" Fugir solitàrio em direção do solitàrio "
Numerosas visões bem aventuradas, numerosas evoluções divinas animam então o interior do céu, onde a raça dos deuses bem aventurados circula para realizar a tarefa atribuìda a cada um. Atràs deles andam todos aqueles que querem e que podem segui-los, pois a vontade não tem lugar no coro dos deuses. Quando eles vão assistir à refeição e participam da festa, eles sobem através das regiões escarpadas, até o mais alto cume da abòbada do céu. [....] A Essência que possue a existência real, [....] aquela que é a fonte do saber verdadeiro, reside nesse lugar. [....] Quando a alma portanto, impotente para seguir os deuses, não pode chegar à contemplação, e que por infelicidade, se abandonando ao esquecimento e se enchendo de vìcios, ela insiste: então, a beleza era esplêndida para contemplar, quando, misturados a um coro bem aventurado, nòs, atràs de Zeus, os outros, atràs de outro deus, nòs contemplamos esse maravilhoso espetàculo, e que iniciados a esses mistérios que é permitido de chamar muitos felizes, nòs os celebramos em um estado perfeito, sem os males que nos esperavam no tempo futuro, aceitos para contemplar em uma luz pura, como os mystes (1) e os époptes (2), as aparições perfeitas, simples, imutàveis e beatifiques.
- Platon, Phédre, 247 - 249, Les Belles Lettres, 1970.
1. Mystes: adeptos que estão sendo iniciados
2. Èpoptes: aqueles que viram, os iniciados.
6. Pois, seguindo um velho discurso, a temperança, a coragem, toda virtude e a prudência ela mesma são purificações. È por isso que os mistérios dizem à mots couverts que o ser não purificado, mesmo em Hadès, serà colocado em um lamaçal [....]. A alma, uma vez purificada, torna-se então uma forma, uma razão; ela torna-se toda incorpòrea, intelectual; ela pertence inteiramente ao divino, onde està a fonte da Beleza.[....] 9. Volte para ti mesmo, e olhe: se você ainda não vê a beleza em você, faça como o escultor de uma estàtua que deve tornar-se bela. [....] Como ele, retire, o supérfluo, endireite o que é oblìquo, limpe o que é sombrio para torna-lo brilhante, e não cesse de escultar sua pròpria estàtua, até que o brilho divino da virtude se manifeste. [....] Que todo ser torne-se então primeiro divino e bonito, se ele quer contemplar Deus e o Belo.
- Plotin, Ennéades, I, 6, Traité sur le Beau - Les Belles Lettres, 1924.
È o que quer dizer a ordem, dada nos mistérios, de não revelar nada aos não-iniciados; é na verdade porque o divino sò pode se revelar com a recusa de não mostra-lo a quem não teve a felicidade de vê-lo ele mesmo. [....] O ser que contemplava era então ele mesmo um; ele não tinha nele nenhuma diferença com ele mesmo [....]; nenhuma emoção nele; em sua ascensão, ele não tinha mais nem còlera nem desejo; nem mais razão, nem mais pensamento nele; e, como é preciso dizê-lo, ele mesmo, ele não era mais: arrancado a ele mesmo e levado pelo entusiasmo, ele encontra um estado calmo e sereno; sem se desviar do ser do Um, [.....] ele tornou-se a pròpria imobilidade; as coisas belas não atraem seus olhares; pois ele olha acima da pròpria Beleza: ele ultrapassou o pròprio coro das virtudes, como o homem que entrou no interior de um santuàrio deixando atràs dele as estàtuas colocadas na capela; são elas que ele verà novamente as primeiras quando ele sairà do santuàrio, apòs tê-lo contemplado interiormente e apòs ser unido não mais a uma estàtua nem a imagem do deus, mas ao pròprio deus; e sò serão contemplações de segunda ordem. Se nòs vemos nòs mesmos nos tornarmos ele, nòs pensamos ser uma imagem dele; partindo dele, nòs progredimos como uma imagem até seu modelo, e nòs chegamos ao fim da viagem. [....] Eis a vida dos deuses e dos homens divinos e bem aventurados: se libertar das coisas desse mundo, não gostar delas, fugir solitàrio em direção do solitàrio.
- Plotin, Ennéades, VI, 9, Traité sur le Bien, Les Belles Lettres, 1938.
Platonismo e neoplatonismo
Para Platão ( 428 - 348 av.J.-C.), discìpulo de Sòcrates e dos pythagoriciens, verdadeiramente dos Ègyptiens, é a filosofia ela mesma, por sua atividade intelectual fundada na apreensão das formas espirituais, que torna-se via iniciàtica e meio de salvação. O recurso aos mitos e ao vocabulàrio dos mistérios lhe permite de conjurar um racionalismo demasiadamente fàcil. A figura de Sòcrates, mestre espiritual inspirado pelos deuses e lògico sùtil dissipando a vaidade dos pretenciosos, resume a ambivalência platônica.
O diàlogo do Phédre se desenrola perto de Illisus onde se faziam os pequenos mistérios de Èleusis. Sòcrates, apresentado como um iniciado, descreve a vida celeste dos deuses. Estes não obtem a beatitude deles mesmos, mas da contemplação da região supraceleste onde reside o Deus supremo, que é Verdade e Beleza. Almas seguem os grandes deuses, que as iniciam à visão dos mistérios inefàveis. Algumas, portanto, ficam pesadas e se encarnam na terra. Graças às iniciações, ela poderão relembrar a origem celeste delas e reencontrar sua verdadeira natureza.Da mesma maneira, o amor sentido pelas coisas belas vem de uma reminiscência dos esplendores do céu.Essa teoria serà reutilizada na estética ocidental: na Renascência, numerosos artistas e pensadores, como Marsile Ficin, verão na arte um meio de levar a alma à contemplação das realidades celestes.
Especulação e mìstica
Vàrios séculos apòs Platão, a escola neoplatônica, indissoluvelmente mìstica e especulativa, utilizarà a herança filosòfica e religiosa da Grecia para transforma-la em uma sìntese rigorosa onde os mìsticos ( Pseudo-Denys l'Aréopagite -), teòlogos cristãos (saint Augustin, saint Thomas) mas também mais tarde filòsofos como Bergson, a utilizarão abundantemente, se bem que de uma maneira seletiva.
Segundo Plotin (v.205 - 270 ), seu representante mais ilustre, do "Um" inefàvel, o Deus supremo, procede o Verbo, que é também o mundo celeste ( intelligible ), de onde nasce a Alma, que forma à son tour o mundo visìvel. As almas individuais são partes dessa grande alma. A alma, que querendo gozar dela mesmo, se afastou de seu Pai o Um, deve retornar a ele por um caminho mìstico.
O Traité sur le Beau (Ennéades, I, 6) retoma os temas do Phèdre, utilizando a linguagem dos mistérios de Èleusis. As coisas sensìveis não são belas por elas mesmas, mas porque elas são unificadas, animadas e ordenadas por uma forma espiritual de origem divina, vivendo no mundo celeste. Da mesma maneira, é o brilho divino do Verbo celeste que dà a lma sua beleza. È ele, o Verbo, mundo celeste onde são as formas invisìveis, que é a Beleza verdadeira, a que a alma procura encontrar. No estado bruto, todavia, a alma é muito apegada nas coisas sensìveis para vê-lo. Ela é como impura e suja, e corre o risco, segundo os mistérios, de cair na sua morte dentro do "lamaçal" de seus pròprios vìcios. Ora, sò um ser bonito pode ver o Belo. Para Plotin ainda (Ennéades, I, 2), é pela conversação e pela contemplação dos seres espirituais que a alma progride na virtude e torna-se como uma bela estàtua. Em uma experiência inesquecìvel, ela pode então ver o Belo.
Do Belo ao Bem
Da mesma maneira que, segundo Platão, o mundo celeste precede o mundo supraceleste, e que nos mistérios, as bela estàtuas do templo escondem a entrada do santuàrio onde està o Deus, desta maneira essa visão extàtica do Belo precede a união mìstica com o Bem. Esta, descrita na ùltima pàgina das Ennéades, não é uma fusão em um Todo indistinto, mas um estado onde a alma, arrancada a ela mesma, se assimila ao Um e torna-se uma imagem viva dele. Este é o fim da vida mìstica.
- O.S -
Numerosas visões bem aventuradas, numerosas evoluções divinas animam então o interior do céu, onde a raça dos deuses bem aventurados circula para realizar a tarefa atribuìda a cada um. Atràs deles andam todos aqueles que querem e que podem segui-los, pois a vontade não tem lugar no coro dos deuses. Quando eles vão assistir à refeição e participam da festa, eles sobem através das regiões escarpadas, até o mais alto cume da abòbada do céu. [....] A Essência que possue a existência real, [....] aquela que é a fonte do saber verdadeiro, reside nesse lugar. [....] Quando a alma portanto, impotente para seguir os deuses, não pode chegar à contemplação, e que por infelicidade, se abandonando ao esquecimento e se enchendo de vìcios, ela insiste: então, a beleza era esplêndida para contemplar, quando, misturados a um coro bem aventurado, nòs, atràs de Zeus, os outros, atràs de outro deus, nòs contemplamos esse maravilhoso espetàculo, e que iniciados a esses mistérios que é permitido de chamar muitos felizes, nòs os celebramos em um estado perfeito, sem os males que nos esperavam no tempo futuro, aceitos para contemplar em uma luz pura, como os mystes (1) e os époptes (2), as aparições perfeitas, simples, imutàveis e beatifiques.
- Platon, Phédre, 247 - 249, Les Belles Lettres, 1970.
1. Mystes: adeptos que estão sendo iniciados
2. Èpoptes: aqueles que viram, os iniciados.
6. Pois, seguindo um velho discurso, a temperança, a coragem, toda virtude e a prudência ela mesma são purificações. È por isso que os mistérios dizem à mots couverts que o ser não purificado, mesmo em Hadès, serà colocado em um lamaçal [....]. A alma, uma vez purificada, torna-se então uma forma, uma razão; ela torna-se toda incorpòrea, intelectual; ela pertence inteiramente ao divino, onde està a fonte da Beleza.[....] 9. Volte para ti mesmo, e olhe: se você ainda não vê a beleza em você, faça como o escultor de uma estàtua que deve tornar-se bela. [....] Como ele, retire, o supérfluo, endireite o que é oblìquo, limpe o que é sombrio para torna-lo brilhante, e não cesse de escultar sua pròpria estàtua, até que o brilho divino da virtude se manifeste. [....] Que todo ser torne-se então primeiro divino e bonito, se ele quer contemplar Deus e o Belo.
- Plotin, Ennéades, I, 6, Traité sur le Beau - Les Belles Lettres, 1924.
È o que quer dizer a ordem, dada nos mistérios, de não revelar nada aos não-iniciados; é na verdade porque o divino sò pode se revelar com a recusa de não mostra-lo a quem não teve a felicidade de vê-lo ele mesmo. [....] O ser que contemplava era então ele mesmo um; ele não tinha nele nenhuma diferença com ele mesmo [....]; nenhuma emoção nele; em sua ascensão, ele não tinha mais nem còlera nem desejo; nem mais razão, nem mais pensamento nele; e, como é preciso dizê-lo, ele mesmo, ele não era mais: arrancado a ele mesmo e levado pelo entusiasmo, ele encontra um estado calmo e sereno; sem se desviar do ser do Um, [.....] ele tornou-se a pròpria imobilidade; as coisas belas não atraem seus olhares; pois ele olha acima da pròpria Beleza: ele ultrapassou o pròprio coro das virtudes, como o homem que entrou no interior de um santuàrio deixando atràs dele as estàtuas colocadas na capela; são elas que ele verà novamente as primeiras quando ele sairà do santuàrio, apòs tê-lo contemplado interiormente e apòs ser unido não mais a uma estàtua nem a imagem do deus, mas ao pròprio deus; e sò serão contemplações de segunda ordem. Se nòs vemos nòs mesmos nos tornarmos ele, nòs pensamos ser uma imagem dele; partindo dele, nòs progredimos como uma imagem até seu modelo, e nòs chegamos ao fim da viagem. [....] Eis a vida dos deuses e dos homens divinos e bem aventurados: se libertar das coisas desse mundo, não gostar delas, fugir solitàrio em direção do solitàrio.
- Plotin, Ennéades, VI, 9, Traité sur le Bien, Les Belles Lettres, 1938.
Platonismo e neoplatonismo
Para Platão ( 428 - 348 av.J.-C.), discìpulo de Sòcrates e dos pythagoriciens, verdadeiramente dos Ègyptiens, é a filosofia ela mesma, por sua atividade intelectual fundada na apreensão das formas espirituais, que torna-se via iniciàtica e meio de salvação. O recurso aos mitos e ao vocabulàrio dos mistérios lhe permite de conjurar um racionalismo demasiadamente fàcil. A figura de Sòcrates, mestre espiritual inspirado pelos deuses e lògico sùtil dissipando a vaidade dos pretenciosos, resume a ambivalência platônica.
O diàlogo do Phédre se desenrola perto de Illisus onde se faziam os pequenos mistérios de Èleusis. Sòcrates, apresentado como um iniciado, descreve a vida celeste dos deuses. Estes não obtem a beatitude deles mesmos, mas da contemplação da região supraceleste onde reside o Deus supremo, que é Verdade e Beleza. Almas seguem os grandes deuses, que as iniciam à visão dos mistérios inefàveis. Algumas, portanto, ficam pesadas e se encarnam na terra. Graças às iniciações, ela poderão relembrar a origem celeste delas e reencontrar sua verdadeira natureza.Da mesma maneira, o amor sentido pelas coisas belas vem de uma reminiscência dos esplendores do céu.Essa teoria serà reutilizada na estética ocidental: na Renascência, numerosos artistas e pensadores, como Marsile Ficin, verão na arte um meio de levar a alma à contemplação das realidades celestes.
Especulação e mìstica
Vàrios séculos apòs Platão, a escola neoplatônica, indissoluvelmente mìstica e especulativa, utilizarà a herança filosòfica e religiosa da Grecia para transforma-la em uma sìntese rigorosa onde os mìsticos ( Pseudo-Denys l'Aréopagite -), teòlogos cristãos (saint Augustin, saint Thomas) mas também mais tarde filòsofos como Bergson, a utilizarão abundantemente, se bem que de uma maneira seletiva.
Segundo Plotin (v.205 - 270 ), seu representante mais ilustre, do "Um" inefàvel, o Deus supremo, procede o Verbo, que é também o mundo celeste ( intelligible ), de onde nasce a Alma, que forma à son tour o mundo visìvel. As almas individuais são partes dessa grande alma. A alma, que querendo gozar dela mesmo, se afastou de seu Pai o Um, deve retornar a ele por um caminho mìstico.
O Traité sur le Beau (Ennéades, I, 6) retoma os temas do Phèdre, utilizando a linguagem dos mistérios de Èleusis. As coisas sensìveis não são belas por elas mesmas, mas porque elas são unificadas, animadas e ordenadas por uma forma espiritual de origem divina, vivendo no mundo celeste. Da mesma maneira, é o brilho divino do Verbo celeste que dà a lma sua beleza. È ele, o Verbo, mundo celeste onde são as formas invisìveis, que é a Beleza verdadeira, a que a alma procura encontrar. No estado bruto, todavia, a alma é muito apegada nas coisas sensìveis para vê-lo. Ela é como impura e suja, e corre o risco, segundo os mistérios, de cair na sua morte dentro do "lamaçal" de seus pròprios vìcios. Ora, sò um ser bonito pode ver o Belo. Para Plotin ainda (Ennéades, I, 2), é pela conversação e pela contemplação dos seres espirituais que a alma progride na virtude e torna-se como uma bela estàtua. Em uma experiência inesquecìvel, ela pode então ver o Belo.
Do Belo ao Bem
Da mesma maneira que, segundo Platão, o mundo celeste precede o mundo supraceleste, e que nos mistérios, as bela estàtuas do templo escondem a entrada do santuàrio onde està o Deus, desta maneira essa visão extàtica do Belo precede a união mìstica com o Bem. Esta, descrita na ùltima pàgina das Ennéades, não é uma fusão em um Todo indistinto, mas um estado onde a alma, arrancada a ela mesma, se assimila ao Um e torna-se uma imagem viva dele. Este é o fim da vida mìstica.
- O.S -
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