio [do seu ] - dele - comportamento mais indigente", eles sò podiam retornar ao velho afrontamento vazio das ideologias antagonistas que, apòs a derrota do inimigo comum, ocupavam um vez a arena polìtica e dividiam os antigos companheiros de armas em inùmeras cliques que nem eram facções e os engajavam nas polêmicas e nas intrigas sem fim de uma guerra no papel. O que Char tinha previsto, claramente antecipado, enquanto que o combate real ainda durava - " Se eu escapar, eu sei que eu deverei romper com o aroma desses anos essenciais, rejeitar ( não reprimir) silenciosamente longe de mim meu tesouro" - aconteceu. Eles haviam perdido o Tesouro deles.
Que tesouro era esse ?
Tal como eles mesmos o compreendiam, parece que ele consistiu, de uma certa maneira, em duas partes intimamente ligadas: eles perceberam que àquele que "casou com a Resistência, descobriu sua verdade", que ele parava de se procurar "sem jamais acessar à proeza, em uma insatisfação nua", que ele não se desconfiava mais ele mesmo de "falsidade", de ser "um ator de sua vida crìtico e desconfiado", que ele podia se permitir de "ir nu". Nessa nudez, despojados de todas as màscaras - daquelas que a sociedade faz seus membros usar e também daquelas que o indivìduo fabrica para ele mesmo nas suas reações psicològicas contra a sociedade - eles haviam sido visitados pela primeira vez na vida deles por uma aparição da LIBERDADE, não, certe, porque eles agiam contra a tirania e contra coisas piores que a tirania - isso era verdade para cada soldado das Forças Armadas aliadas - mas porque eles se tornaram "challengers", que eles tiveram adotado a iniciativa e por conseguinte, sem sabe-lo nem mesmo nota-lo, haviam começado a criar esse espaço pùblico entre eles onde a LIBERDADE podia aparecer. " Em todas as refeições em comum, nòs Convidamos a LIBERDADE para se sentar. O lugar permanece vazio mas o couvert permanece colocado".
Os homens da Resistência europeia não foram nem os primeiros nem os ùltimos a perder o tesouro deles. A història das revoluções - do verão 1776 na Philadelphie e do verão 1789 em Paris até o outono 1956 em Budapeste - , o que significa Politicamente a Història mais Intima da Idade Moderna, poderia ser contada sob a forma de uma paràbola como a lenda de um tesoro sem idade, nas circuntâncias mais diversas, aparece bruscamente, de improvisto, e desaparece novamente em outras condições misteriosas, como se ele fosse uma fada Morgane. Existe então, sem dùvida, muitas boas razões para acreditar que o tesouro nunca foi uma realidade mas uma miragem, que nòs não estamos diante de nada sòlido mais diante uma aparição, e a melhor dessas razões é que o tesouro permaneceu até agora sem nome. Existe alguma coisa, não na exterioridade espacial mas no mundo dos affaires dos homens na terra, que não tem nome ? Licornes e rainhas dos contos de fadas parecem possuir mais realidade do que o tesouro perdido das revoluções. E todavia, se nòs viramos os olhos em direção dos começos dessa era, e especialmente em direção das décadas que a precedem, nòs podemos descobrir para nossa surpresa que o século XVIII dos dois lados do Atlântico possuia um nome para esse tesouro, um nome esquecido hà muito tempo e perdido - nòs somos tentados dizer - antes mesmo que o tesouro ele mesmo tenha desaparecido. O nome na América era "felicidade pùblica", e esse nome, com suas harmônicas de "virtude" e de "glòria" não nos é mais inteligìvel do que seu equivalente francês "liberdade pùblica"; a dificuldade para nòs é que nos dois casos o acento està em "pùblico".
Seja o que for, é à ausência do nome do tesouro perdido que o poeta faz alusão quando ele diz que nossa herança não està precedida de nenhum testamento. O testamento, que diz ao herdeiro o que serà legìtimamente seu, atribuir um passado ao futuro. Sem testamento ou, para elucidar a metàfora, sem tradição - quem escolhe e dà um nome, quem transmite e conserva, quem indica onde os tesouros se encontram e qual é o valor deles - Parece que nenhuma continuidade no tempo seja atribuìda e que nele não tem, por conseguinte, humanamente falando, nem passado nem futuro, mas apenas o devir eterno do mundo e nele o ciclo biològico dos seres vivos. Assim o tesouro não foi perdido por causa das circunstâncias històricas e da falta de sorte mas porque nenhuma tradição tinha previsto sua vinda ou sua realidade, porque nenhum testamento tinha sido legado ao futuro. A perda, em todo caso, talvez inevitàvel em termos de realidade polìtica, foi consumida pelo esquecimento, por um defeito de memòria que alcançou não somente os herdeiros, mas, de uma certa maneira, os atores, as testemunhas, aqueles que, um momento fugitivo, haviam tido o tesouro nas suas mãos, em suma, aqueles que o haviam vivenciado. Pois a lembrança, que é apenas uma das modalidades do Pensamento, se bem que uma das mais importantes, é sem recursos fora de um contexto de referência préetabli, e o espìrito humano sò é em muitas raras ocasìões capaz de gravar alguma coisa que não està ligada a nada. Assim os primeiros a esquecer o que era o tesouro foram precisamente àqueles que o haviam possuìdo e o haviam achado tão estranho que eles nem haviam sabido que nome lhe dar.
No momento, eles não foram atormentados; se eles não conheciam o tesouro deles, eles sabiam muito bem o sentido do que eles faziam - que ele estava além da vitòria e da derrota. " A ação que tem um sentido para os vivos sò tem Valor para os Mortos, sò tem realização nas Consciências que a herdam e a questionam." A Tragédia não começou quando a Liberação do paìs inteiro DESTRUÌDO, quase automaticament, os îlots escondidos da LIBERDADE que estavam condenados de qualquer maneira, mas quando foi Averiguado que não haviam nenhuma Consciência para Herdar e Questionar, Meditar e se LEMBRAR. O ponto central é que a "realização" que certamente todo evento realizado deve ter nas CONSCIÊNCIAS daqueles que tem a Responsabilidade de relatar a HISTÒRIA e de TRANSMITIR seu SENSO, escapou-lhes; e sem essa Realização do PENSAMENTO apòs o ATO, sem Articulação realizada pela Lembrança, não Permaneceu simplesmente Nenhuma HISTÒRIA que Pudesse SER CONTADA.
- Hannah Arendt - A Crise da cultura - Oito exercìcios de pensamento polìtico - Trad. do inglês sob a direção de Patrick Lévy - Prefàcio - pàgina 11 - 15. Gallimard - Folio essais.
Hannah Arendt ( 1906 - 1975 )
Foi aluna de Jaspers e passou seu doutorado em Heidelberg. Ela deixou a Alemanha apòs a chegada dos nazistas e ensinou a filosofia e as ciências polìticas nas universidades mais prestigiosas dos Estados - Unidos. Ela é um das pessoas mais importantes do pensamento polìtico contemporâneo, particularmente graças a sua obra fundamental As Origens do totalitarismo. Ela é igualmente a autora do Ensaio sobre a Revolução, Eichmam à Jérusalem, Condition de l'homme moderne e La Vie de l'esprit.
Cada geração nova, cada homem novo deve redescobrir laboriosamente a atividade do Pensamento. Durante muito tempo, para fazer isso, nòs pudemos recorrer à tradição. Ora nòs vivemos, na idade moderna, o gasto da tradição, a Crise da Cultura.
Não se trata de restabelecer o fio rompido da tradição, nem de inventar um suplente ultra-moderno, mas de saber se Exercer a Pensar para se Mover na brecha.
Hannah Arendt, através ensaios de interpretação crìtica - particularmente da tradição e dos conceitos modernos da Història, da Autoridade e da LIBERDADE, das relações entre Verdade e Polìtica, da Crise da Educação - , Quer nos Ajudar a Saber como Pensar em nosso século".
- Folio essais -
Oito exercìcios de Pensamento Polìtico
Prefàcio.
A Brecha Entre o Passado e O Futuro
"Nossa herança não é precedida de nenhum testamento".
Voilà talvez o mais estranho dos aforismos estranhamente rìgido nos quais o poeta René Char condena a essência do que quatro anos na Resistência vieram a significar por toda uma geração de escritores e homens de letras europeus. O Desmoronamento da França, evento para eles totalmente inesperado, tinha esvaziado de um dia para o outro, da cena polìtica do paìs deles, abandonanando-a à um guignol de coquins ou de Imbecis, e eles que, justamente, não haviam jamais participado dos affaires oficiais da III Repùblica foram aspirados pela polìtica como pela força do vazio. Assim, sem pressentimento e provavelmente de encontro às suas inclinações conscientes, eles foram levados a constituir bon gré mal gré um domìnio pùblico onde - sem o aparelho oficial, e ocultos aos olhares amigos e hostis - todo o trabalho que importava os affaires do paìs era efetuado em Ato e em Palavras.
Isso não durou muito tempo. Apòs alguns curtos anos eles foram liberados do que eles tinham pensado à l'origine ser um "fardo" e rejeitados no que eles sabiam agora ser a Idiotie sem peso de seus affaires pessoais, mais uma vez separados do "mundo da realidade" por uma espessura triste, a "espessura triste" de uma vida privada orientada sobre nada senão sobre ela mesmo. E eles se recusavam " de [se] reconduzir até o princìpio [do seu ] - dele - comportamento mais indigente", eles sò podiam retornar ao velho afrontamento vazio das ideologias antagonistas que, apòs a derrota do inimigo comum, ocupavam um vez a arena polìtica e dividiam os antigos companheiros de armas em inùmeras cliques que nem eram facções e os engajavam nas polêmicas e nas intrigas sem fim de uma guerra no papel. O que Char tinha previsto, claramente antecipado, enquanto que o combate real ainda durava - " Se eu escapar, eu sei que eu deverei romper com o aroma desses anos essenciais, rejeitar ( não reprimir) silenciosamente longe de mim meu tesouro" - aconteceu. Eles haviam perdido o Tesouro deles.
Que tesouro era esse ?
Tal como eles mesmos o compreendiam, parece que ele consistiu, de uma certa maneira, em duas partes intimamente ligadas: eles perceberam que àquele que "casou com a Resistência, descobriu sua verdade", que ele parava de se procurar "sem jamais acessar à proeza, em uma insatisfação nua", que ele não se desconfiava mais ele mesmo de "falsidade", de ser "um ator de sua vida crìtico e desconfiado", que ele podia se permitir de "ir nu". Nessa nudez, despojados de todas as màscaras - daquelas que a sociedade faz seus membros usar e também daquelas que o indivìduo fabrica para ele mesmo nas suas reações psicològicas contra a sociedade - eles haviam sido visitados pela primeira vez na vida deles por uma aparição da LIBERDADE, não, certe, porque eles agiam contra a tirania e contra coisas piores que a tirania - isso era verdade para cada soldado das Forças Armadas aliadas - mas porque eles se tornaram "challengers", que eles tiveram adotado a iniciativa e por conseguinte, sem sabe-lo nem mesmo nota-lo, haviam começado a criar esse espaço pùblico entre eles onde a LIBERDADE podia aparecer. " Em todas as refeições em comum, nòs Convidamos a LIBERDADE para se sentar. O lugar permanece vazio mas o couvert permanece colocado".
Os homens da Resistência europeia não foram nem os primeiros nem os ùltimos a perder o tesouro deles. A història das revoluções - do verão 1776 na Philadelphie e do verão 1789 em Paris até o outono 1956 em Budapeste - , o que significa Politicamente a Història mais Intima da Idade Moderna, poderia ser contada sob a forma de uma paràbola como a lenda de um tesoro sem idade, nas circuntâncias mais diversas, aparece bruscamente, de improvisto, e desaparece novamente em outras condições misteriosas, como se ele fosse uma fada Morgane. Existe então, sem dùvida, muitas boas razões para acreditar que o tesouro nunca foi uma realidade mas uma miragem, que nòs não estamos diante de nada sòlido mais diante uma aparição, e a melhor dessas razões é que o tesouro permaneceu até agora sem nome. Existe alguma coisa, não na exterioridade espacial mas no mundo dos affaires dos homens na terra, que não tem nome ? Licornes e rainhas dos contos de fadas parecem possuir mais realidade do que o tesouro perdido das revoluções. E todavia, se nòs viramos os olhos em direção dos começos dessa era, e especialmente em direção das décadas que a precedem, nòs podemos descobrir para nossa surpresa que o século XVIII dos dois lados do Atlântico possuia um nome para esse tesouro, um nome esquecido hà muito tempo e perdido - nòs somos tentados dizer - antes mesmo que o tesouro ele mesmo tenha desaparecido. O nome na América era "felicidade pùblica", e esse nome, com suas harmônicas de "virtude" e de "glòria" não nos é mais inteligìvel do que seu equivalente francês "liberdade pùblica"; a dificuldade para nòs é que nos dois casos o acento està em "pùblico".
Seja o que for, é à ausência do nome do tesouro perdido que o poeta faz alusão quando ele diz que nossa herança não està precedida de nenhum testamento. O testamento, que diz ao herdeiro o que serà legìtimamente seu, atribuir um passado ao futuro. Sem testamento ou, para elucidar a metàfora, sem tradição - quem escolhe e dà um nome, quem transmite e conserva, quem indica onde os tesouros se encontram e qual é o valor deles - Parece que nenhuma continuidade no tempo seja atribuìda e que nele não tem, por conseguinte, humanamente falando, nem passado nem futuro, mas apenas o devir eterno do mundo e nele o ciclo biològico dos seres vivos. Assim o tesouro não foi perdido por causa das circunstâncias històricas e da falta de sorte mas porque nenhuma tradição tinha previsto sua vinda ou sua realidade, porque nenhum testamento tinha sido legado ao futuro. A perda, em todo caso, talvez inevitàvel em termos de realidade polìtica, foi consumida pelo esquecimento, por um defeito de memòria que alcançou não somente os herdeiros, mas, de uma certa maneira, os atores, as testemunhas, aqueles que, um momento fugitivo, haviam tido o tesouro nas suas mãos, em suma, aqueles que o haviam vivenciado. Pois a lembrança, que é apenas uma das modalidades do Pensamento, se bem que uma das mais importantes, é sem recursos fora de um contexto de referência préetabli, e o espìrito humano sò é em muitas raras ocasìões capaz de gravar alguma coisa que não està ligada a nada. Assim os primeiros a esquecer o que era o tesouro foram precisamente àqueles que o haviam possuìdo e o haviam achado tão estranho que eles nem haviam sabido que nome lhe dar.
No momento, eles não foram atormentados; se eles não conheciam o tesouro deles, eles sabiam muito bem o sentido do que eles faziam - que ele estava além da vitòria e da derrota. " A ação que tem um sentido para os vivos sò tem Valor para os Mortos, sò tem realização nas Consciências que a herdam e a questionam." A Tragédia não começou quando a Liberação do paìs inteiro DESTRUÌDO, quase automaticament, os îlots escondidos da LIBERDADE que estavam condenados de qualquer maneira, mas quando foi Averiguado que não haviam nenhuma Consciência para Herdar e Questionar, Meditar e se LEMBRAR. O ponto central é que a "realização" que certamente todo evento realizado deve ter nas CONSCIÊNCIAS daqueles que tem a Responsabilidade de relatar a HISTÒRIA e de TRANSMITIR seu SENSO, escapou-lhes; e sem essa Realização do PENSAMENTO apòs o ATO, sem Articulação realizada pela Lembrança, não Permaneceu simplesmente Nenhuma HISTÒRIA que Pudesse SER CONTADA.
- Hannah Arendt - A Crise da cultura - Oito exercìcios de pensamento polìtico - Trad. do inglês sob a direção de Patrick Lévy - Prefàcio - pàgina 11 - 15. Gallimard - Folio essais.
Hannah Arendt ( 1906 - 1975 )
Foi aluna de Jaspers e passou seu doutorado em Heidelberg. Ela deixou a Alemanha apòs a chegada dos nazistas e ensinou a filosofia e as ciências polìticas nas universidades mais prestigiosas dos Estados - Unidos. Ela é um das pessoas mais importantes do pensamento polìtico contemporâneo, particularmente graças a sua obra fundamental As Origens do totalitarismo. Ela é igualmente a autora do Ensaio sobre a Revolução, Eichmam à Jérusalem, Condition de l'homme moderne e La Vie de l'esprit.
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