[.....]
A palavra auctoritas deriva do verbo augere, "aumentar", e o que a autoridade ou àqueles que comandam aumentam constantemente é a fundação. Os homens dotados de autoridade eram os anciãos, o Senado ou os patres, que a tinham obtido por herança e pela transmissão daqueles que haviam colocado as fundações para todas as coisas futuras, os antepassados, que os Romanos chamavam por essa razão os maiores. A autoridade dos vivos era sempre derivada, dependente dos auctores imperii Romani conditoresque, segundo a fòrmula de Pline, da autoridade dos fundadores, que não estavam mais entre os vivos.
A autoridade, ao contràrio do poder (potestas), tinha suas raìzes no passado, mas esse passado não era menos presente na vida real da cidade que o poder e a força dos vivos. Moribus antiquis res stat Romana virisque, segundo as palavras de Ennius.
[....]
A caracteristica mais surpreendente daqueles que têm autoridade é que eles não têm poder. Cum potestas in populo auctoritas in senatu sit, "enquanto o poder reside no povo, a autoridade pertence ao senado" - (Cicéron, De Legibus, 3, 12, 38) - Porque a "autoridade", o aumento que o Senado deve acrescentar às decisões polìticas, não é o poder, ela nos aparece curiosamente imperceptìvel e intangìvel, tendo nesse aspecto uma semelhança surpreendente com a parte judiciària do governo de Montesquieu, que ele dizia a potência "en quelque façon nulle", e que constitue todavia a mais alta autoridade nos governos constitucionais - (Esprit des Lois, liv. XI, chap. VI). Mamsen a chamava "mais do que um conselho e menos do que uma ordem, uma opinião que nòs não podemos ignorar sem prejudìcios"; isso significa que "a vontade e as ações do povo são, como as vontades e as ações das crianças, expostas ao erro e às faltas e necessitam então de um "aumento" e uma confirmação da parte do conselho dos anciãos".
O caràter autoritàrio do "aumento" dos anciãos se encontra no fato que ele é uma simples opinião, que não precisa para ser compreendida nem de ter a forma de uma ordem, nem de recorrer à obrigação exterior - (Essa interpretação encontra aliàs uma confirmação na utilização idiomàtica latina : alicui auctorem esse para "aconselhar alguém".) - [.....]
Seja o que for, as revoluções, que nòs consideramos geralmente como rupturas radicais com a tradição, aparecem em nosso contexto como eventos onde as ações dos homens ainda são inspiradas e têm seu maior vigor nas origens dessa tradição. Elas parecem ser a ùnica salvação que essa tradição romano-ocidental tenha concedido para essas circunstâncias crìticas. O fato que não somente as diferentes revoluções do século XX mas todas as revoluções apòs a Revolução francesa tenham se desenvolvido mal, terminando na restauração ou na tirania, parece indicar que mesmo essas ùltimas formas de salvação concedidas pela tradição se tornaram inadequadas.
A autoridade como nòs conhecemos outrora, que nasceu da experiência romana da fundação e foi interpretada pela luz da filosofia polìtica grega, não foi em lugar nenhum restituìda, nem pelas revoluções nem pela forma ainda mais prometedora da restauração, nem sobretudo pelo estado de espìrito e correntes conservadoras que aparecem as vezes na opinião pùblica.
Pois viver em um domìnio polìtico sem a autoridade nem o saber conconmitante que a fonte da autoridade transcende o poder e àqueles que estão no poder, quer dizer se encontram novamente confrontados, sem a confiança religiosa em um começo sagrado e por conseguinte evidentes, aos problemas elementares do viver-juntos dos homens.
- Hannah Arendt - La crise de la culture, Qu'est-ce que l'Autorité ?, pg. 160 - 185 - Trad. Marie-Claude Brossollet et Hélène Pons - Folio-essais.
A palavra auctoritas deriva do verbo augere, "aumentar", e o que a autoridade ou àqueles que comandam aumentam constantemente é a fundação. Os homens dotados de autoridade eram os anciãos, o Senado ou os patres, que a tinham obtido por herança e pela transmissão daqueles que haviam colocado as fundações para todas as coisas futuras, os antepassados, que os Romanos chamavam por essa razão os maiores. A autoridade dos vivos era sempre derivada, dependente dos auctores imperii Romani conditoresque, segundo a fòrmula de Pline, da autoridade dos fundadores, que não estavam mais entre os vivos.
A autoridade, ao contràrio do poder (potestas), tinha suas raìzes no passado, mas esse passado não era menos presente na vida real da cidade que o poder e a força dos vivos. Moribus antiquis res stat Romana virisque, segundo as palavras de Ennius.
[....]
A caracteristica mais surpreendente daqueles que têm autoridade é que eles não têm poder. Cum potestas in populo auctoritas in senatu sit, "enquanto o poder reside no povo, a autoridade pertence ao senado" - (Cicéron, De Legibus, 3, 12, 38) - Porque a "autoridade", o aumento que o Senado deve acrescentar às decisões polìticas, não é o poder, ela nos aparece curiosamente imperceptìvel e intangìvel, tendo nesse aspecto uma semelhança surpreendente com a parte judiciària do governo de Montesquieu, que ele dizia a potência "en quelque façon nulle", e que constitue todavia a mais alta autoridade nos governos constitucionais - (Esprit des Lois, liv. XI, chap. VI). Mamsen a chamava "mais do que um conselho e menos do que uma ordem, uma opinião que nòs não podemos ignorar sem prejudìcios"; isso significa que "a vontade e as ações do povo são, como as vontades e as ações das crianças, expostas ao erro e às faltas e necessitam então de um "aumento" e uma confirmação da parte do conselho dos anciãos".
O caràter autoritàrio do "aumento" dos anciãos se encontra no fato que ele é uma simples opinião, que não precisa para ser compreendida nem de ter a forma de uma ordem, nem de recorrer à obrigação exterior - (Essa interpretação encontra aliàs uma confirmação na utilização idiomàtica latina : alicui auctorem esse para "aconselhar alguém".) - [.....]
Seja o que for, as revoluções, que nòs consideramos geralmente como rupturas radicais com a tradição, aparecem em nosso contexto como eventos onde as ações dos homens ainda são inspiradas e têm seu maior vigor nas origens dessa tradição. Elas parecem ser a ùnica salvação que essa tradição romano-ocidental tenha concedido para essas circunstâncias crìticas. O fato que não somente as diferentes revoluções do século XX mas todas as revoluções apòs a Revolução francesa tenham se desenvolvido mal, terminando na restauração ou na tirania, parece indicar que mesmo essas ùltimas formas de salvação concedidas pela tradição se tornaram inadequadas.
A autoridade como nòs conhecemos outrora, que nasceu da experiência romana da fundação e foi interpretada pela luz da filosofia polìtica grega, não foi em lugar nenhum restituìda, nem pelas revoluções nem pela forma ainda mais prometedora da restauração, nem sobretudo pelo estado de espìrito e correntes conservadoras que aparecem as vezes na opinião pùblica.
Pois viver em um domìnio polìtico sem a autoridade nem o saber conconmitante que a fonte da autoridade transcende o poder e àqueles que estão no poder, quer dizer se encontram novamente confrontados, sem a confiança religiosa em um começo sagrado e por conseguinte evidentes, aos problemas elementares do viver-juntos dos homens.
- Hannah Arendt - La crise de la culture, Qu'est-ce que l'Autorité ?, pg. 160 - 185 - Trad. Marie-Claude Brossollet et Hélène Pons - Folio-essais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário