domingo, 8 de abril de 2007

Eleição presidencial na França

Uma ideia a explorar....

"Sprint"

As paixões se exasperam e o interesse se enfraquece.
"Ela me tratou de patife!" "Nem é verdade, espécie de mentiroso...
"Isso cheira os últimos metros do "antes-primeiro turno"(sic).
Com essas doses, justamente, de baixaria e de mentira, que dão sempre vontade de fugir bem rápido.
Os candidatos crispam-se. Os aparelhos se excitam.
As conversações se endurecem. Serramos os parafusos e os dentes, nós "serramos ao meio" sobre seus "fundamentos", como dizem os esportivos. A mídia, esperando a mínima baixaria, faz toda uma estória. Os programas, promessas e outros engajamentos perdem em visibilidade, atrás de uma nuvem de polêmica que nós vemos subir no horizonte. E tudo isso inspira uma forte vontade de fugir.
Nada de novo sob o sol eleitoral.
Uma vez que se falou da segurança, da escola, da dívida, da defesa, dos impostos, do clima, da identidade nacional, da imigração, da justiça, da moradia, dos transportes, da saúde pública, do salário mínimo, do RMI - (salário mínimo de "inserção" para as pessoas desfavorizadas que não trabalham, entre 300 e 400 euros por mês)- do desemprego, do trabalho, das trinta e cinco horas - (redução do tempo de trabalho imposto pelos socialistas ), das sondagens, dos jovens, dos velhos, das mulheres, dos agricultores, dos artistas, dos patrões, dos operários, da laicidade, de "l'outre-mer", da eutanásia....
Uma vez falado de todas essas coisas, e de todos àqueles, o que vocês querem que eles (e elas) digam? Ou façam? Tirar as tripas no ordinário das "etripages" republicanas. Piques e contra-piques. Ataques e contra-ataques. "Eu, eu não atacarei jamais meus adversários", e vlan! um míssil retórico atravessa a paisagem. "Vocês encontrarão em mim a linguagem da verdade", e zou! Uma mentira imensa se espalha sobre o Hexagone. " Coups bas? eu, jamais!" e pan! o "coup" partiu.
Nós podemos nos indignar, mas é preciso surpreender-se? Tudo isso não é absolutamente inédito e mesmo, nós podemos reconhecer que no seu começo, a campanha eleitoral 2007 foi de uma assaz "bela postura". Falávamos da profundidade das coisas, pelo menos de certas coisas. Antes do equilíbrio forçado do tempo de antena (na televisão) os "grandes" candidatos tinham o direito de se expressar longamente e os Franceses estavam atentos. Interessados. Reconheçamos que, depois de alguns dias, a segmentação da mídia forçada contribui a esquematizar o debate. Ao atribuir equitavelmente à cada um e à cada uma, a ocasião de ver repercutir suas frases choques, suas fórmulas assassinas e não mais os desenvolvimentos que as teriam preparado. Uma lei de igualdade abaixa o nível.(sic)
Muito bem para os "pequenos" que fizeram irrupção após terem em vão levantado o colo da camisa, durante meses, atrás dos "grandes" "du premier rang". A qualidade que se dane (sic). Isso começa a parecer com o zapping, e com os "Guignols de l'info" - (programa humorístico político onde todas as personalidades políticas nacionais e internacionais, principalmente o presidente americano, são ridicularizadas representadas por marionetes, um enorme sucesso aqui na França). No entanto, resta a imprensa, onde nós continuamos a procurar os "assuntos", a dar aos uns e aos outros a ocasião de sair do "schematisme".


Detalhe


Existiria, para renovar o gênero, uma idéia, que não foi explorada até agora? (ao menos que tenha um erro de falta de atenção, mas nós permanecemos atentos...). Seria porque tendo, durante semanas (meses, para alguns) falado aos Franceses das preocupações dos Franceses, nós começamos a falar do resto. A sair do pequeno jardim, "en quelque sorte". Para falar desse detalhe minúsculo que se chama o resto do mundo.
Falar da África, onde países inteiros se afundam na "déréliction" - (estado em que uma pessoa se sente cada vez mais abandonada do socorro humano ou divino mais precisamente) - à violência, aos interesses sórdidos enquanto que outros, como por milagre, parecem começar a se erguer.
Da China, é claro, e da Índia, que amanhã dominarão, e então dirigirão o planeta. Não unicamente para falar mal ou para vigiar a ameaça (sic), "au creneau de notre vieux donjon". Mas para melhor compreendê-los, analisar como eles se comportam,suas diversidades,suas forças, suas fraquezas, seus povos, seus rituais, suas culturas. Para começar a se demandar como vamos falar com eles.(sic)
Da Rússia, que abandonou a retórica do sovietismo, mas só abandonou isso, reunindo o chauvinismo e a xenofobia aos métodos policiais herdados do tsarismo e do comunismo; e substituindo o egoísmo desigual à antiga impostura do coletivismo.(sic)
Do Oriente, próximo ou extremo, que se debate em uma história sem fim muitas vezes narrada como "uma revista em quadrinhos" cruel com seus maus demasiadamente maus, e suas vítimas que passam em nossa frente, sobre as macas, entre as pedras que tornaram-se negras dos edifícios.(sic)
Da América do Norte, também, que continua a nos fascinar ao mesmo tempo que ela nos exaspera, o que faz a metade do seu charme.
Da América Latina, descendente de nossa "vieille Europe", onde resiste uma certa leveza, dançante e colorida, mas onde voa sempre a morte familiar atrás dos aspectos mil da opressão.(sic)


Europa


E a Europa ? A Europa, a Europa, a Europa, que de Gaulle se gabava fortemente. Essa Europa "tancée" pelo papa no momento de seus 50 anos "au dam posthume", sem dúvida, dos fundadores, que eram grandes cristãos. Essa Europa que a maior parte das pessoas não ousa sustentar a voz e o gesto. Essa construção complicada a realizar, mas nascida assim mesmo de uma intuição genial. Ela tornou-se o que os "psys" chamam um "objeto negativo".(sic)
Uma sorte de punching-ball contra o qual nós podemos focalizar todos os erros. Essa Europa que a França parou de amar e que os Franceses cessaram de construir. Nós vamos, Mesdames e Messieurs les candidats, deixa-la afogar-se no desprezo, na negligência, na desilusão? Não existe nada a dizer aos Franceses quando nós sabemos o que se desenha no resto do mundo com a recomposição das potências?(sic) Nós vamos nos "disputailler" entre "nações" (sic), perpetuamente, aos pés do edifício em construção, enquanto os outros impérios se consolidarão em todos os lugares, (sic), à l'est e à l'ouest? Isso pode ser uma escolha. Alguns a fazem,dizem e assumem.
Mas o pior de tudo, é o silêncio encabulado. Nada a dizer sobre a Europa? Não é possível! E vocês vão presidir o quê? O planeta França, navegando perdido em um cosmos geopolítico incompreensível? (sic) Vocês vão nos deixar afastados de tudo o que se prepara no exterior?
De tanto seduzir os Franceses lhes falando dos Franceses, o risco existe (mesmo, ele está aqui) de não dizer nada da França no seu diálogo com o resto da terra. Não vamos sonhar com a insularidade (identitária, social, econômica, cultural...).
O mundo existe, se vocês não sabem! Ele não nos é estrangeiro e o será cada vez menos.


- A crônica de Bruno Frappat - jornal, la Croix - domingo 8 de abril 2007 - France.

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