Fernanda Machado / AmbienteBrasil (*)
Por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), foi realizado nesta semana, em Brasília, o seminário “Planeta Terra em nossas Mãos”. O evento abre oficialmente a programação do “Ano Internacional do Planeta Terra (AIPT), com o objetivo de incentivar estudos e pesquisas e, principalmente, divulgar a importância das Ciências da Terra”.
Este ano, a idéia para a proclamação do AIPT partiu da premissa de que a sociedade em geral desconhece a importância das “Ciências da Terra” para o bem-estar e a sobrevivência da humanidade. A tragédia da tsunami no Oceano Índico, em dezembro de 2004, reforçou a necessidade de se discutir medidas para evitar os problemas que atingem o planeta.
As atividades do Ano Internacional do Planeta Terra vão se estender até dezembro de 2009. A iniciativa está sendo lançada em todos os continentes: Europa (Áustria), Ásia (Japão), África (Tanzânia), Oceania (Austrália), América do Norte (Canadá) e América Latina e Caribe (Brasil).
No Brasil, as atividades são coordenadas por um comitê nacional formado por representantes de instituições científicas, de órgãos do Governo e de empresas de área geocientífica.
Na abertura do seminário, o presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS) da Câmara Federal, deputado André de Paula (DEM/PE), lembrou que as ciências ainda precisam avançar muito, em razão dos desastres ambientais que acontecem em todo mundo, e que a defesa do meio ambiente pode significar um futuro mais seguro.
“Temos de diferenciar os desastres que podemos evitar daqueles que são potencializados pelo homem, como, por exemplo, o aquecimento global”.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, antecipou algumas ações do Governo voltadas à Ciência e Tecnologia no sentido de alertar a população para as possíveis conseqüências do modelo de desenvolvimento atual. Entre elas, o Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação 2007-2010, com a participação de vários Ministérios. O Plano contempla a expansão do sistema nacional de Ciência e Tecnologia; desenvolvimento tecnológico das empresas; Ciência e Tecnologia para o desenvolvimento social, e pesquisa e desenvolvimento em áreas estratégicas, relacionadas à conservação do planeta. Esse último com o objetivo de atuar nas áreas de preservação, biocombustíveis, recursos naturais e biodiversidade, desenvolvimento sustentável na Amazônia, energia renovável, programa espacial brasileiro e mudanças climáticas.
Clima
De acordo com o climatologista do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Nobre, o aquecimento global é inevitável, porém, com chances de diminuir. Para que isso aconteça, seria necessário que as emissões de gases para atmosfera fossem reduzidas entre 60% e 70% até 2050. Caso contrário, o aumento da temperatura da Terra pode provocar, entre outras coisas, o fim dos corais, alterações climáticas e causar graves danos à agricultura.
Segundo Nobre, a humanidade acelerou 50 vezes o ritmo natural das mudanças no planeta no último milhão de anos. Ele explicou que o que levava uma era glacial (100 mil anos) para mudar, hoje se transforma em 200 anos, em decorrência da ação humana. “O Brasil pode contribuir de duas formas para reduzir o aquecimento global: modernizando as práticas agrícolas, que respondem por 25% das emissões do País; e reduzindo o desmatamento, responsável por cerca de 50% das emissões”, avaliou.
Em entrevista exclusiva a AmbienteBrasil, Carlos Nobre disse que essas medidas, porém, não podem ser desenvolvidas sem os conhecimentos científicos. “Precisamos entender, de fato, o que são mudanças climáticas no Brasil, como elas se manifestam, como elas afetam os recursos hídricos, a agricultura, as zonas costeiras, a biodiversidade, e tantos outros. Precisamos ainda de muitos estudos, além de medidas práticas emergenciais”, disse.
Nobre destacou ainda que o Brasil não tem planos nacionais para enfrentar as alterações climáticas. “O Brasil precisa de adaptações para as cidades baixas, uso do espaço do litoral, além de adaptações na agricultura de subsistência, pois 15 milhões de pessoas dependem dela para sobreviver, e essa é a parte menos desenvolvida dos planos de Governo. Certamente nos próximos cinco anos já teremos um mapa de vulnerabilidades”, prevê.
Oceanos
O capitão-de-mar-e-guerra Carlos Frederico Serafim, da Secretaria da Comissão Interministerial sobre os Recursos do Mar, destacou no evento o papel dos mares e oceanos para a segurança nacional, especialmente no caso do Brasil, devido à grande extensão da costa.
O professor Jefferson Cardía Simões, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, afirmou que as áreas geladas são importantes para todas as regiões do planeta. "A cobertura de gelo tem papel fundamental no sistema ambiental global, pois é uma das principais controladores do sistema climático terrestre e está ligada intimamente à circulação das correntes oceânicas", explicou.
Jefferson falou com exclusividade a AmbienteBrasil sobre a importância de estudos realizados na Antártida e de como o ambiente brasileiro se integra com as regiões polares. “As friagens que chegam fortemente durante o inverno na parte sul do País são formadas no oceano congelado;
as freqüências dessas friagens são controladas basicamente pela variação do mar congelado”.
O professor lembrou ainda que o Brasil está pagando caro por ter vivido durante 40 anos o mito do País tropical isolado. “Nós temos que entender que o ambiente brasileiro se integra com as regiões polares, com as regiões temperadas e com o hemisfério norte”, adverte.
O representante da Unesco no Brasil, Vicent Defourny, disse que o Ano Internacional do Planeta Terra pretende chamar a atenção da sociedade para os problemas ambientais e, acima de tudo, motivar e incentivar pesquisadores do mundo, principalmente os geocientistas, no sentido de articular suas pesquisas para um conhecimento mais profundo do planeta.
“A Unesco tem um papel fundamental na valorização da Ciência para o desenvolvimento da humanidade e para a criação de uma sociedade sustentável”, disse Defourny a AmbienteBrasil.*
Correspondente em Brasília (DF).
http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=37814
Por iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU), foi realizado nesta semana, em Brasília, o seminário “Planeta Terra em nossas Mãos”. O evento abre oficialmente a programação do “Ano Internacional do Planeta Terra (AIPT), com o objetivo de incentivar estudos e pesquisas e, principalmente, divulgar a importância das Ciências da Terra”.
Este ano, a idéia para a proclamação do AIPT partiu da premissa de que a sociedade em geral desconhece a importância das “Ciências da Terra” para o bem-estar e a sobrevivência da humanidade. A tragédia da tsunami no Oceano Índico, em dezembro de 2004, reforçou a necessidade de se discutir medidas para evitar os problemas que atingem o planeta.
As atividades do Ano Internacional do Planeta Terra vão se estender até dezembro de 2009. A iniciativa está sendo lançada em todos os continentes: Europa (Áustria), Ásia (Japão), África (Tanzânia), Oceania (Austrália), América do Norte (Canadá) e América Latina e Caribe (Brasil).
No Brasil, as atividades são coordenadas por um comitê nacional formado por representantes de instituições científicas, de órgãos do Governo e de empresas de área geocientífica.
Na abertura do seminário, o presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS) da Câmara Federal, deputado André de Paula (DEM/PE), lembrou que as ciências ainda precisam avançar muito, em razão dos desastres ambientais que acontecem em todo mundo, e que a defesa do meio ambiente pode significar um futuro mais seguro.
“Temos de diferenciar os desastres que podemos evitar daqueles que são potencializados pelo homem, como, por exemplo, o aquecimento global”.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, antecipou algumas ações do Governo voltadas à Ciência e Tecnologia no sentido de alertar a população para as possíveis conseqüências do modelo de desenvolvimento atual. Entre elas, o Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação 2007-2010, com a participação de vários Ministérios. O Plano contempla a expansão do sistema nacional de Ciência e Tecnologia; desenvolvimento tecnológico das empresas; Ciência e Tecnologia para o desenvolvimento social, e pesquisa e desenvolvimento em áreas estratégicas, relacionadas à conservação do planeta. Esse último com o objetivo de atuar nas áreas de preservação, biocombustíveis, recursos naturais e biodiversidade, desenvolvimento sustentável na Amazônia, energia renovável, programa espacial brasileiro e mudanças climáticas.
Clima
De acordo com o climatologista do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Nobre, o aquecimento global é inevitável, porém, com chances de diminuir. Para que isso aconteça, seria necessário que as emissões de gases para atmosfera fossem reduzidas entre 60% e 70% até 2050. Caso contrário, o aumento da temperatura da Terra pode provocar, entre outras coisas, o fim dos corais, alterações climáticas e causar graves danos à agricultura.
Segundo Nobre, a humanidade acelerou 50 vezes o ritmo natural das mudanças no planeta no último milhão de anos. Ele explicou que o que levava uma era glacial (100 mil anos) para mudar, hoje se transforma em 200 anos, em decorrência da ação humana. “O Brasil pode contribuir de duas formas para reduzir o aquecimento global: modernizando as práticas agrícolas, que respondem por 25% das emissões do País; e reduzindo o desmatamento, responsável por cerca de 50% das emissões”, avaliou.
Em entrevista exclusiva a AmbienteBrasil, Carlos Nobre disse que essas medidas, porém, não podem ser desenvolvidas sem os conhecimentos científicos. “Precisamos entender, de fato, o que são mudanças climáticas no Brasil, como elas se manifestam, como elas afetam os recursos hídricos, a agricultura, as zonas costeiras, a biodiversidade, e tantos outros. Precisamos ainda de muitos estudos, além de medidas práticas emergenciais”, disse.
Nobre destacou ainda que o Brasil não tem planos nacionais para enfrentar as alterações climáticas. “O Brasil precisa de adaptações para as cidades baixas, uso do espaço do litoral, além de adaptações na agricultura de subsistência, pois 15 milhões de pessoas dependem dela para sobreviver, e essa é a parte menos desenvolvida dos planos de Governo. Certamente nos próximos cinco anos já teremos um mapa de vulnerabilidades”, prevê.
Oceanos
O capitão-de-mar-e-guerra Carlos Frederico Serafim, da Secretaria da Comissão Interministerial sobre os Recursos do Mar, destacou no evento o papel dos mares e oceanos para a segurança nacional, especialmente no caso do Brasil, devido à grande extensão da costa.
O professor Jefferson Cardía Simões, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, afirmou que as áreas geladas são importantes para todas as regiões do planeta. "A cobertura de gelo tem papel fundamental no sistema ambiental global, pois é uma das principais controladores do sistema climático terrestre e está ligada intimamente à circulação das correntes oceânicas", explicou.
Jefferson falou com exclusividade a AmbienteBrasil sobre a importância de estudos realizados na Antártida e de como o ambiente brasileiro se integra com as regiões polares. “As friagens que chegam fortemente durante o inverno na parte sul do País são formadas no oceano congelado;
as freqüências dessas friagens são controladas basicamente pela variação do mar congelado”.
O professor lembrou ainda que o Brasil está pagando caro por ter vivido durante 40 anos o mito do País tropical isolado. “Nós temos que entender que o ambiente brasileiro se integra com as regiões polares, com as regiões temperadas e com o hemisfério norte”, adverte.
O representante da Unesco no Brasil, Vicent Defourny, disse que o Ano Internacional do Planeta Terra pretende chamar a atenção da sociedade para os problemas ambientais e, acima de tudo, motivar e incentivar pesquisadores do mundo, principalmente os geocientistas, no sentido de articular suas pesquisas para um conhecimento mais profundo do planeta.
“A Unesco tem um papel fundamental na valorização da Ciência para o desenvolvimento da humanidade e para a criação de uma sociedade sustentável”, disse Defourny a AmbienteBrasil.*
Correspondente em Brasília (DF).
http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=37814
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