segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Feliz Ano Novo ! Bonne Année ! Bonne Santé !

"Sanctus Januarius"

Para o ano novo - Eu vivo ainda, eu penso ainda: é preciso ainda que eu viva, pois é preciso ainda que eu pense. Sum, ergo cogito: cogito, ergo sum. È o dia em que cada um se permite de exprimir seu desejo e seu pensamento mais caro: e, eu também, eu vou dizer o que hoje eu desejo de mim mesmo e qual é o pensamento que, esse ano, eu desejei profundamente em primeiro - qual é o pensamento que deverà ser doravante para mim a razão, a garantia e a suavidade de viver ! Eu quero aprender sempre cada vez mais a considerar como bonito o que existe de necessàrio nas coisas: - assim eu farei parte daqueles que tornam as coisas belas. Amor fati: que este seja doravante meu amor. Eu não quero entrar em guerra contra a fealdade. Eu não quero acusar, eu nem quero acusar os acusadores. Desviar meu olhar, que isto seja a minha ùnica negação ! E, finalmente, para ver grande: eu quero ser um dia apenas afirmativo !"

- Nietzsche - Le Gai Savoir - Livre Quatrième - 276 -


Feliz 2008
http://www.youtube.com/watch?v=aYtZxuGVpn4&eurl=http://www.orkut.com/FavoriteVideos.aspx?uid=14999486358341356065


Bonne Année ! Cultivem as flores do bem, da paz e do amor !
http://www.youtube.com/watch?v=DwtGLQ79j-A&feature=related




Feliz Ano Novo Brasil !

Que a paz.... e a verdade ainda sejam uma realidade e uma luta constanteQue a luz nem que seja pequenina ainda ilumine nossos passos e nossa vidaQue o Brasil desperte enfim..... e se conscientize de seu potencial.... de sua grandeza....Que os Brasileiros que lutam..... continuem a lutarQue a coragem e a força sejam nossos companheiros inseparáveisO Amor nosso guiaA esperança...... Eterna....
Feliz Ano Novo !
Cultivem as flores do bem, da coragem, da paz e do amor !

domingo, 30 de dezembro de 2007

Liberalismo e pluralismo

"O pluralismo, um dos valores democràticos par excellence"



O sufràgio universal, as instituições representativas encarnam a liberdade polìtica ? Analiticamente, trata-se de uma liberdade, entre outras, liberdade de exercer com seu voto uma influência na escolha dos governantes, liberdade de participação na substituição regular dos governantes uns pelos outros. Alguns, por razões filosòficas ou afetivas, confundem essa forma de liberdade com a liberdade; outros confundem a independência nacional com a liberdade. Segundo outros ainda, a liberdade polìtica tem um valor eminente não nessa qualidade mas por sua eficacidade. Ela ocuparia uma tal posição estratégica que ela comandaria o destino de todas as liberdades. Eu me reservarei de subscrever a uma ou outra dessas diferentes ilustrações da liberdade politica.
Eu me limitarei ao método utilizado até agora; as liberdades polìticas, como as liberdades pessoais, limitam o poder dos governantes e garantem alguns direitos dos governados. Nesse ponto, bem longe de permanecer formais, elas demonstram uma eficacidade, nem que seja pelas consequências de suas supressões.


- " Liberté, Libérale ou Libertaire ?", In Keba M'Baye (Dir), La Liberté et L'Ordre Social, Genéve, La Baconnière, 1969, Reproduit dans Ètudes Politiques, Gallimard, 1972 - Raymond Aron.




Nos regimes de tipo ocidental, as diferentes categorias dirigentes não se unem em um ùnico partido: segundo alguns paìses, as relações entre os gerentes de meios de produção e os condutores das massas são mais ou menos conflituosas. Da mesma maneira, segundo alguns paìses, as relações entre os gerentes dos meios de produção e a classe polìtica são mais ou menos intimas. [....] A competição legalmente organizada para o exercìcio do poder constitue efetivamente a realidade da democracia moderna.
Esta não exige apenas que partidos mùltiplos existam, é preciso também que o partido vencedor tolere com antecedência sua derrota eventual na pròxima consultação popular. È preciso ainda que o partido, mestre provisòrio do poder, exerça esse poder conforme a lei constitucional e as leis ordinàrias. Foi por essa razão que eu chamei por um termo talvez bàrbaro os regimes de tipo ocidental " constitucionais-pluralistas", em oposição aos regimes de um partido ùnico, dos quais o regime soviético representa a forma perfeita, o partido ùnico apoderando-se da autoridade suprema, secular e espiritual ou ideològica. [....] O pluralismo partidàrio simboliza um dos valores democràticos par excellence, o diàlogo. [.....]
A pluralidade dos partidos legais torna legìtima a diversidade das linguagens e o diàlogo permanente dos cidadãos entre eles e com os detentores do poder. [....] O princìpio do regime constitucional-pluralista se define por dois sentimentos, ou princìpios no sentido que dava a eles Montesquieu : O respeito da lei e o senso do compromisso. Os regimes que nòs chamamos democràticos inclinam então ao compromisso, nem que seja sob a obrigação de encontrar uma maioria - majorité -


- Raymond Aron - Mémoires, Julliard, 1983



Os regimes constitucionais - pluralistas comportam, em termos sociològicos, dois aspectos essenciais: a existência legìtima de grupos mùltiplos de quais a rivalidade comanda a designação dos governantes, o respeito das regras legais, constitucionais no apogeu, de acordo com as quais são designados os detentores das funções, executivas ou legislativas, e essas funções elas mesmas exercidas.

- Essai sur les libertés, Calmann-Lévy, 1965 - Raymond Aron -




Os filòsofos gregos, mais sàbios, percebiam em qualquer regime os germes da corrupção. Um regime constitucional-pluralista funda-se, também, em um compromisso instàvel pois ele exige o respeito de regras que o governo e a oposição, muitas vezes, têm interesse a violar. O que não impede que esses regimes durem: mas, enquanto a Història, quer dizer enquanto as transformações sociais e os conflitos de interesse se prosseguirão, eles não serão jamais, em nenhum lugar, definitivamente estabilizados. Eles dependerão em ùltima anàlise, do respeito que inspiram as regras e a vontade que animarà os eleitores e os eleitos de assegurar a salvaguarda.

- Idem -




Liberalismo e pluralismo


A supremacia da liberdade, resultado da confrontação do homem ante a història no seu percurso, constitue o fil diretor da obra de Raymond Aron. Para ele, a liberdade polìtica determina o tipo de regime, como ele explica no extrato acima, publicado no livro l'Essai sur les libertés (1965). Por essa razão ele procede comparando os diferentes regimes polìticos que conheceu as sociedades industriais.


A liberdade através da història


No livro Democracia e totalitarismo (1965), que retoma um curso ensinado na Sorbonne, Raymond Aron afirma a supremacia do polìtico e o princìpio que, segundo ele, constitue a base de todas as filosofias polìticas: "não existe vida social sem uma autoridade organizada, o estilo da autoridade é caracterìstico da humanidade das relações sociais". Na fileira da filosofia crìtica da història, ele se opõe ao determinismo, e particularmente à causalidade econômica: " a indùstria" não determina um tipo particular de regime polìtico. È a organização dos poderes pùblicos que diferencia as sociedades industriais modernas. Mas essa diferenciação, ele precisa, não constitue por essa razão uma determinação unilateral.

As elites na luta


No segundo texto, extrato de suas Mémoires ( 1985), Aron insiste na supremacia do polìtico e no caràter decisivo da liberdade polìtica em matéria de regime e de instituições. Sintetizando as tabelas de anàlise de Karl Marx relativas às classes sociais e também as da sociologia das elites de Vilfredo Pareto e de Gaetano Mosca, ele constata a competição que reina entre as diferentes categorias dominantes na luta para o exercìcio do poder. È a polìtica, em ocorrência o modo de competição polìtica, que ele considera como critério de discriminação. Aron ressalta que a organização constitucional da concurrência pacìfica tem uma influência no exercìcio legal do poder. Para ele, " as sociedades liberais são aquelas que dão uma forma legal a essa luta e, na medida do possìvel, a colocam no debate: diàlogo contra violência". A partir disso, a liberdade polìtica se caracteriza pelo reino do direito e do pluralismo.
Nas sociedades industriais, o liberalismo polìtico se encarna para Aron nos regimes que ele chama "constitucionais-pluralistas", como ele explica no seu livro Essai sur les libertés. Ele fixa as caracteristicas (extrato acima) e ressalta a fragilidade delas, suspensas como elas são ao "fil de seda da legalidade". "Espectador engajado", Aron tomou partido contra as tentações totalitàrias, em particular no seu livro L'Homme contre les tyrans ( 1944) ou L'Opium des intellectuels (1955). Mas sua oposição ao regime do partido ùnico, seu realismo polìtico não o conduzem a justificar a ordem estabelecida: inspirado pela sociologia de Max Weber, de quem ele contribuiu a fazer a descoberta da obra na França, seu liberalismo é crìtico e desencantado. È um liberalismo lùcido e voluntàrio, que ele exprime em particular nos editoriais que ele escreveu para o jornal Le Figaro de 1947 até 1977.


Diàlogo democràtico


Esse liberalismo realista leva em conta os conflitos de valores ( por exemplo sobre o conteùdo da "ordem justa", como ressaltava Weber) e o caràter complexo das reivindicações das sociedades democràticas contemporâneas." Os regimes democràticos não se definem por uma definição da liberdade mas atravéis um diàlogo permanente no qual os interlocutores consideram de uma outra maneira as definições da liberdade ou das liberdades.

- C.B -

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Visão de uma estrela !

Um profeta encontrou um anjo que vadiava entre as àrvores nuas de uma floresta perdida nas mãos de obscuros construtores
O profeta parecia louco
O anjo parecia endiabrado
O profeta sò via pesadelos e catàstrofes, o mundo para ele era a còpia fiel do inferno
Ele dizia :
" Os homens querem que as coisas mudem, reclamam, rezam, fazem promessas de vento.....e no vento tudo se perde....sò escolhem bandidos para defender os interesses deles, dando a eles o fruto de um duro labor
Bandidos traiçoeiros, vivem das mentiras, da ganância e do crime
Apàtridas ! Traidores !
Roubam o povo e a nação que eles representam sem escrùpulo e sem vergonha
E o que esse povo faz ?
Nada ! Nada ! Nada !
Até acham normal serem roubados, fazem piada, sò falta adorarem os corruptos....e pagam, pagam
Pagam com suor, com dor, muito sofrimento e eterno rancor
Pagam sem revolta e com violência
Pagam com o sangue dos inocentes
Povo débil ! Idiota ! Decadente !
Os bandidos roubam
Roubam ! Roubam !
E são felizes, riem do povo, se enriquecem
E a pàtria que se dane !
E o povo que se dane !"
O anjo balança a cabeça e começa a gritar:
Povo débil ! Idiota ! Decadente !
Eles rezam
Agradecem a felicidade deles, o pão de cada dia
Cada dia mais raro e mais caro
Agradecem contemplando as crianças nuas, esqueléticas, estendidas no lixo, rodeadas de pàssaros famintos e homens sem alma
Eles agradecem
Eles as contemplam
Povo débil ! Blasfemador ! Traidor !
Assim iam eles
O profeta e o anjo
Na floresta deserta
Gritando e chorando :
Povo débil ! Blasfemador ! Decadente !


Visão de uma estrela lunàtica de passagem na republica secular das laranjas altaneiras do vazio sideral

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Boas Festas e Feliz Ano Novo!!!!

Em nome de todos os colaboradores do blog "expressaototal.blogspot.com", venho deixar meus sinceros votos de boas festas e um feliz ano novo, repleto de paz, amor, luz e muita energia pura positiva!
Que nossa luta por um mundo melhor seja maior no ano vindouro. Boas festas à todos e feliz ano novo!

Isso é uma Vergonha! ! !

Antes de tudo quero deixar bem claro que Acredito em Deus, que tenho um lado espiritual independente de qualquer religião e que sou Apolìtica.
Também respeito profundamente as pessoas verdadeiramente religiosas, seja qual for a religião delas, da mesma maneira que respeito os ateus e os agnòsticos.
Existem vìdeos atualmente mostrando imagens Terrìveis das crianças africanas morrendo de fome, com uma mensagem a cunho religioso.
O ùltimo que eu vi é de origem americana, e é a esse em particular que eu me refiro. O autor do vìdeo pede para agradecermos a Deus por nosso alimento e nossa àgua e para sermos mais sensìveis ao sofrimento alheio.
Porquê isso me Choca ?
Simplesmente porque é o governo deles que é Responsàvel desse Crime Medonho contra a Humanidade e o Criador !
Miseràvel ! Ladrão ! Patife !
Assassino ! ! !
Inimigo do Criador, da Natureza e da Dignidade e Liberdade Humana !
Em vez de fazer esses vìdeos mostrando sem vergonha o crime do govervo deles, e de pedir "orações,"eles deveriam exigir que esse governo pàre a sua polìtica Assassina para manter o Poder e o Conforto Material deles ! ! !
Me perdoem !
Mas não posso conter a minha revolta e a minha Profunda Indignação !
Considero isso como uma Impostura Religiosa e um Insulto ao Criador e a Dignidade dessas Crianças !
Que o Criador proteja e abençoe essas crianças, de quem me sinto profundamente e sinceramente Solidària
!

domingo, 16 de dezembro de 2007

Sò pra meu amor.....e nada mais !

Ah! O amor de um homem....
È muito difìcil falar de amor
São tantas as diferentes formas de amor e de amar
O amor de pai e mãe
Sacrifìcio sublime e tantas vezes incompreensìvel
O amor pela natureza
Respeito e humildade
As vezes temor diante tanta grandeza, beleza e esplendor !
O amor fraternal
Amizade e solidariedade
Humanismo criador de tantas belas idéias, de tantas lutas pelos direitos do homem, pela justiça, pela liberdade .
Ah ! o amor da liberdade
Palavra maldita e ao mesmo tempo sagrada
Luta incessante
Utopia ou realidade?
O amor de Deus
Esse é certamente o mais complicado de todos, porque ele exige de nòs mesmos grandes sacrifìcios, grandes provações, desespero e humilhações....
A fé move montanhas !
A dificuldade é justamente essa
Acreditar !
Os caminhos que levam a Deus são demasiadamente complexos, são caminhos de dùvidas e incertezas a combater sem cessar
São caminhos de dor intensa a superar
Caminhos de solidão e trevas.....
Eis para mim, onde se encontra a verdadeira fé
Questão de ponto de vista e de qualquer maneira uma experiência muito pessoal, detesto fazer proselitismo, detesto mais ainda os falsos profetas, as crenças e doutrinas assassinas e manipuladoras.
Eu escolhi a dùvida e a solidão para tentar encontrar Deus
A dificuldade e a dor para tentar falar com ele
Liberdade !
Cansei de ver cristãos, muçulmanos e outros sei là o quê, matando e roubando, destruindo tudo, a natureza, os valores, com uma arma em uma mão e na outra um "livro sagrado"
Miseràveis ! Patifes ! Traidores !
Benditos aqueles que não possuem essa "fé" maldita, mas são humanos, justos e solidàrios
A fé deles é o amor !
Ah ! O amor.....
São tantas as formas de amar....mas
O amor de um homem
Me faz verdadeiramente sonhar
Faz minha alma e todo o meu ser vibrar
Sò de pensar tudo pàra, tudo se transforma
São tantas as emoções a invadir meu coração, doce e violenta invasão
Sinto-me dona do universo e ao mesmo tempo imensamente miseràvel....
Aporia efêmera e abismal do amor
Ah ! o amor de um homem
Estou descobrindo sò agora, 47 anos e poeiras....
Estou descobrindo a vida
Que milagre !
Estou amando de verdade
Serà ? ! ? !
Ai meu Deus !
Que revolução é essa na minha alma
No meu coração ?
Ah !
O amor de um homem.....

sábado, 1 de dezembro de 2007

COMO VOCE TRATA AS PESSOAS MAIS "HUMIILDES PROFISSIONALMENTE"

"Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível" (PUBLICAÇÃO DIÁRIO DE SÃO PAULO)
Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da "invisibilidade pública". Ele comprovou que, em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali, constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são "seres invisíveis, sem nome". Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da "invisibilidade pública", ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa. Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida: "Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência", explica o pesquisador. O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano. "Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão", diz. Apesar do castigo do sol forte, do trabalho pesado e das humilhações diárias, segundo o psicólogo, são acolhedores com quem os enxerga. E encontram no silêncio a defesa contra quem os ignora.
Diário - Como é que você teve essa idéia?
Fernando Braga da Costa - Meu orientador desde a graduação, o professor José Moura Gonçalves Filho, sugeriu aos alunos, como uma das provas de avaliação, que a gente se engajasse numa tarefa proletária. Uma forma de atividade profissional que não exigisse qualificação técnica nem acadêmica. Então, basicamente, profissões das classes pobres.
Diario - Com que objetivo?
A função do meu mestrado era compreender e analisar a condição de trabalho deles (os garis), e a maneira como eles estão inseridos na cena pública. Ou seja, estudar a condição moral e psicológica a qual eles estão sujeitos dentro da sociedade. Outro nível de investigação, que vai ser priorizado agora no doutorado, é analisar e verificar as barreiras e as aberturas que se operam no encontro do psicólogo social com os garis. Que barreiras são essas, que aberturas são essas, e como se dá a aproximação?
Diario - Quando você começou a trabalhar, os garis notaram que se tratava de um estudante fazendo pesquisa?
Eu vesti um uniforme que era todo vermelho, boné, camisa e tal. Chegando lá eu tinha a expectativa de me apresentar como novo funcionário, recém-contratado pela USP pra varrer rua com eles. Mas os garis sacaram logo, entretanto nada me disseram. Existe uma coisa típica dos garis: são pessoas vindas do Nordeste, negros ou mulatos em geral. Eu sou branquelo, mas isso talvez não seja o diferencial, porque muitos garis ali são brancos também. Você tem uma série de fatores que são ainda mais determinantes, como a maneira de falarmos, o modo de a gente olhar ou de posicionar o nosso corpo, a maneira como gesticulamos. Os garis conseguem definir essa diferenças com algumas frases que são simplesmente formidáveis.
Diario - Dê um exemplo?
Nós estávamos varrendo e, em determinado momento, comecei a papear com um dos garis. De repente, ele viu um sujeito de 35 ou 40 anos de idade, subindo a rua a pé, muito bem arrumado com uma pastinha de couro na mão. O sujeito passou pela gente e não nos cumprimentou, o que é comum nessas situações. O gari, sem se referir claramente ao homem que acabara de passar, virou-se pra mim e começou a falar: "É Fernando, quando o sujeito vem andando você logo sabe se o cabra é do dinheiro ou não. Porque peão anda macio, quase não faz barulho. Já o pessoal da outra classe você só ouve o toc-toc dos passos. E quando a gente está esperando o trem logo percebe também: o peão fica todo encolhidinho olhando pra baixo. Eles não. Ficam com olhar só por cima de toda a peãozada, segurando a pastinha na mão".
Diario - Quanto tempo depois eles falaram sobre essa percepção de que você era diferente?
Isso não precisou nem ser comentado, porque os fatos no primeiro dia de trabalho já deixaram muito claro que eles sabiam que eu não era um gari. Fui tratado de uma forma completamente diferente. Os garis são carregados na caçamba da caminhonete junto com as ferramentas. É como se eles fossem ferramentas também. Eles não deixaram eu viajar na caçamba, quiseram que eu fosse na cabine. Tive de insistir muito para poder viajar com eles na caçamba. Chegando no lugar de trabalho, continuaram me tratando diferente. As vassouras eram todas muito velhas. A única vassoura nova já estava reservada para mim. Não me deixaram usar a pá e a enxada, porque era um serviço mais pesado. Eles fizeram questão de que eu trabalhasse só com a vassoura e, mesmo assim, num lugar mais limpinho, e isso tudo foi dando a dimensão de que os garis sabiam que eu não tinha a mesma origem socioeconômica deles.
Diario - Quer dizer que eles se diminuíram com a sua presença?
Não foi uma questão de se menosprezar, mas sim de me proteger.
Diario - Eles testaram você?
No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse: 'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi. Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar.
Diario - O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?
Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.
Diario - E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?
Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão.
E quando você volta para casa, para seu mundo real?
Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador. Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem uma coisa. José TrevisanPsicólogo clínico