terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Fídias


FÍDIAS (490-430 AC), escultor ateniense, foi o diretor artístico da construção do Partenon. Criou a sua estatuária mais importante e projectou e supervisionou provavelmente a sua decoração total. Disse-se que Fídias teve uma revelação das figuras divinas que incorporou no seu trabalho de forma a revelá-las aos homens. Certo é que com as suas estátuas fixou para sempre as figuras de Zeus e de sua filha Atena.

Pouco se conhece sobre a vida de Fídias. Quando Péricles chegou ao poder em 449 e inicia um programa de reconstrução em Atenas, Fídias foi encarregado da produção de toda a estatuária. Assim, entre os trabalhos por que Fídias ficou famosos estão três monumentos a Atena (a Atena Promachos, a estátua de Atena, dita lemniana e a Atena Parthenos, figura colossal para o Partenon). O colossal Zeus sentado para o templo de Zeus em Olímpia foi a sua mais importante obra fora de Atenas; nenhuma delas sobrevive no original.

Há referências à intervenção de Fídias na construção do templo grande das iniciações em Elêusis. Assinale-se com importante este facto pois isso pode significar a intimidade de Fídias com os Mistérios de Elêusis. Os sacerdotes de Elêusis transmitiam aí, em cerimônias iniciáticas de pelo menos dois graus, a grande doutrina esotérica que lhes vinha do Egipto.

O ritual dos Mistérios de Elêusis encontrava expressão na lenda de Deméter, irmã de Zeus, (ou mãe universal, versão grega de Ísis, a egípcia), e sua filha Perséfone, raptada por Hades, rei do Mundo Inferior, quando colhia flores no vale de Nisa. Deméter, ao tomar conhecimento do rapto, ficou tão amargurada que deixou de cuidar das plantações dos homens aos quais havia ensinado a agricultura. Os homens morriam de fome, até que Zeus, que havia permitido a seu irmão Hades raptar Perséfone, encontrou uma forma de reparar o mal cometido: Perséfone deveria voltar à Terra durante seis meses para visitar sua mãe e outros seis meses passaria com Hades. É a imagem do ciclo da vida universal, que se encerra no simbólico grão de trigo de Elêusis, que deve morrer e ser sepultado nas entranhas da terra, para que possa renascer como planta, à luz do dia, depois de abrir caminho através da escuridão em que germina.

O primeiro de monumentos de Fídias a Atena, a Atena de bronze Promachos, foi um de seus trabalhos mais conhecidos. Foi colocado na Acrópole, em Atenas, cerca de 456. De acordo com uma inscrição preservada mediu aproximadamente 9 m de altura. Então, era a estátua de maior altura erigida em Atenas. Foi levada para Constantinopla no séc. V e destruída por tumultos em 1203.

A Atena, dita lemniana, foi uma oferenda dos colonos atenienses que se instalaram na ilha de Lemnos entre 451 e 448 e colocada na Acrópole. Admite-se que uma cabeça de Atena em Bolonha e duas estátuas de Atena em Dresda podem ser cópias, em mármore, do trabalho original de Fídias em bronze.

A estátua colossal da Atena que Fídias fez para o colocar no interior do Partenon, foi terminada e dedicada em 438. O trabalho original foi feito de ouro e de marfim e tinha cerca de 12 metros de altura. A deusa apresentava-se de pé, com uma túnica e capacete, com uma lança e escudo do seu lado esquerdo e com a pequena estátua de Vitória na mão direita. (foi com a lança que, ao bater no chão, Atena fez nascer a oliveira, vencendo dessa forma o confronto com Poseidon, deus dos mares, para a suzerania da cidade). A deusa virgem, que nunca casou mas que foi considerada a mãe dos homens apresentava-se assim emanando os símbolos do Triunfo e da Paz. A cidade adorava a deusa nas suas manifestações guerreiras (o capacete, a lança, o escudo) mas também como dadora de paz (a oliveira e o azeite), de autoridade e protecção e de sabedoria (apresentava-se muitas vezes na companhia de uma coruja).

Foram identificadas diversas cópias desta obra; entre elas estão uma cópia agora no Museu Arqueológico Nacional de Atenas, e uma cópia helenística, de aproximadamente 160 AC, feita para o salão principal da biblioteca real em Pérgamo (agora no Staatliche Museen Preussischer Kulturbesitz, em Berlim).

Os escritores antigos consideraram o Zeus de Fídias, terminado aproximadamente em 430 AC, para o templo de Zeus em Olímpia como a sua obra-prima; esta estátua colossal foi uma das sete maravilhas do mundo antigo, infelizmente destruída ainda durante o séc. V. Zeus apresentava-se sentado num trono, com Vitória na sua mão direita e um globo com uma águia na sua mão esquerda. A sua carne era de marfim e ébano, o seu vestuário de ouro. As costas do trono subiam e cobriam a sua cabeça. O conjunto media 13 metros e preenchia toda a altura do templo.

Zeus era o supremo deus olímpico e tinha não só os poderes de deus mas também muitas das características do Homem, era um mestre do disfarce, que utilizava para descer ao mundo e as suas metamorfoses mais célebres são como cisne, para conquistar Leda, e como touro, para raptar Europa. Foi o filho mais novo dos deuses primordiais Cronos e Reia e considerado o senhor do Clima, da Justiça, da Lei e das Liberdades Políticas: Os jogos olímpicos realizavam-se em sua honra e todos os gregos observavam rigorosas tréguas durante a sua realização.

Os últimos anos de Fídias permanecem um mistério. Os inimigos de Péricles acusaram Fídias de roubar o ouro da estátua de Atena Parthenos em 432, mas Fídias, que havia feito a obra em peças, desmontou-as e pode provar a sua natureza de metal áureo. Acusaram-no então de sacrilégio (por incluir os retratos de Péricles e de si próprio no escudo de Atena Parthenos), e foi por isso preso. Durante muito pensou-se que Fídias havia morrido na prisão logo depois disso; agora acredita-se que esteve exilado em Elis, quando do seu trabalhou na estátua de Zeus de Olímpia. Crê-se que uma oficina de estatuária encontrada em Olímpia pode ter sido sua; aí se encontraram alguns moldes de terracota que se afiguram moldes para o vestuário de Zeus.

Fídias e seus assistentes foram também responsáveis pelas esculturas de mármore que adornaram o Partenon. A maioria dos frisos que aí se incluem não foram destruídos e podem ser vistos no Partenon, no Museu Britânico e no Louvre. Diversas dessas esculturas foram atribuídas directamente a Fídias, mas sem certeza absoluta.

Destes trabalhos pode fazer-se uma ideia do estilo de Fídias. Existe uma enorme qualidade em toda a obra, quer na que representa figuras estáticas quer na que apresenta movimento; o corpo humano é compreendido perfeitamente, a sua figuração é rica e harmoniosa. Fídias, além de ser considerado o maior escultor da Antiguidade, pode ser chamado o iniciador do estilo clássico que caracteriza a arte grega daí em diante. A sua quota parte na configuração da época de ouro da democracia ateniense assim como na divulgação dos símbolos principais da estrutura mítico-religiosa do mundo grego não pode ser escamoteada e se é lamentável não podermos ver a sua obra material em toda a sua pujança resta-nos a mensagem que nos transmitiu de amor à arte e à beleza, de honestidade, perseverança no trabalho e sabedoria para ver além dos símbolos e da pedra e do metal, quer em bruto antes de sair da pedreira ou entrar na forja quer nas obras apresentadas aos seus contemporâneos.

http://www.gremiolusitano.eu/

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