domingo, 27 de dezembro de 2009

O Papel da Consciência na Meditação

Existem várias palavras importantes, tais como deus, cujo significado tornou-se tão amplo pelo uso vago, que elas tendem a perder todo o significado. Meditação é uma palavra que pode denotar experiência profunda bem como práticas estranhas.

Para aprender a meditar, deve-se em primeiro lugar considerar o que significa meditação e não começar com o meditar. Não podem ser adotados os meios sem dar relevância ao fim. É necessário saber primeiro se você quer subir uma montanha ou cruzar o mar, antes que encontre os meios para fazê-lo. Se você deseja cruzar o mar, seria insensato equipar-se com uma picareta e uma corda. Assim, é necessário primeiro tentar entender o que a meditação implica e somente então é possível saber como empreendê-la.

No curso da evolução, as formas são desenvolvidas e aperfeiçoadas; a consciência, incorporada às formas vivas, expande-se e , portanto, manifesta os poderes inerentes a ela própria. Na antiga tradição da sabedoria, é dito que não há forma que não incorpore vida ou consciência. O que aparece como “matéria” não está destituída de consciência; mas a consciência está tão oculta, tão latente, que não a percebemos. Nas formas rudimentares de vida, a consciência funciona de uma maneira também rudimentar. Neste estágio, a vida incorporada está apenas vagamente consciente. Nas formas de vida mais desenvolvidas, por exemplo no reino vegetal, há mais consciência. Têm sido provadas nos últimos anos que as plantas respondem aos sentimentos em torno delas, fato descoberto décadas atrás por um cientista indiano, Sir Jagadish Chandra Bose. Entretanto, as plantas não têm aquele grau de consciência que é encontrado nos animais inteligentes: o elefante, o cachorro, o macaco são todos criaturas nas quais a consciência está muito mais desenvolvida. Quando chegamos aos seres humanos, os poderes da consciência revelam-se numa medida ainda maior.

Este movimento da evolução, que é o desenvolvimento do organismo, implica em que o organismo se torne mais e mais capaz de ser um canal para a força da vida. Também implica na expansão da consciência que está incorporada no organismo. Isto é retratado pelo símbolo que foi amplamente usado na Índia, no Egito e alhures – o lótus. O lotús tem seu nascimento em terreno grosso, lamacento. Ele eleva-se na opacidade da água misturada com lama, depois ainda mais além, na água clara, até que alcança o ar puro do céu. Ele simboliza como a consciência se expande desde as formas inferiores, que não lhe permitem revelar muito seus poderes, até as formas superiores, que permitem a canalização de seus poderes em medida cada vez maior. À medida que o lótus se eleva no ar, é primeiro um botão fechado sobre si mesmo. Então floresce como uma bela flor, considerada por alguns de beleza incomparável. Ele recebe a luz do sol, abre-se para a imensa extensão do céu e espalha seu perfume no ar.

A consciência humana, como existe no indivíduo comum, pode ser comparada ao botão de lótus. Ela tem de florescer e revelar a beleza e a fragrância que são inerentes ao seu interior. Aprender a despertar a consciência, para que sua presente potencialidade oculta floresça para um estado de absoluta plenitude e meditação.

A palavra cônscio significa estar apercebido. Não há consciência destituída do poder de estar cônscia, de estar apercebida. Nós todos somos indivíduos cônscios. Entretanto, se observássemos a nós mesmos, saberíamos que nosso poder de ser cônscios é muito limitado. A consciência funciona de muitas maneiras diferentes: através dos sentidos, através do observar, do ver, do escutar, do sentir, etc. A consciência está cônscia através da modalidade do sentir quando há simpatia; quando pensamos em alguma coisa, isto também é uma maneira de estar cônscio. Assim, existem vários modos de estar cônscio.

Agora vamos tentar descobrir como alguém está cônscio. Pensemos numa pessoa que olha para uma bela cadeia de montanhas. Ela pode estar cônscia apenas de uma grande massa de matéria na frente dela, se é uma pessoa insensível. Isto equivale a dizer que sua consciência não está muito cônscia. Portanto, ela não percebe nada mais do que a massa física diante dela. Existem muitos seres humanos assim. A maioria das pessoas torna-se assim, se vêem uma montanha durante muito tempo. Quando continuamos a ver uma coisa, nos tornamos insensíveis a ela; cessamos de estar cônscios da maravilhosa cadeia de montanhas e nos tornamos absorvido em pequenas preocupações insignificantes. Ou somos às vezes cônscios da massa material apenas ou outras vezes sensíveis a alguma coisa mais, à majestade, à estabilidade, à beleza da cadeia de montanhas. Quando a consciência está apercebida não apenas da aparência física mas dos atributos intangíveis pertencentes à montanha, então ela está mais apercebida, mais cônscia do que estava anteriormente.

Pensemos num outro exemplo – uma flor. Uma pessoa que é comercialmente inclinada, pensa na flor meramente como um objeto que dá dinheiro. Alguém que responda um pouco mais, nota várias coisas - a maneira pela qual ela é formada, o desenho das pétalas, a textura, a delicadeza da coloração e assim por diante. Mas, embora nota mais, ele pode ainda falhar de estar cônscio daquilo que pode ser chamado a “essência” da flor – sua natureza intrínseca, a verdade oculta dentro dela.

Os filósofos têm salientado que a beleza é descoberta ao ir-se abaixo da superfície das coisas. Keats escreveu: “Beleza é verdade – verdade-beleza – isso é tudo”. A beleza é ver a verdade oculta no interior, que tem pouco a ver com as qualidades ou características externas. A forma externa pode ser bela para uma pessoa e não parecer assim para outra. Quer a forma pareça bela ou não, aquele que ama vê a verdade dentro, como faz uma mãe que percebe a natureza preciosa de uma criança que outros consideram feia. A verdade ou realidade oculta existe em toda a parte, não somente numa criança particular, numa pessoa ou coisa. Alguns a vêem num lugar, outros em outro. A consciência que desfrutamos é apenas mais ou menos sensível, freqüentemente vendo apenas a forma externa, outras vezes vendo a forma bem como suas qualidades, ocasionalmente vendo ainda mais, no coração das coisas. Quando penetra no coração, ela pode assim fazer mais ou menos profundamente. Ver profundamente é ver o significado, o sentido, o valor. Despertar não meramente para o valor das particularidades, mas despertar para o valor e o significado de toda a vida é alcançar um estado de sabedoria.

Para aquele que atingiu este estado de profundo apercebimento e sabedoria, a vida torna-se totalmente diferente. Ver e agir corretamente, afetuosamente, harmoniosamente, é sabedoria. Se uma pessoa vê somente a forma externa de uma flor e para ela esta é somente o valor monetário, pode esmagá-la e jogá-la fora no momento em que ela cessa de ser de valor pessoal. Mas aquele que vê a beleza, o significado, a verdade da flor, não pode danificá-la. Ele a trata com amor, cuidado, delicadeza. Isto é verdade com referência à vida como um todo. Uma pessoa que percebeu o significado da vida não pode atuar de uma maneira destrutiva. Ela age espontaneamente de uma maneira criativa, amável, que é sabedoria em ação. Assim, quando há um completo despertar da consciência, quando há total apercebimento, manifesta-se como uma vida santa e um relacionamento afetuoso.

Aprender a alcançar esta sabedoria é meditação. Meditação é o despertar do poder de apercebimento, de consciência, para que assim ela veja não somente o externo, mas também o interno; não somente o que é material, mas também o invisível; não meramente o grosseiro, mas o sutil.

O que auxilia alguém na meditação é o que auxilia a consciência a tornar-se mais profundamente cônscia, a tornar-se muito mais sensível do que ela é; assim, suas respostas não são limitadas às coisas externas, materiais, grosseiras. Ela vibra com as coisas sutis, internas, espirituais. Quando isto é entendido, está claro o que é a base da meditação. Obviamente isto implica numa maneira de viver. A consciência não pode ser sensível quando existem fatores na mente que são destruidores desta sensibilidade, condições que obscurecem a percepção. Quando certas paixões, certos tipos de pensamentos existem, o apercebimento é destruído. É impossível ver corretamente. Uma pessoa que é ciumenta não pode ver por causa do ciúme, que atua como uma tela ou nuvem. Otelo, de Shakespeare, via tudo através da coloração de seu ciúme. Ações inocentes pareciam-lhe culposas. Tudo o que sua esposa dizia ou fazia a ele parecia conter um mal, pois não estava vendo os fatos como são; ele estava iludido por seu ciúme. Quer exista ciúme, amor ao poder, cólera, inveja ou outras tais paixões, a consciência perde sua capacidade de ser verdadeiramente cônscia. Ela pensa que vê, mas vê falsamente. Portanto, deve-se aprender a viver de maneira correta e trabalhar para purificar, através da observação e do entendimento, todas aquelas tendências que distorcem a mente. Tudo o que tem sabor de egoísmo é destruidor do poder da consciência. Portanto, na antiga tradição da ioga, eles ensinaram que a base da meditação é um modo ético de vida. Violência, agressão (que eles chamavam himsa), gula, ganância, trapaça, etc., atuam como uma barreira à percepção. Assim, se tem de estar constantemente vigilante aos impulsos e motivos conscientes e subconscientes, se está realmente interessado em expandir os poderes da consciência e preparar-se para a meditação num sentido mais profundo.

Sem estabelecer um alicerce, nenhuma estrutura pode ser construída. No mundo de hoje, as pessoas buscam atalhos para tudo e querem “atingimento instantâneo”. Existem os ditos “gurus” que dizem que você pode viver qualquer tipo de vida que queira, uma vida de indulgência, auto-interesse, buscando poder, prazer, etc. – e também obter a iluminação, sob sua égide. Mas o raciocínio mostraria que isso não é possível. Iluminação significa ser capaz de ver e não se pode ver mesmo coisas ordinárias, mundanas, corretamente, como era o caso de Otelo, se a mente não está na condição correta e se não faz o esforço para viver uma vida reta.

Descobrir o que torna a pessoa mais cônscia é a próxima tarefa. Quando nós observamos, vemos escutamos, é a consciência que está vendo, escutando. Mas nós vemos muitos pouco na vida. Quando olhamos para uma flor, não apenas não vemos a sua “interioridade”, mas também deixamos de ver o que está acontecendo dentro de nós. Não notamos sequer se nós notamos. Não observamos nossas próprias reações clara e cuidadosamente. Desenvolver o poder de apercebimento significa aprender a observar não somente o que está fora mas também o que está acontecendo a si mesmo, cuidadosamente, sensivelmente, dando a si próprio o tempo, o silêncio, a quietude que é necessária.

Muito poucos seres humanos gostam de fazer isto. Se alguma coisa acontece interiormente, digamos um movimento de raiva, então imediatamente existe o desejo de encobrir o fato ou escapar dele. Encobre-se ele dizendo que não aconteceu. “Não foi devido à minha falta; foi a outra pessoa que me fez fazê-lo”. Assim, existe a recusa de olhar para a raiva que surgiu. Os sintomas de egoísmo, raiva, amor ou poder, etc., podem ser muito sutis. Há o desejo de importância em cada pessoa. Este desejo é algumas vezes muito óbvio naqueles que se pavoneiam, que divulgam a si próprios. Mas ele também pode estar não articulado, mas habilmente escondido. Quando, sentindo-se ofendido, o senso de importância é ofendido, o que poucos compreendem. À medida que aprende a observar, a pessoa torna-se progressivamente cônscia não somente das sutilezas exteriores, como as cores reluzindo nas folhas, a luz caindo sobre a água e assim por diante, mas do que está acontecendo dentro de si mesma em relação a tudo o mais. Ela se torna cônscia de todos os movimentos da mente e das emoções. E a cuidadosa observação intensifica a sensibilidade da consciência, sendo que desse modo ela se torna cada vez mais capaz de esta cônscia.

A maioria das pessoas escuta muito pouco. Enquanto outra pessoa está falando, o “ouvinte” já está pensando no que ele quer dizer. A mente prossegue com sua própria tagarelice a maior parte do tempo. Mas deve-se aprender a escutar, como uma base para a meditação. Quanto mais profundamente se escuta, mais a consciência se torna cônscia. Tem-se de escutar a sons e também ao silêncio, ao que não é dito. Um homem irado pode dizer palavras ásperas. A pessoa que realmente escuta aprende que o que o outro está realmente dizendo é que ele é solitário, infeliz, frustrado. Aquele que não escuta cuidadosamente ouve apenas a palavra áspera, não o que o homem está realmente mostrando, que é a sua dor. Assim, a pessoa tem de escutar não somente ao que é falado, mas ao que não é dito; ao silêncio bem como ao som.

Então, por cuidadosa observação e escuta, o poder da consciência expande-se. Ela começa a florescer, o que significa que se torna mais aberta ao que a vida está dizendo. É sensível em sua apreensão do que existe, e é necessário sensibilidade para descobrir aquilo que faz no mais profundo, que é o significado, a verdade oculta.

O significado, como dissemos, está em tudo na vida – em cada átomo de matéria, na folha de releva bem como no ser humano, naqueles a quem consideramos feios, bem como naqueles que parecem encantadores e adoráveis. É a falha em nossos olhos que os torna cegos para o que existe. Nos Upanichades, que são os mais antigos tratados filosóficos e religiosos da Índia, um sábio ensina que o verdadeiro Eu (atman), a Realidade, está em toda parte. Você ama sua esposa porque pensa que ela é sua, mas a esposa é amável não porque é sua esposa mas porque é aquela realidade oculta, o atman. O esposo não é querido porque é o esposo, mas porque é o atman. Assim, também o amigo, a criança, as relações, o dito inimigo, cada um tem um valor intrínseco. A pessoa que tem o poder de ver – o sábio – sabe que a verdade, a beleza, a bondade estão em todas as coisas. Nós todos temos de aprender a ver o real em todas as coisas e isto somente pode acontecer se aumentarmos nosso poder de visão.

Isto não pode vir de fora. Nenhum guru pode dá-lo, embora alguns pretendam que possam. A pessoa apenas pode ver aquilo que sua consciência é capaz de ver. Portanto, a menos que empreenda o difícil trabalho de viver uma vida diária, na qual o poder de observação, de visão, de sensibilidade, de resposta, de abertura, está aumentando, ela não pode ver a verdade, a realidade, deus, brahman, ou como quer que se queira chamá-la.

Na passagem do Upanichade referido, é dito que se você quer ver o real, o verdadeiro, a significação última, absoluta da vida, então aprenda a observar, a escutar, a ponderar e então medite. Assim, a pessoa tem de começar a ponderar. A vida da maioria das pessoas é gasta em trivialidades. Se elas observassem a si próprias, descobririam quantas horas do dia e da noite – pois os sonhos, na maior parte, repetem, de uma maneira incoerente, os pensamentos do dia – quantas horas são gastas em futilidades: o que fazer; o que o vizinho disse, fazendo compras; quem brigou bom quem; a última intriga, etc. Cada um vive num pequeno círculo minúsculo de interesses e torna-se um cativo dentro deste círculo, identificado com esses interesses, quer sejam eles de sua família, de sua comunidade religiosa, de sua nação ou de alguma outra coisa. Ele não é mais do que um prisioneiro do círculo de seus próprios pensamentos e apegos. E tem de se liberar da pequena prisão de sua criação e aprender a ponderar sobre questões que são de significação mais profunda, de relevância mais universal.

Sr. J. Krishnamurti, que atualmente tem algumas das coisas mais significativas a ensinar sobre meditação, diz: “ Vagueie pela praia e deixe qualidade meditativa ver até você. Se ela não vier, não a persiga. O que você perseguir será a memória do que foi – e o que foi é a morte do que é. Ou quando você vaguear pelas montanhas, deixe que todas as coisas lhe contem da beleza e da dor da vida, para que assim desperte para sua própria dor e para o fim dela”.

Há muito de importância universal sobre o que a pessoa tem de ponderar. A questão da dor e da alegria é de importância universal. Elas não são o que parecem ser na superfície. Há a busca de prazer, mas este prazer finda rapidamente. A morte toma alguém a quem alguém estava apegado, a afeição não é retribuída, a doença aflige os que são queridos. Inumeráveis são as maneiras elas quais o prazer termina em pesar e dor. Qual é o significado disso tudo? O que é o “eu” que continuamente busca prazer e tenta evitar a dor? Este eu existe por uma vida apenas? Existem muitas questões fundamentais que demandam uma resposta – uma resposta que seja real, não um eco vazio de palavras faladas por alguém mais. O que as escrituras dizem, o que Jesus Cristo ou Shankaracharya disseram são apenas palavras, até que pela séria ponderação, assimilação, se começa a descobrir por si mesmo o que cada questão realmente significa. Portanto, reflexão, capacidade de ponderar sobre verdades que são de significação universal, questionamento e investigação de problemas que se aplicam a todos os seres humanos, tudo é parte da prática meditativa. E ao fazer assim, a consciência abre-se e amplia o seu espaço. Ela quebra e ultrapassa as barreiras que criou para si mesma.

Assim, à medida que a base é estabelecida, o que auxilia a mente a despertar, a tornar-se mais reflexiva, observadora, sensível, escutando, observando, pensando, adquire a qualidade da profundidade. Somente a profundidade na própria consciência da pessoa é capaz de perceber a profundidade de toda a vida. A mente que vive em superficialidades pode ver somente coisas superficiais. Ao aprofundarmos a percepção, chegamos à profunda interioridade das coisas, aos níveis ocultos, sutis da vida. E existe uma profundidade infinita na vida; seu significado não tem limites. A descoberta dele é meditação; sua culminância é sabedoria.

No ensinamento budista, diz-se que a senda é tríplice. Ela começa com a reta conduta, chamada shila, o que significa que todos os fatores obscurecedores, as paixões animais, os pensamentos egoístas que impedem a visão, devem chegar a um fim. Em segundo lugar, a senda implica em auxiliar a consciência a despertar através da observação, do escutar sensível e da profunda reflexão. Então a sabedoria começa a despontar. O caminho dá acesso a uma vasta esfera da qual não temos consciência agora. Então começa a revelar-se o supremo significado que abrange toda a vida.


Radha Burnier

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Os Quatro Elementos

O estudo das forças ocultas da natureza, presentes nos quatro elementos e seus elementais são comuns a todas as culturas por tratar-se de uma necessidade latente do ser humano. A Iniciação Hermética quase sempre tem início com base nos quatro elementos grosseiros da natureza: ar, terra, fogo e água. A partir de uma evolução interior o iniciado passa a estudar os quatro elementos em sua forma mais sutil por meio de uma analogia entre o material tangível e o abstrato, psíquico ou espiritual.


Vejamos uma breve análise sobre cada um dos elementos, elaborada por mim, tendo por base os estudos sobre Hermetismo ao longo dos últimos anos. Tal síntese será apresentada em uma seqüência ordenada de tal forma que possa sintetizar da melhor maneira possível a natureza dos elementos de acordo com a ideologia espiritualista proposta pelo nosso site. Assim, poderemos obter uma visão mais ampla e maior compreensão acerca dos nossos processos criativos interiores em suas diversas fases:


Ar

O ar representa o meio pelo qual todas as ações e realizações humanas têm seu início: o nosso mundo das idéias. Espiritualmente falando, representa o éter ou plano astral, que, em linguagem mais moderna, pode muito bem ser chamado de psique ou inconsciente. É também o elemento representante da mente com suas freqüentes transformações. O elemento ar está dessa forma diretamente associado ao pensamento, e, segundo diversas correntes herméticas, é governado por elementais denominadas Fadas.


Fogo

O fogo representa o desejo, a vontade, a mudança, a purificação, a transformação, a energia da ativação, que em termos estritamente espirituais, pode ser representado pelo poder da fé. Segundo o hermetismo tradicional, esse elemento é governado pelas Salamandras e tem um significado espiritual muito forte por representar a Energia Divina. Em quase todas as religiões que se utilizam de rituais, o fogo é utilizado como forma de representação da Luz Divina. As velas, as fogueiras, são objetos que representam a força desse elemento.


Água

A água, segundo a maioria das correntes herméticas, está relacionada às emoções do inconsciente. Emoções que nutrem os nossos sonhos e ideais na vida. Pode muito bem representar, no processo espiritual construtivo, a energia da esperança que alimenta e mantém ativa a fé ou a crença do iniciado. Elemento governado pelas Undinas e de caráter feminino em sua essência. Ativa a intuição e a emoção. Os espelhos mágicos dos ocultistas podem ser objetos que muito bem representam esse elemento.


Terra

A terra representa, hermeticamente falando, o lado visível da vida ou a manifestação concreta de todas as sementes que germinam no mundo das idéias mediante a ação concreta do Iniciado. Esse elemento ativa nossa energia interna para a realização e para a ação de coisas concretas. Representa, ainda, o nosso próprio organismo e tudo o mais relacionado ao mundo material. Geralmente, em hermetismo, esse elemento pode ser representado pelo símbolo da cruz que alegoriza a materialização da essência divina. Os Gnomos são elementais que governam o elemento terra, segundo os ocultistas.


Simplificando:

Tudo começa com o elemento ar no mundo das idéias, onde predomina o caos de pensamentos e crenças variadas que desprendem energia aleatoriamente e sem foco. A partir de uma introspecção do Iniciado pelos recônditos misteriosos do Ser, predomina o elemento fogo, representando aqui a energia da vontade direcionada (a fé). Em seguida, deve predominar o elemento água, representativo do sentimento de convicção que deve nascer do fogo secreto da fé transformando essa crença inicial em uma esperança constante, vital para a concretização do processo criativo. Finalmente surge a predominância do elemento terra representando a materialização da vontade que surgiu dos recônditos interiores do ser. Essa é a forma que escolhi para representar o simbolismo dos quatro
elementos em nosso processo de criação de coisas psíquicas, espirituais e até físicas. Quem puder compreender; compreenda.

Para finalizar esta análise, vejamos a seguir um trecho extraído do meu livro Alquimista por Acaso, que tão bem exemplifica a natureza espiritual dos quatro elementos:
“Naquela noite, ao cair na cama, simplesmente me apaguei em um sono profundo. Não sei se devido à ansiedade latente da minha busca frustrada, pouco antes do alvorecer, tive uma série de sonhos, todos relacionados ao tesouro perdido. Um deles, porém, chamou muito minha atenção. Aconteceu um pouco antes do despertar. No sonho eu estava a escavar o solo em um imenso buraco que já havia feito sob a árvore, quando, de repente, ouço uma voz ressonante de um homem que estava à beira do buraco e que, nesse momento, já havia se transformado em um túnel escuro no qual eu estava imerso.

- Paulo – dizia o homem misterioso. Desista.
O tesouro que estás buscando é verdadeiramente encantado e só conseguirás teu intento quando estiverdes apto a quebrar tal encanto.
- Como posso fazer isso? Perguntei.
-Poderás quebrá-lo somente de duas maneiras: pelo sofrimento ou pelo conhecimento. Escolhendo o sofrimento escavarás sem parar por toda a extensão dessa mata. Através desse sacrifício desesperado poderás por sorte encontrar o tesouro em alguns anos. Se por outro lado, escolherdes o caminho do conhecimento, deverás seguir fielmente as instruções, e com sorte, no tempo prometido, encontrarás o que buscas.
- Qual das opções devo seguir? – perguntei já sabendo qual seria a resposta.
- O caminho do conhecimento é mais suave e menos doloroso - respondeu-me a voz. Pelo sofrimento levará anos para encontrar o seu tesouro. Seguindo a senda do conhecimento revelado pelas forças da natureza, ainda poderás atingir o objetivo no prazo estipulado.
- Como posso fazer isso? – perguntei gritando a ele do fundo do imenso buraco.
- Deves buscar a mistura dos quatro elementos na sua forma sutil e não na forma grosseira – respondeu-me o homem.
- Como assim? – Insisti. Não entendo o que quer dizer.
- O ar, a terra, a água e o fogo, portanto, elementos superiores; não os ordinários, respondeu-me ele.
- Continuo não entendendo o que significa isso – Insisti.
- Deves buscar os quatro elementos dentro de você – respondeu.
- Como conseguir tal intento?
- Não posso dar mais detalhes porque você deve ser digno do tesouro por seu próprio esforço. Apenas posso falar a respeito do significado dos quatro elementos no homem: o fogo representa um forte desejo, a água representa o sentimento que o nutre e a terra representa a manifestação desse desejo mediante a lei universal irrevogável de causa e efeito.
- E o elemento ar? – Perguntei-lhe.
- O ar representa o éter. Meio onde tudo se manifesta. Buscai e encontrareis a mistura dos elementos dentro de si. Esse é o segredo para o seu tesouro. Agora saia desse buraco porque o tesouro não está aí no escuro. Ele está na luz. Estas foram as últimas palavras ditas pelo homem misterioso em meu sonho antes do despertar.
Quando pensei em fazer mais algumas perguntas acordei assustado com a incrível lucidez vivida naquele sonho. Parecia um fato real. O buraco escuro do sonho mostrou um relevante contraste mediante a luz que agredia meus olhos pelo vidro da janela. Eram os primeiros raios do sol anunciando o nascer de mais um dia”.

sábado, 3 de outubro de 2009

Erzsébet Báthory

Erzsébet Báthory (7 de agosto de 156021 de agosto de 1614), em português Elisabete ou Isabel Báthory, foi uma condessa húngarada renomada família Báthory que entrou para a História por uma suposta série de crimes hediondos e cruéis que teria cometido, vinculados com sua obsessão pela beleza. Como conseqüência, ela ficou conhecida como "A condessa sangrenta" e "A condessa Drácula".

Nascimento e família

Erzsébet Báthory nasceu em Nyírbátor, que então fazia parte do Reino da Hungria, território hoje pertencente à República Eslovaca. A maior parte de sua vida adulta foi passada no Castelo Čachtice, perto da cidade de Vishine, a nordeste do que é hoje Bratislava, onde aÁustria, a Hungria e a Eslováquia se juntam.

Era filha do nascido plebeu barão Báthory, George e de sua esposa, Anna de Somlyó. Tinha um irmão, Stephan Báthory. Anna era filha de Istvan Báthory I de Somlyó e Katalin Telegdi. Anna era irmã do rei István Batory.

Erzsébet cresceu em uma época em que os turcos conquistaram a maior parte do território húngaro, que servia de campo de batalha entre os exércitos do Império Otomano e a Áustriados Habsburgo. A área era também dividida por diferenças religiosas. A família Báthory se juntou à nova onda de protestantismo que fazia oposição ao catolicismo romano tradicional.

Foi criada na propriedade de sua família em Ecsed, na Transilvânia. Quando criança, ela sofreu doenças repentinas, acompanhadas de intenso rancor e comportamento incontrolável. Em1571, seu tio István Báthory tornou-se príncipe da Transilvânia e, mais tarde na mesma década, ascendeu ao trono da Polônia. Foi um dos regentes mais competentes de sua época, embora seus planos para a unificação da Europa contra os turcos tivessem fracassado em virtude dos esforços necessários para combater Ivan, o Terrível, que cobiçava seu território.


Casamento e sadismo

Vaidosa e bela, Erzsébet ficou noiva do conde Ferenc Nadasdy aos onze anos de idade, passando a viver, no castelo dos Nádasdy, em Sárvár. Em 1574, ela engravidou de um camponês. Quando sua condição se tornou visível, escondeu-se até a chegada do bebê. O casamento ocorreu em maio de 1575. O conde Nadasdy era militar e, freqüentemente, ficava fora de casa por longos períodos. Nesse meio tempo, Erzsébet assumia os deveres de cuidar dos assuntos do castelo da família Nadasdy. Foi a partir daí que suas tendências sádicas começaram a revelar-se - com o disciplinamento de um grande contingente de empregados, principalmente mulheres jovens.

À época, o comportamento cruel e arbitrário dos detentores do poder para com os criados era comum; o nível de crueldade de Erzsébet era notório. Ela não apenas punia os que infringiam seus regulamentos, como também encontrava todas as desculpas para infligir castigos, deleitando-se na tortura e na morte de suas vítimas. Espetava alfinetes em vários pontos sensíveis do corpo das suas vítimas, como, por exemplo, sob as unhas. No inverno, executava suas vítimas fazendo-as se despir e andar pela neve, despejando água gelada nelas até morrerem congeladas.

O marido de Báthory juntava-se a ela nesse tipo de comportamento sádico e até lhe ensinou algumas modalidades de punição: o despimento de uma mulher e o cobrimento do corpo commel, deixando-o à mercê de insetos.


Viuvez e mais crimes

O conde Nadasdy morreu em 1604, e Erzsébet mudou-se para Viena após o seu enterro. Passou também algum tempo em sua propriedade de Beckov e no solar de Čachtice, ambos localizados onde é hoje a Eslováquia. Esses foram os cenários de seus atos mais famosos e depravados.

Nos anos que se seguiram à morte do marido, a companheira de Erzsébet no crime foi uma mulher de nome Anna Darvulia, de quem pouco se sabe a respeito. Quando Darvulia adoeceu, Erzsébet se voltou para Erzsi Majorova, viúva de um fazendeiro local, seu inquilino. Majorova parece ter sido responsável pelo declínio mental final de Erzsébet, ao encorajá-la a incluir algumas mulheres de estirpe nobre entre suas vítimas. Em virtude de estar tendo dificuldade para arregimentar mais jovens como servas à medida que os rumores sobre suas atividades se espalhavam pelas redondezas, Erzsébet seguiu os conselhos de Majorova. Em 1609, ela matou uma jovem nobre e encobriu o fato dizendo que fora suicídio.


Prisão e morte

No início do verão de 1610, tiveram início as primeiras investigações sobre os crimes de Erzsébet Báthory. Todavia, o verdadeiro objetivo das investigações não era conseguir umacondenação, mas sim confiscar-lhe os bens e suspender o pagamento da dívida contraída ao seu marido pelo rei.

Erzsébet foi presa no dia 26 de dezembro de 1610. O julgamento teve início alguns dias depois, conduzido pelo Conde Thurzo. Uma semana após a primeira sessão, foi realizada uma segunda, em 7 de janeiro de 1611. Nesta, foi apresentada como prova uma agenda encontrada nos aposentos de Erzsébet, a qual continha os nomes de 650 vítimas, todos registrados com a sua própria letra.

Seus cúmplices foram condenados à morte, sendo a forma de execução determinada por seus papéis nas torturas. Erzsébet foi condenada à prisão perpétua, em solitária. Foi encarcerada em um aposento do castelo de Čachtice, sem portas ou janelas. A única comunicação com o exterior era uma pequena abertura para a passagem de ar e de alimentos. A condessa permaneceu aí os seus três últimos anos de vida, tendo falecido em 21 de agosto de 1614. Foi sepultada nas terras dos Báthory, em Ecsed.


Julgamento e documentos

No julgamento de Erzsébet, não foram apresentadas provas sobre as torturas e mortes, baseando-se toda a acusação no relato de testemunhas. Após sua morte, os registros de seus julgamentos foram lacrados, porque a revelação de suas atividades constituiriam um escândalo para a comunidade húngara reinante. O rei húngaro Matias II proibiu que se mencionasse seu nome nos círculos sociais.

Não foi senão cem anos mais tarde que um padre jesuíta, Laszlo Turoczy, localizou alguns documentos originais do julgamento e recolheu histórias que circulavam entre os habitantes de Čachtice. Turoczy incluiu um relato de sua vida no livro que escreveu sobre a história da Hungria. Seu livro sugeria a possibilidade de Erzsébet ter-se banhado em sangue. Publicado no ano de 1720, o livro surgiu durante uma onda de interesse pelo vampirismo na Europa oriental.


Lendas posteriores

Escritores posteriores retomariam a história, acrescentando alguns detalhes. Duas histórias ilustram as lendas que se formaram em torno de Erzsébet Báthory, apesar da ausência de registros jurídicos sobre sua vida e das tentativas de remover qualquer menção a ela na história da Hungria:

  • Diz-se que certo dia a condessa, já sem a frescura da juventude, estava sendo penteada por uma jovem criada, quando esta puxou seus cabelos acidentalmente. Erzsébet virou-se para ela e a espancou. O sangue espirrou e algumas gotas caíram em sua mão. Ao esfregar o sangue, pareceu-lhe que estas a rejuvenesciam. Foi após esse incidente que passou a banhar-se no sangue de humanos.
  • Uma segunda história refere-se ao comportamento de Erzsébet após a morte do marido, quando se dizia que ela se envolvia com homens mais jovens. Numa ocasião, quando estava em companhia de um desses homens, viu uma mulher de idade avançada e perguntou a ele: "O que você faria se tivesse de beijar aquela bruxa velha?". O homem respondeu com palavras de desprezo. A velha, entretanto, ao ouvir o diálogo, acusou Erzsébet de excessiva vaidade e acrescentou que a decadência física era inevitável, mesmo para uma condessa. Diversos historiadores têm relacionado a morte do marido de Erzsébet e esse episódio com seu receio de envelhecer.


Descendência

  • Pal, casado com a plebeia Judith Revay;
  • András;
  • Anna, casada com Miklós VI, conde Zrinyi;
  • Orsolya;
  • Katalin, casada com Gyorgy, conde Drugeth de Omona;

domingo, 27 de setembro de 2009

Castelo de Montségur

O Castelo de Montségur localiza-se na comuna de Montségur, no Departamento do Ariège, na região do Midi-Pyrénées.naFrança.

Situa-se no topo da montanha, a 1.207 metros acima do nível do mar, em posição dominante sobre a vila. Atualmente é considerado como um dos Castelos cátaros.

Com efeito, este castelo foi implantado no local arrasado da antiga aldeia fortificada que constituía, até ao cerco de 1244, o local de resistência dos cátaros. As cotas arquitecturais demonstram que o atual castelo foi construído com base na antiga medida davara inglesa que apenas foi introduzida ulteriormente, o que demonstra que este foi parcialmente reconstruído pela família do novo senhor de seus domínios, o Marechal da Fé Guy II de Lévis, após a sujeição dos cátaros em 16 de março de 1244.


História

O sítio do atual castelo conheceu três grandes épocas construtivas, ao longo das quais a fortificação evoluiu:

Uma primitiva estrutura foi erigida no cume da montanha (denominado em língua francesa como "pog"[1]) da qual não se sabe muito a não ser que se encontrava em ruínas por volta de1204, data na qual aquela vila foi fortificada sob a direção de Raymond de Péreille. A esta vila fortificada, ou "castrum", os arqueólogos denominaram de Montségur II.


A fortificação cátara

O dispositivo defensivo desta fortificação era diferente daquele que observamos atualmente. O "castrum", em si mesmo, compreendia a residência fortificada do senhor dos domínios, o "castellum" (que foi, sem dúvida, restaurado pela casa de Lévis obtendo a sua conformação atual) e a vila cátara da época, envolvidas por uma cintura fortificada. Do lado da atual via, sobressaem três muros de defesa, onde o primeiro se situa ao nível da atual bilheteria onde se adquirem as entradas para as visitas pagas ao castelo. Em uma outra face do "pog", a cerca de oitocentos metros, se ergue uma torre de vigia, (sobre a rocha de "La Tour") dominando uma falésia de oitenta metros de altura. A entrada do "castrum" sob esta torre é defendida por uma barbacã. No interior do recinto da fortificação se erguia uma vila da qual nada mais resta do que alguns terraços a Noroeste do atual castelo. Sobre estes últimos, encontram-se as fundações de muitas habitações, de escadas para comunicação entre os terraços, uma cisterna e um silo.

Montségur abrigou uma importante comunidade cátara. Em 1215, o Quarto Concílio de Latrão denunciou a fortificação como um reduto de heréticos. Em 1229, o papel de Montségur como um abrigo para a Igreja Cátara foi reafirmado pelo Tratado de Meaux-Paris de 1229. A partir de 1232 este papel não cessou de se reafirmar. Paralelamente, o castelo acolheu igualmente os cavaleiros faiditas[2], que haviam perdido as suas terras pelo Tratado de 1229. Entre estes últimos destacam-se os nomes de Pierre-Roger de Mirepoix, primo de Raymond de Péreille, que veio a ser o comandante militar de Montségur.



O cerco do castrum

Na primeira metade do século XIII, a fortificação de Montségur sofreu nada menos do que quatro assédios, dos quais apenas um logrou sucesso:

Este último foi desencadeado pelo massacre de alguns inquisidores em Avignonet (1242) por um grupo de cerca de sessenta homens procedentes da guarnição de Montségur. O senescalde Carcassonne e o arcebispo de Narbonne (Pierre Amiel) foram incumbidos de assediar a fortificação, por ordens de Branca de Castela e Luís IX. Em maio de 1243, os cruzados, em número que ascendia a seis mil homens, cercaram Montségur.

O equilíbrio de forças durou até ao Natal de 1243, quando um punhado de "alpinistas" logrou, após uma audaciosa escalada noturna, assenhorear-se da torre de vigia. A partir deste momento, um "trébuchet" foi içado e ali instalado, passando a atirar, sem descanso, sobre a posição cercada, conforme o testemunham as inúmeras bolas de pedra cortada encontradas no sítio. Cerca de um mês mais tarde, talvez após uma traição local, a barbacã caiu nas mãos dos assaltantes. Um último assalto, lançado em fevereiro foi rechaçado, mas deixando os defensores extremamente enfraquecidos.


A rendição da praça-forte

Castelo de Montségur, França: vista interior.

A 1 de março de 1244, Pierre-Roger de Mirepoix se viu forçado a negociar a rendição da praça-forte. Os termos foram os seguintes:

  • a vida dos soldados e dos leigos seria poupada;
  • os "perfeitos" que negassem a sua fé seriam salvos;
  • uma trégua de quinze dias foi acordada, para que os cátaros que desejassem se preparar e receber os últimos sacramentos.

A 16 de março, a fortificação se abriu novamente. Todos os cátaros que não abjuraram da sua fé, pereceram sobre a fogueira, que engoliu assim, um pouco mais de duzentos supliciados (o número varia ligeiramente de acordo com as fontes) incluindo a esposa, a filha e a sogra de Raymond de Péreille.

A tradição sustenta que a fogueira foi montada a cerca de duzentos metros do "castrum" no chamado "Prat dels Cremats" (campo dos queimados) onde uma estela contemporânea foi erigida pela Société du souvenir et des études cathares. Sobre esta última figura a inscrição: "Als cathars, als martirs del pur amor crestian. 16 mars 1244" (Aos cátaros, aos mártires do puro amor cristão. 16 de março de 1244). Entretanto, parece que o verdadeiro local da fogueira está situado sobre a colina acima do estacionamento à direita do desfiladeiro voltado sobre Montferrier[3].


Montségur sob o domínio da família de Lévis

Após a tomada do castelo em 1244, os domínios do "pog" retornam a Guy II de Lévis, Marechal da Fé, senhor oficial de Mirepoix desde o Tratado de Paris de 1229. Os restos da aldeia cátara foram arrasados assim como o recinto fortificado externo. O "castellum" foi restaurado e redimensionado para abrigar uma guarnição de cerca de trinta homens que ali se conservará até à assinatura do Tratado dos Pirinéus (1659). Um documento de 1510 refere o castelo como "defensável". Após o século XVII, perdida a sua função estratégica, o castelo foi abandonado, mergulhando em ruínas.


A reabilitação do castelo

O castelo foi classificado como monumento histórico em 1875 e o "pog", sobre o qual está situado, acrescentado a esta classificação em 1883.

Desde então, o sítio não parou de incendiar a imaginação popular a tal ponto que muitos não hesitaram em escavar o "pog" a título pessoal, em busca de um tesouro supostamente ali oculto.

A campanha de restauração do castelo, iniciada paradoxalmente apenas em 1947 sustou estas degradações mas apagou, ao mesmo tempo, alguns testemunhos arqueológicos. Esta restauração motivou uma prospecção espeleológica da montanha, promovida pela Société spéléologique de l'Ariège. Esta última conduziu, em 1964, à exumação de uma sepultura no local denominado "aven du trébuchet".

Em 1968 foi fundado o Groupe de Recherche Archéologique de Montségur et Environs (GRAME), que desde então vem conduzindo várias campanhas de prospecção arqueológica no sítio.


Os mitos em torno de Montségur

Deve-se ao pesquisador do Ariège, Napoléon Peyrat, a partir de 1870, a redescoberta entusiástica de Montségur, e à inspiração de sua pena a atmosfera romântica que desde então cerca o local, a tal ponto que ainda hoje é difícil para um determinado público admitir que o templo do Paráclito seja apenas um pequeno castelo francês reconstruído no século XIV.


O fenômeno solar em Montségur

A cada ano, no solstício de Inverno, o primeiro raio de sol no horizonte atravessa o castelo no sentido do seu comprimento, e o solstício de Verão, atravessa os quatro arcos da torre de menagem a Noroeste, com uma precisão milimétrica.

Certos autores vêem neste fenômeno uma ligação entre o culto solar e a religião dos Cátaros.


O tesouro dos cátaros

Acredita-se que Montségur tenha abrigado o rico tesouro atribuído aos Cátaros. Deste suposto tesouro, entretanto, não dispomos de muitos subsídios. Dois fatos alimentam as especulações em torno do mesmo:

  • o primeiro é a fuga, a cavalo, do "Perfeito" Mathieu e do diácono Bonnet, em torno do Natal de 1243, portando "ouro e prata e uma ínfima quantidade de moeda". Acredita-se que este tesouro tenha chegado a Cremona, na Itália, onde uma outra importante comunidade Cátara viveu à época. Esta suposição é reforçada pela comprovada correspondência epistolar entre as duas comunidades.
  • um segundo tesouro teria sido salvo durante a trégua de março de 1244, uma vez que é referido que quatro indivíduos evadiram-se de Montségur com um carregamento. Os historiadores conjecturam que este tesouro reuniria numerosos textos heréticos conservados pelos "Perfeitos" na fortificação.


O graal pirenáico

Montségur foi considerado como sendo o castelo depositário do Santo Graal. Este teria se constituído em uma das peças do suposto tesouro dos Cátaros: o cálice no qual José de Arimatéia teria recolhido o sangue de Jesus Cristo sobre o monte Gólgota para alguns, ou a esmeralda caída da coroa de Lúcifer quando da queda dos Anjos, para outros. O Alemão Otto Rahn foi o artífice deste mito, que lhe foi inspirado por um erudito de Ussat-les-Bains, Antonin Gadal.

Otto Rahn havia estudado a história dos Cátaros e apaixonou-se por esta área do Languedoc, rica em lendas. Desse modo, desde 1932, havia se instalado na pequena estação termal de Ussat-les-Bains, no Hotel Marronniers do qual assumiu a gestão. Graças às teorias poéticas de Antonin Gadal, escreveu a "Croisade contre le Graal" que contribuiu ativamente, após a publicação do primeiro ensaio sobre Montségur de Napoléon Peyrat, para a renovação do interesse pela Occitania.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Castelo_de_Montségur