sábado, 27 de outubro de 2007

De la providence - Sénèque


"Da providência" - Seneca

I
1 - Você me perguntou, Lucilius, porquê, se o mundo é dirigido por uma Providência, os homens de bem são tantas vezes expostos a infelicidade. Eu te responderia mais facilmente no contexto de uma obra onde eu demonstraria que existem uma Providência presidindo ao universo e um deus presente entre nòs. Mas como você deseja que eu separe uma pequena parte desse conjunto e que, sem tocar ao fundo do problema, eu refute essa ùnica objeção, eu o farei, e sem dificuldade: é a causa dos deuses que eu defenderei !
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5 - Eu vou te reconciliar com os deuses, que são muito bons com os homens que são muito bons: jamais com efeito a natureza suporta que o bem prejudique ao bem. Entre as pessoas de bem e os deuses existe um laço de amizade ligado pela Virtude. O que digo, uma amizade ? Trata-se na realidade de um parentesco e de uma similitude (1), pois o homem de bem sò é diferente da Divindade pela durabilidade; ele é seu discìpulo, seu émulo; ele é a verdadeira progenitura desse pai sublime que não transige na pràtica da Virtude e educa seu filho com a maior severidade paterna.

nota 1 - Para os estòicos, o Universo e o homem fazem um todo, é lògico que o homem aspire a realizar em si a ordem superior do macrocosmo, tornando-se " semelhante" a Divindade.


II

1.- Porquê os homens de bem são vìtimas de tantas infelicidades? - Nada de mal pode acontecer ao homem de bem: os contràrios não se unem ! Todos esses rios, todas essas chuvas que caem do alto do céu, todas essas fontes medicinais, não mudam o gosto da àgua do mar, nem a tornam doce; da mesma maneira, o choc da adversidade não muda nada em um homem de valor: ele permanece imperturbàvel e é ele que comunica a cada acontecimento sua pròpria cor, pois ele é mais poderoso que tudo que lhe é exterior.
2. [.....] Todos os contratempos de fortuna, ele os encara como ocasiões de se exercer.[....] Qual é o homem ativo que não considera o repouso como uma punição ?
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4. Sem adversàrio, a coragem se esvanece; sua extensão e sua potência sò se manifestam nas ocasiões onde a resistência pode ser submetida a provação. [....]. O mais importante não é o objeto do sofrimento mas a maneira pela qual nòs o suportamos.
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6. A Divindade tem para com os homens de bem a alma de um pai e os ama com energia: " È preciso, diz ela, que eles sejam confrontados ao trabalho, aos sofrimentos, a todos os problemas: é dessa maneira que eles vão adquirir a verdadeira força. " [....]
A felicidade que jamais conheceu nuvens negras não suporta nenhum choque; ao contràrio, quando nòs estamos habituados a lutar contra a adversidade, nòs nos endurecemos, nòs não cedemos jamais a infelicidade, e se nòs caimos, nòs combatemos mesmo de joelhos.


III


3. [....] " Eu não vejo nada mais infeliz que um homem que jamais conheceu a adversidade". Com efeito, um tal homem nunca teve a ocasião de se submeter a provação. Supondo que seus desejos sempre tenham sido realizados, e mesmo prevenidos: os deuses têem assim mesmo uma mal opinião deles. Eles não o julgaram digno de vencer um dia a Fortuna, que deixa tranquilos todos os covardes e parece dizer : " Porque eu pegaria esse homem como adversàrio ? Ele vai logo entregar as armas; não é preciso que eu use contra ele toda a minha potência, ele não pode sustentar minha vista. Eu devo procurar um com quem eu possa lutar. Eu teria vergonha de combater contra um homem pronto para se deixar vencer !
4. Para o gladiador, é uma desonra lutar contra um adversàrio que não é de seu nìvel: ele sabe muito bem que vencer sem perigo, é triunfar sem glòria....È da mesma maneira para a Fortuna: são os mais bravos que ela provoca em combate singular; os outros, ela os despreza e passa. Ela ataca os mais fortes, os mais orgulhosos, afim de utilizar contra eles toda a sua força. [.....]
Os grandes exemplos sempre se acompanham da mà fortuna - mauvaise fortune -

IV

1. A prosperidade também pode pertencer aos homens do povo e as almas baixas; mas as misérias e os terrores dos mortais, sò cabe aos homens excepcionais de os jugular. Conhecer uma felicidade constante e atravessar a vida sem feridas na alma (1), é ignorar a metade da realidade.
Nota 1 - O texto latim diz : " mordidas da alma".

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3. Eu posso dizer a mesma coisa ao homem de bem que a mà fortuna jamais permitiu que ele lhe mostrasse o vigor de sua alma: " A meus olhos, você e infeliz, porque você jamais conheceu a infelicidade ! Você atravessou a vida sem afrontar nenhum adversàrio; ninguém jamais saberà do que você é capaz, nem mesmo você." È preciso com efeito, para se conhecer, submeter-se a provação: nòs aprendemos a extensão de nossas forças graças a experiência. È por essa razão que algumas pessoas se jogaram diante as infelicidades que demoravam a chegar, oferecendo dessa maneira à virtude delas ameaçada de obscuridade a ocasião de brilhar no grande dia".
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5. A Divindade, eu repito, cuida dos homens que ela deseja levar ao mais alto grau de virtude, oferecendo-lhes a possibilidade de realizar atos corajosos e nobres para os quais é preciso afrontar obstàculos: o piloto se revela diante a tempestade, o soldado na batalha. Como eu posso conhecer sua firmeza diante a desonra, a infâmia, se você envelhece no meio dos aplausos, se jamais é desmentido o favor indestrutìvel e a simpatia geral que você goza ?
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.6. Por favor, não vos deixe terrorizar pelas provações que os deuses vos enviam para estimular vossa alma: a infelicidade é uma chance para a Virtude.

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8. " A Divindade nos julgou dignos de fazer a experiência dos limites da resistência humana. "


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11. Dessa maneira, os deuses seguem para com os homens de bem o mesmo método que os professores com seus alunos: eles exigem mais trabalho daqueles em quem eles mais acreditam.

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12. A Fortuna nòs dà golpes e nos fere ? Tenhamos coragem: não se trata de crueldade, mais de luta, e quanto mais nòs combatemos mais nòs sentimos nossa coragem.

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13. De tanto sofrer, nòs acabamos desprezando esse sofrimento

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16. Porquê te surpreender pelo fato que, para fortificar os homens de qualidade, nòs os subtemos à provação ? Não existe àrvore vigorosa e resistente que não seja sem cessar batida pelo vento : são os pròprios "solavancos" que a consolidam e a fixam com mais firmeza a suas raìzes. [....]
È do pròprio interesse dos homens de bem se eles querem não mais conhecer o medo, de se encontrar no meio dos perigos mais estarrecedores e de suportar com constância os eventos que sò são negativos na medida em que nòs não sabemos como lutar contra eles.



V


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7. O destino é nosso mestre e o tempo que nos é dado é fixado desde nossa primeira hora. De uma causa nasce outra causa; os eventos, que eles sejam pùblicos ou privados, formam uma longa corrente. Se é preciso tudo suportar com coragem, é porque nada acontece por acaso, como nòs acreditamos, mas segundo uma lògica. [....]


[.....] sejam quais forem a nossos olhos a variedade das existências individuais, tudo volta a esse ùnico princìpio :efêmeros, nòs sò conhecemos o efêmero.

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9. [....] para fazer um homem verdadeiro, de quem nòs sò devemos falar com respeito, é preciso um tecido mais resistente ! Seu caminho não serà plano: lhe serà necessàrio subir e descer, afrontar as tormentas e conduzir seu barco atravéis a tempestade; ele deverà manter seu objetivo contra os golpes da Fortuna. Ele encontrarà muitas provações e muitos obstàculos, mas ele saberà vence-los e supera-los ele mesmo.


- Sénèque - De la providence
Tradução e apresentação - Pierre Miscevic -
GF - Flammarion




Minha tradução é muito aproximativa, me perdoem, muita dificuldade de memòria atualmente , que Deus me ajude
Grata e um excelente fim de semana
Abraços fraternos !

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