"Nossos mistérios são relativos a alguma coisa grande"
Carregar a ordem e a sabedoria na anarquia maçônica, reunir os membros espalhados de uma sociedade de pessoas que se chamam irmãos e não se conhecem, propor a homens divididos por interesse, pelo ciùme nacional, pelos sistemas polìticos, religiosos e filosòficos, de se reunir, de se entender, de assinar um tratado eterno em nome do céu e da humanidade, é um empreendimento santo e magnìfico, tout à fait digno de Ferdinand de Brunswick [....] O que nòs éramos ? Quem somos nòs ? Nòs temos mestres ? Nòs devemos subsistir ?
Estas são mais ou menos as questões que vossa A.S quis submeter ao exame dos Irmãos. [....] Tudo nos engaja a acreditar que nossos mistérios são relativos a alguma coisa grande e que é verdadeiramente digna do homem. [....] Mas como o conhecimento de nossa verdadeira origem não seria para nòs que um objeto de pura curiosidade, se ela não nos descobrisse novos deveres e importantes verdades, quand même nossas esperanças seriam frustradas, quand même nòs serìamos condenados a rire de nossa origem ( nòs fazemos a suposição mais desagradàvel ), il semble que nòs não deverìamos perder a coragem nem cortar o elo que nos une. Nòs não podemos ser uteis e virtuosos sem devanciers ?
Nòs somos todos reunidos em nome da Religião e da humanidade. Nòs podemos responder da integridade de nossas intenções. Prenons hardiment o edifìcio por seus fundamentos, e, em vez de renovar, vamos criar!
[....] Nòs caìmos sobre tudo o que é relativo à religião dentro de uma indiferença estùpida que nòs chamamos " tolerância ". [....] Nossos prétendus sàbios, ridiculamente orgulhosos de algumas descobertas infantis, dissertent sobre o ar fixo, volatilisent o diamante [....]. Mais ils se gardent bien de déroger até a se perguntar uma vez na vida deles o que eles fazem e qual é o lugar deles no universo. [....] Tudo é importante para eles menos a ùnica coisa que é importante.
Emportés por um fanatismo mil vezes mais condenàvel do que aquele contra o qual eles não cessam de gritar, ils frappent indiferentemente na verdade e no erro, e sò sabem atacar a superstição com o ceticismo. Imprudentes ! que acreditam ser chamados a sarcler le champ das opiniões humanas e que arrancam o froment com medo que a ivraie ne leur échappe. Eles curaram nossos preconceitos, dizem eles.... Oui, como a gangréne cura as dores. Dans cet état des choses, não seria digno de nòs, Monseigneur, de nos propor o adiantamento do Cristianismo como um dos objetivos de nossa ordem ?
Os Irmãos aceitos na classe superior terão por objeto de seus estudos e de suas reflexões mais profundas, as pesquisas de fato e os conhecimentos metafìsicos. [....] Tudo é mistério nos dois Testamentos, e os eleitos de uma ou outra lei eram os verdadeiros iniciados. È preciso então interrogar essa veneràvel Antiguidade e lhe perguntar como ela compreendia as alegorias sagradas.
Quem pode duvidar que essas sortes de pesquisas não nos deem armas vitoriosas contra os escritores modernos que se obstinam a sò ver na Escritura o sentido literal ? Eles jà são refutados pela ùnica expressão dos Mistérios da Religião que nòs empregamos todos os dias sem penetrar o senso. Essa palavra de mistério sò significa no princìpio uma verdade escondida sous des types por aqueles que a possuem. [....] Que alguns se afundem corajosamente nos estudos de erudição [....]. Que os outros de quem o gênio deles chama para as contemplações metafìsicas procurem na pròpria natureza das coisas as provas de nossa doutrina. Que outros enfim ( et plaise à Dieu que existam muitos ! ) nos digam o que eles aprenderão desse Espìrito que sopra onde ele quer, como ele quer e quando ele quer.
- Joseph de Maistre, Mémoire Au Duc de Brunswick, Rieder, 1925.
Maçon e cristão
Composto em 1782 pelo escritor Joseph de Maistre ( 1753 - 1821 ) à l'intention do grand-maître de La Stricte Observance Templière ( O.S.T), e publicado somente em 1925, o Mémoire au duc de Brunswick é célebre por ter demonstrado a existência no seio da S.O.T de uma corrente " mìstica ", crìtica daqueles que são aqui chamados os "prétendus sages", quer dizer os filòsofos do Iluminismo.
A questão das origens
A S.O.T era uma ordem maçônica formalizada nos anos 1750 e que tinha os grades chevaleresques. Diante as tendências mùltiplas que se manifestavam, o prìncipe de Brunswick decidiu de convocar uma assembléia geral em Wilhemsbad ( Alemanha ). Para prepara-la, ele enviou para as Lojas um questionàrio: " A Ordem tem por origem uma sociedade antiga e qual é essa sociedade ? Existe realmete Superiores Desconhecidos e quem são eles ? Qual é o fim verdadeiro da Ordem ? Esse fim é a restauração de L'Ordre des Templiers ? De qual maneira o cérémonial e os ritos devem ser organizados para serem tão perfeitos quanto possìvel ? A Ordem deve se ocupar das ciências secretas ? "
Essas interrogações, resumidas por Maistre na primeira parte do texto, revelavam o estado das organizações maçônicas pouco tempo depois da criação delas; elas jà procuravam encontrar uma tradição original de qual os sinais existiam em tudo no seio delas, mas de quais o princìpio parecia perdido.
Joseph de Maistre, autor catòlico e pensador da Contre-Révolution, pertencia na época a uma provincia da S.O.T dirigida por Jean-Baptiste Willermoz ( 1730 - 1824 ). Esse negociante lyonnais havia reformado em 1778 o sistema maçônico integrando nele elementos da doutrina kabbalistique e théurgique de seu mestre: Martinés de Pasqually ( 1710 - 1774 ). Essa reforma avalisée pela assembléia de Wilhemsbad, deu nascimento a um novo rito: o Rite écossais rectifié. Membro do cìrculo mais fechado dessa organização, Maistre respondeu em seu nome pròprio ao questionàrio de Brunswick.
Ele reconhecia a obscuridade que envolvia as origens da ordem, julgando que a franc-maçonnerie vulgar era " une branche détachée e talvez corrompida d'une tige antiga e respeitàvel". Ele rejeitava entretanto duas idéias fundadoras da S.O.T: sua filiação com a ordem do Templo e sua direção por chefes invisìveis, os "superiores desconhecidos". Diante essas dificuldades, ele propôs então suas pròprias soluções.
Pròprios ao percurso maçônico, os graus deviam se ver atribuìdos de objetivos especìficos e cada vez mais elevados na medida em que o iniciado progredia. O objeto aparente de toda a ordem devia ser o do primeiro grau: praticar a caridade fraterna com todos os homens. O segundo grau para qual era preciso professar a divindade do Cristo tinha por objetivo a reunião das confissões cristães.
Em uma época onde o ateìsmo progredia, essa ação lhe parecia indispensàvel ao " adiantamento do cristianismo". Ora, muitos elementos polìticos se misturavam às questões religiosas para que a união das Igrejas fosse realizada publicamente; era preciso então prepara-la em segredo. Esse objetivo deveria ser facilitado pelo trabalho pròprio à terceira e mais alta classe de iniciados que apresenta o quarto paràgrafo. Estes deveriam aprofundar o senso das Santas Escrituras pelo estudo, pela contemplação e, por aqueles que eram favorizados pela inspiração direta do Santo-Espìrito. Assim eles poderiam resolver as aparentes contradições teològicas a partir de quais havia sido rasgado o "vestido sem costura" da chrétienté. Esse projeto, que inspirou René Guénon e Henry Corbin, testemunha de uma visão do esoterismo como instrumento de entendimento entre as religiões.
- X.A -
Les Textes Fondamentaux de L'Èsotérisme - Kabbale - Franc-Maçonnerie - Astrologie - Soufisme.....- Le Point - Hors-série - Mars - Avril 2005 - N. 2
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