quinta-feira, 23 de agosto de 2007

A teoria das idéias.

" È pelo reflexo da beleza primitiva que as coisas são belas "

[ Sòcrates ] - Se alguém vier me dizer o que faz que uma coisa é bela, ou a vivacidade das cores, ou suas formas e outras coisas semelhantes, eu deixo de lado todas essas razões, que sò fazem me perturbar, e eu me asseguro eu mesmo sem maneiras e sem arte e talvez muito simplesmente, que nada a torna bela a não ser a presença ou a comunicação da beleza primeira, de qualquer maneira que essa comunicação se faça, pois nessa matéria eu não afirmo nada, a não ser que todas as coisas belas são belas pela presença da beleza. È na minha opinião a resposta mais exata, para mim como para qualquer outra pessoa, e enquanto eu manter a minha posição, eu espero com muita certeza jamais me enganar, e poder responder com toda segurança, eu e toda outra pessoa além de mim, que é pelo reflexo da beleza primitiva que as coisas são belas.


-- Platão, Phédon, 100c - 1000, Trad.v.Cousin, È. Bossange Frères, 1822.


O banquete

[ Cébès ] - Realmente eu pude, Sòcrates, te iniciar até um certo ponto nos mistérios do amor: mais para os ùltimos graus desses mistérios, tudo o que eu acabei de te dizer é apenas uma preparação. [.....]
Aquele que quer compreender verdadeiramente, deve, desde muito cedo, começar a procurar os corpos belos. Primeiro, se ele é bem guiado, ele sò deve amar uma pessoa, e a partir disso conceber e gerar belos discursos. Em seguida, ele deve reconhecer que a beleza que reside em um corpo é irmã da beleza que reside nos outros. E é justo de procurar o que é belo em geral, nosso homem seria muito pouco sensato de não encarar de maneira alguma a beleza de todos os corpos como uma ùnica e mesma coisa.
[.....]
Apois isso, ele deve considerar a beleza da alma como bem mais refinada do que a beleza do corpo, de maneira que uma alma bela, aliàs acompanhada de poucos enfeites exteriores, seja suficiente para atrair seu amor e seus cuidados [.....]. Por isso ele serà levado a considerar o belo nas ações dos homens e nas leis, e a ver que a beleza moral é em tudo de uma mesma natureza; então ele aprenderà a olhar a beleza fìsica como pouca coisa.
Da esfera da ação ele deverà passar na esfera da inteligência e comtemplar a beleza das ciências, dessa maneira chegando a uma vista mais extensa da beleza, lançado no oceano da beleza, e todo inteiro nesse espetàculo, ele gera com uma inesgotàvel fecundidade os pensamentos e os discursos mais magnìficos e mais sublimes da filosofia; até que ele perceba uma ciência, a da beleza de qual eu ainda vou falar.Aquele que nos mistérios do amor avançou até o ponto onde nòs estamos atravéis uma contemplação progressiva e bem guiada, alcançando o ùltimo grau da iniciação, verà de repente aparecer a seus olhares uma beleza maravilhosa: beleza eterna, não gerada e não perecìvel, exemplo de decadência como de crescimento, beleza que não tem uma forma sensìvel, um rosto ou uma forma corporal, que também não é tal pensamento ou tal ciência particular; que é absolutamente idêntica e invariàvel por ela mesma; de qual todas as outras belezas participam. [.....]
O verdadeiro caminho do amor, que nòs tenhamos encontrado por si mesmo ou que nòs sejamos guiados por outra pessoa, é de começar pelas belezas desse mundo, e os olhos ligados a beleza suprema, de se elevar sem cessar passando de uma certa maneira por todos os graus de uma escala, de um ùnico corpo a dois, de dois a todos os outros, dos corpos belos aos belos sentimentos, dos belos sentimentos aos belos conhecimentos, até que, de conhecimento em conhecimento, nos alcançemos o conhecimento por excelência, que sò tem como objeto o belo ele mesmo, e que nòs acabemos por conhece-lo como ele é em si mesmo.
O que pode dar um preço a essa vida, é o espetàculo da beleza eterna. Junto a um tal espetàculo, o que seriam o ouro e o adorno, as belas jovens pessoas de quem a vista te perturba? Qual não seria o destino de um mortal a quem lhe seria dado de contemplar o belo sem mistura, na sua pureza e simplicidade, não mais revestido de carne e de cores humanas, e de todos os inùteis adornos condenados a perecer, a quem seria dado de ver face a face, na sua forma ùnica, a beleza divina !


- Platão, O banquete, 210B - 211A, Trad. V. Cousin, Pichon et Didier, 1831.

O belo e a teoria das idéias

Ateniano, nascido em 428 antes de J.-C. em uma familia nobre, Platão é aos vinte anos discìpulo de Sòcrates.Quando seu mestre morre, ele continua sua formação em Mégare, no Egito e na Sicilia pythagoricienne. Aos 40 anos, ele funda em Athena a Academia, universidade cientìfica, literària e polìtica, onde ele terà Aristote e Démosthéne como alunos. Ele morre em Athena em 348, com a idade de 80 anos.


Mitos e diàlogos

A filosofia de Platão se movimenta sem cessar entre dois pòlos: os diàlogos com uma lògica incisiva, onde as razões dos interlocutores se confrontam em uma procura entusiasmada da verdade, e as grandes narrações, os famosos "mitos", onde Platão expõe uma visão feita de imagens do universo, da humanidade e da destinação da alma. Sua teoria das idéias, entre racionalismo e misticismo, ilustra essa ambivalência.
Essas idéias (eidos, aspectos), independentes do espìrito humano, são as essências do ser e das coisas. Elas têm uma realidade superior aos seres materiais ( os homens, as plantas, os objetos inanimados...) que sò são reflexos.
Por isso é ilusòrio de querer definir a beleza atravéis um elemento material, ou um exemplo concreto, como diz Sòcrates no diàlogo Phédon, pois ela se situa em uma esfera diferente do mundo sensìvel. As coisas belas, muitas vezes dessemelhantes entre elas ( um quadro não tem nenhum traço material comum com uma mùsica), tiram sua beleza da união delas ( " participação") com a Idéia da beleza, que resplandece discretamente nelas.
Durante toda a sua obra, Platão aprofundarà essa doutrina das Idéias, esboçando um domìnio ideal hierarquizado, desligado do mundo tangìvel por uma separação radical ( chorismos). O diàlogo do Sofista ( 249e), mais tardivo, verà nessa separação até mesmo um ser dotado de inteligência e de vida. È dessa maneira que Plotin, grande leitor de Platão, descreverà a segunda " hypostase", lugar do pensamento divino. Apois ele, Augustin e a teologia medieval falarão do intelecto divino.
Segundo Platão, o homem, naturalmente desligado do domìnio ideal, pode ser levado a ele atravéis a educação ou o diàlogo socràtico. No livro o Banquete, a "prêtresse" Diotime apresenta todavia um outro guia: o Amor (Eros). Gênio ligando o mortal ao imortal, o sensìvel e o inteligìvel, ele faz o homem sair dele mesmo produzindo filhos ou obras belas, ultrapassando dessa maneira sua condição mortal. Purificado pela filosofia, ele leva o apaixonado da Beleza ao Belo verdadeiro, convertindo seu desejo de belos corpos no desejo, mais elevado, das belas ações, dos belos caràteres e em seguida das belas ciências. Procurado atravéis seus reflexos sensìveis, o Belo em si se revela enfim na contemplação pura.

Uma dubla posteridade

A doutrina das Idéias terà uma dubla posteridade. Seduzida por sua abstração, a tradição racionalista procurarà nela as condições do pensamento cientìfico, correndo o risco de leva-la a um dado subjetivo.
È dessa maneira que no século XVII, Descartes farà das idéias uma produção do espìrito humano. No século XX, Husserl tentarà no seu livro " Recherches logiques" (1900) de demonstrar a objetividade das idéias. Por outro lado, inùmeros artistas de Michel-Ange a Mallarmé, verão na arte uma via de acesso as Idéias. Enfim, para Kant, principalmente no seu livro " Crìtica da faculdade de julgar" (1790), as idéias se apreendem também atravéis a experiência estética

.- O.S. -

Nenhum comentário: