terça-feira, 8 de abril de 2008

Clément d'Alexandrie

"Os mistérios, como Deus, se confiam à palavra, não à escrita"

Essa obra não é um texto composto nas regras da arte para a ostentação. Elas são anotações, [....] simples esboço de palavras brilhantes e plenas de vida que eu fui julgado digno de escutar da boca de mestres bem aventurados e de mérito verdadeiramente eminente. Um, Ionien, vivia na Grecia, outros na Grande Grecia - um deles era de Coelé- Syrie, o segundo do Egito - , outros do Oriente: um era de Assyrie, outro da Palestina, Judeu de nascimento; eu encontrei um ùltimo - mas ele era o primeiro por seu brilho ! - e quando eu o descobri seguindo uma pista no Egito onde ele se escondia, eu fiquei là. Era, ao pé da letra, uma abellha de Sicile; colhendo flores nos campos dos Profetas e dos Apòstolos, ele gerava uma gnose pura nas almas de seus auditores.
Esses mestres que conservam a verdadeira tradição do bem aventurado ensinamento, oriundo diretamente dos santos Apòstolos, Pierre, Jacques, Jean e Paul, transmitido do pai ao filho - mas poucos filhos são à imagem dos pais - chegaram até nòs, graças a Deus, para depositar em nòs essas belas sementes de seus antepassados e dos Apòstolos. [....]
O senhor não revelou a muitos o que não era ao alcance de muitos, mas simplesmente a uma minoria que ele sabia adaptada, capaz de receber a Palavra e de ser feito segundo ela. Os mistérios, como Deus, se confiam à palavra, não à escrita. E se alguém nos diz que està escrito: " Não existe nada de escondido que não deva ser exposto ao grande dia, nada de secreto que não deva ser revelado" [Mt 10, 26], nòs lhe aprenderemos à notre tour isso:Deus anunciou por essa palavra que os segredos serão revelados a qualquer pessoa que seja capaz de receber as tradições sob um véu e que o que é secreto para a multidão serà manifestado ao pequeno nùmero.
Pois, porquê a justiça não é amada, se ela està em todo mundo ? Não, os mistérios se transmitem de maneira misteriosa, para que eles sejam exatamente nos làbios do iniciador e do iniciado; ou mais exatamente não na boca deles, mas na inteligência deles. [....] Eu tenho que deixar de lado certas coisas, escolhidas en connaissance de cause, porque eu não quero escrever o que eu faço atenção de não dizer. Não por avareza - eu não tenho esse direito - mas por receio de ver meus leitores tropeçar por ter mal compreendido e ter assim, como diz o provérbio, " Dado um sabre para as crianças". Pois " não é possìvel que os escritos não caiam no domìnio pùblico", mesmo se eles permanecem inéditos de mon fait; e, como não tem jamais, nesses rolos, apenas a palavra escrita, eles não respondem nada a quem os interrogam, apenas o que é escrito, eles são privados obrigatoriamente do socorro, ou do autor, ou de algum outro filòsofo que andou nesses traços.

- Clément d'Alexandrie, Les Stromates, Le Cerf, 1961.



O ensinamento secreto dos Apòstolos

Esse texto introduz Les Stromates, uma das mais famosas obras do escritor grego Clément d'Alexandrie ( v. 150 - v. 215 apr. J.-C.), que evoca a existência de tradições secretas nos apòstolos. Clément afirma ter recebido de seus mestres " a verdadeira tradição ", a que teria sido transmitida pelos apòstolos mais pròximos do Cristo e de Paul. Na segunda Èpître aux Corinthiens, Paul não narra como ele foi elevado no terceiro céu onde ele escutou " palavras inefàveis que não é permitido a um homem de redizer" ?
Essa palavra "secreta" tem primeiro sua origem no ensinamento do Cristo aos apòstolos. O evangelho segundo Mathieu ( 13, 1 - 35 ) atesta dessa maneira que Jésus tem dois discursos, um, com palavras claras para os apòstolos, e um outro, em paràbolas, para a multidão. Origène ( v. 185 - v. 254 ) afirma, que " os Evangelistas conservaram escondida a explicação que Jésus dava à maioria das paràbolas".
Esse conhecimento não ensina então verdades diferentes das que estão nas Escrituras, mas ele dà as chaves para aprofundar a sua compreensão. Origène deu algumas de suas interpretações.Na paràbola da ovelha perdida, as 99 ovelhas representariam os coros angélicos, a ovelha perdida, a humanidade, o pastor, o Cristo. Esses ensinamentos também são relativos ao simbolismo còsmico da Cruz. Mas o objeto deles por excellence é o mistério do Plano de Deus, o da origem e do fim de toda coisa. Nesse ponto, esse conhecimento dito gnostique é o herdeiro de toda uma tradição judaïque segundo a qual o mundo celeste se dividiria em sete esferas.


A gnose

È preciso insistir no fato que essa gnose ( do grego gnosis "conhecimento") se distingue de um simples saber. Segundo o teòlogo Jean Daniélou, as esferas celestes não representariam localizações espaciais mas " formas de existência " que correspondem a estados de conhecimento. Conhece-los implica de ser iniciado a eles. O ensinamento doutrinal é aqui inseparàvel da comunicação de alma à alma. È por isso que essa tradição é essencialmente oral, e é nisso que insiste Clément. As esferas de existência representam também os graus de perfeição através dos quais a alma, por um despojamento progressivo, reencontra sua semelhança com seu criador até que, tornando-se semelhante a ele, ela o conheça plenamente. Visão que lembra o Corpus hermeticum publicado em Alexandrie mais ou menos na mesma época.
Clément afirma que esses conhecimentos sò podem ser positivos em um certo estado elevado da vida espiritual. Falar deles diante uma alma que não estaria pronta para recebe-los seria como dar " um sabre a uma criança " . Por isso a necessidade de dosar esse ensinamento. O objetivo daquele que o recebe não é de maneira alguma o potência, mas o conhecimento de Deus que encontra sua realização na caridade. Essa gnose não acrescenta nada à essência da mensagem apostòlica que é o Cristo morto e ressuscitado; mas, como ainda escrevia o futuro cardinal Daniélou, " ela corresponde a uma explicação desse mistério em relação com o mundo celeste".



Purgatòrio e retorno na graça

Atualmente, nòs confundimos geralmente a gnose com o gnosticisme. Esse movimento que postulava uma dualidade radical entre o bem e o mal deu nascimento a numerosas seitas e seria a origem dos evangelhos apocryphes. Ele foi considerado como uma "falsa gnose" pela Igreja. Mas, progressivamente, a distinção entre é "verdadeira" e a "falsa" gnose é esquecida e é todo o esoterismo que foi rejeitado. A partir dos anos 1940, os esforços de tradução dos Pais da Igreja de origem grega permitiram de melhor apreciar a função da gnose na teologia "ortodoxa" e mostraram que ela constitue um de seus fundamentos.

- X.A. -

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