segunda-feira, 21 de abril de 2008

O Soufisme - Introdução

Compreender

O esoterismo muçulmano encontra sua fonte no pròprio Alcorão, onde a dualidade de Allah, Deus aparente e escondido, autoriza a via mìstica.Desafiando a diversidade das crenças, o soufisme desenvolve uma visão universalista das religiões, fundada no amor.


O Soufisme

A dimensão esotérica é enunciada no pròprio Alcorão. Deus se apresenta como o Exterior e o Interior, ou o Aparente e o Escondido (Cor. 57,3). Nòs sò podemos então realizar Deus, concluiram os soufis, na união dos contràrios." Não são os olhos que são cegos, mas os corações" (Cor. 22,46), "Na terra existem sinais para aqueles que possuem uma visão correta. E em vocês mesmos, vocês não veem?" (Cor. 53,20): esses versìculos incitam o homem à introspecção e fundam o esoterismo muçulmano, o soufisme. Mesmo acento no "argumentos santos"(hadith qudsi), palavras divinas que não fazem parte do Alcorão e nas quais Deus Si dirige à intimidade do homem: "Nem minha terra nem meu céu não me contem; apenas me contem o coração de meu servidor crente." Bem mais, em uma longa passagem coranique, enigmàtica, é afirmado a superioridade da Lei interior, mìstica, sobre a Lei exterior, légaliste. Khadir (ou khidr), o iniciador dos profetas e dos santos, coloca Moïse à prova três vezes, realizando atos que são aparentemente contràrios a Lei: ele afunda um barco, mata um homem jovem....Moïse, que permanece apegado às normas exteriores, se mostra impaciente e revoltado. Khadir, quanto a ele, percebe a realidade profunda, interior das coisas, e explica a Moïse o bom fundamento de seus atos. (Cor. 18,65-82).


Uma sabedoria universal

O soufisme é a encarnação da Sabedoria universal e eterna no corpo religioso do islam. Ele esposa suas formas, sem ser prisioneiro por essa razão dessa dimensão horizontal. È por isso, que em um paìs muçulmano, fala-se as vezes de "soufisme judeu" ou de "soufisme cristão" para designar os mìsticos de uma ou outra religiões. Os soufis visam a desvendar a opacidade desse mundo desenvolvendo a unidade do olhar interior; então aparece a "certeza", que se situa além da fé. Os "sinais divinos", evocados inùmeras vezes no Alcorão, incitam o homem à contemplação. Eles são incessantes pois Deus renova sem cessar suas théophanies. Àqueles que ele desenvolve "nos horizontes" (Cor. 41,53) são o espelho de nossa alma, de nosso estado interior, em virtude da correspondência entre macrocosme e microcosme. Mas a porta é estreita pois a condição para acessar à Unicité, a essa liberação do mundo das aparências, ou da dualidade, é a morte do ego individual, lugar de toda ilusão. "Morram antes de morrer", dizia o profeta Muhammad. O soufi tenta alcançar essa transparência ontologique lutando contra a amnésia que atinge o homem ordinàrio, esquecido do Pacto selado com Deus na pré-éternité. Ele remonta dessa maneira o arco descendente da Manifestação universal, afim de reintegrar sua origem divina: esse é todo o augumento do dhikr, a "lembrança-invocação" de Deus que praticam os soufis. No percurso de suas experiências espirituais, os primeiros soufis, apareceram no Irak entre os séculos IX e X, eles chocaram as vezes o establishment muçulmano; na realidade, exitia uma parte de provocação na atitude deles, que visava a fazer evoluir as sociedades muçulmanas.

Mas eles souberam compreender a lição do processo de Hallâj (v. 858-922): ele falava em pùblico dos "segredos divinos", e toda verdade não é boa para dizer. Eles então se empregaram a colocar em evidência a ortodoxia natural do soufisme, mostrando que essa via é marcada por "estações", como a "sinceridade" ou a "renùncia confiante em Deus", que tem origem no vocabulàrio coranique; que o modelo é o Profeta, de quem todo mestre soufi tira ser "influx" e sua legitimidade através uma filiação iniciàtica; que o soufisme é o islam perfeito, pois ele considera todas as dimensões da mensagem islamique: revelando seu simbolismo escondido, ele dà mais pertinência aos ritos e aos cinco pilares do islam. O soufisme torna-se verdadeiramente o "coração do islam" com o Iraniano Ghazâli, esse ilustre sàbio que, apòs ter vivenciado um vazio espiritual, escolhe a via mìstica e confessa no fim de sua vida que o soufisme é a ùnica disciplina permitindo de alcançar Deus. Ele torna-se então a espiritualidade dominante no seio do Islam sunnite- o chiisme desenvolvendo uma gnose pròxima mais distinta - e influencia de diversas maneiras, além do dominio do pensamento e das artes, os campos social e politicos.



O amor como gnose

Mas muitos doutores da Lei tiveram dificuldades para compreender o soufisme em seu universalismo, portanto oriundo da palavra de Muhammad. Para os soufis, a humanidade constitue com toda evidência uma ùnica comunidade de adoração, que transcende a diversidade das crenças. Cada religião reflete um aspecto da Divindade. Seguindo necessariamente uma religião particular, o iniciado não deve limitar seu horizonte a esse ùnico credo. È a "religião do Amor", evocada pelo Iraniano Rûmi, o inspirador dos derviches tourneurs, pelo Andalou Ibn Arabi e muitos outros.
O Amor como gnose: porque Deus se define antes de tudo como o Misericordioso, conhece-lo, é conhecer o Amor, quasiment materno ou "matriciel", que ele tem pela humanidade. " Eu era um tesouro escondido e Eu amava a ser conhecido", està escrito no hadith qudsi. Ter uma visão diminuida do islam, se fechar nas origens éthicas ou sociais: eis o que reduz as imensas possibilidades da Misericòrdia.
Alguns santos soufis herdam espiritualmente dos profetas anteriores a Muhammad, todos reconhecidos pelo Alcorão. Entre eles, Jesus ocupa um lugar eminente, e alguns soufis são particularmente conhecidos por terem tido um temperamento christique. De acordo com a função importante que ele tem na escatologia muçulmana, Jesus é considerado pelos soufis como o "selo da santidade universal", o que ele realizarà no seu retorno na terra no fim dos tempos. Nenhuma dificuldade para eles em admitir que houve uma fecundação mùtua entre a disciplina deles e os esoterismos como o Vedanta hindu, a mìstica cristã e sobretudo a kabbale judia; santa Thérèse d'Avila e saint Jean de la Croix teriam sido influenciados pelo soufisme maghrébin através dos mìsticos judeus espanhois.


A reforma do islam

No Ocidente contemporâneo, o soufismo seduz particularmente os Maçons espiritualistas, geralmente estudiosos do ensinamento de René Guénon, que fez ele mesmo a escolha do islam. Na realidade, o soufismo permanece incontestavelmente uma via iniciàtica muito viva, na qual a relação de mestre a discìpulo conserva toda a sua eficiência. Algumas pessoas pensam que essa energia que o atravessa deve alimentar o Ocidente "post-moderne", no qual o materialismo sò faz colocar em evidência a necessidade de reencontrar o axe da verticalidade.Mais amplamente do que no passado, ele tem a vocação de ajudar as sociedades muçulmanas a ir em direção do essencial, quer dizer, a espiritualidade que, apenas ela, permite de transmutar as formas jurìdicas e rituais paralizadas, inadaptadas a nossa época. "Filho de seu tempo", como diz o ditado, o soufi reclama a reforma do islam, mas essa reforma deve partir do interior para não ser um simples slogan. Argumento de abertura para o universal, o pensamento soufi funciona como um antìdoto às diversas formas de islamismo - em paìs muçulmano, a maioria dos dirigentes compreenderam isso. Os soufis sempre foram passeurs, entre os sensos graduados da Revelação, entre as religiões, entre as culturas. Fortes pela sua experiência, eles devem atualmente apresentar um islam regenerado pelo Espìrito, e ser uma ponte entre o Oriente e o Ocidente.


Èric Geoffroy, professor de islamologie na universidade Marc-Bloch de Strasbourg. Autor, entre outros, do livro L'Instant soufi (Actes Sud, 2003) e d'Initiation au soufisme - (Fayard, 2003).

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