domingo, 28 de outubro de 2007

De la constance du Sage

" Da constância do Sàbio " - Seneca

I

Existe entre os estòicos e os filòsofos das outras escolas a mesma diferença que existe entre os homens e as mulheres; eu creio poder dizer, Sérénus, sem temer de me enganar.
Com efeito, se cada um dos sexos dão uma igual contribuição a vida em comum, um é nascido para obedecer, o outro para comandar. Os outros sàbios são moles e carinhosos: nòs poderìamos compara-los aos médicos domésticos que para cuidar das doenças não empregam os remédios mais eficientes e os mais ràpidos mas aqueles que o doente aceita. Os estòicos seguem o caminho viril; pouco lhes importa que ele pareça agradàvel àqueles que nele se engajam; o que eles querem, é nos levar até o cume supremo, que se situa fora de todo alcance e dominio até mesmo da Fortuna.
2. - Mas o caminho que eles nos fazem seguir é escarpado e acidentado ! - Eh quoi ! Serà que chegamos ao cume por um caminho plano ?
[...]


III

4. Eu chamarei bravo o homem que não se deixa estarrecer nem pela guerra nem se terrorizar pela marcha do exército inimigo, e não aquele que passa um bom tempo entre uma companhia de ociosos.

5. Então eu afirmo com firmeza que o Sàbio não é jamais atingido pela injustiça !

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IV

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2. Você acredita que quando um rei insensato obscurece o céu com uma chuva de flechas, uma ùnica dentre elas tenha tocado o sol ? (1) ou que as correntes que ele fez jogar no fundo do mar tenham feito cair Neptune em uma armadilha ? O divino escapa às mãos dos homens e os assaltantes dos templos que fazem derreter as estàtuas não lhe causam nenhum dano

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Nota 1 - trata-se de Xerxés, archétype do rei insensato

3. [.....] talvez a sabedoria mostre melhor sua força guardando a calma no meio dos ataques, da mesma maneira que o general sò pode provar melhor a superioridade de suas armas e de seus soldados demonstrando uma perfeita tranquilidade no territòrio inimigo.

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V

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2. Nòs somos mesmo tão estùpidos que não é apenas a dor que nos faz sofrer, mas também a idéia da dor [....]
3. A injustiça tem por objetivo de fazer mal. Ora a sabedoria não deixa nenhuma possibilidade para o mal: o ùnico mal para ela é a vergonha, que não saberia penetrar onde reinam o Bem e a Virtude. [....]

4. [.....] O Sàbio, não pode perder nada: ele visou tudo nele mesmo; ele não dà nenhum crédito à Fortuna. Para todos os seus bens, ele fez um investimento seguro, pois ele se contenta da virtude, que não espera nada do acaso e por conseguinte não saberia nem crescer nem diminuir (1) [.....]
A virtude é livre, inviolàvel, imperturbàvel, indéracinable, a tal ponto endurecida contra os golpes da sorte que, longe de abatê-la, eles não poderiam nem mesmo dobra-la. Diante o preparativos dos suplìcios mais terrìveis, ela guarda os olhos bem abertos. Nas provações como na felicidade, jamais ela vacila.
5. Dessa maneira o Sàbio não perderà nada de qual ele deva sentir a perda: o ùnico bem que ele possui é a virtude, de qual jamais ninguém poderà despojà-lo. [....]

Nota 1 - Ver sobre esse tema a Lettre ( XVI ) na qual nòs podemos ler o seguinte : " O quê podemos acrescentar à perfeição ? Nada ! Não é a perfeição se nòs podemos lhe acrescentar alguma coisa. È da mesma maneira para a virtude: o quê nòs poderìamos lhe acrescentar, é o que lhe teria faltado".

6. Démétrius, que foi chamado Poliorcéte (1), apoderou-se da cidade de Mégare. Ele perguntou ao filòsofo Stilpon (2 ) se ele tinha perdido algum bem : " Nenhum respondeu Stilpon; todos os meus bens estão comigo". Portanto, seu patrimônio caiu nas mãos do inimigo que também capturou suas duas filhas, sua pàtria foi dominada pele jugo estrangeiro e ele mesmo se viu interrogado, do alto de um tribunal por um rei cercado de suas tropas vitoriosas.
Nota 1 - Poliorcéte, "destruidor de cidades" em grego, era o apelido de Démétrius, rei de Macédoine ( 337 - 283 av. J.-C), que foi o libertador da Grécia.

Nota 2 - Stilpon de Mégare ( III século av. J.-C.) foi um dos discìpulos de Euclide de Mégare, ele mesmo discìpulo de Sòcrates, que fundou a escola de Mégare. Stilpon foi o mestre de Zénon.

7. Mas Stilpon arrancou ao vencedor sua vitòria e testemunhou, enquanto sua cidade era dominada, e que ele era invencìvel e mesmo indene: seus verdadeiros bens, ele os guardava com ele e ninguém podia botar a mão neles. Aqueles que o inimigo pilhava e roubava, ele não os julgava como sua propriedade: eram a seus olhos suplementos, submetidos aos caprichos da Fortuna; assim ele não tinha por eles o apego de um proprietàrio.
Todos os objetos que nos vêm do exterior sò podem nos pertencer de maneira ilusòria e efêmera.


VI

8.Saiba então, Sérénus, que esse homem perfeito, realizado nas virtudes humanas e divinas, não pode perder nada. Seus bens são defendidos por uma fortaleza robusta e inabalàvel. [.....]

VII

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2. Enfim, o que fere é necessariamente superior ao que é ferido. Ora a perversidade não é mais forte que a virtude: o Sàbio não pode então ser ferido. Apenas os maus tentam prejudicar os bons, que vivem em paz entre eles. Se nòs sò podemos ferir o mais fraco, se por outro lado o mau é mais fraco que o bom e se o bom sò pode temer a injustiça da parte de um homem que não é seu igual, então a injustiça não pode atingir o Sàbio. Pois eu não preciso mais te dizer que apenas o Sàbio é bom.

IX

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5. Assim, nos jogos sagrados, o vencedor é vàrias vezes aquele que cansa o braço de seu adversàrio com uma resistência inabalàvel: o Sàbio pertence à raça desses campeões que, por um longo e constante treinamento, adquiriu a força de receber os golpes do adversàrio e de usar sua resistência.

XI

1. Além disso, como sempre as ofensas vêem de pessoas orgulhosas e insolentes, que vivem mal a prosperidade delas, o Sàbio tem o meio de desprezar a arrogância de qual elas são inchadas graças a mais bela de todas as virtudes: a grandeza da alma ( 1). Ela passa sem parar diante todas essas baixezas, como diante os fantasmas de um sonho, de visões noturnas sem consistência nem realidade.

Nota 1 - Os estòicos classificam essa virtude ( magnitudo animi ) na categoria da coragem. Stobée a definiu da seguinte maneira: " A ciência racional que classifica o indivìduo além do que, pela pròpria natureza, não pode deixar de acontecer ao Sàbio e àqueles que não o são. Ela aparece como a forma mais alta da Vontade e da afirmação da pessoa.

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- Sénéque - De la constance du sage
Tradução e apresentação de Pierre Miscevic
GF - Flammarion

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