sexta-feira, 23 de março de 2007

Gustavo Franco prega importação livre para frear o câmbio

SÃO PAULO (Reuters) - Abrir a economia, e zerar temporariamente as alíquotas de importação, é a única maneira de o Brasil reverter a valorização do real, defendeu nesta sexta-feira o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco.
Atualmente sócio da empresa de serviços financeiros Rio Bravo, Franco descartou o argumento de parte dos analistas de que o nível do juro no país é o propulsor do câmbio.
"Vamos direto ao fundamento do problema: o excesso de oferta de dólar e o superávit comercial. Não é a taxa de juro, é o comércio. Então, qualquer outra solução é paliativa", disse ele em entrevista no Reuters Latin American Investment Summit.
"A importação é a única coisa que poderá fazer o câmbio acordar. E o sono é cada vez mais profundo, nós vamos ficar abaixo de 2 (reais por dólar) daqui a pouco."
Franco avaliou que sem as atuações diárias do Banco Central o câmbio estaria ainda mais valorizado, mas lembrou o custo fiscal dessa ação, já que o Tesouro Nacional enxuga os reais usados na compra de dólares com a venda de títulos públicos.
"Acho que zerar as alíquotas todas por um período de tempo seria interessantíssimo para testar a resposta das importações e produzir um efeito cambial relevante... Isso é muito mais barato para o Tesouro", insistiu.
O dólar acumula queda de quase 25 por cento nos últimos dois anos, cotado abaixo de 2,1 reais.
"Com a próxima boa notícia relevante, o (patamar de) 2,05 reais vai ser atacado", previu Franco.

MERCANTILISMO DE "5a CATEGORIA"

O ex-BC argumentou que, apesar da prevista chiadeira de alguns setores, a abertura do país às importações é importante para "o conjunto dos participantes do comércio exterior" no médio prazo.
A balança comercial brasileira acumula superávit de mais de 7 bilhões de dólares este ano. Em 2006, o saldo positivo foi recorde, de 46,077 bilhões de dólares.
Franco também rejeitou a idéia de que o Brasil só deveria liberar as importações de serviços como uma contrapartida nas discussões comerciais da Rodada de Doha.
"Há anos que eu ouço isso. Acho que não compensa, porque o Brasil deixa de fazer alguma coisa que é do nosso próprio interesse alegando que vai usar isso para obter alguma concessão", afirmou.
"Lembro lá atrás, nos anos 90, quando se fez a abertura, tinha essa mesma crítica. E gente que hoje é ministro dizendo 'ah, não podia ter feito sem ter uma contrapartida'. Isso é um mercantilismo de quinta categoria."
E, sem vislumbrar uma forte crise internacional, ele acredita que a tendência é que o país receba mais recursos externos --acentuando o avanço do real.
"Os raciocínios estão muito longos para explicar uma crise internacional. Como a explicação está muito difícil, acho que é porque a crise está um pouco longe", comentou Franco.Em tom jocoso, ele citou a "obsessão" de operadores por assuntos como "em que medida o 'carry trade' com 'funding' japonês poderá explodir uma bolha de preços de commodities".

Um comentário:

Anônimo disse...

Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu