"A visão do coração é o que importa"
A visão do coração é o que importante, não a palavra da lìngua. Você não escaparà jamais a seu eu - nafs - antes de tê-lo matado. Dizer "não existe deus a não ser Deus" não é suficiente. A maioria daqueles que pronunciam verbalmente a profissão de fé são politeistas no coração deles.....Enquanto você não renunciar a seu "eu", você não acreditarà jamais em Deus.
Abû Sa'Îd Ibî' (- Khayr (Iran, 967 - 1048), In Mohamad Monawwar, Les Ètapes Mystiques du Sheikh Abû Sa'Îd, DDB - Unesco, 1974.
Uma noite, eu fui no vendedor de vinho, o coração transtornado e ardente de amor. Eu vi uma brilhante e alegre assembléia presidida pelo mestre - pîr - , o vendedor de vinho. Alguns estavam embriagados, os outros fora deles mesmos. Os corações deles estavam desnudados do òdio, as almas puras, os espìritos plenos de eloquência e os làbios mudos. E todos graças ao favor eterno, com os olhos deles contemplavam Deus, com as orelhas deles escutavam a Verdade. Eu me aproximei com cortesia e disse: "Ô você de quem o coração é o asilo do anjo Sorush (1), eu sou um apaixonado pleno de sofrimento e de nostalgia; veja minha dor, tente me curar ". O pîr começou a rir, e disse brincando: "Ô você, diante quem a inteligência se coloca como uma humilde escrava, o que você tem a fazer conosco enquanto que - de confusão - a filha do vinho como uma beleza permanece perto de você coberta de um véu de cristal ? " Eu respondi: "Minha alma està em fogo, me dê àgua, acalme o ardor desse fogo que me devora. [....]" Sorrindo, ele me disse: "Venha, pegue essa taça." Eu peguei. "Tenha cuidado, ele disse, de não beber muito." Eu bebi um gole, e fui imediatamente libertado do fardo da inteligência e da pena do pensamento. Quando eu voltei a mim, eu sò vi Um; todo o resto parecia simples linhas e manchas coloridas; de repente, das alturas do mundo transcendental, Sorush, na minha orelha, repetiu essas palavras: "Ele é Um, apenas Ele existe; Ele é Ùnico, não existe outro Deus a não ser Ele." [....] Ô Hatef ! Aqueles que possuem o conhecimento e que, as vezes, são chamados embriagados e as vezes, lùcidos; para eles, o vinho, a festa, o échanson e o ménestrel, os magos, o monastério, todas essas coisas sò designam segredos escondidos que se exprimem através esses sìmbolos.
Se você compreende o segredo delas, você saberà qual é a essência desses mistérios: Ele é Um, apenas Ele existe; Ele é Ùnico, não existe outro Deus a não ser Ele. [....] Dia e noite, repita o nome do Amigo, procure o Amigo durante a noite e quando aparecer a aurora. Se Ele te disser cem vezes "Você não me verà", permaneça no entanto sempre na espera da visão, até que você alcance esse lugar que não podem alcançar o pé das imaginações e a escala dos pensamentos.
"- Hâtef Isfahhâni, (Iran, Mort en 1783), Cinq Odes Sur L'Unité Divine, In Anthologie Du Soufisme, Actes Sud, 1995.
Nota: 1. Sorush: figura zoroastrienne simbolisando o Mensageiro divino, como o Hermés grego ou o anjo Gabriel bìblico e coranique.
Quando o homem torna-se familiar com o dhikr, ele se separa de toda outra coisa. Pois, na morte, ele é separado de tudo o que não é Deus. Na sepultura, não fica nem a esposa, nem os bens, nem o filho, nem o amigo. Apenas fica o dhikr. Se esse dhikr lhe é familiar, ele sente prazer e se alegra que os obstàculos que o afastavam dele estejam longe [....] de maneira que ele se descobre como sozinho com seu Bem amado. Assim o homem, apòs a morte, encontra seu prazer nessa intimidade. Depois, sob a proteção de Deus, ele se eleva do pensamento do encontro até o encontro ele mesmo.
- Ghazâli, Lhya' (Revivification des Sciences Religieuses), III, 64, Idem.
Algumas pessoas perguntavam um dia ao grande mestre Junayd porquê os soufis se agitavam em êxtase durante a audição da mùsica. "No momento da Aliança primordial, ele respondeu, quando Deus interrogou os germes nos rins de Adão lhes dizendo " Eu não sou vosso Senhor?", uma doçura se implantou nas almas deles. Quando eles escutam a mùsica, essa lembrança acorda e os agita".
- Tabaqât Al-Kurbrâ, Le Caire, I, 63, In Anthologie Du Soufisme, Actes Sud, 1995.
O dhikr - chaves de leitura
No soufismo, o conhecimento esotérico revela a superioridade da sabedoria espiritual ou "gnose" (ma'rifa) sobre a ciência "exotérica" ('ilm), a prioridade da experiência e da compreensão diretas sobre a teoria conceptuelle e as prescrições exteriores. Como mostram os primeiros textos, a razão se revela com efeito muito redutora para ter acesso à natureza profunda das coisas: a unidade metafìsica de qual testemunha a Profissão de fé (Shahada) fundadora do islam: "não existe outro deus a não ser Deus".
Purificar seu coração
Essa unidade divina se manifesta no que os soufis chamam o "Coração" (qalb), "orgão" da inteligência contemplativa. "O coração não é nada mais do que o mar de luz....O lugar da visão de Deus", dirà assim Rûmi no seu mestre livro Mathnavi (III, 2269), precisando: "Purifica-te dos atributos do eu, afim de poder contemplar tua pròpria essência pura, e contemple em teu pròprio coração todas as ciências dos profetas, sem livros, sem professores, sem mestres" (II, 159). O "conhecimento" ou "visão pelo coração" (ma'rifa) não depende com efeito de uma atitude intelectual ou sentimental da realidade, mas da experiência de sua essência profunda no seu Criador divino. Trata-se para o soufi de purificar seu coração , como nòs polimos um espelho para que ele reflita perfeitamente a Luz divina. O que implica de retirar os "véus" criados pelo eu (nafs): o obstàculo das emoções e dos desejos que associa ao Absoluto outra coisa que Ele mesmo; o obstàculo da razão também, que reduz esse Absoluto a suas pròprias representações.
O vinho mìstico
O soufi é assim chamado a se despir de todas essas idéias - que são finalmente "idolos" - e a "morrer" a ele mesmo ainda vivo, para melhor nascer para sua natureza ùltima. Uma experiência que conduz no final ao silêncio e a embriaguez da pura presença de Deus, a essa liberdade divina que liberta dos limites e das convenções sociais, como mostra o magnìfico sìmbolo do "vinho mìstico" do Persan Hâtef Isfahâni, tão provocador em uma cultura que rejeita o alcool e as vezes mesmo a mùsica e a dança....Mas como encontrar o caminho dessa "taverna espiritual"? Pela ascése pessoal mas também pelos sìmbolos e métodos iniciàticos especìficos, de quais a principal é o dhikr ou "Lembrança de Deus".
"Invoquem vosso Senhor humildemente e secretamente" (VII, 55), "Diga: "Deus", e deixai-os a seus jogos vãos" (VI, 91) jà incitava o Corão.....O eu enganador sendo o esquecimento de Deus, a pràtica central do soufismo é então o dhikr ou a lembrança da atenção sobre Ele através a invocação contìnua de Seus mùltiplos nomes, ligados a Seus atributos: "o Vivo", "o Imutàvel", "Allah" ou simplesmente "Ele". Coletiva no contexto das confrarias ou solitària, verbal ou silenciosa, a invocação repetida é esquecimento de tudo e sobretudo de si mesmo, como escreve no texto acima Ghazâli (1058 - 1111) um dos mais importantes pensadores do islam. Pela concentração, o dhikr deve rasgar a brumosa camada de confusão pròpria ao espìrito ordinàrio para deixar aparecer a Realidade divina, fonte de todas as realidades.
Primeiro a pronunciação a voz alta ou interior do Nome divino ("dhikr da lìngua"), as vezes acompanhadas pelo canto, pela mùsica e pela dança, como fazem os derviches tourneurs discìpulos de Rûmi, o dhikr deve acabar tomando possessão do ser todo inteiro ("dhikr do coração ").
"Invoque Allah no coração, em um segredo que as criaturas não percebem, sem letra e sem voz ! Esse dhikr é a melhor de todas as incantações", diz o sheikh al-Naqshbandi (1317 - 1389). Tudo torna-se então lembrança de Deus: toda forma torna-se uma mensagem do "Amigo", toda mùsica, um louvor ao "Bem amado"....Então, não existe mais a questão da memòria ou do esquecimento. Apenas permanecem o Um e a união extàtica com "Ele".
- Réza Moghaddasi et Èric Vinson -
A visão do coração é o que importante, não a palavra da lìngua. Você não escaparà jamais a seu eu - nafs - antes de tê-lo matado. Dizer "não existe deus a não ser Deus" não é suficiente. A maioria daqueles que pronunciam verbalmente a profissão de fé são politeistas no coração deles.....Enquanto você não renunciar a seu "eu", você não acreditarà jamais em Deus.
Abû Sa'Îd Ibî' (- Khayr (Iran, 967 - 1048), In Mohamad Monawwar, Les Ètapes Mystiques du Sheikh Abû Sa'Îd, DDB - Unesco, 1974.
Uma noite, eu fui no vendedor de vinho, o coração transtornado e ardente de amor. Eu vi uma brilhante e alegre assembléia presidida pelo mestre - pîr - , o vendedor de vinho. Alguns estavam embriagados, os outros fora deles mesmos. Os corações deles estavam desnudados do òdio, as almas puras, os espìritos plenos de eloquência e os làbios mudos. E todos graças ao favor eterno, com os olhos deles contemplavam Deus, com as orelhas deles escutavam a Verdade. Eu me aproximei com cortesia e disse: "Ô você de quem o coração é o asilo do anjo Sorush (1), eu sou um apaixonado pleno de sofrimento e de nostalgia; veja minha dor, tente me curar ". O pîr começou a rir, e disse brincando: "Ô você, diante quem a inteligência se coloca como uma humilde escrava, o que você tem a fazer conosco enquanto que - de confusão - a filha do vinho como uma beleza permanece perto de você coberta de um véu de cristal ? " Eu respondi: "Minha alma està em fogo, me dê àgua, acalme o ardor desse fogo que me devora. [....]" Sorrindo, ele me disse: "Venha, pegue essa taça." Eu peguei. "Tenha cuidado, ele disse, de não beber muito." Eu bebi um gole, e fui imediatamente libertado do fardo da inteligência e da pena do pensamento. Quando eu voltei a mim, eu sò vi Um; todo o resto parecia simples linhas e manchas coloridas; de repente, das alturas do mundo transcendental, Sorush, na minha orelha, repetiu essas palavras: "Ele é Um, apenas Ele existe; Ele é Ùnico, não existe outro Deus a não ser Ele." [....] Ô Hatef ! Aqueles que possuem o conhecimento e que, as vezes, são chamados embriagados e as vezes, lùcidos; para eles, o vinho, a festa, o échanson e o ménestrel, os magos, o monastério, todas essas coisas sò designam segredos escondidos que se exprimem através esses sìmbolos.
Se você compreende o segredo delas, você saberà qual é a essência desses mistérios: Ele é Um, apenas Ele existe; Ele é Ùnico, não existe outro Deus a não ser Ele. [....] Dia e noite, repita o nome do Amigo, procure o Amigo durante a noite e quando aparecer a aurora. Se Ele te disser cem vezes "Você não me verà", permaneça no entanto sempre na espera da visão, até que você alcance esse lugar que não podem alcançar o pé das imaginações e a escala dos pensamentos.
"- Hâtef Isfahhâni, (Iran, Mort en 1783), Cinq Odes Sur L'Unité Divine, In Anthologie Du Soufisme, Actes Sud, 1995.
Nota: 1. Sorush: figura zoroastrienne simbolisando o Mensageiro divino, como o Hermés grego ou o anjo Gabriel bìblico e coranique.
Quando o homem torna-se familiar com o dhikr, ele se separa de toda outra coisa. Pois, na morte, ele é separado de tudo o que não é Deus. Na sepultura, não fica nem a esposa, nem os bens, nem o filho, nem o amigo. Apenas fica o dhikr. Se esse dhikr lhe é familiar, ele sente prazer e se alegra que os obstàculos que o afastavam dele estejam longe [....] de maneira que ele se descobre como sozinho com seu Bem amado. Assim o homem, apòs a morte, encontra seu prazer nessa intimidade. Depois, sob a proteção de Deus, ele se eleva do pensamento do encontro até o encontro ele mesmo.
- Ghazâli, Lhya' (Revivification des Sciences Religieuses), III, 64, Idem.
Algumas pessoas perguntavam um dia ao grande mestre Junayd porquê os soufis se agitavam em êxtase durante a audição da mùsica. "No momento da Aliança primordial, ele respondeu, quando Deus interrogou os germes nos rins de Adão lhes dizendo " Eu não sou vosso Senhor?", uma doçura se implantou nas almas deles. Quando eles escutam a mùsica, essa lembrança acorda e os agita".
- Tabaqât Al-Kurbrâ, Le Caire, I, 63, In Anthologie Du Soufisme, Actes Sud, 1995.
O dhikr - chaves de leitura
No soufismo, o conhecimento esotérico revela a superioridade da sabedoria espiritual ou "gnose" (ma'rifa) sobre a ciência "exotérica" ('ilm), a prioridade da experiência e da compreensão diretas sobre a teoria conceptuelle e as prescrições exteriores. Como mostram os primeiros textos, a razão se revela com efeito muito redutora para ter acesso à natureza profunda das coisas: a unidade metafìsica de qual testemunha a Profissão de fé (Shahada) fundadora do islam: "não existe outro deus a não ser Deus".
Purificar seu coração
Essa unidade divina se manifesta no que os soufis chamam o "Coração" (qalb), "orgão" da inteligência contemplativa. "O coração não é nada mais do que o mar de luz....O lugar da visão de Deus", dirà assim Rûmi no seu mestre livro Mathnavi (III, 2269), precisando: "Purifica-te dos atributos do eu, afim de poder contemplar tua pròpria essência pura, e contemple em teu pròprio coração todas as ciências dos profetas, sem livros, sem professores, sem mestres" (II, 159). O "conhecimento" ou "visão pelo coração" (ma'rifa) não depende com efeito de uma atitude intelectual ou sentimental da realidade, mas da experiência de sua essência profunda no seu Criador divino. Trata-se para o soufi de purificar seu coração , como nòs polimos um espelho para que ele reflita perfeitamente a Luz divina. O que implica de retirar os "véus" criados pelo eu (nafs): o obstàculo das emoções e dos desejos que associa ao Absoluto outra coisa que Ele mesmo; o obstàculo da razão também, que reduz esse Absoluto a suas pròprias representações.
O vinho mìstico
O soufi é assim chamado a se despir de todas essas idéias - que são finalmente "idolos" - e a "morrer" a ele mesmo ainda vivo, para melhor nascer para sua natureza ùltima. Uma experiência que conduz no final ao silêncio e a embriaguez da pura presença de Deus, a essa liberdade divina que liberta dos limites e das convenções sociais, como mostra o magnìfico sìmbolo do "vinho mìstico" do Persan Hâtef Isfahâni, tão provocador em uma cultura que rejeita o alcool e as vezes mesmo a mùsica e a dança....Mas como encontrar o caminho dessa "taverna espiritual"? Pela ascése pessoal mas também pelos sìmbolos e métodos iniciàticos especìficos, de quais a principal é o dhikr ou "Lembrança de Deus".
"Invoquem vosso Senhor humildemente e secretamente" (VII, 55), "Diga: "Deus", e deixai-os a seus jogos vãos" (VI, 91) jà incitava o Corão.....O eu enganador sendo o esquecimento de Deus, a pràtica central do soufismo é então o dhikr ou a lembrança da atenção sobre Ele através a invocação contìnua de Seus mùltiplos nomes, ligados a Seus atributos: "o Vivo", "o Imutàvel", "Allah" ou simplesmente "Ele". Coletiva no contexto das confrarias ou solitària, verbal ou silenciosa, a invocação repetida é esquecimento de tudo e sobretudo de si mesmo, como escreve no texto acima Ghazâli (1058 - 1111) um dos mais importantes pensadores do islam. Pela concentração, o dhikr deve rasgar a brumosa camada de confusão pròpria ao espìrito ordinàrio para deixar aparecer a Realidade divina, fonte de todas as realidades.
Primeiro a pronunciação a voz alta ou interior do Nome divino ("dhikr da lìngua"), as vezes acompanhadas pelo canto, pela mùsica e pela dança, como fazem os derviches tourneurs discìpulos de Rûmi, o dhikr deve acabar tomando possessão do ser todo inteiro ("dhikr do coração ").
"Invoque Allah no coração, em um segredo que as criaturas não percebem, sem letra e sem voz ! Esse dhikr é a melhor de todas as incantações", diz o sheikh al-Naqshbandi (1317 - 1389). Tudo torna-se então lembrança de Deus: toda forma torna-se uma mensagem do "Amigo", toda mùsica, um louvor ao "Bem amado"....Então, não existe mais a questão da memòria ou do esquecimento. Apenas permanecem o Um e a união extàtica com "Ele".
- Réza Moghaddasi et Èric Vinson -
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