sábado, 27 de outubro de 2007

Lettre à Sophie Volland

[ 15 mai 1765 ]

Sim, terna amiga, ainda terà um concerto; e esse concerto serà um encanto; é senhor Grimm que me promete. Que eu saiba então no pròximo domingo se vocês irão e quantos vocês serão, para que eu possa adquirir os ingressos. Eu te serei grato de fazer de maneira que M. Gaschon também esteja presente; quando eu conheço um grande prazer, eu não posso me impedir de desejar o mesmo gozo a todos aqueles que eu amo. Vocês voltarão todos embriagados de admiração e de alegria, e eu aproveitarei de uma parte desses sentimentos vos revendo, vos escutando, e vos olhando. Oh as belas fisionomias que vocês terão ! Mas como a fisionomia de um homem transportado de amor e de prazer é tão bela de ver, e que vocês são donas de ter, quando vocês querem, sob vossos olhos esse quadro tão emocionante e tão lisonjeiro, porquê vocês se privariam dele ? Que loucura ! Vocês ficam encantadas se um homem, bem apaixonado, liga a vossos olhos seus olhares plenos de ternura e de paixão. A expressão deles passa em vossa alma, e ela treme. Se seus làbios ardentes tocam vosso rosto, o calor que eles excitam vos atordoa; se esses làbios se colam aos vossos làbios, vocês sentem vossa alma voar para vir se unir a alma dele; se nesse momento suas mãos apertam as duas mãos de vocês, espalha-se sobre todo vosso corpo um tremor delicioso. Tudo vos anuncia uma felicidade infinitamente maior, tudo vos convida a ela, e vocês não querem morrer e fazer morrer de prazer. Vocês se recusam a um momento que tem sua delìcia, aquele onde esse homem acabou de ter possuido esse objeto que ele aprecia mais que o universo inteiro, e derrama uma enchente de làgrimas. Se vocês sairem desse mundo sem ter conhecido essa felicidade, vocês poderão vos lisonjear de ter sido felizes e de ter visto e feito um homem feliz ?
Não esqueça de me fazer saber se o assunto do contrato é realizàvel, ou não, seja por senhor Duval, seja por M. Le Gendre.
Bonjour, terna amiga. Quanto eu vos estimo e quanto eu vos amo ! O bonito quadro que eu verei e que eu vos mostrarei se você quiser !Mas você não conhece nada disso. Isso é lamentàvel portanto.

- Denis Diderot - Lettres à Sophie Volland



A mais celébre das correspondências do século do Iluminismo, um documento de primeira ordem sobre a sociedade literària e "filosòfica" da época. Mas também um interessante curioso romance de amor. Foi, como dizia Diderot ele mesmo que encontrou em 1754 Louise-Henriette Volland rebatizada Sophie uma " liaison douce", um assunto de cabeça e de estima mais do que uma paixão carnal. Talvez porque Mme Volland vigiava com severidade sua filha ou porque esta estimava demasiadamente sua irmã. " Me esquecer nos braços de sua irmã ? Madame, cuide um pouco de sua saùde, e pense que o prazer também cansa", escreve um dia Denis a Sophie. E um outro: " Eu sò permito vossa boca a vossa irmã". Seja o que for, a " liaison douce" dura o mesmo tempo que a vida dos dois amantes e "irmão Platão" como dizia Voltaire, morreu cinco meses apòs sua Héloïse.


[21 juillet 1765]


Bem que eles me disseram que era um sonho, mas porquê eles não disseram tudo de uma ùnica voz que era um sonho negativo ? Existia entre eles alguns para quem natureza teria concedido um melhor espìrito, uma alma mais doce, uma melhor amiga que a minha ? Não. È que essa natureza é uma louca que estraga com uma mão o que ela faz bem com a outra; é que ela se divertiu a misturar "de chicotin" (1) o pouco de bonbons que ela dà a suas crianças; é que o sistema dos dois princìpios, um benevolente, outro malevolente, sistema que foi tão geralmente espalhado na terra, não é tão extravagante quanto se diz na Sorbonne; é que é preciso passar por isso ou acreditar no Jupiter de Homère que encerrou em dois tonéis todos os bens e todos os males da vida de quais ele forma uma chuva misturada que cai sem cessar na cabeça dos pobres mortais, que são alguns um pouco mais ou um pouco menos molhados de mal ou de bem que os outros, mas que todos chegam na ùltima moradia quase igualmente encharcados. Se a vida não fosse assim, quem poderia se resolver a deixa-la ? Se fosse um fil de felicidade pura e sem mistura, quem é que quereria expo-la por sua pàtria, sacrifica-la por seu pai, sua mãe, sua esposa, seus filhos, seu marido, sua amante ? ninguém. Os homens seriam apenas um vil rebanho de seres felizes. Não existiria ações heròicas. Eles viveriam embriagados e morreriam enraivecidos. Voilà, minha amiga, um preâmbulo honestamente longo, é que é preciso que tudo, até mesmo essa carta, tenha o caràter das coisas desse mundo.


.....Anda. Faz-me preparar um nicho grande como a mão, pròximo de você, onde eu me refugie longe de todas essas màgoas que vêm me atormentar. Não pode existir felicidade para um homem simples como eu, no meio de oitocentas mil almas. Que eu viva obscuro, ignorado, esquecido, perto daquela que eu amo. Jamais eu lhe causarei a mìnima tristeza, e perto dela o sofrimento não ousarà se aproximar de mim.Està pronto esse pequeno asilo ? Você quer compartilha-lo, nòs nos veremos de manhã; eu irei acordando, saber como foi sua noite; nòs conversaremos; nòs nos separaremos para queimar de nos unir-mos. Nòs jantaremos juntos. Nòs iremos passear longe, até que nòs encontraremos um lugar escondido onde ninguém nos perceba. Là, nòs nos diremos que nòs nos amamos, e nòs nos amaremos. Nòs traremos nas poltronas a doce e leve fadiga dos prazeres e nòs jogaremos, se o jantar " se fizer muito esperar". Nòs iremos em uma cama bem macia, a alma contente, o espìrito livre, o corpo sadio, esperar um amanhã tão bonito quanto a véspera e nòs passaremos um século sem que nossa espera seja jamais enganada. O lindo sonho. - Le beau rêve.

- Diderot - Lettres à Sophie Volland
Escolha e prefàcio de Jean Varlot
Folio - classique


Nota 1

Chicotin : " suco amargo da coloquinte de qual as amas o esfregam no seio quando elas querem desmamar as crianças";
" drageias forte amargas nas quais nòs misturamos o chicotin " ( Littré ).

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