terça-feira, 30 de outubro de 2007

Alguns paradoxos lògicos ou "sofismas"

Uma das idéias fixas dos lògicos antigos era o que nòs chamavamos o "sofisma", quer dizer um raciocìnio falacioso que tem todas as aparências de um raciocìnio vàlido.
Alguns, principalmente Diodore, se divertiam a cria-los; a maior parte deles procuravam sobretudo a mostrar em que eles eram falaciosos.
Eis aqui alguns dos mais célebres :


O mentiroso :

" Se você diz que você mente e que o que você diz é verdade, então você mente e você diz a verdade".

O homem que usa um véu :

" Você conhece aquele homem que se aproxima e que usa um véu ? - Não" Então eles tiram o véu : " Mas como, você conhece esse homem ? - Sim. - Então você conhece e você não conhece o mesmo homem.


"Ninguém :

" Se alguém està aqui, ele não està em Rhodes; mas tem um homem aqui; então não tem um homem em Rhodes !

"O Argumento preguiçoso :

" Se seu destino é de curar, que você chame o médico ou que você não o chame, você vai curar; mas se seu destino é de não curar, que você chame o médico ou que você não o chame, você não vai curar, ora seu destino é de curar ou não curar; é então inùtil que você chame o médico ".

A Lògica - Aristòteles

" O universal é sempre predicado de um sujeito "


Palavra e verdade

As palavras da linguagem falada são sìmbolos dos estados da alma, e as palavras escritas aqueles das palavras faladas. Mas, como a escrita, a linguagem não é a mesma em todos os homens, mesmo se as afecções da alma, de quais as palavras são imediatamente os sinais, são idênticas para todos, da mesma maneira que são idênticas para todos os objetos de quais esses estados são as imagens.

- De L'Interpretação, 1, Trad. Originale.


Uma frase (logos) é uma palavra dotada de significação, e de qual cada parte tem nela mesma uma significação a tìtulo de simples enonciação, mas não afirma nem nega coisa nenhuma. Eu me explico. Seja a palavra "homem". Ela tem um significado, mas não diz se existe ou não alguma coisa assim: para isso é preciso acrescentar outra coisa. [...] Toda frase significa alguma coisa. [....], mas toda frase não é declarativa (apophantikos), apenas aquela em que se encontra verdade ou erro. Não é sempre o caso: a prece forma uma frase, mas não é nem verdadeira nem falsa.

- Idem, 4
A substância como singularidade

No sentido primeiro, primitivo e insigne, a substância é o que não é afirmado de um sujeito, nem reside em um sujeito. Por exemplo esse cavalo ou esse homem. Mas nòs também falamos de substâncias com um outro sentido. Nas espécies (eidos) dessas segundas substâncias estão incluìdas as substâncias ditas primeiras, assim que aquelas, como gênero, em que são incluìdas as espécies das mesmas. Por exemplo, um homem particular é incluìdo na espécie "homem", ela mesma incluìda no gênero "ser vivo".

- Catégories, 5, Trad. Originale


Segundo nossa visão, é impossìvel que nenhum universal possa jamais ser uma substância. Com efeito, a substância primeira de todo ser, seja ele quem for, é aquela [ que lhe é pròpria e ] que não pode pertencer a nenhum outro ser que ele, enquanto que o universal é ao contràrio um termo comum, pois nòs o chamamos precisamente universal o que, de sua natureza, pode pertencer a vàrios. [...] Por outro lado, nòs definimos a substância: " o que não é jamais o atributo de um sujeito"; mas o universal é sempre predicado de um sujeito.

- Métaphysique, I, 13, Trad. J. Barthélemy Saint-Hilaire, Ed. Germer - Baillière, 1879.


A Indução

Quando pàra na alma [ um indivìduo, quer dizer] uma unidade [de espécies] não distintas [ umas das outras ] (1), lhe aparece um primeiro universal - com efeito, mesmo se o indivìduo [por exemplo, Callias] que nòs percebemos, a percepção se coloca igualmente no universal (2), aqui o Homem [....]. Em seguida, a alma pàra por etapas sucessivas sobre as outras [espécies], até alcançar os gêneros indivisìveis e os [ùltimos] universais: assim, de tal espécie animal nòs chegamos ao gênero "animal" [todo inteiro], e sempre dessa maneira. Então é evidente que é necessariamente por indução que nòs alcançamos o conhecimento dos primeiros princìpios, e é dessa maneira que a percepção nos manifesta o universal.

- De L'Interprétation, II, 19, Trad. Originale.


Nota 1 - Cf. Physique, I,1 : "São os conjuntos geralmente confusos e compostos que são primeiro manifestados para nòs [....]; é em seguida [....] que a partir deles os elementos e os princìpios se fazem conhecer pela anàlise. [...] Assim, as crianças chamam primeiro todos os homens de pai, e de mãe todas as mulheres; é depois que elas os distinguem dos outros."

Nota2 - Aristòteles opõe o particular ( Kath'hekaston), a substância, aos universais (Kathodon) incluindo as espécies e os gêneros.


A dedução cientìfica

Nòs pensamos verdadeiramente conhecer alguma coisa [....] quando nòs acreditamos conhecer que a causa pela qual um fato existe, é verdadeira, e que não é possìvel que seja de outra maneira. Então é evidente que é nisso que consiste o conhecimento cientìfico. [....] O que é verdadeiramente ciência não pode ser outra coisa do que ele é. [....] Nòs afirmamos que é pela demonstração que nòs conhecemos. Por demonstração eu compreendo um raciocìnio (silogismo) cientìfico, e com essa afirmação eu compreendo um raciocìnio que nos dà um conhecimento pelo simples fato de compreendê-lo. [....] È necessàrio que a ciência demonstrativa deva proceder de prémisses verdadeiras, primeiras, imediatas, mais conhecidas do que a conclusão, anteriores a ela, e de quais elas são as causas.

- Seconds Analytiques, 1,2, 71B9Q., Trad. Originale.

A Lògica

Com Aristòteles acaba a idade clàssica da filosofia grega. Esse aluno de Platão se afasta progressivamente do ensinamento de seu mestre. Quando este morre, ele funda um centro rival da Academia, o Lycée. Ele utilisa uma filosofia preucupada de rigor conceitual como de observação empìrica, bem mais voltada em direção do mundo real do que para as matemàticas.

A relação sujeito-predicado

Seus inùmeros centros de interesse intelectual o levam a reflechir sobre a natureza da ciência e do conhecimento, graças a uma disciplina preliminar, a lògica ( ou "analytique") que ele expõe em uma série de tratados ( Catégories, De l'interprétation, Analytiques, etc.) regroupados com o nome genérico de Organon ( "instrumentos", em grego). Como ele explica no De l'interprétation, a linguagem não é fechada nela mesma, mas exprime um pensamento capaz de descrever objetivamente a realidade.
Isso não é possìvel atravéis termos isolados, mas pelas proposições declarativas ou afirmativas, ùnicas susceptìveis de ser verdadeiras ou falsas, e então de nos ensinar alguma coisa do real.
Essas proposições declarativas-" afirmam alguma coisa de alguma coisa" ( De l'interprétation, 5) atribuindo a um sujeito gramatical (S) um predicado (P) como em " Sòcrates (S) é um homem (P) ". Aristòteles analisa essa relação sujeito-predicado como um traço fundamental da realidade: é a possessão por um ser particular, chamado substância, de diversos atributos. Dessa substância, ele dà uma definição gramatical e negativa: é o que não pode figurar a tìtulo de predicado em uma proposição. Nòs podemos dizer " Sòcrates é um homem", mas não "um homem é Sòcrates". Ao contràrio, nòs podemos também dizer "Bucéphale é um cavalo" que o "cavalo é um mamìfero". O cavalo então não é uma substância no seu senso exato, mas no senso segundo. È um universal, no caso presente, uma espécie. È da mesma maneira para os outros universais, que correspondem às Idéias de Platão, com a diferença que Aristòteles recusa de considera-los como "substâncias" separadas do real. Os universais residem "nas" substâncias, segundo um hierarquia necessària ("athénien", "homem", "ser vivo"), e sem existir separadamente, "ao lado" delas.
È sobre esses universais e suas relações mùtuas que consiste verdadeiramente a ciência.
Mas como reconhece-los ?
Nos tratados Seconds analytiques, Aristòteles recusa a solução platônica da reminiscência, lhe substituindo a indução que permite de ver o universal (espécies, gêneros) no particular (um indivìduo, uma substância). Exemplo: vendo Sòcrates, nòs vemos também que ele é um homem. O silogismo vai em seguida expor esse saber obtido pela indução em um raciocìnio lògico que, partindo de proposições gerais, " Todo homem é um animal. Todo animal é mortal. Então todo homem é mortal."
A lògica de Aristòteles é a base do racionalismo ocidental. Ela deixarà uma poderosa influência na filosofia, lhe legando a maior parte de seus conceitos e de seus problemas. Na Idade Media, a briga dos universais, sobre o estatuto dos termos do Organon, vai opor os nominalistas, que os reduzem a sinais linguìsticos, e os realistas, pròximos do platonismo tradicional. No século XVII., Descartes declara essa lògica estéril, enquanto que Leibniz tentarà moderniza-la. Um século mais tarde, a primeira Crìtica de Kant seguirà o plano de um manual de lògica. Serà preciso esperar o fim do século XIX. para que o Alemão Gottlob Frege ( 1848 - 1925 ) venha fundar a lògica moderna substituindo ao modelo predicativo da proposição uma anàlise fundada na função e no argumento.

- O. S. -

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Frédéric Bastiat ( 1801 - 1850 )


" O que faz existir o Estado, é a substância dos povos "

Sò existe dois meios de se procurar as coisas necessàrias à conservação, ao embelezamento e ao aperfeiçoamento da vida : a produção e a espoliação. Algumas pessoas dizem: a espoliação é um acidente, um abuso local e passageiro, murchado pela moral, reprovado pela lei, indigno de ocupar a economia polìtica.
Todavia, qualquer benevolência, qualquer otimismo que nòs tenhamos no coração, nòs somos forçados de reconhecer que a espoliação se exerce nesse mundo sobre uma muito vasta escala, que ela se mistura muito universalmente a todos os grandes fatos humanos para que nenhuma ciência social, e a economia polìtica sobretudo, possa se dispensar de leva-la em conta.
Eu vou mais longe. O que separa a ordem social da perfeição ( pelo menos aquela de qual ela é susceptìvel ), é o esforço constante de seus membros para viver e se desenvolver as custas uns dos outros.
De maneira que se a espoliação não existisse, a sociedade sendo perfeita, as ciências sociais seriam sem objeto.Eu vou mais longe ainda. Quando a espoliação tornou-se o meio de existência de uma aglomeração de homens unidos entre eles pelo elo social, eles fizeram logo uma lei para sanciona-la, uma moral que a glorifica. [...]
Vàrias vezes a massa é espoliada e não o sabe. È mesmo possìvel que ela acredite dever tudo à espoliação. [....]
O Estado [....] tem tendência a ultrapassar o nìvel de seus meios de existência, ele se desenvolve na proporção desses meios, e o que o faz existir é a substância dos povos. Infelicidade então para os povos que não sabem limitar a esfera de ação do Estado. Liberdade, atividade privada, riqueza, bem estar, independência, dignidade, tudo vai passar. [....] Enfim, nòs inventamos o governo representativo e , a priori, nòs poderiamos acreditar que a desordem iria cessar como encanto.
Com efeito, o princìpio desses governos é o seguinte: " A população ela mesmo, atravéis seus representantes, decidirà a natureza e a extensão das funções que ela julga necessàrias de constituir em serviços pùblicos, e a cotação da remuneração que ela pretende atribuir a esses serviços. "A tendência de apoderar-se dos bens de outrem e a tendência a defender seus bens estando dessa maneira " mises en présence". Nòs deverìamos pensar que a segunda ultrapassaria a primeira.
Certes, eu estou convencido que a coisa serà um sucesso com o tempo. Mas é preciso assim mesmo confessar que até agora ela não conseguiu.
Porquê ? Por dois motivos bem simples: os governos tiveram demasiadamente, e as populações muito pouco de sagacidade.
Os governos são muito hàbeis. Eles agem com método, com perseverança, com um plano combinado e constantemente aperfeiçoado pela tradição e pela experiência. Eles estudam os homens e suas paixões. [.....] Se a nação é generosa, eles se oferecem para curar todos os males da humanidade.
Eles reerguerão, dizem eles, o comércio, farão prosperar a agricultura, desenvolverão as fàbricas, incentivarão as letras e as artes, acabarão com a miséria, etc., etc. Trata-se apenas de criar funções e pagar funcionàrios.Em uma palavra, a tàtica consiste a apresentar como serviços efetivos o que sò é obstàculo; então a nação paga não para ser servida, mas desservida. Os governos tendo proporções gigantescas, acabou absorvendo a metade dos recursos. E o povo se surpreende de trabalhar tanto, de escutar o anuncio das invenções maravilhosas que devem multiplicar infinitamente os produtos e ......de sempre ser o "Gros-Jean comme devant "
È que, enquanto o governo emprega tanta habilidade, o povo não demonstra nenhuma.
Assim, chamado para escolher seus encarregados dos poderes, aqueles que devem determinar a esfera e a remuneração da ação governamental, quem eles escolhem ? Os agentes do governo. Ele encarrega o poder executivo de fixar ele mesmo o limite de sua atividade e de suas exigências.
Ele faz como o "Bourgeois gentilhomme", que, para a escolha e o nùmero de suas roupas, sempre procura....seu alfaiate.


- Frédéric Bastiat - " Physiologie de la Spoliation ", In Sophismes Èconomiques ( 1845 - 1848 )



F. Bastiat e o Estado espoliador


Mesmo permanecendo divididos sobre a contribuição de Frédéric Bastiat ( 1801- 1850 ) a ciência econômica, os historiadores o consideram unanimamente como o mais talentuoso vulgarizador das leis fundamentais dessa disciplina.
A originalidade de seu método vem do seu caràter literàrio. Bastiat é excelente na arte de tornar evidente uma verdade econômica atravéis simples fàbulas ou paràbolas. Longe das ficções de l'Homo economicus, ele se emprega a denunciar os sofismas dos homens reais " de quais as palavras são leis", " à rebours donc du rule of law", " o estado de direito", que para os liberais clàssicos quer que a lei garanta a liberdade e a igualdade dos cidadãos contra as tentativas de instrumentalização do Estado por tal casta ou tal grupo de interesse.



O Estado espoliador


" Physiologie de la spoliation", que abre a segunda série dos Sophismes économiques ( 1845 - 1848 ), publicado antes da revolução de fevereiro 1848, é a pierre d'angle de seu pensamento.Da mesma maneira que Benthan, pai do utilitarismo, Bastiat coloca o càlculo dos prazeres e das màgoas no coração de sua antropologia.
Examinando as consequências econômicas desse càlculo, ele sò pode constatar que entre os dois modos de enriquecimento, o trabalho e a espoliação, as minoridades dirigentes, apòs ter historicamente escolhido a espoliação direta, " a lei do mais forte", têm tendência a optar doravante, nos regimes constitucionais, pelo que Bastia chama a " espoliação legal" , " a lei do mais fino ". " A raposa no galinheiro " não é então para Bastiat a figura do " deixe fazer, deixe passar ", mas a do Estado protecionista, que utiliza a coerção legal para despojar os mais fracos desprezando o interesse geral.
Enquanto que os socialistas deram abusivamente o nome de " acumulações capitalistas" às concentrações artificiais de capitais devidas aos monopòlios concedidos pelo Estado, os liberais jà tinham refutado essa anàlise demonstrando que não é o capital que conduz ao paupérismo mas " a proteção do trabalho nacional", forma suprema da espoliação legal, que na monarquia de Julho semeava a miséria organizando artificialmente a superprodução. Na nova repùblica defendida por Bastiat na Assembleia, sò falta aos espoliados que formam a maioria de se reconhecer como tal para que a verdadeira revolução social, inaugurada em 1789, a revolução liberal, prossiga seu caminho.



Posteridade americana


Se Bastiat visava as pessoas polìticas de seu tempo, sua crìtica social adquiriu no curso do século XX um impacto universal pelo sucesso que ela encontrou, principalmente outre- Atlantique.
Não é abusivo de considerar a ascensão de um Ronald Reagan nos Estados Unidos como um sucesso pòstumo de Bastiat pois é na ocasião das formações organizadas pelos salariados da General Electric, onde ele utilizava os panfletos de Bastiat como material pedagògico, que o futuro presidente revelou seus talentos de grande comunicador e foi incentivado a se lançar na polìtica. A redescoberta de Bastiat, o " Franklin francês", conjugada à influência exercida pelos grandes economistas austrìacos Mises e Hayek sobre os neoliberais americanos, é um dos elementos que conduz hoje os pesquisadores a reconsiderar a tese de essência anglo-saxonne do liberalismo.

- Michel Leter, coauteur do livro l'Histoire du liberalisme en Europe ( PUF, 2006 )

domingo, 28 de outubro de 2007

De la constance du Sage

" Da constância do Sàbio " - Seneca

I

Existe entre os estòicos e os filòsofos das outras escolas a mesma diferença que existe entre os homens e as mulheres; eu creio poder dizer, Sérénus, sem temer de me enganar.
Com efeito, se cada um dos sexos dão uma igual contribuição a vida em comum, um é nascido para obedecer, o outro para comandar. Os outros sàbios são moles e carinhosos: nòs poderìamos compara-los aos médicos domésticos que para cuidar das doenças não empregam os remédios mais eficientes e os mais ràpidos mas aqueles que o doente aceita. Os estòicos seguem o caminho viril; pouco lhes importa que ele pareça agradàvel àqueles que nele se engajam; o que eles querem, é nos levar até o cume supremo, que se situa fora de todo alcance e dominio até mesmo da Fortuna.
2. - Mas o caminho que eles nos fazem seguir é escarpado e acidentado ! - Eh quoi ! Serà que chegamos ao cume por um caminho plano ?
[...]


III

4. Eu chamarei bravo o homem que não se deixa estarrecer nem pela guerra nem se terrorizar pela marcha do exército inimigo, e não aquele que passa um bom tempo entre uma companhia de ociosos.

5. Então eu afirmo com firmeza que o Sàbio não é jamais atingido pela injustiça !

[....]


IV

[.....]
2. Você acredita que quando um rei insensato obscurece o céu com uma chuva de flechas, uma ùnica dentre elas tenha tocado o sol ? (1) ou que as correntes que ele fez jogar no fundo do mar tenham feito cair Neptune em uma armadilha ? O divino escapa às mãos dos homens e os assaltantes dos templos que fazem derreter as estàtuas não lhe causam nenhum dano

[....]

Nota 1 - trata-se de Xerxés, archétype do rei insensato

3. [.....] talvez a sabedoria mostre melhor sua força guardando a calma no meio dos ataques, da mesma maneira que o general sò pode provar melhor a superioridade de suas armas e de seus soldados demonstrando uma perfeita tranquilidade no territòrio inimigo.

[.....]


V

[....]

2. Nòs somos mesmo tão estùpidos que não é apenas a dor que nos faz sofrer, mas também a idéia da dor [....]
3. A injustiça tem por objetivo de fazer mal. Ora a sabedoria não deixa nenhuma possibilidade para o mal: o ùnico mal para ela é a vergonha, que não saberia penetrar onde reinam o Bem e a Virtude. [....]

4. [.....] O Sàbio, não pode perder nada: ele visou tudo nele mesmo; ele não dà nenhum crédito à Fortuna. Para todos os seus bens, ele fez um investimento seguro, pois ele se contenta da virtude, que não espera nada do acaso e por conseguinte não saberia nem crescer nem diminuir (1) [.....]
A virtude é livre, inviolàvel, imperturbàvel, indéracinable, a tal ponto endurecida contra os golpes da sorte que, longe de abatê-la, eles não poderiam nem mesmo dobra-la. Diante o preparativos dos suplìcios mais terrìveis, ela guarda os olhos bem abertos. Nas provações como na felicidade, jamais ela vacila.
5. Dessa maneira o Sàbio não perderà nada de qual ele deva sentir a perda: o ùnico bem que ele possui é a virtude, de qual jamais ninguém poderà despojà-lo. [....]

Nota 1 - Ver sobre esse tema a Lettre ( XVI ) na qual nòs podemos ler o seguinte : " O quê podemos acrescentar à perfeição ? Nada ! Não é a perfeição se nòs podemos lhe acrescentar alguma coisa. È da mesma maneira para a virtude: o quê nòs poderìamos lhe acrescentar, é o que lhe teria faltado".

6. Démétrius, que foi chamado Poliorcéte (1), apoderou-se da cidade de Mégare. Ele perguntou ao filòsofo Stilpon (2 ) se ele tinha perdido algum bem : " Nenhum respondeu Stilpon; todos os meus bens estão comigo". Portanto, seu patrimônio caiu nas mãos do inimigo que também capturou suas duas filhas, sua pàtria foi dominada pele jugo estrangeiro e ele mesmo se viu interrogado, do alto de um tribunal por um rei cercado de suas tropas vitoriosas.
Nota 1 - Poliorcéte, "destruidor de cidades" em grego, era o apelido de Démétrius, rei de Macédoine ( 337 - 283 av. J.-C), que foi o libertador da Grécia.

Nota 2 - Stilpon de Mégare ( III século av. J.-C.) foi um dos discìpulos de Euclide de Mégare, ele mesmo discìpulo de Sòcrates, que fundou a escola de Mégare. Stilpon foi o mestre de Zénon.

7. Mas Stilpon arrancou ao vencedor sua vitòria e testemunhou, enquanto sua cidade era dominada, e que ele era invencìvel e mesmo indene: seus verdadeiros bens, ele os guardava com ele e ninguém podia botar a mão neles. Aqueles que o inimigo pilhava e roubava, ele não os julgava como sua propriedade: eram a seus olhos suplementos, submetidos aos caprichos da Fortuna; assim ele não tinha por eles o apego de um proprietàrio.
Todos os objetos que nos vêm do exterior sò podem nos pertencer de maneira ilusòria e efêmera.


VI

8.Saiba então, Sérénus, que esse homem perfeito, realizado nas virtudes humanas e divinas, não pode perder nada. Seus bens são defendidos por uma fortaleza robusta e inabalàvel. [.....]

VII

[.....]

2. Enfim, o que fere é necessariamente superior ao que é ferido. Ora a perversidade não é mais forte que a virtude: o Sàbio não pode então ser ferido. Apenas os maus tentam prejudicar os bons, que vivem em paz entre eles. Se nòs sò podemos ferir o mais fraco, se por outro lado o mau é mais fraco que o bom e se o bom sò pode temer a injustiça da parte de um homem que não é seu igual, então a injustiça não pode atingir o Sàbio. Pois eu não preciso mais te dizer que apenas o Sàbio é bom.

IX

[.....]

5. Assim, nos jogos sagrados, o vencedor é vàrias vezes aquele que cansa o braço de seu adversàrio com uma resistência inabalàvel: o Sàbio pertence à raça desses campeões que, por um longo e constante treinamento, adquiriu a força de receber os golpes do adversàrio e de usar sua resistência.

XI

1. Além disso, como sempre as ofensas vêem de pessoas orgulhosas e insolentes, que vivem mal a prosperidade delas, o Sàbio tem o meio de desprezar a arrogância de qual elas são inchadas graças a mais bela de todas as virtudes: a grandeza da alma ( 1). Ela passa sem parar diante todas essas baixezas, como diante os fantasmas de um sonho, de visões noturnas sem consistência nem realidade.

Nota 1 - Os estòicos classificam essa virtude ( magnitudo animi ) na categoria da coragem. Stobée a definiu da seguinte maneira: " A ciência racional que classifica o indivìduo além do que, pela pròpria natureza, não pode deixar de acontecer ao Sàbio e àqueles que não o são. Ela aparece como a forma mais alta da Vontade e da afirmação da pessoa.

[.....]
- Sénéque - De la constance du sage
Tradução e apresentação de Pierre Miscevic
GF - Flammarion

François Guizot ( 1787 - 1874 )


" Se fazendo reconhecer, a superioridade se faz obedecer "

Peguem homens livres, independentes, estrangeiros a toda necessidade anterior de subordinação alguns com relação aos outros, unidos unicamente pelo interesse de um objetivo comum; peguem as crianças nas suas brincadeiras que são o assunto delas. No meio dessas associações voluntàrias e simples, como nasce o poder ? para quem vai ele na sua inclinação natural e pela confissão de todos ? ao mais corajoso, ao mais hàbil, àquele que se faz acreditar o mais capaz de exerce-lo, quer dizer de satisfazer ao interesse comum de realizar o pensamento de todos. Enquanto nenhuma causa exterior e violenta não venha incomodar o curso espontâneo das coisas, é o bravo que comanda, o hàbil que governa. Entre os homens abandonados a eles mesmos e as leis de sua natureza, o poder acompanha e revela a superioridade. Se fazendo reconhecer, ela se faz obedecer.
Esta é a origem do poder; não existe outra. A superioridade sentida e aceita, é o elo primitivo e legìtimo das sociedades humanas; é ao mesmo tempo o fato e o direito, é o verdadeiro, o ùnico contrato social. [....] Porque se a sociedade não é destinada a desaparecer, cedo ou tarde é preciso que ela triunfe, quer dizer que o poder escape às superioridades que se tornaram falsas ou antisociais, para passar às superioridades novas que provarão que elas o merecem, e o exercerão no interesse dos povos por quem elas serão aceitas.
Eis nisso todo o segredo das revoluções, todo o objeto dos governos livres. È, em particular, o ùltimo objetivo como princìpio fundamental do governo representativo. Ele se propõe precisamente de estabelecer, entre a sociedade e o poder, a relação natural e legìtima deles, quer dizer de impedir que o poder permaneça em direito onde ele não existe mais em fato, de o fazer constantemente cair nas mãos das superioridades reais e capazes de exerce-lo segundo sua destinação.
Les chambres, a publicidade dos debates, as eleições, a liberdade da imprensa, o jury, todas as formas desse sistema, todas as instituições que nòs encaramos como suas consequencias necessàrias, têem por objetivo e por resutado de " fouiller" ( 1 ) sem cessar na sociedade, de ressaltar as superioridades de todos os gêneros que ela contem, de leva-las ao poder, a apòs tê-las colocado nele, de obriga-las a merece-lo sob a ameaça de perde-lo, obrigando-as a utilizar esse poder publicamente e por meio de vias acessìveis a todos.
Sistema admiràvel, pois ele é conforme a verdade das coisas, pois ele resolve o problema da aliança do poder com a liberdade; de um lado, sò concedendo o poder à superioridade, por outro lado, impondo a essa superioridade a lei de se provar ela mesma, de se fazer constantemente aceitar.

- Des Moyens de Gouvernement e D'Opposition dans l'Ètat Actuel de la France-
François Guizot ( 1821 )

Nota 1 - Fouiller - [fuje] vtr revistar; vi procurar.

[......] È preciso sacudir o jugo das palavras e ver os fatos da maneira que eles são realmente. A França é ao mesmo tempo muito nova e repleta do passado. Sob o império dos princìpios de unidade e de igualdade que presidem à sua organização, ela encerra condições sociais e situações polìticas profundamente diversas e desiguais. Não existe classificação hieràrquica, mas existem classes diferentes. Não existe aristocracia propriamente dita, mas existe outra coisa que a democracia.

- De la Démocratie en France -François Guizot ( 1849 )



F. Guizot ou o elitismo esclarecido


Ministro na monarquia de Julho, historiador e teòrico " à la source de l'orléanisme", François Guizot ( 1787 - 1874 ) elabora um pensamento dirigido para a ação, um liberalismo demasiadamente singular que vê na potência do Estado a melhor garantia das liberdades. Seu ensaio, Des moyens de gouvernement et d'opposition dans l'état actuel de la France ( 1821 ), possui a força de um manifesto, o Antigo Regime aristocràtico e a democracia naissante se encontram rejeitados em um mesmo movimento.


A "superioridade sentida"


No extrato acima, Guizot se dirige a uma oposição liberal que ele julga sem ambição, excitando-a a desejar o poder. Estabelecendo uma equivalência entre o comportamento dos homens livres e o das crianças, ele concebe um poder essencialmente natural e bom. È preciso ressaltar que ele considera os homens em grupo, e não o indivìduo singular. Para Guizot, existe interpenetração entre o poder e a sociedade, que nascem juntos da " superioridade sentida e aceita". Um certo mistério, uma sorte de religiosidade laïque, envolve esse sentimento de reconhecimento que induz à obediência. O "verdadeiro e ùnico contrato social" não é o fruto do consentimento entre os homens, mas esse elo social que constròi quase de uma maneira màgica essa " superioridade sentida"
A maneira pela qual Guizot descreve a eletricidade, a força viva que anima a sociedade, é particularmente original. O governo funciona como um empreendimento de discernimento, as instituições liberais e representativas tendo por função de extrair da sociedade a razão pùblica que é a ùnica que tem o direito de governar. O verbo "fouiller" exprime com força suficiente o caràter ativo da representação.
A legitimidade do poder, sempre a provar, reside na compreensão que o governo tem do povo governado. Essa recusa de conceder ao poder a soberania do direito é propriamente liberal. Nesse tipo de liberalismo, o conhecimento do social passa assim pelo Estado e seus meios administrativos. Governar consiste a se introduzir em um sistema de necessidades, de interesses e de opiniões. Na obra de Guizot essa concepção dinâmica e viva liga o poder a noção de eficacidade. Ora, a sociedade e os corpos do Estado são intimamente ligados. È então da competência do poder pùblico de determinar quais são os homens mais "capazes" para governar. Guizot insiste no caràter benéfico da desigualdade, fonte de complémentarité e de equilibrio. A igualdade sò poderia dar origem a um estado conflitual.
Ele também permanece convencido dos efeitos positivos do sufràgio censitaire que permite de reprimir o sufràgio ignorante. Ele convida dessa maneira a elite liberal a admirar um sistema que ele sabe " conforme a verdade das coisas". Onde a classe média se distinguiria em virtude de um critério objetivo. Onde a razão seria imposta com a força da evidência.....


Contra a democracia


Afastado do poder apòs a revolução de 1848, triste e indignado, Guizot continua a sonhar, no livro De la Démocratie en France ( 1849 ), dessa "aristocracia verdadeira" que não tem mais legitimidade na sociedade. Se seu pensamento, obstinadamente hòstil à democracia, nos parece estrangeiro, suas intuições sobre a legitimação pelo social, sobre a importância dos grupos de interesse ou sobre a função estruturante do Estado, continuam vivas na França do século XX. Valéry Giscard d'Estaing reinvidicava tudo isso quando ele pretendeu examinar o "paìs real". A intuição da legitimação pelo social se difundirà igualmente no seio da esquerda, principalmente na social-democracia.


- Olivia Leboyer, professora a l'IEP de Paris -

sábado, 27 de outubro de 2007

Lettre à Sophie Volland

[ 15 mai 1765 ]

Sim, terna amiga, ainda terà um concerto; e esse concerto serà um encanto; é senhor Grimm que me promete. Que eu saiba então no pròximo domingo se vocês irão e quantos vocês serão, para que eu possa adquirir os ingressos. Eu te serei grato de fazer de maneira que M. Gaschon também esteja presente; quando eu conheço um grande prazer, eu não posso me impedir de desejar o mesmo gozo a todos aqueles que eu amo. Vocês voltarão todos embriagados de admiração e de alegria, e eu aproveitarei de uma parte desses sentimentos vos revendo, vos escutando, e vos olhando. Oh as belas fisionomias que vocês terão ! Mas como a fisionomia de um homem transportado de amor e de prazer é tão bela de ver, e que vocês são donas de ter, quando vocês querem, sob vossos olhos esse quadro tão emocionante e tão lisonjeiro, porquê vocês se privariam dele ? Que loucura ! Vocês ficam encantadas se um homem, bem apaixonado, liga a vossos olhos seus olhares plenos de ternura e de paixão. A expressão deles passa em vossa alma, e ela treme. Se seus làbios ardentes tocam vosso rosto, o calor que eles excitam vos atordoa; se esses làbios se colam aos vossos làbios, vocês sentem vossa alma voar para vir se unir a alma dele; se nesse momento suas mãos apertam as duas mãos de vocês, espalha-se sobre todo vosso corpo um tremor delicioso. Tudo vos anuncia uma felicidade infinitamente maior, tudo vos convida a ela, e vocês não querem morrer e fazer morrer de prazer. Vocês se recusam a um momento que tem sua delìcia, aquele onde esse homem acabou de ter possuido esse objeto que ele aprecia mais que o universo inteiro, e derrama uma enchente de làgrimas. Se vocês sairem desse mundo sem ter conhecido essa felicidade, vocês poderão vos lisonjear de ter sido felizes e de ter visto e feito um homem feliz ?
Não esqueça de me fazer saber se o assunto do contrato é realizàvel, ou não, seja por senhor Duval, seja por M. Le Gendre.
Bonjour, terna amiga. Quanto eu vos estimo e quanto eu vos amo ! O bonito quadro que eu verei e que eu vos mostrarei se você quiser !Mas você não conhece nada disso. Isso é lamentàvel portanto.

- Denis Diderot - Lettres à Sophie Volland



A mais celébre das correspondências do século do Iluminismo, um documento de primeira ordem sobre a sociedade literària e "filosòfica" da época. Mas também um interessante curioso romance de amor. Foi, como dizia Diderot ele mesmo que encontrou em 1754 Louise-Henriette Volland rebatizada Sophie uma " liaison douce", um assunto de cabeça e de estima mais do que uma paixão carnal. Talvez porque Mme Volland vigiava com severidade sua filha ou porque esta estimava demasiadamente sua irmã. " Me esquecer nos braços de sua irmã ? Madame, cuide um pouco de sua saùde, e pense que o prazer também cansa", escreve um dia Denis a Sophie. E um outro: " Eu sò permito vossa boca a vossa irmã". Seja o que for, a " liaison douce" dura o mesmo tempo que a vida dos dois amantes e "irmão Platão" como dizia Voltaire, morreu cinco meses apòs sua Héloïse.


[21 juillet 1765]


Bem que eles me disseram que era um sonho, mas porquê eles não disseram tudo de uma ùnica voz que era um sonho negativo ? Existia entre eles alguns para quem natureza teria concedido um melhor espìrito, uma alma mais doce, uma melhor amiga que a minha ? Não. È que essa natureza é uma louca que estraga com uma mão o que ela faz bem com a outra; é que ela se divertiu a misturar "de chicotin" (1) o pouco de bonbons que ela dà a suas crianças; é que o sistema dos dois princìpios, um benevolente, outro malevolente, sistema que foi tão geralmente espalhado na terra, não é tão extravagante quanto se diz na Sorbonne; é que é preciso passar por isso ou acreditar no Jupiter de Homère que encerrou em dois tonéis todos os bens e todos os males da vida de quais ele forma uma chuva misturada que cai sem cessar na cabeça dos pobres mortais, que são alguns um pouco mais ou um pouco menos molhados de mal ou de bem que os outros, mas que todos chegam na ùltima moradia quase igualmente encharcados. Se a vida não fosse assim, quem poderia se resolver a deixa-la ? Se fosse um fil de felicidade pura e sem mistura, quem é que quereria expo-la por sua pàtria, sacrifica-la por seu pai, sua mãe, sua esposa, seus filhos, seu marido, sua amante ? ninguém. Os homens seriam apenas um vil rebanho de seres felizes. Não existiria ações heròicas. Eles viveriam embriagados e morreriam enraivecidos. Voilà, minha amiga, um preâmbulo honestamente longo, é que é preciso que tudo, até mesmo essa carta, tenha o caràter das coisas desse mundo.


.....Anda. Faz-me preparar um nicho grande como a mão, pròximo de você, onde eu me refugie longe de todas essas màgoas que vêm me atormentar. Não pode existir felicidade para um homem simples como eu, no meio de oitocentas mil almas. Que eu viva obscuro, ignorado, esquecido, perto daquela que eu amo. Jamais eu lhe causarei a mìnima tristeza, e perto dela o sofrimento não ousarà se aproximar de mim.Està pronto esse pequeno asilo ? Você quer compartilha-lo, nòs nos veremos de manhã; eu irei acordando, saber como foi sua noite; nòs conversaremos; nòs nos separaremos para queimar de nos unir-mos. Nòs jantaremos juntos. Nòs iremos passear longe, até que nòs encontraremos um lugar escondido onde ninguém nos perceba. Là, nòs nos diremos que nòs nos amamos, e nòs nos amaremos. Nòs traremos nas poltronas a doce e leve fadiga dos prazeres e nòs jogaremos, se o jantar " se fizer muito esperar". Nòs iremos em uma cama bem macia, a alma contente, o espìrito livre, o corpo sadio, esperar um amanhã tão bonito quanto a véspera e nòs passaremos um século sem que nossa espera seja jamais enganada. O lindo sonho. - Le beau rêve.

- Diderot - Lettres à Sophie Volland
Escolha e prefàcio de Jean Varlot
Folio - classique


Nota 1

Chicotin : " suco amargo da coloquinte de qual as amas o esfregam no seio quando elas querem desmamar as crianças";
" drageias forte amargas nas quais nòs misturamos o chicotin " ( Littré ).

De la providence - Sénèque


"Da providência" - Seneca

I
1 - Você me perguntou, Lucilius, porquê, se o mundo é dirigido por uma Providência, os homens de bem são tantas vezes expostos a infelicidade. Eu te responderia mais facilmente no contexto de uma obra onde eu demonstraria que existem uma Providência presidindo ao universo e um deus presente entre nòs. Mas como você deseja que eu separe uma pequena parte desse conjunto e que, sem tocar ao fundo do problema, eu refute essa ùnica objeção, eu o farei, e sem dificuldade: é a causa dos deuses que eu defenderei !
[....]

5 - Eu vou te reconciliar com os deuses, que são muito bons com os homens que são muito bons: jamais com efeito a natureza suporta que o bem prejudique ao bem. Entre as pessoas de bem e os deuses existe um laço de amizade ligado pela Virtude. O que digo, uma amizade ? Trata-se na realidade de um parentesco e de uma similitude (1), pois o homem de bem sò é diferente da Divindade pela durabilidade; ele é seu discìpulo, seu émulo; ele é a verdadeira progenitura desse pai sublime que não transige na pràtica da Virtude e educa seu filho com a maior severidade paterna.

nota 1 - Para os estòicos, o Universo e o homem fazem um todo, é lògico que o homem aspire a realizar em si a ordem superior do macrocosmo, tornando-se " semelhante" a Divindade.


II

1.- Porquê os homens de bem são vìtimas de tantas infelicidades? - Nada de mal pode acontecer ao homem de bem: os contràrios não se unem ! Todos esses rios, todas essas chuvas que caem do alto do céu, todas essas fontes medicinais, não mudam o gosto da àgua do mar, nem a tornam doce; da mesma maneira, o choc da adversidade não muda nada em um homem de valor: ele permanece imperturbàvel e é ele que comunica a cada acontecimento sua pròpria cor, pois ele é mais poderoso que tudo que lhe é exterior.
2. [.....] Todos os contratempos de fortuna, ele os encara como ocasiões de se exercer.[....] Qual é o homem ativo que não considera o repouso como uma punição ?
[....]
4. Sem adversàrio, a coragem se esvanece; sua extensão e sua potência sò se manifestam nas ocasiões onde a resistência pode ser submetida a provação. [....]. O mais importante não é o objeto do sofrimento mas a maneira pela qual nòs o suportamos.
[.....]
6. A Divindade tem para com os homens de bem a alma de um pai e os ama com energia: " È preciso, diz ela, que eles sejam confrontados ao trabalho, aos sofrimentos, a todos os problemas: é dessa maneira que eles vão adquirir a verdadeira força. " [....]
A felicidade que jamais conheceu nuvens negras não suporta nenhum choque; ao contràrio, quando nòs estamos habituados a lutar contra a adversidade, nòs nos endurecemos, nòs não cedemos jamais a infelicidade, e se nòs caimos, nòs combatemos mesmo de joelhos.


III


3. [....] " Eu não vejo nada mais infeliz que um homem que jamais conheceu a adversidade". Com efeito, um tal homem nunca teve a ocasião de se submeter a provação. Supondo que seus desejos sempre tenham sido realizados, e mesmo prevenidos: os deuses têem assim mesmo uma mal opinião deles. Eles não o julgaram digno de vencer um dia a Fortuna, que deixa tranquilos todos os covardes e parece dizer : " Porque eu pegaria esse homem como adversàrio ? Ele vai logo entregar as armas; não é preciso que eu use contra ele toda a minha potência, ele não pode sustentar minha vista. Eu devo procurar um com quem eu possa lutar. Eu teria vergonha de combater contra um homem pronto para se deixar vencer !
4. Para o gladiador, é uma desonra lutar contra um adversàrio que não é de seu nìvel: ele sabe muito bem que vencer sem perigo, é triunfar sem glòria....È da mesma maneira para a Fortuna: são os mais bravos que ela provoca em combate singular; os outros, ela os despreza e passa. Ela ataca os mais fortes, os mais orgulhosos, afim de utilizar contra eles toda a sua força. [.....]
Os grandes exemplos sempre se acompanham da mà fortuna - mauvaise fortune -

IV

1. A prosperidade também pode pertencer aos homens do povo e as almas baixas; mas as misérias e os terrores dos mortais, sò cabe aos homens excepcionais de os jugular. Conhecer uma felicidade constante e atravessar a vida sem feridas na alma (1), é ignorar a metade da realidade.
Nota 1 - O texto latim diz : " mordidas da alma".

[....]

3. Eu posso dizer a mesma coisa ao homem de bem que a mà fortuna jamais permitiu que ele lhe mostrasse o vigor de sua alma: " A meus olhos, você e infeliz, porque você jamais conheceu a infelicidade ! Você atravessou a vida sem afrontar nenhum adversàrio; ninguém jamais saberà do que você é capaz, nem mesmo você." È preciso com efeito, para se conhecer, submeter-se a provação: nòs aprendemos a extensão de nossas forças graças a experiência. È por essa razão que algumas pessoas se jogaram diante as infelicidades que demoravam a chegar, oferecendo dessa maneira à virtude delas ameaçada de obscuridade a ocasião de brilhar no grande dia".
[.....]

5. A Divindade, eu repito, cuida dos homens que ela deseja levar ao mais alto grau de virtude, oferecendo-lhes a possibilidade de realizar atos corajosos e nobres para os quais é preciso afrontar obstàculos: o piloto se revela diante a tempestade, o soldado na batalha. Como eu posso conhecer sua firmeza diante a desonra, a infâmia, se você envelhece no meio dos aplausos, se jamais é desmentido o favor indestrutìvel e a simpatia geral que você goza ?
[....]
.6. Por favor, não vos deixe terrorizar pelas provações que os deuses vos enviam para estimular vossa alma: a infelicidade é uma chance para a Virtude.

[....]

8. " A Divindade nos julgou dignos de fazer a experiência dos limites da resistência humana. "


[....]

11. Dessa maneira, os deuses seguem para com os homens de bem o mesmo método que os professores com seus alunos: eles exigem mais trabalho daqueles em quem eles mais acreditam.

[....]

[....]

12. A Fortuna nòs dà golpes e nos fere ? Tenhamos coragem: não se trata de crueldade, mais de luta, e quanto mais nòs combatemos mais nòs sentimos nossa coragem.

[....]

13. De tanto sofrer, nòs acabamos desprezando esse sofrimento

[....]

[....]

16. Porquê te surpreender pelo fato que, para fortificar os homens de qualidade, nòs os subtemos à provação ? Não existe àrvore vigorosa e resistente que não seja sem cessar batida pelo vento : são os pròprios "solavancos" que a consolidam e a fixam com mais firmeza a suas raìzes. [....]
È do pròprio interesse dos homens de bem se eles querem não mais conhecer o medo, de se encontrar no meio dos perigos mais estarrecedores e de suportar com constância os eventos que sò são negativos na medida em que nòs não sabemos como lutar contra eles.



V


[....]


7. O destino é nosso mestre e o tempo que nos é dado é fixado desde nossa primeira hora. De uma causa nasce outra causa; os eventos, que eles sejam pùblicos ou privados, formam uma longa corrente. Se é preciso tudo suportar com coragem, é porque nada acontece por acaso, como nòs acreditamos, mas segundo uma lògica. [....]


[.....] sejam quais forem a nossos olhos a variedade das existências individuais, tudo volta a esse ùnico princìpio :efêmeros, nòs sò conhecemos o efêmero.

[....]

9. [....] para fazer um homem verdadeiro, de quem nòs sò devemos falar com respeito, é preciso um tecido mais resistente ! Seu caminho não serà plano: lhe serà necessàrio subir e descer, afrontar as tormentas e conduzir seu barco atravéis a tempestade; ele deverà manter seu objetivo contra os golpes da Fortuna. Ele encontrarà muitas provações e muitos obstàculos, mas ele saberà vence-los e supera-los ele mesmo.


- Sénèque - De la providence
Tradução e apresentação - Pierre Miscevic -
GF - Flammarion




Minha tradução é muito aproximativa, me perdoem, muita dificuldade de memòria atualmente , que Deus me ajude
Grata e um excelente fim de semana
Abraços fraternos !

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Mahatma Gandhi (1869 – 1948)


Mohandas Karamchand Gandhi, mais conhecido como "Mahatma" (grande alma) Gandhi, liderou mais de 250 milhões de hindus.

Mohandas Karamchand Gandhi nasceu no dia 2 de outubro de 1869 na Índia ocidental. Seu pai era um político local, e a mãe dele era uma Vaishnavite religiosa. À idade de 13, Mohandas foi casado com uma menina da mesma idade dele e começou uma vida de sexo ativa. Depois de um pouco de educação indistinta foi decidido que ele deveria ir para a Inglaterra para estudar Direito. Ele ganhou a permissão da mãe, prometendo se conter de vinho, mulheres e carne, mas ele desafiou os regulamentos de sua casta que proibiam a viagem para a Inglaterra.

Cursou a faculdade de Direito em Londres. Procurando um restaurante vegetariano, havia descoberto na filosofia de Henry Salt um argumento para o Vegetarianismo e se tornou convencido. Ele organizou um clube vegetariano e as pessoas se encontravam com teósofos e interesses altruísticos. Sua primeira leitura do Bhagavad-Gita estava em Edwin Arnold, a tradução poética: "A Canção Celestial". Esta escritura hindu e o Sermão da Montanha, se tornaram mais tarde as suas bíblias e guias de viagens espirituais. Ele memorizou o Gita em suas meditações diárias, logo após escovar os dentes e freqüentemente recitou seu sânscrito original em suas orações.

Quando Gandhi voltou à Índia em 1891 a mãe dele houvera falecido, e ele não obteve êxito a exercer na Índia sua profissão legal como advogado devido sua timidez. Assim ele aproveitou a oportunidade de ir para África do Sul durante um ano, representando uma firma hindu em Natal durante um processo judicial naquela terra .

África do Sul, imóvel notório para discriminação racial, deu para Gandhi os insultos que despertaram sua consciência social. Como advogado Gandhi fez o melhor para descobrir os fatos. Depois de resolver um caso difícil, ele passou deste modo a ser "visto" e comentado. Segundo ele: " eu tive um aprendizado que me levou a descobrir o lado melhor da natureza humana e entrar nos corações dos homens. Eu percebi que a verdadeira função de um advogado era unir rivais de festas a parte".

Ele também teimou em receber a verdade dos clientes dele, e se ele descobrisse que eles tivessem mentido, ele derrubaria os casos de seus clientes. Acreditava que o dever do advogado era ajudar o tribunal a descobrir a verdade, não tentar provar o culpado inocente. Ao término do ano durante uma festa de adeus antes que ele fosse viajar para a Índia, Gandhi notou no jornal que uma lei estava sendo proposta e que privaria os hindus do voto.

Os amigos dele o insistiram: "fique e conduza a briga para os direitos de nossos compatriotas na África do Sul." Gandhi fundou em Natal o Congresso hindu em 1894, e seus esforços eram uma vigorosa advertência para a imprensa.

Quando Gandhi retornou à África após buscar a esposa e filhos na Índia em janeiro de 1897,os sul-africanos tentaram interromper suas atividades de maneiras sórdidas, como subornando e ameaçando o agropecuário Dada Abdulla Sheth; mas Dada Abdulla era cliente de Gandhi, e finalmente depois de um período de quarentena, Gandhi recebeu permissão para aterrissar. A turba de espera reconheceu Gandhi, e alguns brancos começaram a espancá-lo até que a esposa do Superintendente Policial veio ao salvamento dele. A turba ameaçou lincha-lo, mas Gandhi escapou usando um disfarce.

Depois ele se recusou processar os que haviam lhe espancado, permanecendo firme ao principio de ego-restrição com respeito a uma pessoa infratora; além de que, tinha sido os líderes da comunidade e do governo Natal que haviam causado o problema. Não obstante Gandhi sentia o dever de apoiar o povo britânico durante a Guerra bôer, organizando e conduzindo um Corpo médico hindu para alimentar os feridos no campo de batalha. Quando trezentos hindus e oitocentos criados foram contratados, os brancos foram surpreendidos.

Gandhi acabou permanecendo vinte anos na África do Sul defendendo a minoria hindu, liderando a luta de seu povo pelos seus direitos . Ele experimentou o celibato durante trinta anos de sua vida, e em 1906 levou o juramento de Brahmacharya para o resto da vida dele.

O primeiro uso de desobediência civil em massa ocorreu em setembro de 1906. O Governo de Transvaal quis registrar a população hindu inteira. Os hindus formaram uma massa que se encontrou no Teatro Imperial de Joanesburgo; eles estavam furiosos com a ordem humilhante, e alguns ameaçaram exercer uma resposta violenta a ordem injusta.

Porém, eles decidiram em grupo a se recusarem a obedecer as providências de inscrição; havia unanimidade completa, apenas alguns se registraram. Ainda, Gandhi sugeriu aos indianos que levassem um penhor em nome de Deus; embora eles fossem hindus e muçulmanos, todos acreditavam em um e no mesmo Deus. Gandhi decidiu chamar esta técnica de recusar submeter a injustiça de Satyagraha que quer dizer literalmente: "força da verdade" . Uma semana depois de desobediência, as mulheres Asiáticas foram dispensadas do registro. Quando o governo de Transvaal finalmente pôs em pratica o Ato de Inscrição Asiático em 1907, Gandhi e vários outros hindus foram presos.

A pena dele foi de só dois meses sem trabalho duro, dedicando-se durante esse período à leitura. Durante a vida , Gandhi passaria um total de mais de seis anos como prisioneiro. Enquanto lendo em prisão Gandhi descobriu a "Desobediência Civil" de Thoreau e os trabalhos de Tolstoy. Logo ele começou a perceber cada vez mais as possibilidades infinitas do "amor universal".

O movimento de protesto para a conquista dos direitos indianos na África do Sul continuou crescendo; em um certo ponto foram presos 2.500 indianos dos 13,000 existentes na província, enquanto 6,000 tinham fugido de Transvaal.

Sendo civil aos oponentes durante a desobediência, Gandhi desenvolveu o uso de ahimsa que significa "sem dor " e normalmente é traduzido "não violência ". Gandhi seguiu o Ódio de preceito " o pecado e não o pecador . Desde que nós vivemos espiritualmente, ferir ou atacar outra pessoa são atacar a si mesmo. Embora nós possamos atacar um sistema injusto, nós sempre temos que amar as pessoas envolvidas. Assim ' ahimsa' é a base da procura para verdade".

Gandhi também foi atraído a vida agrícola simples. Ele começou duas comunidades rurais em Satyagrahis-Phoenix Farm e Tolstoy Farm. Escreveu e editou o diário "Opinião indiana", para elucidar os princípios e a prática de Satyagraha. Três assuntos foram apontados: a indagação para direitos dos hindus na África do Sul; sobre a proibição de imigrantes Asiáticos; e por fim, sobre o invalidamento de todos casamentos não Cristãos.

Em novembro de 1913 Gandhi conduziu uma marcha com mais de duas mil pessoas. Gandhi foi preso e solto por pagar fiança. Logo após o prenderam novamente e o libertaram, e novamente foi preso depois de quatro dias de liberdade. Foi então condenado ao trabalho forçado durante três meses, mas as greves continuaram, envolvendo aproximadamente 50.000 operários e milhares de índianos foram escravizados na prisão. Alguns missionários Cristãos doaram todo seu dinheiro para o movimento. Foram libertados Gandhi e outros líderes, e foi anunciada outra marcha. Porém, Gandhi recusou tirar proveito através de uma greve em uma estrada de ferro dos "brancos" (já que certa vez Mohandas Gandhi havia sido expulso de um compartimento de primeira classe de um trem, ao se recusar a "ceder" o seu lugar à um branco e se mover para a terceira classe), sendo que Gandhi cancelou a marcha, apesar de estar "quebrando" o penhor de Sujeira (1908). "Perdão é o ornamento do valente", Gandhi explicou.

Finalmente através de negociação os assuntos estavam resolvidos. Todos os matrimônios independente da religião eram válidos; os impostos em atrasos foram cancelados e inclusive os operários contratados; e foi concedida mais liberdade aos indianos.

Gandhi constatou o poder do método de Satyagraha e profetizou como poderia transformar a civilização moderna. "É uma força que, se ficasse universal, revolucionaria ideais sociais e anularia despotismos e o militarismo."

Enquanto isso a Índia ainda estava sofrendo debaixo de regra colonial britânica. Gandhi sugere que a Índia pode ganhar sua independência por meios não violentos e por via da ego-confianca. Ele rejeita a força bruta e sua opressão e declara que a força da alma ou amor e que se mantém a unidade das pessoas em paz e harmonia.

De volta a Índia em 1915, Gandhi passou a exercer o papel de conscientizador da sociedade hindu e muçulmana na luta pacífica pela independência indiana, baseada no uso da não violência. O uso da não violência baseava-se no uso da desobediência civil.

Gandhi estava pronto para morar nas ruas sujas intocáveis se necessário, mas um benfeitor anônimo doou bastante dinheiro que duraria um ano. Passa a ajudar os necessitados e as crianças carentes.

Em 1917 Gandhi ajudou as pessoas que trabalhavam em tecelagens, diante exploração injusta dos proprietários sobre esses trabalhadores. Ele foi detido, mas logo perceberam que o Mahatma era o único que poderia controlar as multidões.

Reformas foram ganhas novamente por meio da desobediência civil. Os trabalhadores têxteis de Ahmedabad também eram economicamente oprimidos. Gandhi sugeriu uma greve, e como os trabalhadores temiam as conseqüências dela, ele faz um jejum para encorajar que eles continuem a greve. Gandhi explicou que ele não jejuou para coagir o oponente, mas fortalecer ou reformar esses que o amaram. Ele não acreditou que jejuando resultaria em salários mais altos.

O primeiro desafio de Gandhi contra o governo britânico na Índia estava em resposta contra os poderes arbitrários do Rowlatt Act em 1919. A Índia tinha cooperado com a Inglaterra durante a guerra, no entanto estavam sendo reduzidas as liberdades civis.

Guiado por um sonho ou experiência interna Gandhi decidiu pedir um dia de greve geral. Porém, a filosofia de Mahatma não foi bem entendida pelas massas, e violências estouraram em vários lugares. O Mahatma se arrependeu declarando que tinha feito "um erro de cálculo", e ele cancelou a campanha.

Gandhi fundou e publicou dois semanários sem anúncios - a Índia Jovem em inglês e o Navajivan em Gujarati. Em 1920 Gandhi iniciou uma campanha de âmbito nacional de não cooperação com o governo britânico que para o camponês significou o não pagamento de impostos e nenhuma compra de bebida alcóolica, desde que o governo ganhou toda a renda de sua venda.

Gandhi realizou várias viagens ao longo de todo território índio, com a função de conseguir a conscientização em massa de todas as pessoas, mostrando a necessidade da prática da desobediência civil e do uso da não violência. Durante finais dos anos 20, Ghandi escreve uma auto-bibliografia retratando suas experiências vividas. Ele é bastante sincero nesse livro, chegando ao ponto de se humilhar pelos erros cometidos, mostrando o esforço de os superar. Nas falas ele mostra o programa de cinco pontos dos dedos da mão : "igualdade; nenhum uso de álcool ou droga; unidade hindu-mulçumano; amizade; e igualdade para as mulheres. Esses pontos (os cinco dedos representando o sistema) estavam conectados ao pulso, simbolizando a não violência.

Finalmente em 1928, ele anunciou uma campanha de Satyagraha em Bardoli contra o aumento de 22% em impostos britânicos. As pessoas se recusaram a pagar os impostos, sendo repreendidas pelo governo britânico. No entanto os indianos continuavam não violentos. Finalmente, após vários meses, os britânicos cancelaram os aumentos, libertaram os prisioneiros, e devolveram as terras e propriedades confiscadas; e os camponeses voltaram a pagar seus tributos.

Ainda nesse ano, o congresso indiano quis a autonomia da Índia e considerou guerra aos ingleses para conseguir esse fim. Gandhi recusou a apoiar uma atitude como esta, porém declarou que se a Índia não se tornasse um Estado independente ao final de 1929, então ele exigiria sua independência.

Por conseguinte em 1930, Mahatma Gandhi informou ao vice-rei, de que a desobediência civil em massa iniciaria no dia 11 de março. "Minha ambição é nada menos que converter as pessoas britânicas à não violência, e assim lhe faz ver o mal que fizeram para a Índia. Eu não busco danificar as pessoas.". Gandhi decidiu desobedecer as Leis Salgadas que proibiram os índios de fazer seu próprio sal; este monopólio britânico golpeou especialmente ao pobre.

Começando com setenta e oito sócios, Gandhi iniciou uma marcha para o mar de 200 milhas, que levaria mais de vinte e quatro dias. Milhares tinham se juntado no começo, e vários milhares uniram-se durante a marcha. Primeiro Gandhi e, então outros juntaram um pouco de água salgada na beira-mar em panelas, deixando ao sol para secar. Em Bombaim o Congresso teve panelas no telhado; 60.000 pessoas juntaram-se ao movimento, e foram presas centenas delas. Em Karachi onde 50.000 assistiram o sal sendo feito, a multidão era tão espessa que impedia a policia de efetuar alguma apreensão. As prisões estavam lotadas com pelo menos 60,000 ofensores. Incrivelmente lá "não havia praticamente nenhuma violência por parte da população; as pessoas não queriam que Gandhi cancelasse o movimento. Gandhi foi preso antes de que pudesse invadir os Trabalhos Dharasana Sal, mas o amigo dele Sr. Sarojini Naidu conduziu 2.500 voluntários e os advertiu não resistir às interferências da polícia. De acordo com uma testemunha ocular, o repórter Miller de Webb, eles continuaram marchando até serem detidos abaixo do aco-shod lathis, por quatrocentos policiais, mas eles não tentaram lutar . Tagore declarou que a Europa tinha perdido a moral e o prestígio na Ásia. Logo, mais de 100.000 índios estavam na prisão, incluindo quase todos líderes.

Gandhi foi chamado à uma reunião com o Vice-rei Irwin em 1931, e eles firmaram um acordo em março. A Desobediência civil foi cancelada; foram libertados os prisioneiros; a fabricação de sal foi permitida na costa; e os líderes do Congresso assistiriam à próxima Conferência de Mesa Redonda em Londres. Gandhi viajou para Londres onde ele conheceu Charlie Chaplin, George Bernard Shaw, e Maria Montessori, entre outros. Em transmissão de rádio para os Estados Unidos, ele falou que a força não violenta é um modo mais consistente, humano e digno.Discutindo relações com os britânicos, ele disse que ele não quis somente a independência, mas também a interdependência voluntária baseada no amor.

Enquanto, preso em 1932, Gandhi entrou em um jejum em nome dos Harijans porque a eles tinha sido determinado um eleitorado separado. Poderia ser um jejum até morte, a menos que ele pudesse despertar a consciência hindu. O assunto estava resolvido, e até mesmo templos hindus intocáveis eram abertos pela primeira vez. No próximo ano, Gandhi fez um jejum de vinte e um dias para purificação, e os funcionários britânicos, amedrontados de que ele pudesse morrer, colocaram-no na prisão. Gandhi anunciou que não se ocuparia da desobediência civil até que sua oração fosse completada.

Mesmo com a Segunda Guerra Mundial se aproximando, Gandhi havia confirmado seus princípios pacifistas. Ele mostrou como a Abissínia (Etiópia) poderia ter usado a não violência contra Mussolini, e ele recomendou isto para os Tchecos e para os Chineses. "Se é valente, como é, para morrer a um homem que luta contra preconceitos, é ainda bravo para recusar briga e ainda recusar se render ao usurpador"

Já em 1938 ele exortou os judeus para defender os direitos deles e se necessário morrer como mártires. "Um manhunt degradante pode ser transformado em um posto tranqüilo e determinado, oferecendo aos homens e mulheres desarmados, a força dada a eles por Jehovah." Mahatma recomenda o uso de Métodos não violentos aos britânicos para combater Hitler; já que não podia dar seu apoio a qualquer tipo de guerra ou matança.

O Congresso prometeu a Gandhi que ele ficaria fora da prisão, mas outros 23.223 indianos foram presos, inclusive Vinoba Bhave, Nehru, e Patel. Em 1942, Gandhi sugeriu modos para resistir não violentamente aos japoneses. Ele propôs uma atração às pessoas japonesas, a causa da "federação mundial da fraternidade sem a qual não poderia haver nenhuma esperança para a humanidade".

Porém, Gandhi continuou exercendo uma revolução não violenta para a Índia, e em 1942 ele e outros lideres foram presos. Ele decidiu jejuar novamente, sendo que apenas ele sobreviveu. Quando a guerra terminou, ele afirmou da necessidade de "uma paz real baseada na liberdade e igualdade de todas as raças e nações". Nos últimos anos de sua vida, se tornou mais do que um socialista. Ele havia dito, "Violência é criada por desigualdade, a não violência pela igualdade". Ele foi a uma peregrinação para Noakhali para ajudar aos pobres.Independência para a Índia era agora iminente, mas Jinnah o Líder muçulmano estava exigindo a criação de um estado separado: o Paquistão. Gandhi prega para unidade e tolerância, até mesmo lendo às reuniões um Alcorão de orações. Os hindus o atacaram porque pensaram que ele era a favor dos muçulmanos, e os muçulmanos exigindo dele a criação do Paquistão. Gandhi foi para Calcutá para acalmar a discussão e a violência entre hindus e muçulmanos. Mais uma vez ele jejuou até que os lideres da comunidade assinaram um acordo para manter a paz. Antes de que eles assinassem, ele os advertiu de que se rebelassem ele jejuaria até a morte. Gandhi também, em janeiro de 1948 fez muito para acalmar os conflitos entre hindus e muçulmanos, permitindo a divisão da Índia em dois países.

Embora este ódio religioso entristeceu a Gandhi, a Índia tinha conquistado sua independência no dia 15 de agosto de 1947 que realizando a maior revolução não violenta da historia mundial.

Finalmente, Gandhi era assassinado por um hindu enfurecido em 30 de janeiro de 1948 numa reunião de oração; com seu último suspiro o Mahatma cantou o nome de Deus.

Martin Luther King

Nota: apresento à vocês, uma breve bibliografia, daquele que foi uma notável personalidade, e que lutou em prol da liberdade e dos direitos humanos!

Martin Luther King nasceu em 15 de janeiro de 1929 em Atlanta na Georgia, filho primogênito de uma família de negros norte-americanos de classe média. Seu pai era pastor batista e sua mãe era professora.

Com 19 anos de idade Luther King se tornou pastor batista e mais tarde se formou teólogo no Seminário de Crozer. Também fez pós-graduação na universidade de Boston, onde conheceu Coretta Scott, uma estudante de música com quem se casou.

Em seus estudos se dedicou aos temas de filosofia de protesto não violento, inspirando-se nas idéias do indu Mohandas K. Gandhi.

Em 1954 tornou-se pastor da igreja batista de Montgomery, Alabama. Em 1955, houve um boicote ao transporte da cidade como forma de protesto a um ato discriminatório a uma passageira negra, Luther King como presidente da Associação de Melhoramento de Montgomery, organizou o movimento, que durou um ano, King teve sua casa bombardeada. Foi assim que ele iniciou a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos.

Em 1957 Luther King ajuda a fundar a Conferência da Liderança Cristã no Sul (SCLC), uma organização de igrejas e sacerdotes negros. King tornou-se o líder da organização, que tinha como objetivo acabar com as leis de segregação por meio de manifestações e boicotes pacíficos. Vai a Índia em 1959 estudar mais sobre as formas de protesto pacífico de Gandhi.

No início da década de 1960, King liderou uma série de protestos em diversas idades norte-americanas. Ele organizou manifestações para protestar contra a segregação racial em hotéis, restaurantes e outros lugares públicos. Durante uma manifestação, King foi preso, tendo sido acusado de causar desordem pública.

Em 1963 liderou um movimento massivo, "A Marcha para Washington", pelos direitos civis no Alabama, organizando campanhas por eleitores negros, foi um protesto que contou com a participação de mais de 200.000 pessoas que se manifestaram em prol dos direitos civis de todos os cidadãos dos Estados Unidos. A não-violência tornou-se sua maneira de demonstrar resistência. Foi novamente preso diversas vezes. Neste mesmo ano liderou a histórica passeata em Washington onde proferiu seu famoso discurso "I have a dream" ("Eu tenho um sonho"). Em 1964 foi premiado com o Nobel da Paz.

Os movimentos continuaram, em 1965 ele liderou uma nova marcha. Uma das conseqüências dessa marcha foi a aprovação da Lei dos Direitos de Voto de 1965 que abolia o uso de exames que visavam impedir a população negra de votar.

Em 1967 King uniu-se ao Movimento pela Paz no Vietnam, o que causou um impacto negativo entre os negros. Outros líderes negros não concordaram com esta mudança de prioridades dos direitos civis para o movimento pela paz.

Em 4 de abril de 1968 King foi baleado e morto em Memphis, Tenessee, por um branco que foi preso e condenado a 99 anos de prisão.

Em 1983, a terceira segunda-feira do mês de janeiro foi decretada feriado nacional em homenagem ao aniversário de Martin Luther King Jr.'s.


Ensinamentos

Martin Luther King nasceu em 15 de janeiro de 1929 em Atlanta na Georgia, filho primogênito de uma família de negros norte-americanos de classe média. Seu pai era pastor batista e sua mãe era professora.

Com 19 anos de idade Luther King se tornou pastor batista e mais tarde se formou teólogo no Seminário de Crozer. Também fez pós-graduação na universidade de Boston, onde conheceu Coretta Scott, uma estudante de música com quem se casou.

Em seus estudos se dedicou aos temas de filosofia de protesto não violento, inspirando-se nas idéias do indu Mohandas K. Gandhi.

Em 1954 tornou-se pastor da igreja batista de Montgomery, Alabama. Em 1955, houve um boicote ao transporte da cidade como forma de protesto a um ato discriminatório a uma passageira negra, Luther King como presidente da Associação de Melhoramento de Montgomery, organizou o movimento, que durou um ano, King teve sua casa bombardeada. Foi assim que ele iniciou a luta pelos direitos civis nos Estados Unidos.

Em 1957 Luther King ajuda a fundar a Conferência da Liderança Cristã no Sul (SCLC), uma organização de igrejas e sacerdotes negros. King tornou-se o líder da organização, que tinha como objetivo acabar com as leis de segregação por meio de manifestações e boicotes pacíficos. Vai a Índia em 1959 estudar mais sobre as formas de protesto pacífico de Gandhi.

No início da década de 1960, King liderou uma série de protestos em diversas idades norte-americanas. Ele organizou manifestações para protestar contra a segregação racial em hotéis, restaurantes e outros lugares públicos. Durante uma manifestação, King foi preso, tendo sido acusado de causar desordem pública.

Em 1963 liderou um movimento massivo, "A Marcha para Washington", pelos direitos civis no Alabama, organizando campanhas por eleitores negros, foi um protesto que contou com a participação de mais de 200.000 pessoas que se manifestaram em prol dos direitos civis de todos os cidadãos dos Estados Unidos. A não-violência tornou-se sua maneira de demonstrar resistência. Foi novamente preso diversas vezes. Neste mesmo ano liderou a histórica passeata em Washington onde proferiu seu famoso discurso "I have a dream" ("Eu tenho um sonho"). Em 1964 foi premiado com o Nobel da Paz.

Os movimentos continuaram, em 1965 ele liderou uma nova marcha. Uma das conseqüências dessa marcha foi a aprovação da Lei dos Direitos de Voto de 1965 que abolia o uso de exames que visavam impedir a população negra de votar.

Em 1967 King uniu-se ao Movimento pela Paz no Vietnam, o que causou um impacto negativo entre os negros. Outros líderes negros não concordaram com esta mudança de prioridades dos direitos civis para o movimento pela paz.

Em 4 de abril de 1968 King foi baleado e morto em Memphis, Tenessee, por um branco que foi preso e condenado a 99 anos de prisão.
Em 1983, a terceira segunda-feira do mês de janeiro foi decretada feriado nacional em homenagem ao aniversário de Martin Luther King Jr.'s.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Amor Infinito

Penso na utilidade da existência de tudo: dos seres e o meio em que vivemos. Imaginava como podemos ver a verdadeira natureza de nossa existência. Primeiramente não quero criar uma discussão sobre a possibilidade da existência da transmigração dos seres no cósmico, pois este assunto simplesmente desvia-se da minha intenção. Mas quero falar sobre o que talvez seja uma luz sobre nossa utilidade no universo.

Acredito que num determinado tempo, na eternidade, DEUS nos acorda de um estado latente de nossa existência. Então começamos à trilhar o caminho da evolução por todos os estados possíveis de relações com os nossos semelhantes. Ainda muito puros e inadequadamente preparados para o uso adequado de nossas verdadeiras funções perante o criador.

Como sementinhas que à começar seu crescimento, passamos pelas relações que o meio nos proporciona através de suas condições peculiares e que nos moldam a percepção de como somos e o que nos tornaremos no eterno galgar de escala evolutiva.

Se não conseguimos interagir com devida sintonia com o que o Criador nos proporciona, nos é dada novas oportunidades de se consumarem através de novas existências, com certas limitações concernentes às nossas deficiências, que visam ao esclarecimento à respeito das leis universais que nos regem, a fim de possuirmos o devido preparo para usar as mesmas forças celestiais em prol dos outros e o meio.

Os grandes avatares de nossa história nos mostram o caminho do equilíbrio com DEUS, através da lei universal do Amor, pois esse sentimento por excelência UNE, CONSTRÓI E ELEVA as criaturas, consoante com nossa relação com o meio e semelhantes. Este mesmo meio também evolui para acomodar as proles mais sutis do criador. Com belas doutrinas e fundamentos de respeito e auxilio aos demais do nosso campo de ação, começamos a ser guiados a cuidar dos menos instruídos, buscando a elevação necessária para os mesmos e contribuindo para constante trilha evolutiva.

Quando chegamos ao ápice do que devemos nos tornar, passamos a influenciar com precisão sobre as forças universais através do livre trânsito, que outrora não nos era permitido, mas sempre foi dada a noção de como interagirmos com o espaço.

Mas porque esta infinita caminhada?
O Criador de todos, sabe que somos todos seres sociáveis, e seria injusto apenas alguns não serem abençoados com a luz da iluminação e encontro constante com sua maior LEI E CRIADOR. Esta lei que natural que sempre nos elevou e nos ajuda à elevar os menos esclarecidos. Todos sem exceção estão dentro da unidade, pois todos nós somos irmãos e sempre caminhamos e sempre caminharemos na eterna via da... DIVINA LEI DO AMOR.


Aluísio Corrêa Martins de Sá – Fr. R+C.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

John Stuart Mill

"As virtudes privadas só aparecem após as virtudes sociais"

Qual é então o justo limite da soberania do indivíduo sobre ele mesmo? Onde começa a autoridade da sociedade? Qual a parte da vida humana que pertence a individualidade, qual parte á sociedade? Cada uma das duas receberá o que lhe pertence se cada uma se preocupa do que lhe é próprio e mais particular. Á individualidade deveria pertencer essa parte da vida que interessa primeiramente o indivíduo; á sociedade, aquela que interessa primeiro a sociedade.

Se bem que a sociedade não seja fundada sobre um contrato, e se bem que não adianta inventa-lo para deduzir dele as obrigações sociais, todos aqueles que recebem proteção da sociedade lhe são, todavia obrigados dessa ação generosa. O único fato de viver em sociedade impõe a cada pessoa uma certa linha de conduta para com outrem. Essa conduta consiste primeiramente a não prejudicar os interesses de outrem, ou mais precisamente á alguns desses interesses que, seja por disposição expressa legal, seja por um acordo tácito, devem ser considerados como direitos; em segundo lugar, a assumir sua própria parte (a fixar segundo um princípio equitável) de trabalho e de sacrifícios necessários para defender a sociedade ou seus membros contra os prejudícios e as vexações. Mas isso não é tudo o que a sociedade pode fazer. Os atos de um indivíduo podem ser prejudiciais aos outros, ou não levar suficientemente em conta o bem estar deles, sem por isso violar qualquer um de seus direitos constituídos. O culpado pode então ser justificadamente punido pela opinião, mas não pela lei.

Desde que a conduta de uma pessoa torna-se prejudicial aos interesses de outrem, a sociedade tem o direito de julgar, e a questão de saber se essa intervenção favorizará ou não o bem estar geral é então aberta á discussão. Mas essa questão não tem razão para ser discutida enquanto a conduta de alguém só afeta os seus próprios interesses, ou na medida em que ela só afeta os outros se eles assim querem, se essas pessoas atingidas são adultas e em possessão de todas as suas faculdades. Em todos os casos, nós devemos ter liberdade completa, legal e social - de empreender qualquer ação e de suportar as conseqüências.
Seria demasiadamente enganar-se sobre essa doutrina vendo nela uma defesa da indiferença egoísta, segundo a qual um homem não se interessaria de maneira alguma na conduta dos outros, e que ele só deveria se preocupar do "bem-agir" e do bem estar deles que na medida em que seu próprio interesse está em jogo. Não é preciso fazer menos, mas fazer muito mais esforços desinteressados para promover o bem de outrem. Mas a benevolência desinteressada pode encontrar outros instrumentos de persuasão que o chicote e a palmatória, no sentido próprio e no figurativo. Eu sou o último a subestimar as virtudes privadas; mas elas só aparecem após as virtudes sociais.
È a tarefa da educação de cultiva-las igualmente ao mesmo tempo. Mas a educação ela mesma age por convicção e persuasão, da mesma maneira que pela obrigação, e é apenas pela primeira medida que a educação estando terminada, as virtudes privadas deveriam ser estabelecidas. Os homens devem se ajudar uns aos outros a distinguir o melhor do pior, e a se encorajar a preferir um e a evitar o outro. Eles só deveriam ter incessantemente o desejo de se estimular mutuamente a exercer suas mais nobres faculdades e a orientar mais ainda seus sentimentos e seus projetos em direção da sabedoria, e não da loucura, em direção dos objetos de contemplação edificantes, e não degradantes.
Mas ninguém é autorizado a dizer a um homem de idade madura que, no seu interesse, ele só deve fazer de sua vida o que ele escolheu de fazer. Ele é aquele que seu bem estar preocupa mais : o interesse que pode ter um estrangeiro nesse bem estar lhe é insignificante - ao menos que ele tenha por ele um vivo apego pessoal - comparado a seu próprio interesse.


- De la liberté (1859), John Stuart Mill, Trad. M. Dupont - White, revue par L. Lenglet, Gallimard, coll. " Folio ", 1990.


A liberdade e o altruísmo

Nós compreendemos facilmente, ao ler esse extrato de John Stuart Mill ( 1806 - 1873 ), que o livro De la liberté ( 1859 ) tenha podido tornar-se um dos breviários do liberalismo. Não existe nenhum expositivo mais claro e mais forte da problemática fundamental dessa escola.
Estando estabelecido que a liberdade individual constitui um valor supremo, onde traçar a fronteira entre a esfera de intervenção legítima da sociedade na vida do cidadão e a esfera intangível da autonomia do indivíduo ? Essa interrogação se situa no centro da filosofia política moderna. Assim não é necessário de se surpreender que Mill se refira nesse extrato ás teorias do contrato social e que, se diferenciando deste, ele ressalta a temática: desfrutando da proteção da sociedade, qual é o preço que eu estou pronto a pagar para conservar essa inestimável ação generosa? È o primat atribuído á liberdade individual que conduz a modificar a questão e a faze-la nesses termos: como preservar minha autonomia em uma estrutura social de qual a própria existência é sinônimo de obrigações e de disciplinas impostas aos cidadãos em troca da segurança deles ?


A procura da felicidade

Nascido em Londres em 1806, Mill é o filho do filósofo e economista James Mill, discípulo e amigo de Jeremy Benthan, o pai do utilitarismo. De sua obra abundante, nós podemos ressaltar Systéme de logique inductive et déductive ( 1843 ), Principes d'économie politique ( 1848 ), Du gouvernement représentatif ( 1861 ), De l'assujettissement des femmes (1869), Autobiographie ( 1873 ) et De la liberté ( 1859 ), texto fundamental ( extrato acima).
Fiel ás lições de Benthan, Mill está convencido que a procura da felicidade é a motivação humana mais fundamental. Assim um governo esclarecido não saberia ter como outro objetivo que o de realizar a maior felicidade para o maior número de pessoas . Disso resulta a necessidade de reformas profundas. A intervenção do Estado é legitimada em inúmeros domínios: educação ( que ele deseja universal e obrigatória), legislação do trabalho, economia libre-échangiste ( mas ele preconiza todavia algumas nacionalizações). O objetivo deve ser de democratizar o ambiente no qual vivem os indivíduos, de maneira a que cada um tenha acesso aos meios necessários do desenvolvimento positivo de sua personalidade.
Mas dois pontos essenciais devem permanecer adquiridos: nós não faremos jamais a felicidade de alguém contra a sua vontade; uma sociedade racionalmente organizada, na qual prevalecem o espírito cívico e o altruísmo, só precisa de um Estado minimal. Entram dessa maneira em tensão um reformismo que fará de Mill um mestre do pensamento dos radicais de seu tempo e dos futuros fundadores do partido trabalhista, e um individualismo feroz que o tornará caro aos liberais.


Terceira via

Esse individualismo é mais visível no livro De la liberté, que denuncia todas as formas confessadas ou escondidas da opressão dos indivíduos e das minoridades. Mas a tensão evocada é percebida. Ela encontra nisso uma tentativa de resolução na afirmação segundo a qual o individualismo deve permanecer soberano em tudo o que não coloca em jogo sua relação com o resto da sociedade. Esse princípio abre a porta para muitos debates. O importante está na clareza inigualável de sua formulação, e na procura de um equilíbrio entre as exigências de uma vida social que não saberia se reduzir á competição entre os indivíduos, e a necessidade sauvegarde das liberdades. È na obra de Mill que os teóricos do social-liberalismo e de uma terceira via entre o liberalismo e o socialismo encontram uma parte da inspiração deles.

F.L.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

As figuras da consciência

" Eis a relação do mestre e do servidor "

O conteùdo concreto da certeza sensìvel [ a certeza dada pelos sentidos ] a faz aparecer imediatamente como o conhecimento mais rico [....]. Esse conhecimento aparece além disso, como o mais verdadeiro; pois ele ainda não afastou nada do objeto mais o tem diante de si-mesmo em toda a sua plenitude. Na realidade todavia, essa certeza se revela de maneira explìcita como a mais abstrata e a mais pobre verdade. [....]
À pergunta: o que é o agora ? nòs respondemos, por exemplo, o agora é a noite. Para experimentar a verdade dessa certeza sensìvel, uma simples experiência serà suficiente. Nòs anotamos por escrito essa verdade; uma verdade não perde nada ao ser escrita e também pouco a ser conservada. Vamos rever agora a meio-dia essa verdade escrita, nòs devemos então dizer que ela se alterou. [....]
O mesmo caso se produz para a outra forma do isto, quer dizer para o aqui. O aqui é, por exemplo, a àrvore. Eu me viro, essa verdade desapareceu e se transformou em verdade oposta: o aqui não é uma àrvore, mais uma casa. O aqui ele mesmo não desaparece, mas ele é e permanece no desaparecimento da casa, da àrvore, etc. ; além disso ele é indiferente a ser casa ou àrvore. Novamente, o isto se mostra como simplicidade mediatizada, ou como universalidade.
A certeza sensìvel demonstra nela mesmo o universal como verdade de seu objeto.

- La Phénoménologie de l'esprit, tome I, I ( " La Certitude sensible ou le Ceci et ma visée du Ceci "), Hegel - Trad. J. Hyppolite, Aubier-Montaigne, 1941


Primeiro, a consciência de si mesmo é ser-para-si mesmo simples igual a si mesmo excluindo de si mesmo tudo o que é outro; sua essência e seu objeto absoluto são o Eu, e nessa immédiateté ou nesse ser de seu ser-para-si, ela é alguma coisa de singular. O outro para ela é objeto não essencial, marcado do caràter do negativo. Mas o outro também é uma consciência de si mesmo.

- La Phénoménologie de l'esprit, tome I, IV ( " La vérité de la certitude de soi-même" ), Hegel - Trad. J. Hyppolite, Aubier - Montaigne, 1941.


Existe combate; pois eu não posso me saber eu mesmo no meu contràrio [ o outro eu ] durante todo o tempo que ele é uma consciência imediata para mim. [....] O combate que traz o reconhecimento recìproco é um combate para a vida e para a morte. [....] Como a vida é tão essencial quanto a liberdade, esse combate, na qualidade de negação exclusiva, conduz primeiro à desigualdade, no fato que um dos combatentes preferindo a vida se conserva como consciência de si mesmo individualmente, mais ele abdica seu direito de ser reconhecido como livre; enquanto que o outro permanece na sua independência, e é reconhecido pelo primeiro como mestre. Eis a relação do "mestre" e do "servidor". Este, o servidor, trabalhando para o mestre, utiliza sua vontade individual e egoista, suprime a immédiateté do desejo, e por essa abdicação dele mesmo e pelo temor do mestre, traz o começo da sabedoria, a passagem para a consciência de si mesmo geral.

- Encyclopédie des sciences philosophiques, 431SQ., - Hegel - Trad. A.Véra, Germer - Baillière, 1867 - 1869.

A consciência vive na angùstia de sujar o esplendor de sua interioridade pela ação e l'être-là [o ser determinado ], e para preservar a pureza de seu coração ela foge o contato da efetividade e persiste na impotência teimosa, impotente a renunciar a seu Si Pròprio afinado até o supremo grau de abstração, a se dar uma substancialidade, a transformar seu pensamento em ser e a se confiar a diferença absoluta.
O objeto oco que ela cria para si mesma a enche então da consciência do vazio. [.....] Nessa pureza transparente de seus momentos, ela torna-se uma bela alma infeliz, como nòs a chamamos, sua luz se apaga pouco a pouco nela mesma, e ela se esvanece como um vapor sem forma que se dissolve no ar.

- La Phénoménologie de l'Esprit, tome II, VI ( " L'Esprit " ), Trad. J. Hyppolite, Aubier -
Montaigne, 1941.


As figuras da consciência


O livro La Phénoménologie de l'esprit ( 1807 ) examina os diferentes estados que percorre a consciêcia no seu debate interior com a verdade. Esse trabalho tem um começo e um fim. Ele começa com a " certeza sensìvel " e ele se termina no " saber absoluto ".



O saber absoluto


Essa ùltima expressão pode surpreender. Mas pouco antes Hegel, seu amigo de juventude Schelling afirmava que a filosofia tinha por objeto o absoluto de onde "émanaient" a subjetividade e a objetividade, o espìrito e a natureza.Contrariamente a essa filosofia dita da identidade, Hegel considera que o saber absoluto é uma verdadeira conquista da consciência, o resultado de um trabalho sobre ela mesma. Ele se encarna mais precisamente na filosofia, de qual os objetos são conceitos, por conseguinte produções do espìrito. Na filosofia, o espìrito não encontra nada de estrangeiro, ele està " auprès de lui-même ", por essa razão o caràter absoluto no sentido em que Schelling o compreendia.

A certeza sensìvel


Entre essas figuras da consciência, as que foram mencionadas acima são particularmente representativas. A primeira, a " certeza sensìvel ", constitue uma crìtica rigorosa do empirismo vulgar. A consciência " naïve " coloca com efeito a verdade mais correta au-dehors dela mesma, nas coisas concretas percebidas pelos sentidos. Mas dessa maneira, a consciência é imediatamente levada a se contradizer e a constatar que a verdade muda. Com efeito, a verdade sensìvel varia segundo os movimentos do "eu", que faz "office de point d'ancrage" para a certeza sensìvel, sem que ela o admita.

O mestre e o escravo


A segunda figura é a difìcil dialética " de la maîtrise " e da servidão. Ela apresenta a consciência que conseguiu se despreender da pura objetividade para se voltar em direção dela mesma e se afirmar como uma " consciência de soi ". Sua verdade consiste então em um mundo exterior e na sua pròpria consciência. Pois esse outro "eu" não é o seu e também não é um simples objeto. Cada uma dessas duas consciências reivindica sua verdade que ela vai querer impor a outra. Mas ela sò pode fazer isso pela força. È dessa maneira que s'engaje a "luta pelo reconhecimento". Esta se termina quando um eu aceita de se submeter ao outro. Ele se coloca assim ao serviço do "mestre".
Mas essa dialética terminarà se virando contra o mestre. Pois o serf, ou o escravo ( Knecht), para obedecer ao mestre, deve trabalhar. Seu trabalho o obriga a formar as coisas para o uso do mestre. Assim ele abandona a pura reivindicação da consciência de si pròprio para exprimir sua subjetividade no fruto de seu trabalho.Dizendo de outra maneira, a servidão permite à consciência de formar os objetos à sua imagem. Ela se reconcilia com a exterioridade objetiva, enquanto que a consciência do mestre " tourne à vide ".
Essa dialética influenciou demasiadamente o marximismo, que via nela um argumento em favor do proletariado contra o capitalismo. Em particular na França, graças aos cursos de Kajève, aos quais assistia uma boa parte da intelligentsia do começo dos anos 1930: Raymond Queneau ( 1903 - 1976 ), o autor do livro Dimanche de la vie, mais também o filòsofo e escritor George Bataille ( 1897 - 1962 ) e o psychanalyste Jacques Lacan ( 1901 - 1981 ).
Quanto a figura da " bela alma ", que é uma crìtica do romantismo segundo Novalis e da afirmação da infinita superioridade da alma sobre um mundo de qual ela não quer se rebaixar, ela interessou Lacan e seus alunos que a assimilaram à patologia do narcissisme.

F.G.

Oskar Schindler


Oskar Schindler nasceu a 28 de Abril de 1908 em Zwittau na Morávia. A sua família de classe média católica pertencia à comunidade que falava em alemão nos Sudetas. O jovem Schindler, que estudava engenharia, esperando seguir os passos do seu pai e tomar conta da fábrica de máquinas agrícolas.

Alguns dos colegas e vizinhos amigos de Schindler eram judeus, mas não estabeleceu nenhuma amizade intima e duradoura com nenhum deles. Tal como muitos dos jovens que falavam alemão dos Sudetas, ele inscreveu-se no partido alemão Konrad Henleins Sudeten, tendo-se inscrito no partido nazi depois da anexação alemã dos Sudetas em 1938.

Pouco depois do rebentar da guerra em Setembro de 1939, Schindler com 31 anos de idade foi para a ocupada Cracóvia. A cidade, casa para cerca de 60.000 judeus e sob a administração alemã, a Generalgouvernement, provou ser muito atractiva para os empresários alemães, que desejavam capitalizar as adversidades existentes no país ocupado. Naturalmente astuto e sem escrúpulos, Schindler apareceu, inicialmente, para alcançar algum sucesso por aqueles lados. Em Outubro de 1939, apropriou-se de uma fábrica até então proprietária de um judeu. Como resultado de algumas manobras? através do conselho comercial de um contabilista judeu polaco, Isaak Stern? Schindler começou a construir a sua própria fortuna. A Em Zablocie, arredores de Cracóvia, uma pequena fábrica de equipamento de cozinha para o exército alemão começou a crescer. Em apenas três meses, a fábrica já empregava cerca de 250 polacos, incluindo sete judeus. No final de 1942, a fábrica expandiu-se para a produção de munições, ocupando cerca de 45.000 m2 e empregando quase 800 homens e mulheres. Destes, 370 eram judeus do gueto de Cracóvia, estabelecido pelos alemães depois de terem entrado na cidade. Desde cedo que Schindler adoptou um estilo de vida extravagante, divertindo-se à noite na companhia de altos oficiais das SS, assim como na companhia de uma mulher polaca bastante bonita. Até certa altura, o que o colocou longe dos benefícios da guerra foi o tratamento humano para com os seus trabalhadores, nomeadamente para com os judeus.

Schindler nunca desenvolveu qualquer resistência ideológica contra o regime nazi. No entanto, a sua crescente repulsa e horror relativamente à insensível brutalidade da perseguição nazi da população judaica provocou uma curiosa transformação no oportunismo imoral. Gradualmente, o seu objectivo egoísta de ganhar dinheiro passou para segundo plano, dando mais importância ao facto de pretender salvar o máximo de judeus das execuções nazis. Uma das principais ferramentas de Schindler para a tarefa de salvar vidas prendia-se com o facto da sua fábrica ser considerada como essencial para o esforço de guerra na Polónia ocupada. Tal não servia apenas para obter contractos lucrativos com os militares mas também para retirar alguns judeus da jurisdição das SS. Quando os seus empregados eram ameaçadas com a deportação para Auschwitz por parte das SS, Schindler podia pedir para que fossem dispensados, argumentando que a sua deportação iria dificultar seriamente os esforços para manter a produção essencial para o esforço de guerra. Schindler não hesitou em falsificar os documentos, empregar crianças, domésticas e advogados como sendo experientes mecânicos. Para além disso, também foram protegidos trabalhadores sem qualificação ou temporariamente incapacitados.

A Gestapo prendeu Schindler algumas vezes, tendo chegado a interrogá-lo sobre possíveis irregularidades e favorecimento de judeus.

Em Março de 1943, o gueto de Cracóvia foi liquidado, sendo os judeus que ainda restavam transportados para o campo de trabalhos forçados de Plaszow, nos arredores de Cracóvia. Schindler pediu ao SS-Haupsturmführer Amon Goeth, o brutal comandante do referido campo, que o deixasse estabelecer um campo secundário especial para os trabalhadores judeus da sua fábrica de Zablocie. Nesse local, era mais fácil de manter os judeus em condições relativamente toleráveis, fornecendo-lhes alimentos comprados com o próprio dinheiro no mercado negro.

No fim de 1944, Plaszow e todos os campos secundários tiveram de ser evacuados devido ao avanço dos russos. A maioria dos prisioneiros (mais de 20.000 homens, mulheres e crianças) foram enviados para os campos de extermínio. Ao receber ordem de evacuação, Schindler, que tinha conseguido aproximar-se do supremo comando do exército (OKW), tratou de obter autorização oficial para continuar a produção numa fábrica que ele e a sua mulher tinham estabelecido em Brünnlitz, nos Sudetas. Sendo assim, era suposto que todos os trabalhadores de Zablocie, aos quais já se tinham juntado grande parte dos trabalhadores do campo de Plaszow, fossem transferidos para a referida fábrica. No entanto, em vez de serem transferidos para Brünnlitz, 800 homens (entre os quais 700 judeus) e 300 mulheres da lista de Schindler foram desviados para Gross-Rosen e para Auschwitz, respectivamente.

Quando soube do sucedido, Schindler tratou de assegurar a libertação dos homens do campo de Gross-Rosen. Depois, enviou o seu secretário pessoal alemão a Auschwitz por forma a negociar a libertação das mulheres. Foi necessário pagar à Gestapo 7 marcos alemães por cabeça diariamente. Este foi o único caso na história do campo de extermínio da libertação de um grande número de prisioneiros na altura em que as câmaras de gás ainda se encontravam em funcionamento.

Uma das acções humanitárias mais notáveis levadas a cabo pelos dois Schindler envolveu 120 prisioneiros judeus de Goleszow, um dos campos secundários de Auschwitz. Os homens trabalhavam na fábrica de uma pedreira que pertencia à companhia sob a tutela das SS. Com a aproximação dos russos em Janeiro de 1945, foram evacuados para Goleszow e transportados em vagões para gado sem comida nem água. Após sete dias de caminho em pleno Inverno, os guardas das SS estacionaram os vagões às portas de Brünnlitz. Emilie Schindler foi a tempo de impedir que o comandante das SS do campo ordenasse que o comboio voltasse para trás. Schindler, que tinha regressado ao campo depois da procura de comida no exterior do campo, teve alguma dificuldades em convencer o comandante de que precisava urgentemente das pessoas que se encontravam encerradas no comboio para a fábrica.

Quando os vagões foram finalmente abertos, foram descobertos quase trinta corpos congelados. Schindler percebeu que o comandante planeava, à melhor tradição nazi, incinerar os desafortunados num dos fornos da fábrica. Schindler conseguiu que fossem cremados de acordo com o rituais religiosos judaicos numa parcela de terreno perto de um cemitério católico, que tinha sido comprado especialmente para esse fim. Os restantes 107 sobreviventes, terrivelmente enregelados e assustados, tiveram tratamento médico.

Nos últimos dias de guerra, mesmo antes da entrada do exército russo na Morávia, Schindler conseguiu ir para a Alemanha, em território controlado pelos Aliados. O magnata industrial do tempo de guerra encontrava-se então sem um único centavo. No entanto, organizações de judeus e grupos de sobreviventes apoiaram-no nos anos seguintes, ajudando a financiar (a longo prazo, mal sucedido) a sua emigração para a América do Sul. Quando Schindler visitou Israel em 1961, a primeira das suas setenta visitas, foi recebido e extremamente bem tratado por 220 sobreviventes. Ele continuou a viver parcialmente em Israel e na Alemanha. Depois da sua morte em Hildesheim, Alemanha, em Outubro de 1974, os sobreviventes desolados apoiaram a transferência dos restos mortais de Schindler para o Cemitério Protestante de Jerusalém, Israel. Emilie Schindler morreu a 5 de Outubro de 2001 e encontra-se enterrada na Alemanha.

A 18 de Julho de 1967, Yad Vashem decidiu reconhecer Oskar Schindler como um Honorável entre as Nações. No dia 24 de Junho de 1993, Yad Vashem decidiu reconfirmar a sua decisão original e estendendo o reconhecimento também para a mulher de Schindler, Emilie Schindler.