segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Os Poderes contra os Cidadãos - 16 -

A elite não gosta da Repùblica. A elite, eu quero dizer exatamente aqueles que conquistaram algum poder real na sociedade, com seu trabalho ou seu talento. Isso causa inconvenientes, porque os homens dessa espécie fazem o que é comum nòs chamarmos a opinião. Eu vejo administradores, engenheiros, homens de letras. Todos têm em comum que eles participam da vida brilhante e que eles sò pensam em se estabelecer nela o mais solidamente possìvel no cìrculo dos ricos, através relações e casamentos. Unicamente por isso eles têm interesses Contràrios à Justiça; é assaz evidente que a liberdade deixada às associações operàrias é sò para diminuir os benefìcios daqueles que não trabalham com suas pròprias mãos. Està claro também que o restabelecimento dos tratamentos inferiores nos quais nòs somos naturalmente conduzidos não é favoràvel àqueles que têm Cargos Poderosos. Alguém me disse recentemente que um importante funcionàrio dos correios que jà ganhava quinze mil francos aumentou de repente seu salàrio até dezoito mil, conservando as mesmas funcões. [.....] Os grandes burocratas Temem sempre alguma luz viva que Esclareceria subitamente seus Salàrios e seus TRABALHOS. Não que os deputados lhes façam medo; os deputados vivem a mesma vida que eles, são relacionados a eles de mil maneiras, e sabem muito bem o que é a miséria com nove mil francos, porque eles não a julgaram suportàvel. È o PODER DOS ELEITORES, os PROGRESSOS da INSTRUCÃO, o DESPERTAR do JULGAMENTO que Faz MEDO a eles TODOS. Assim eles dizem agora que eles tinham uma outra idéia da Repùblica, e que os Poderosos deveriam realmente dirigir e governar ao invés de Ter que Justificar a Cada Instante suas CONTAS [.....]
Mas eu tenho mais receio das paixões do que dos interesses. O Mundo as alimenta habilmente com mil maneiras excitando as ambições e a CUPIDEZ. Existe uma fùria muito surpreendente naqueles que se privam por necessidade de uma despesa de Luxo; no fundo deles mesmos eles sabem muito bem que suas queixas não são justas, e que eles jà Possuem DEMAIS;
assim a còlera deles se eleva contra o que eles têm de melhor neles mesmos; é por isso que as Dìvidas deles as Estimulam CONTRA O POVO. Mas sobretudo Reina no Mundo uma Opinião que é preciso se curvar a ela. Existem Argumentos Comuns contra o Operàrio, Contra O ELEITOR, contra o Deputado, e seria inconveniente de PROTESTAR CONTRA ESSES ARGUMENTOS. Uma Discussão Séria não é POSSÌVEL; aquele que quer Seguir uma Idéia é mal educado sò por essa razão; é verdade também que qualquer tese fere alguém; o Homem Jovem logo compreende as regras do jogo; ele deve Renunciar a TODOS os SUCESSOS, e mesmo ao AMOR; ele deve se Resignar a algum trabalho obscuro e mal pago; ou então se separar das opiniões que ainda não o conveceram. Ele praticamente nunca hesita a fazer isso. Existe no MUndo um Recrutamento de Todos os TALENTOS CONTRA A Repùblica. Assim o ELEITOR é ABANDONADO a ele mesmo, melhor ainda, ele é TRAÌDO, DESPREZADO, INSULTADO pelos mais instruìdos. Ele deve compreendê-lo; e quando é dito que a Repùblica é contra a Natureza, contra a Ciência, contra a Razão, ele não deve se surpreender, mas ao invés disso se perguntar :" QUANTO È PAGO a ESSA PESSOA, PARA QUE ELA ME LEVE AO DESESPERO DE MIM MESMO ? "

- 15 de dezembro de 1910 -

- Alain - Propos sur les pouvoirs.

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