terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Ceticismo - Sextus Empiricus

"A todo argumento se opõe um argumento igual"

1. Quando nòs fazemos uma pesquisa sobre um sujeito determinado, o resultado aparente é que ou nòs fazemos uma descoberta, ou nòs negamos ter feito uma descoberta e nòs reconhecemos que a coisa é inaplicàvel, ou nòs continuamos a pesquisa. È sem dùvida por essa razão que no que é relativo aos objetos de pesquisa filosòfica eles também, algumas pessoas declararam que elas haviam descoberto o verdadeiro, outras negaram que isso pudesse ser possìvel, outras ainda procuram.
Assim pensam tê-lo encontrado aqueles que nòs chamamos dogmàticos, no sentido pròprio, por exemplo os adeptos de Aristoteles e de Epicuro, os estòicos e alguns outros; Os adeptos de Clitomaque e de Carnéade e os outros acadêmicos afirmaram que ele é relativo às coisas imperceptìveis; os céticos continuam a procurar. A partir disso nòs consideramos razoavelmente que as filosofias dominantes são três: dogmàtica, acadêmica, cética. Para as duas primeiras, é melhor que outras pessoas as comentem; no que é relativo a via cética, nòs trataremos sob a forma de esboço na obra presente, tendo primeiro dito o seguinte: de nada do que serà dito nòs asseguramos que o que foi dito é completamente como nòs dizemos, mas para cada coisa nòs fazemos como historiadores um relatòrio conforme ao que nos aparece no momento presente.

4. O ceticismo é a faculdade de colocar face a face as coisas que aparecem da mesma maneira que as que são pensadas, seja da maneira que for, capacidade através de qual, do fato da força igual que existe nos objetos e nos raciocìnios opostos, nòs chegamos primeiro à suspensão do consentimento, e apòs isso à tranquilidade. [...] Nòs não consideramos " raciocìnios " em todos os casos no sentido da afirmação e da negação, mas simplesmente no sentido de raciocìnios em conflito. Nòs chamamos " força igual" a igualdade segundo a convicção e a não-convicção, de maneira que nenhum dos raciocìnios em conflito tenha superioridade sobre outro pela razão que ele seria mais convincente. A suspensão do consentimento é a parada do pensamento do fato que nòs não rejeitamos nem colocamos uma coisa. A tranquilidade é a ausência contìnua de tormento e a calma da alma. Como a tranquilidade é provocada pela suspensão do consentimento, nòs o sugerimos no capìtulo sobre o fim do ceticismo.

12. Um fim é o que é esperado de tudo o que é feito ou pensado, mas que não espera nada ele mesmo; também é o objeto final dos desejos. Nòs dizemos até agora que o fim do cético, é a tranquilidade em matéria de opiniões e a moderação das emoções nas coisas que se impõem a nòs mesmos. Pois tendo começado a filosofar em vista de decidir entre as impressões e de apreender quais dentre elas são verdadeiras e quais são falsas de maneira a alcançar a tranquilidade, ele encontrou-se em desacordo com partidos de forças iguais; estando incapaz de decidir, ele suspendeu seu consentimento. E para aquele que tinha suspendido seu consentimento, a tranquilidade em matéria de opinião produziu-se fortuitamente. [....]

- Sextus Empiricus, Esquisses Pyrrhoniennes, I, 1,4,6 et 12, Trad. P.Pellegin, Le Seuil, 1997.


Sextus Empiricus

Sextus Empiricus é a referência em matéria de ceticismo antigo. Particularmente porque, sem ele, nòs mal conhecerìamos as posições do fundador desse movimento, Pyrrhon d'Èlis, de quem o ensinamento foi perdido. O cético duvida de todo conhecimento e considera que nenhum argumento é irrefutàvel. Nesse sentido, para Sextus, ele é a terceira via da filosofia, em oposição aos "dogmàticos", que, como Aristoteles, Epicuro e os estòicos, consideram que suas pesquisas alcançaram resultados definitivos, mas também contra aqueles que, como os membros da Nova Academia, pensavam que a impossibilidade de descobrir o verdadeiro constitue o termo da pesquisa. Ao contràrio, o cético quer que ela continue sem fim, não para descobrir verdades, mas para lutar contra os preconceitos e as crenças que aparecem de todos os lados.


A arma da controvérsia

Para o ceticismo então, todo argumento tem seu contràrio, e nenhum dos dois é superior ao outro. A "pesquisa" cética consiste a propor, para todo raciocìnio em aparência inabalàvel, os antilexis das proposições contraditòrias. Essa atitude visa a estabelecer entre um argumento e seu contràrio uma "força igual'. Diante esta, a ùnica posição sustentàvel consiste em suspender seu julgamento. Essa "suspensão" (epokke) constitue um dos princìpios fundamentais do ceticismo. Ela engaja a não desenvolver nenhum sistema filosòfico.
Quais são os resultados que nos propõe então o ceticismo? Nòs tocamos aqui o coração do pensamento de Sextus Empiricus. Seu livro Esquisses não tem por vocação de ser completado por uma obra exaustiva. Ao contràrio, os " resultados " das investigações céticas são apenas rastros das pesquisas em estudo e dos avanços em direção da igualdade de forças. Mas esse trabalho não é vão. È ele, nos assegura Sextus, que permite ao homem de alcançar o objetivo do exercìcio filosòfico, a saber atingir a tranquilidade da alma ( ataraxie ). Procurando a suspensão do julgamento, o cético promete a ausência dos tormentos ao espìrito que, sem isso, ficaria perturbado pela "irregularidade das coisas".
O ceticismo antigo atraiu muitas crìticas, e primeiro a de se contradizer. Ele não admite involuntariamente verdades, o fato, por exemplo, que para todo argumento existe um argumento contràrio de força igual ? Sua ambição filosòfica provoca também interrogações. Se a filosofia, no sentido etimològico do termo, significa " amor da sabedoria ", a sabedoria se confundiria com a tranquilidade da alma ?
A essa questão, o pensamento cético parece responder sem distinção pela afirmativa....
Essas objeções explicam talvez a razão pela qual Sextus Empiricus foi considerado durante muito tempo como um autor de pouca importância. No século XVI todavia, a tradução do seu livro Esquisses pyrrhoniennes desperta novamente o interesse pelo ceticismo.Montaigne, entre outros, cita Sextus para definir seu pròprio ceticismo. A dùvida cartesiana foi igualmente associada ao ceticismo.


Suspensão do julgamento

No começo do século, Husserl retoma por sua conta, em um sentido bem preciso, a idéia d'epokkê; a " fenomenologia ", para descrever os fenômenos da maneira que eles se manifestam na consciência, deve " botar entre parenteses" ou suspender todo julgamento préalable sobre a realidade ou a existência "objetiva" dos fenômenos observados.
No fim dos anos 1960, o declìnio do que està estabelecido de chamar as " grandes narrações" - as concepções religiosas, polìticas e filosòficas do senso da història - e a reconsideração dos dogmas popularizam essa atitude filosòfica, mesmo se o pensamento moderno não reinvidica mais rigorosamente o ceticismo antigo.

- F.G.-

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