domingo, 10 de fevereiro de 2008

1. O que nòs chamamos o Estado totalitàrio

A història ensina que o acesso ao poder e à responsabilidade modifica profundamente a natureza dos partidos revolucionàrios. A experiência e o senso comum deixavam razoavelmente prever que o totalitarismo no poder perderia pouco a pouco seu vigor revolucionàrio e seu caràter utòpico, que a tarefa cotidiana do governo e a possessão de um poder real iriam moderar as pretensões dos movimentos antes que eles cheguem ao poder, e destruir pouco a pouco o mundo fictivo de suas organizações. De uma certa maneira, é possìvel que seja na pròpria natureza das coisas, particulares ou pùblicas, que as exigências e os objetivos extrêmos sejam freiados pelas condições objetivas: e a realidade, considerada como um todo, é a um grau fraco determinada pela tendência à ficção de uma sociedade de massa composta de indivìduos atomizados. [.....]
[.....] Como um conquistador estrangeiro, o ditador totalitàrio considera as Riquezas Naturais e Industriais de cada paìs, incluindo o seu, como uma Fonte de Pilhagem e uma maneira de preparar a pròxima etapa da expansão agressiva. Como essa Polìtica Econômica de Espoliação Sistemàtica é seguida para o bem do movimento e Não para o Bem da Nação, nem o povo, nem o territòrio, como Beneficiàrios Potenciais, estão aptos para fixar um ponto de saturação desse processo. O ditador totalitàrio é como um conquistador estrangeiro que vem de lugar nenhum e o Produto do Pilhagem não beneficia provavelmente a ninguém. A Repartição do Saque não se calcula em função do reforço da economia interior do paìs mas unicamente em função de uma manobra tàtica oportuna. Para as questões econômicas, os regimes totalitàrios se sentem bem no paìs deles, como as famosas nuvens de gafanhotos. O fato que o ditador totalitàrio governe seu pròprio paìs como um conquistador estrangeiro agrava as coisas pois ele acrescenta ao caràter impiedoso do regime uma eficàcia que faz visivelmente falta nas tiranias se exercendo em meio estrangeiro.
A guerra que Staline fez contra a Ukrania no começo dos anos 30 foi duas vezes mais eficaz do que a invazão e a ocupação estarrecedora e sanguinària da Russia pelos alemães. È por isso que o totalitarismo prefere os governos Quisling ao invés da dominação direta, apesar dos perigos evidentes de tais regimes.
O problema com os regimes totalitàrios não é o fato que eles manipulem o poder polìtico de uma maneira particularmente impiedosa, mas o fato que atràs da polìtica deles se esconde uma concepção do poder inteiramente nova, sem precedentes, da realidade. Supremo desprezo das consequências imediatas ao invés de uma inflexibilidade; Ausência de Raìzes e Negligência dos Interesses Nacionais ao invés do nacionalismo; Desprezo das considerações de ordem utilitària ao invés de seguir de maneira inconsiderada o interesse pessoal; "idealismo", quer dizer fé inabalàvel em um mundo ideològico fictivo, ao invés do apetite do poder - tudo isso introduziu na polìtica internacional um fator novo, mais preucupante do que poderia ter sido a agressividade pura.
O poder, concebido pelo totalitarismo, reside exclusivamente na força produzida pela organização. [....]



A policia secreta


[.....] Nas condições totalitàrias, a categoria de suspeito engloba a população inteira: Todo Pensamento que desvia a linha oficialmente prescrita, e que muda sem parar, jà é suspeito, seja qual for o domìnio da atividade em que ele se manifesta. Do ùnico fato que eles Sejam Capazes de Pensar, os seres humanos são Suspeitos por definição, e uma conduta exemplar nunca protege da Desconfiança pois a Capacidade Humana de Pensar é também a Capacidade de Mudar de Opinião.



A Dominação Total


[.....] Comparando essa demência do resultado final - a sociedade concentrationnaire -, o processo pelo qual os homens são preparados a esse fim, os métodos empregados para adaptar os indivìduos a esse estado de coisas são lìmpidos e lògicos. A fabricação massiva e demente de cadàveres precedida pela Preparação Historicamente e Politicamente Inteligìvel de Cadàveres Vivos. O impulso e, o que é mais importante, o consentimento tàcito, dado ao aparecimento desse estado de coisas sem precedentes, são o fruto desses eventos que, em um perìodo de Desintegração Polìtica, de repente privaram, sem que ninguém esperasse, centenas de milhões de seres humanos de domicilio e de Pàtria, fazendo deles criminosos e indesejàveis, enquanto que milhões de outros seres humanos se tornaramn por causa do Desemprego, Economicamente supérfluos e Socialmente Caros. Isso sò aconteceu porque os Direitos do homem que, filosoficamente, nunca tinham sido estabelecidos mas apenas formulados, e que politicamente, nunca foram Garantidos mas apenas Proclamados, perderam, na Forma deles Tradicional, Toda Validade.
O primeiro passo Essencial no Caminho que leva à Dominação Total consiste a Matar no Homem a Pessoa Jurìdica. [....]


- Hannah Arendt - O Sistema totalitàrio - As origens do totalitarismo - - Essais
Traduzido do americano por Jean-Loup Bourget, Robert Davren e Patrick Lévy - Revisado por Hélene Frappat.

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