segunda-feira, 30 de abril de 2007

Da democracia na América

Se bem que nobre, Alexis de Tocqueville (1805 - 1859), não é um nostálgico do Antigo Regime, ao contrario. Em 1831 e 1832, ele viajou na América, a fim de observar e de analisar a prática da democracia que lhe parecia dever inelutavelmente se instalar na França. A seu retorno, ele redigiu "De la démocratie en Amérique", publicado em 1835 e 1840. O livro logo obteve um grande sucesso e lhe fez ganhar uma cadeira na Academia de ciências morais e políticas e pouco tempo depois uma cadeira na Academia Francesa.
Consciente que o movimento de modernização da sociedade é irreversível, Tocqueville pensa que é preciso abordá-lo positivamente, mas com precaução para evitar os desvios que um excesso de democratização poderia conduzir.
A liberdade política é um excelente valor, mas ela deve ser garantida pela separação dos poderes e a presença de contra-poderes como a imprensa ou a liberdade de associação.

- Ces Textes qui ont marqué l'Histoire de France - Esses textos que marcaram a História da França - De la Restauration à la République - France 2007


"SOBRE O SUFRÁGIO UNIVERSAL "

"Eu sei que aqui eu ando sobre um terreno ardente. Cada uma das palavras desse capítulo deve melindrar em alguns pontos, os diferentes partidos que dividem meu país. Eu direi assim mesmo todo o meu pensamento.
Na Europa, nós temos dificuldades para julgar o verdadeiro caráter e os instintos permanentes da democracia, porque na Europa há luta entre dois princípios contrários, e que não sabemos precisamente qual a parte que é preciso atribuir aos princípios neles mesmos, ou as paixões que o combate fez nascer.
As coisas são bem diferentes na América.
Lá o povo domina sem obstáculos, não existem perigos a temer, nem injúria a vingar.
Na América, a democracia segue suas próprias inclinações. É nisso que é preciso julga-la. E para quem esse estudo seria interessante e proveitoso, senão para nós, que somos conduzidos por um movimento irresistível cada dia que passa, e que andamos como cegos, talvez em direção ao despotismo, talvez em direção a república, mas com certeza absoluta em direção a um estado social democrático? [...]
Muitas pessoas, na Europa, acreditam sem dize-lo, ou dizem sem acreditar que uma das grandes vantagens do voto universal é de chamar à direção das Coisas Públicas, homens dignos da confiança pública. O povo não saberia governar-se dizem algumas pessoas, mas ele quer sempre sinceramente o bem do Estado e seu instinto nunca falta para designar àqueles que o mesmo desejo anima e que são os mais habilitados para ter o poder.
Para mim, eu devo dizê-lo, o que eu vi na América não me autoriza a pensar que isso é verdade. Quando eu cheguei nos Estados-Unidos, eu fiquei muito surpreso de descobrir a que ponto o mérito era comum entre os governados, e como ele era pouco nos governantes. É um fato constante que, nos dias de hoje, nos Estados Unidos, os homens mais notáveis são raramente chamados para encarregar-se das funções públicas, e nós somos obrigados de reconhecer que sempre foi assim à medida que a democracia avançou em todos os seus antigos limites.
É uma evidência que a raça dos homens de Estado americanos diminuiu singularmente desde um século e meio. Nós podemos indicar várias causas desse fenômeno.
É impossível, seja o que for que façamos, de elevar "as luzes do povo" além de um certo nível. Nós poderemos fazer todos os esforços para facilitar a acessibilidade aos conhecimentos humanos, melhorar os métodos de ensino e tornar a ciência barata, nós não conseguiremos jamais que os homens se instruam e desenvolvam sua inteligência sem consagrar a esses esforços o tempo necessário.
A mais ou menos facilidade que encontra o povo a viver sem trabalhar, forma o limite necessário desses progressos intelectuais. Esse limite é situado mais longe em certos países, mais perto em outros; mas para que ele não exista, seria preciso que o povo não tenha que se ocupar dos cuidados materiais da vida, quer dizer, que ele não fosse mais o povo.
Então é muito difícil de conceber uma sociedade onde todos os homens sejam muito esclarecidos, da mesma maneira que um Estado onde todos os cidadãos sejam ricos; eis então duas dificuldades correlativas. Eu admitiria sem problema que a massa dos cidadãos quer verdadeiramente o bem do país; eu vou mais longe ainda, e eu digo que as classes inferiores da sociedade, me parece misturar, em geral, a esse desejo menos de combinações de interesse pessoal do que as classes elevadas, mas o que lhes falta sempre, mais ou menos, é a arte de julgar dos meios querendo sinceramente o fim."

- Alexis de Tocqueville,De la démocratie en Amérique,(1835 - 1840 )

domingo, 29 de abril de 2007

"O cultivador sabe mais do que a administração"

O objeto dos governantes, ao procurar influir na produção, é, ou de determinar a produção de certos produtos que eles acreditam mais dignos de ser favorizados do que outros, ou então de prescrever maneiras de produzir que eles julgam preferíveis a outras maneiras. Os resultados dessa dupla pretensão, relativamente à riqueza nacional, serão examinados nos dois parágrafos desse capítulo. [...]
Através desse exame, nós veremos quais são as circunstâncias onde razões suficientes parecem comandar algumas derivações no caminho que parecem prescrever os princípios gerais. Na administração, os grandes males não vêm das exceções que nós acreditamos dever fazer às regras; eles vêm das falsas noções que nós formamos da natureza das coisas, e das falsas regras que nós impomos em conseqüência. Então nós fazemos o mal em grande, nós agimos sistematicamente ao contrário.[...]
A natureza das necessidades da sociedade determina a cada época, e segundo as circunstâncias, uma demanda mais ou menos enérgica de tais ou tais produtos. O resultado é que, nesse tipo de produção, os serviços produtivos são um pouco melhor pagos do que nos outros setores da produção, quer dizer que os benefícios que nós fazemos sobre o emprego da terra, dos capitais e do trabalho, são um pouco melhor. Esses benefícios atraem desse lado os produtores, e é dessa maneira que a natureza dos produtos se conforma sempre naturalmente às necessidades da sociedade. Nós já vimos que essas necessidades aumentam na medida em que a produção é bem maior, e que a sociedade em geral compra mais na medida em que ela tem mais coisas para comprar.
Quando, através essa marcha natural das coisas, a autoridade se mostra e diz: o produto que nós queremos criar, aquele que dá os melhores benefícios, e em conseqüência àquele que é o mais procurado, não é o que convêm; é preciso nos ocuparmos de outro produto, ela dirige evidentemente uma parte dos meios de produção em direção de um gênero em que a necessidade não é tão grande, prejudicando outro produto em que a necessidade é bem maior. [...]
A administração dizia [em 1794] que o valor produzido importava menos que a natureza dos produtos, e que ela preferia que um hectare de terra produzisse 20 francos de trigo em vez de 30 francos de forragem. Ela calculava mal; pois se o terreno produzia um hectolitro de trigo valendo 20 francos, esse mesmo hectare cultivado no prado, e dando um produto de 30 francos, teria fornecido um hectolitro e meio de trigo em vez de um hectolitro. Porque se o trigo estivesse assaz raro e assaz caro para que o hectolitro valesse mais que a forragem, a decisão era supérflua: o interesse do produtor era suficiente para lhe fazer cultivar o trigo.
Então só é preciso saber agora quem, a administração ou o cultivador, sabe melhor qual o gênero de cultura será mais vantajoso; e é permitido de supor que o cultivador que vive no terreno, o estuda, o interroga, que está interessado bem mais do que qualquer outra pessoa a ter o melhor proveito sabe bem mais sobre ele do que a administração.
Se nós insistimos, e se nós dissermos que o cultivador só conhece o preço normal do mercado, e não saberia prever, como a administração, as necessidades futuras do povo, nós podemos responder que um dos talentos dos produtores, talento que o interesse deles obriga a cultivar cuidadosamente, é não somente de conhecer, mais de prever as necessidades. [...]
O interesse pessoal é sempre o melhor juiz da dimensão do sacrifício e da indenização que nós podemos nos prometer; e se bem que o interesse pessoal se engana algumas vezes, é, considerando bem a situação, o juiz menos perigoso, é àquele em que os julgamentos custam menos. Mas o interesse pessoal não oferece mais nenhuma indicação, quando os interesses particulares não servem de contrapeso uns para os outros.

- Traité d'Èconomie Politique (1803),chap.17 - Tratado de Economia Politica- Jean-Baptiste Say


ESTADO E LIBERDADE DE COMÉRCIO

Teórico da economia política e empresário - ele dirigiu uma fiação de algodão, Jean-Baptiste Say (1767-1832), é incontestavelmente o chefe de fila da escola liberal francesa em economia política. A apresentação clara que ele propôs no seu "Tratado de Economia Política " (1803 ) da obra de Adam Smith lhe assegurará um renome imediato na Europa e nos Estados-Unidos. Essa celebridade porta até hoje com a célebre "loi de Say" ou "loi des débouchés", segundo a qual é a produção que abre novas oportunidades à produção porque o valor dos serviços produtivos pagos é igual ao valor da produção. Em conseqüência, não pode existir crises gerais de produção excessiva; somente crises locais podem aparecer se houve uma má repartição dos meios de produção entre os setores da economia.


Méritos da concorrência

No texto acima, Say examina a questão da intervenção do Estado e, mais particularmente, os efeitos nocivos de uma política intervencionista. Essa questão é crucial para os economistas liberais depois do debate sobre a liberdade do comércio dos grãos lançada pelos "physiocrates" a partir dos anos 1760. Say continua esse combate em favor da liberdade das trocas explicando que a intervenção do Estado implica deslocamentos de recursos produtivos de um setor a um outro, menos proveitoso. A argumentação é primeiro em termos de valor: é melhor produzir 30 francos de forragem do que 20 de trigo, pois a venda da forragem permitirá de obter mais trigo. Ele continua em seguida com o problema da informação que dispõe de um lado a administração, do outro o indivíduo: a primeira não é capaz de fazer melhor do que o segundo que sabe melhor o que pode ser proveitoso e possível de fazer. Say admite plenamente a conseqüência: os indivíduos podem se enganar, mas eles se enganam menos e com menos de conseqüências do que a administração. Mas Say insiste cuidadosamente sobre um ponto crucial: para que os interesses particulares possam chegar a um resultado socialmente favorável, eles devem ser postos em uma situação de concorrência.
O combate pela liberdade das trocas internacionais continua durante todo o século XIX, ainda mais que o protecionismo reaparece no fim do século.
O pensamento econômico liberal pode explicar esse último fenômeno? Say fornece o elemento de base, que foi em seguida completado pelo economista liberal italiano Vilfredo Pareto. O argumento repousa na diferença de sensibilidade do indivíduo de encontro aos efeitos de proteção da alfândega: nós vemos claramente os ganhos que nos beneficiamos (concorrência mínima, que provoca preços superiores), mas nós percebemos menos os inconvenientes (custo superior dos bens que beneficiam da proteção), ou porque estes não são relacionados à proteção da alfândega, ou porque eles são dificilmente perceptíveis para o consumidor dentre o conjunto de suas despesas.


Um liberalismo temperado

No entanto, o liberalismo de Say é repleto de seus engajamentos revolucionários (ele foi um dos voluntários do ano II) e de seu ideal republicano em favor de uma implicação do cidadão nas decisões política. Se o mercado libera os indivíduos das pressões Etàticas e pessoais, ele não assegura sempre a independência dos trabalhadores desqualificados, que correm o risco de sofrer com os efeitos negativos da potência econômica dos "senhores". Nesse caso, Say deixa pensar que uma ação do Estado relativa a esses "senhores" seria menos injusta que o fato de deixá-los em uma situação onde eles sofreriam uma dominação do mercado.

- Philippe Steiner, autor de "La sociologie économique" - A sociologia econômica - (La Découverte, 2005 )


Physiocrates

Economistas do século XVIII que, considerando a agricultura como a riqueza essencial das nações, preconizam uma política econômica liberal para assegurar seu desenvolvimento

Platão e Aristóteles, Irmãos Inimigos?

Compreender

Muitas vezes nós opomos Platão o idealista a Aristóteles o realista. Na realidade, Aristóteles, aluno de Platão, realizou sua filosofia da mesma maneira que ele a combateu. E todos dois realizaram-se no mesmo pensamento, o de Sócrates, filósofo e mártir que temia a injustiça bem mais do que a morte.

A herança filosófica da Grécia é a filosofia ela mesma. A fórmula é particularmente verdadeira para Platão e Aristóteles que formularam as principais questões da filosofia. Esses dois filósofos formaram uma atitude feita de reflexão e de crítica, que se encontra em todos os pensamentos ulteriores, e uma ambição de conhecimento que a filosofia nunca mais se desfez, que ela implique no ser, na verdade ou nas ações humanas. Com eles, as investigações filosóficas se distinguem para sempre das mitologias e da sabedoria tradicional. Platão e Aristóteles formularam os objetivos do raciocínio filosófico e eles formaram seu estilo característico.


Estilo e disciplinas

Ao princípio dessa posteridade sem interrupção, Platão ocupa o lugar de honra. Sua obra reúne com efeito a maior parte dos domínios que constituem ainda hoje a disciplina filosófica. Ela voltou com toda a sua força na Renascença e inspirou, desde o fim do século XVI ,a modernidade científica e filosófica. Aristóteles situa-se na filiação "platonicienne". Portanto, com ele, a filosofia não é mais o que ela era para Platão, uma atividade concebida como exercício de desapego ao mundo sensível e uma aspiração a conhecer as realidades inteligíveis. Ela torna-se também um conjunto de conhecimentos definidos: a "ontologia", a teoria do conhecimento, a psicologia, a ética, a política... Aristóteles é o primeiro filósofo que propôs uma organização dos conhecimentos ainda em vigor nos dias de hoje.
Sua influência foi considerável no fim da Idade Media, antes de conhecer com a revolução cartesiana uma forma de relegação, felizmente realizada.
Platão e Aristóteles traçaram linhas de partilha, que continuaram decisivas durante mais de dois milênios. O mais conhecido dentre esses clivagens é o que separa "ineísmo" e empirismo (as condições do conhecimento se encontram no espírito ou na experiência?). O segundo é relativo a oposição entre dualismo e monismo (existem duas formas de realidade, o espírito e a matéria? A realidade se reduz a uma única sorte?). Uma outra oposição é relativa ao objeto do que é possível de conhecer (podemos conhecer a realidade sensível? O conhecimento se limita as realidades puramente inteligíveis, como os objetos matemáticos?).
Outras divisões são relativas as maneiras de considerar a moral e a política: a boa ação depende exclusivamente do conhecimento? Será que ela exige outros fatores como o desejo ou a sensibilidade? A perfeição política se reduziria ao conhecimento da ciência de comandamento? Será que ela só existe no seio de um regime particular?


Linhas de partilha

A cada uma dessas questões, as respostas "platoniciennes" poderiam parecer radicais. Para Platão, as condições do conhecimento não se encontram em nosso mundo. Só existe uma realidade verdadeira: as Formas inteligíveis. O mundo sensível só é conhecido de uma maneira secundária. A virtude depende exclusivamente da sabedoria. Somente os filósofos, que possuem a ciência política, podem governar as cidades.
Ao contrário, Aristóteles parece mais moderado. Ele recusa de limitar o conhecimento ao inteligível. Ele define os degraus do conhecimento, e precisa suas condições. Ele protesta diante a separação "platonicienne" das Formas e quer tornar o mundo sensível acessível. Ele pleita pela associação do desejo reto e do pensamento correto no ato moral. Ele reconhece a importância de uma boa Constituição e bota a pluralidade conflituosa no fundamento da realidade política.


Proximidade conflituosa

Mais seria concluir muito rápido acreditar que Aristóteles se opõe em todos os pontos a Platão ou que Platão é um extremista e Aristóteles um conciliador. Pois a influência "platonicienne" se exerceu com força na obra de Aristóteles que foi um aluno de Platão. Ele passou vinte anos ao lado dele na Academia. Certo, a simpatia que Aristóteles sentiu primeiro pelo platonismo foi pouco a pouco se amenizando. Ela se converteu às vezes em uma oposição evidente. Mais nós não devemos esquecer que essas diferenças entre Platão e Aristóteles que parecem consideráveis ao leitor atual, eram pouco discerníveis para os autores que os seguiram. Os filósofos "platoniciens" dos séculos V e VI de nossa era, que foram os maiores comentadores da obra de Aristóteles, se serviram dele como de um preâmbulo para ensinar o pensamento de Platão.
Platão e Aristóteles compartilham também as mesmas questões. Platão as formulou primeiro; ele foi então o primeiro a respondê-las, disso a impressão de radicalismo relacionadas a algumas de suas teses. Aristóteles fez o contrário, e por essa razão ele encontrou-se várias vezes em uma situação na qual ele devia nuançar as concepções de Platão.
Vamos examinar dois exemplos. As Formas inteligíveis são para Platão toda a realidade e todo o conhecimento acessível. Uma Forma é uma razão, um logos, dotado de uma realidade, sempre verdadeira e presente na maior parte dos seres: o círculo, o cavalo, ou a virtude. Aristóteles, quanto a ele, critica Platão de não ter ido mais longe e de não ter procurado apreender o que faz a inteligibilidade do indivíduo singular: tal círculo, tal cavalo, tal ato virtuoso. Ele deplora que Platão não tenha procurado explicar a origem do movimento.


O bem, princípio da ação moral.

A mesma proximidade conflituosa se observa com relação ao sujeito da moral. Nada é mais estrangeiro ao pensamento de Aristóteles do que a ambição de Platão de fazer da ética uma empresa de conhecimento. O fim da moral é para ele tornar-se virtuoso. Aristóteles recusa também, ao contrário de Platão, de prosseguir na moral uma exatidão e um rigor que para ele só valem para as ciências. Ele recomenda de partir das opiniões comuns, as mesmas que Platão afasta com desdém, e procede de maneira dialética afastando as dificuldades e os problemas.
A oposição entre os dois filósofos aparece claramente na definição do bem. A Forma do bem é a parte essencial da realidade inteligível para Platão. Ela é a parte mais brilhante do ser, dotada das características formais da beleza, da ordem e da simetria. Ela é o critério para julgar o mundo real, das matemáticas as ações humanas. Aristóteles critica essa definição de Platão afirmando que o bem não tem um único sentido, mas vários sentidos, e não pode fazer o objeto de um conhecimento unificado. O bem é Deus se nós o compreendemos como uma substância, ele é virtude se nós o definimos como uma qualidade, uma medida se nós o consideramos como uma quantidade. Mas apesar dessas oposições, Platão e Aristóteles estão de acordo para fazer do bem o princípio da ação moral.
Existe ainda muita coisa a aprender de Platão e Aristóteles. A exemplaridade deles tem pouca coisa em comum com a psicologia do reconforto ou com a sabedoria popular em que a filosofia grega é muitas vezes reduzida atualmente. Nós não devemos esquecer que eles tiveram o mesmo mestre comum, Sócrates, que eles admiravam, não somente pela invenção da definição universal da filosofia, mas sobretudo porque ele temia a injustiça bem mais do que a morte.
- Monique Canto-Sperber, filósofa, diretora de pesquisa no CNRS. Ela publicou entre outras obras, Èthiques grecques (PUF,2001), e Le Bien, la guerre et la terreur. Pour une morale internationale (Plon,2005).

segunda-feira, 23 de abril de 2007

"A liberdade individual, eis a verdadeira liberdade moderna"

Senhores, eu me proponho de vos submeter algumas distinções, ainda bastante novas, entre dois gêneros de liberdade [...]. Uma, é a liberdade da qual o exercício era tão caro aos povos antigos; a outra, essa liberdade da qual a fruição é particularmente preciosa às nações modernas [...]. Perguntai-vos antes, Senhores, o que nos dias de hoje um Inglês, um Francês, um habitante dos Estados Unidos da América, compreendem pela palavra de liberdade?
É para cada um o direito de estar submetido somente as leis, de não poder ser preso, nem detido, nem condenado à morte, nem maltratado de nenhuma maneira, pelo efeito da vontade arbitrária de um ou de vários indivíduos.
É para cada um o direito de dizer sua opinião, de escolher sua industria e de exercê-la; de dispor de sua propriedade, de abusar dela mesmo; de ir, de vir, sem obter a permissão, e sem justificar seus motivos ou seu raciocínio. É para cada um, o direito de se reunir com outras pessoas, ou para conferir sobre seus interesses, ou para professar o culto que ele e seus sócios preferem, ou simplesmente para preencher seus dias e suas horas de uma maneira mais conforme a suas inclinações, a suas fantasias.
Enfim, é o direito para cada um, de influir na administração do governo, ou seja pela nominação de todos ou de certos funcionários, ou por representações, petições, demandas, que a autoridade é mais ou menos obrigada de levar em consideração. Comparem agora a essa liberdade, à liberdade dos antigos.
Esta consistia a exercer coletivamente, mais diretamente, várias partes da soberania na sua totalidade, a deliberar, na praça pública, da guerra e da paz, a concluir com os estrangeiros tratados de aliança, a votar as leis, a pronunciar julgamentos, a examinar as contas, os atos, a gestão dos magistrados, a fazê-lo comparecer diante todo o povo, à acusá-los, a condená-los ou a absolvê-los; mas ao mesmo tempo que era isso que os antigos nomeavam liberdade, eles admitiam como compatível com essa liberdade coletiva a submissão completa do indivíduo à autoridade do grupo.
Vocês não encontrarão neles quase nenhuma das fruições que nós acabamos de ver como fazendo parte da liberdade dos modernos. Todas as ações privadas são submissas à uma vigilância severa. Nada é acordado a independência individual, nem sob a relação das opiniões, nem sob a da indústria, nem sobretudo sob a relação da religião [...].
A liberdade individual, eu o repito, eis a verdadeira liberdade moderna. A liberdade política e sua garantia; a liberdade política é em conseqüência indispensável.
[...] Não é de maneira alguma a garantia que é preciso enfraquecer, é a fruição que é preciso aumentar. Não é de maneira alguma à liberdade política que eu quero renunciar; é a liberdade civil que eu reclamo como outras formas de liberdade política [...].
Que o poder se resigne a ela então, nós precisamos da liberdade, e nós a teremos; mas como a liberdade que nós precisamos é diferente da liberdade dos antigos, é preciso a essa liberdade uma outra organização que a que poderia convenir a liberdade antiga.
[...] Na espécie de liberdade a que nós seríamos suscetíveis, quanto mais o exercício de nossos direitos políticos nos deixará tempo para nossos interesses privados, mais a liberdade nos será preciosa.
Disso vem, Senhores, a necessidade do governo representativo. O sistema representativo não é outra coisa que uma organização que ajuda uma nação a descarregar em alguns indivíduos o que ela não pode ou não quer fazer ela mesma [...]. Os povos que, no objetivo de aproveitar-se da liberdade que lhes convém, recorrem ao sistema representativo, devem exercer uma Vigilância Ativa e Constante sobre Seus Representantes, e se Reservar [...] o Direito de afastá-los do Poder se eles traíram seus votos, e de Revogar os Poderes que eles teriam Abusado [...].
O perigo da liberdade moderna, é que absorvidos na fruição de nossa independência privada, e na procura de satisfazer nossos interesses particulares, nós possamos talvez renunciar muito facilmente a Nosso Direito de Partilha no Poder Político.

- "De la liberté des anciens comparée à celle des modernes" (1819) - Benjamin Constant -


Liberdade individual e exigência cívica

Na sua reflexão sobre as possibilidades de realizar os ideais democráticos e liberais em um grande Estado moderno, Benjamin Constant interrogou-se sobre as razões que podem explicar a viravolta despótica da Revolução francesa, e em seguida do Império, e "in fine" seu fracasso. Para ele, é o fantasma de querer aplicar as virtudes cívicas antigas a uma sociedade moderna onde os indivíduos estão sobretudo preocupados pela procura da satisfação de seus interesses que fornece a explicação mais pertinente. Segundo Constant, é a liberdade compreendida como independência individual e não a liberdade como poder de participação política que caracteriza melhor os Modernos. É o objetivo do discurso que ele pronuncia em 1819 na Athénée Royal de Paris: "Da liberdade dos antigos comparada à liberdade dos modernos".


Vida privada, vida pública

A liberdade dos antigos "se compõe da participação ativa e constante no poder coletivo" e do "exercício dos direitos políticos". Trata-se do que Constant chama ele mesmo a "liberdade política" pela qual o cidadão da cidade antiga exercia de maneira direta sua influência na gestão das questões comuns. Ao contrário, Constant dá uma definição da liberdade dos Modernos onde nós reconhecemos a dupla exigência da limitação do exercício do poder soberano e da proteção dos direitos individuais contra o arbitrário pelo respeito das garantias constitucionais, afim que cada um possa prosseguir livremente seus fins, sem ter que temer a imissão da autoridade política na sua existência privada.
A definição da liberdade moderna tem uma implicação direta na forma do governo própria à sociedade moderna: o governo representativo. Este é "uma Procuração dada a um certo número de homens pela massa do povo, que quer que seus Interesses sejam Defendidos, e que no entanto não tem o tempo de Defendê-los sempre ele mesmo".
No entanto, Constant mostra que o apego do indivíduo à fruição serena de seus direitos e a defesa de seus interesses exige que cada um exerça seu Direito de Participar da vida pública, ao risco, se este não foi o caso, que o poder político aumente seu "direito de exercer nos indivíduos uma Supremacia Arbitrária".
A exigência da liberdade política, na medida que ela designa ao mesmo tempo a participação no poder pelo exercício do direito de sufrágio, e a necessidade para cada um de exercer sua faculdade de julgamento crítico em relação às decisões adotadas pelo governo, constitui uma garantia importante em favor da preservação dos direitos individuais. Ela é então um limite suplementário e um meio de controle necessário da ação pública.


Democracia participativa

Essa reflexão de Constant apresenta um interesse pelo menos que tem um duplo titulo. Primeiro, porque ela reconhece que o indivíduo não pode se dispensar de um mínimo de implicação cidadã e que entre seus direitos de indivíduo consta o direito de Participar das Decisões Coletivas.
É nessa óptica que nós podemos compreender a reaparição atual do tema da democracia participativa.
A democracia liberal deve se organizar de tal maneira que cada um possa perceber a Influência que ele exerce nas Decisões que são Adotadas pelos governantes.
Em seguida, Constant viu perfeitamente que querer transformar um indivíduo moderno em cidadão-soldado (como durante a Revolução Francesa ou no regime de Napoleão) era perigoso para as liberdades. Se referir a Constant permite de acentuar certas contradições atuais da vida política internacional. Nós podemos dessa maneira nos interrogar se a orientação militarista da administração do presidente Bush é compatível afinal com a prioridade acordada pelos cidadãos americanos à suas preocupações individuais.


- T.C - France -

domingo, 22 de abril de 2007

Filosofia grega

8. O que é contrário é útil e é daquilo que está em luta que nasce a mais bela harmonia; tudo se faz através da discórdia.

41. A sabedoria consiste em uma única coisa, conhecer o pensamento que governa tudo em todos os lugares.

45. Nós não podemos encontrar os limites da alma, seja qual for o caminho, tanto eles são profundos.

49. Nós descemos e não descemos no mesmo rio; nós somos e não somos.

- Héraclite, Fragments choisis -


Parménide


I

As fugas que me levam ao bem querer dos meus desejos, voaram no caminho famoso da Divindade, que conduz o homem instruído em todos os lugares. [...]

A Deusa me recebe com benevolência, pega a minha mão direita na sua mão e me diz essas palavras: Menino, [...] seja o bem vindo; não foi um mau destino que te conduziu nesse caminho afastado do caminho dos homens; foi a lei e a justiça. É preciso que você aprenda todas as coisas, e o coração fiel da verdade que se impõe, e as opiniões humanas que são fora da verdadeira certeza.

II

Vamos, eu vou te dizer e você vai ouvir quais são as únicas vias de pesquisas abertas a inteligência; uma, que o ser é, que o não-ser não é, caminho da certeza, que acompanha a verdade; a outra, que o ser não é, e que o não-ser é obrigatoriamente, caminho onde, eu te digo, você não deve de maneira alguma te deixar seduzir por ele. Você não pode ter conhecimento do que não é, você não pode apreendê-lo nem o exprimir.

III

Pois o pensar e o ser são uma mesma coisa.

VI

É preciso pensar e dizer o que é; pois existe o ser; não existe o não-ser; eis o que eu te ordeno de proclamar. Eu te desvio dessa via de pesquisa, onde os mortais que não sabem nada se perdem [...]. Eles vão surdos e cegos, estúpidos e sem julgamento; eles acreditam que ser e não ser é a mesma coisa.[...]

VII

Jamais você fará que o que não é seja; desvie então teu pensamento dessa via de pesquisa [...].

- Parménide, De la nature - Fragments B VIII -


Sextus Empiricus

"Na origem de todas as coisas, existem os átomos e o vazio"

"Existem duas formas de conhecimento: uma verdadeira, a outra obscura. Ao conhecimento obscuro pertencem: a vista, a audição, o odor, o gosto, o tocar. O verdadeiro conhecimento é todo diferente. Quando o primeiro se revela incapaz de ver o mais pequenino, ou de ouvir, ou de sentir, ou de provar, ou de tocar e que é preciso levar suas pesquisas sobre o que é mais dificilmente perceptível por causa de sua fineza, então intervem o conhecimento verdadeiro que, ele, possui um meio de conhecer mais fino."

- Sextus Empiricus, Contre les mathématiciens, fragment 11, VII, 138, In Ècoles Prèsocratiques -



(82)[...] Então assim, (segundo Gorgias), nós não podemos nem pensar nem apreender o ser.
(83) E mesmo admitindo que nós possamos apreendê-lo, ele é incomunicável a outrem. Pois o que é perceptível pela vista, pela audição, e em geral, pelos sentidos - ao mesmo tempo que ele é dado como exterior - e se o que é visível é apreendido pela vista, o que é audível pela audição - e não indiferentemente por um ou outro sentido, - como isso pode ser significado a outrem?
(84) Pois o meio para nós de significar, é a palavra, e a palavra não é o que é dado e o que é; então não é o que é que nós significamos aos outros, mas a palavra, que é diferente do que é dado. Da mesma maneira então que o que é visível não poderia tornar-se audível, e reciprocamente, da mesma maneira que o ser é dado como exterior, não poderia existir uma palavra verdadeiramente nossa.
(85) E por essa razão,ela não poderia ser comunicada a outrem. Pois, a palavra nasce através uma continuação de coisas que nos surpreendem do exterior, - " à savoir" ( para saber) - as coisas sensíveis; pois é após o encontro delas com o humor do corpo que nasce para nós a palavra que traduz essa qualidade; e é da introdução da cor que nasce a palavra que traduz a cor. Se é assim, não é a palavra que traduz o que está fora da gente, mas o que está fora da gente que torna-se revelador da palavra.
(86) Claro, não é possível de dizer que é igual para o que é visível e audível; é impossível do fato que ela é dada e que ela é, que a palavra nos revele o que é dado e o que é. Pois se a linguagem é dada, ela é diferente dos outros dados, e os corpos visíveis são, ao mais alto nível, diferentes das palavras. Pois o meio através do qual nós aprendemos o visível é diferente daquele através do qual nós aprendemos a palavra. Dessa maneira então a palavra não nos mostra a maior parte das coisas dadas, nem mais nem menos que estas não nos mostram a natureza delas umas as outras.

- Sextus Empiricus, Contre les Mathématiciens, Fragment 83, & 65-66, et & 82-86 -

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Legitimidade e autoridade

"A legitimidade da autoridade depende de seu objeto e da sua fonte"

É preciso distinguir cuidadosamente um do outro os dois princípios de Rousseau. É preciso reconhecer o primeiro. Toda autoridade que não emana da vontade geral é incontestavelmente ilegítima. É preciso rejeitar o segundo. A autoridade que emana da vontade geral não é legítima apenas por isso, qualquer que possa ser sua extensão e sejam quais forem os objetos sobre os quais ela se exerce. O primeiro desses princípios é a verdade mais salutar, o segundo é o mais perigoso dos erros. Um é a base de toda liberdade, o outro a justificação de todo despotismo.
Em uma sociedade na qual os membros geram direitos iguais, é uma certeza que nenhum desses membros isoladamente pode fazer leis obrigatórias para todos; mas é falso que a sociedade inteira possui essa faculdade sem restrição. A universalidade dos cidadãos é o soberano, quer dizer que nenhum indivíduo, nenhuma fração, nenhuma associação parcial pode se arrogar à soberania sem que esta lhe tenha sido delegada. Mais isso não significa que a universalidade dos cidadãos ou daqueles que são investidos do exercício da soberania, possam dispor através essa soberania da existência dos indivíduos. Existe, ao contrário, uma parte da existência humana que, por necessidade, fica individual e independente e que é, do seu direito, fora de toda competência social.
A soberania só existe de uma maneira limitada e relativa. No ponto onde começa a independência da existência individual, cessa a jurisdição dessa soberania. Se a sociedade ultrapassa essa linha, ela torna-se culpada de tirania da mesma maneira que o déspota, que só tem por título o gládio exterminador. A legitimidade da autoridade depende de seu objeto da mesma maneira que ela depende de sua fonte. Quando essa autoridade se estende sobre os objetos fora de sua esfera, ela torna-se ilegítima. A sociedade não pode exceder sua competência sem ser usurpadora, a maioria sem ser facciosa.
O assentimento da maioria não é suficiente em todas as circunstâncias para dar a seus atos o caráter de lei. Existem atos que nada pode revestir desse caráter. Quando uma autoridade qualquer levanta uma mão atentadora sobre a parte da existência individual que não é de sua competência, pouco importa de qual fonte essa autoridade se diz emanar, pouco importa que ela se chame indivíduo ou nação. Ela seria a nação inteira, menos o cidadão que ela humilha, que ela não seria mais legítima. Se nós olhamos essas máximas como perigosas, então seria bom refletir que o sistema contrário autoriza igualmente os horrores de Robespierre e a opressão de Calígula.

- Principes de politique applicables à tous les gouvernements (1806)

- Princípios de política aplicáveis a todos os governos - Texto estabelecido por Etienne Hofmann, d'après les manuscrits de Lausanne et de Paris, Droz 1980 - Benjamin Constant.


SOBERANIA LIMITADA


Benjamin Constant e a soberania limitada

O fato mais importante da existência de Benjamim Constant (1767- 1830) reside em sua estadia na Suíça no seio do grupo de Coppet, com Mme. de Staël, filha de Necker, o ex-ministro de Louis XVI. Ele fica de 1795 até 1810, época de transição na elaboração de seu liberalismo político. A grande questão que preocupará Constant, desde essa época, e que ele procura resolver durante toda sua obra, é a seguinte: como instituir a soberania do povo ou da nação protegendo ao mesmo tempo o cidadão contra o risco de ver seus direitos individuais ameaçados por seus representantes? Extrato dos "Princípios de política aplicáveis à todos os governos" (1806), o texto apresentado aqui expõe uma das respostas avançadas por Constant, à fim de resolver esse enigma: a teoria da soberania limitada, que ocupa um lugar central na sua obra.


Vontade geral e indivíduo

Para Benjamin Constant, que se opõe aqui a Rousseau, a idéia da soberania do povo não corresponde a idéia de uma onipotência popular, quer dizer de um direito ilimitado que poderia se exercer de encontro a liberdade individual - "tanto é verdade que não é em desconsiderando os direitos do povo, que nós aumentamos a força real e legítima do governo e que é impossível inventar uma organização estável, afastando-se dos princípios sobre os quais repousa a liberdade", escreve ele nos seus "Princípios de política (livro XV, cap. 5). O reconhecimento de Constant do princípio de soberania do povo proíbe de ver nele o defensor de um liberalismo que seria incompatível com o ideal democrático do governo livre. No entanto, garantir a cada um a função de sua liberdade no seio da esfera privada supõe que nós devemos assentar limites ao exercício da soberania.
Assim, se toda reflexão sobre o poder deve levar em consideração a questão do fundamento da legitimidade da autoridade política (e isso a fim de responder a questão: de que maneira o representante exerce os direitos de soberania?), é preciso igualmente considerar a maneira pela qual a autoridade é exercida. Na realidade é indispensável de traçar uma linha de partilha entre um governo moderado e um poder absoluto que não hesitaria a pôr em perigo a liberdade e os direitos do indivíduo. Constant faz assim "direito" ao mesmo tempo a exigência democrática do consentimento popular - como fonte do poder e fundamento da legitimidade política, mas igualmente a exigência liberal da limitação da autoridade governamental pelo reconhecimento e a garantia dos direitos individuais.


Contra-poderes

Sua reflexão sobre a articulação da democracia com o liberalismo representa uma contribuição de primeiro plano para o pensamento político liberal. Constant procurou dar uma solução a um problema muito importante: como superar o conflito que pode opor os ideais democráticos e liberais, e harmonizá-los? É essa questão que nós encontramos no coração do pensamento político europeu: Na França, com Alexis de Tocqueville, na Inglaterra com John Stuart Mill, mas também na Itália, no século XIX, com autores como Giuseppe Mazzini ou, nos dias de hoje, com Norberto Bobbio.
Esse problema de articulação entre liberalismo e democracia é ainda atual na França: apesar dos avanços reais como o aumento da potência do Conselho constitucional ou a aceleração do processo de descentralização, o Estado francês tem dificuldades na realidade a aceitar a existência de contra-poderes verdadeiros. As relações de dominação entre o poder executivo e a justiça são um exemplo.

- Thierry Chopin, autor de Benjamin Constant: O liberalismo inquieto - (Michalon, 2002).

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Sabedoria antiga - Grecia

Compreender.

Conceitos da natureza e da ciência, questões do ser e da verdade, meditação sobre a linguagem, invenção da lógica, problemas do bem e da justiça: O pensamento antigo, que apareceu na Grécia 500 anos antes de J.C., formulou as grandes questões filosóficas que nos agitam ainda hoje.

A lição dos sábios antigos

O matemático e filósofo Alfred North Whitehead escreveu um dia que a filosofia ocidental é apenas uma série de notas embaixo das páginas de Platão. È exagerado. Mas, se nós incluírmos o nome de Aristóteles, isso seria mais verdadeiro. E se nós disséssemos que a filosofia moderna é uma vasta nota embaixo das páginas da filosofia antiga, nós roçaríamos a verdade.
Vamos começar por um fato bem simples: a filosofia antiga começou mais ou menos 500 anos antes de J.C. Ela cessou de ser pagã 500 anos depois. Isso já faz mil anos de história.
Além disso, dois filósofos gregos do século IV antes de nossa era, Platão e Aristóteles dominaram a cena até mais ou menos 1500. Suas obras e comentários sobre elas foram traduzidos em latim, em árabe, em hebreu. Na Idade Média, todos aqueles que filosofavam em grego (Byzance), em latim (Europa), em árabe (Islam), ou em hebreu (os judeus), os consideravam como autoridades. A filosofia antiga não é um simples prelúdio um pouco exótico e rapidamente esquecido: Se nós a consideramos com seus prolongamentos, ela representa os quatro "cinquièmes" de toda a história da filosofia.
È justamente porque ela durou tanto tempo, que ela nos impregnou tão profundamente, que nos é difícil de compreender o que ela nos legou, e que nós ainda vivemos.Vamos tentar dizê-lo em algumas palavras. "Olhar": Os Gregos nos ensinaram a atitude teórica. Quer dizer o quê? Ver, unicamente ver. Nada mais natural. Isso exige ao contrário um adestramento contínuo: Vamos lembrar do que as pessoas nos diziam quando éramos crianças: "Toque com os olhos!" Isso queria dizer: olhe, mas sem intervir sobre o que se passa. Nós sentíamos que isso não era de maneira alguma natural, e nos exasperávamos. Théôrein, isso quer dizer em grego ser ao espetáculo, ser ao teatro. Essa palavra vem, aliás, da mesma raiz: o teatro é o lugar onde nós olhamos simplesmente sem intervir, e nós rimos do "naïf" (ingênuo) que adverte o gentil quando o traidor chega. Mais exatamente ainda, théôrein queria dizer: se deslocar para ir ver alguma coisa, ir em delegação, por exemplo aos Jogos Olímpicos. Para ver desse olhar teórico, é preciso se desorientar, deixar seus hábitos.
Os povos antes da Grécia sentiam-se integrados ao mundo; assim, os Egípcios acreditavam que a boa ordem do movimento do sol dependia da intervenção deles, por exemplo, da maneira escrupulosa em que eles cumpriam os rituais ou, simplesmente, da solidariedade deles na cidade dos homens. Os Gregos compreenderam que o mundo não depende de nós, que ele faz o que ele faz sem a gente.Para nomear o que está presente antes da gente, e que não precisa da gente, eles forjaram a palavra "natureza", em grego phusis, que nós fizemos "física". Dessa natureza, os Gregos decidiram de fazer um catálogo. Para eles, a filosofia englobava também o que nós chamamos "ciência". Eles procederam com a passagem dos séculos a um vasto inventário do que existe: dos deuses (Hésiode), dos animais (Aristóteles), das plantas (Théophraste), das estrelas (Ptolêmée).
Com Heródoto, eles pesquisaram (em grego, historia) em direção do passado deles. Eles fizeram o mesmo com outros países. Eles queriam ver, por eles mesmos, sem aceitar com confiança o que os outros diziam.

A natureza e o ser

"Questionar": diante uma coisa que nós renunciamos a apreender e a manipular, uma questão se apresenta: "O que é isso?". Questão um pouco bizarra. Só a fazemos, de hábito, quando nós não sabemos para o que serve uma coisa, e para poder utilizá-la. Os Gregos continuaram a fazer essa pergunta igualmente uma vez que as coisas tornaram-se simples objetos para olhar.
Ela tem então um outro sentido: "O que é isso, verdadeiramente? "O que é isso, profundamente?" O que quer dizer que as coisas talvez não sejam o que elas tem a aparência de ser. As aparências podem nos enganar. É preciso ir além.
Nós somos todos gregos na medida em que nós situamos a verdade em um outro domínio que o das aparências sensíveis. Assim, a física moderna, que nos diz que as coisas são feitas de partículas invisíveis, herdou a sua maneira desse jeito de ver. Se "tudo o que é, é", e se tudo o que não é necessariamente o que ele tem a aparência de ser, será que todas as coisas que parecem tão diferentes sejam no fundo uma única e mesma realidade?
O primeiro daqueles que nós chamamos filósofos, Thalès, propôs essa hipótese: em última analise, tudo é água. O que não é uma besteira, nós vemos a água se transformar em gelo e se evaporar; todos os sólidos e todos os gases não teriam sua origem de um mesmo líquido elementar?
Após ele, os filósofos gregos propuseram outras hipóteses: outros elementos, eventualmente no fundo de uma mesma matéria, dita "primeira" ou ainda como Démocrite, partículas indivisíveis, que nós guardamos o nome: os átomos. Mas em cada caso, o importante é a idéia de uma unidade de tudo o que é. Essa unidade não pode ser constatada pela observação, mas corresponde a uma exigência da razão.
"Falar", entre tudo o que o homem "faz", uma atividade tem isso de particular que ela não "faz" nada propriamente falando. Ela é tão teórica quanto o olhar. É a linguagem. Falar das coisas não as modifica, da mesma maneira que olha-las não as modificava. Mas a linguagem se distingue também do olhar: quando eu olho, eu não faço nada; quando eu falo, eu "faço" alguma coisa, eu produzo algo novo. E o que eu faço, é justamente fazer ver. Eu digo: "Uma flor", e todo mundo se representa alguma coisa. Falando, eu dou dos objetos uma sorte de olhar que não é dos olhos. A segunda descoberta da filosofia grega é a linguagem.

Linguagem e lógica

Claro, nós não esperamos os Gregos para falar e para escrever. Mas são eles que perceberam tudo o que implicava o fato de falar e de escrever.
Eles compreenderam que nós não podemos falar de qualquer maneira. Existem condições que permitem a linguagem de fazer ver coisas consistentes, que não se dissolvem se nós as fixamos intensamente.
Se eu digo: "O maior de todos os homens", eu faço ver alguma coisa que existe, pois,mesmo se eu nunca o encontrei, existe realmente um homem que é maior que todos os outros. Mas se eu digo: "O maior de todos os números", eu formo uma expressão que não existe: assim que eu acreditar ter encontrado esse número, eu poderei sempre lhe acrescentar uma unidade.
Um "compte-rendu", um relatório que nós fazemos sobre alguma coisa, isso se chama em grego um logos. A disciplina que impede de dizer as coisas de qualquer maneira ou de se contradizer, os Gregos a chamavam a lógica. Aristóteles foi o primeiro a dar a lógica uma apresentação sistemática.
Mas todos os filósofos gregos antes dele refletiram sobre o que implicava a linguagem. Heráclito parte de um fato fundamental: o que nós dizemos contem bem mais coisas do que nós temos consciência. Seu contemporâneo, Parmênides, propõe um critério: para saber se alguma coisa é verdadeiramente, devemos nos perguntar se nós podemos dizê-la; é preciso "distinguir através da linguagem" (Krinai[...]logô). O Sócrates, que Platão bota em cena constata que nós falamos daquilo que não se vê. A mesma ação pode ser justa ou injusta: pegar o dinheiro de alguém, pode ser roubar, mais pode ser também recuperar o que ele roubou. A justiça então não é jamais na ação ela mesma, mas unicamente no que nós dizemos dela.
E quando nós dizemos que uma ação é bela, piedosa, corajosa, nós não vemos nada mais nessa ação do que nós dizemos. O que se torna visível do único fato que nós falamos, Platão chama o "rosto" das coisas, em grego eidos, que nós fizemos as "idéias".
"Contar": quando nós olhamos as coisas, nós podemos contá-las. Mas o número delas não depende do que nós vemos: cinco maçãs são também "cinco" como cinco cavalos, a conta (isso também se diz logos) é exata. Da mesma maneira, as tumbas dos pharaos tem a mesma forma que o bolo d'orge dos doceiros gregos, essa, justamente, de uma pirâmide.
Nós compreendemos os números e as figuras antes mesmo de ter visto do que eles são os números e as figuras.
Em grego, a atividade de apreender e de compreender se diz "manthanein", e seu objeto chama-se "mathèma". As matemáticas têm seu nome nele. Os Gregos praticaram e sistematizaram com Euclides. Os filósofos também as utilizaram como prova da capacidade que nós temos de nos ocupar das coisas invisíveis. Os números serviram a Platão como modelo para aprender como funcionam as "idéias". Seus discípulos, como Plotin, levaram a meditação sobre os números e sobre o mais misterioso de todos, Um, até fazer todo um sistema de metafísica.

A ética e a questão do bem

"Exceler": uma vez que nós compreendemos que o que existe constitui uma "natureza" e não depende do que nós fazemos, nós compreendemos que o que nós fazemos não depende do que existe. A escolha de uma atitude teórica provoca uma liberação da ação humana com relação a "natureza". Em conseqüência, a ação não pode mais lhe emprestar suas regras. É preciso doravante, as procurar nelas mesmas.
Uma boa ação não será nada mais do que uma ação bem feita. O que lhe permite de ser bem feita, os Gregos a chamaram "aretè", a "excelência". Ela designa a qualidade do que faz bem o que nós esperamos: o cavalo que corre rápido, a faca que corta bem. O homem também tem uma excelência, e ele a alcança quando ele cumpre bem sua obra de homem. Nós podemos se quisermos chamá-la de "virtude", mas a condição de compreender antes de tudo o "virtuosismo".
As três disciplinas gregas
Os filósofos gregos então procuraram a maneira mais excelente de viver. Não é suficiente de agir bem, pois nós podemos fazê-lo por acaso, por interesse ou por astúcia. As belas ações devem vir do interior mesmo de nosso caráter. Os Gregos o chamavam "ethos". Eles chamaram então a disciplina que responde a questão da melhor maneira de viver a "ética". Aristóteles descreveu e definiu as virtudes. Os filósofos que o seguiram propuseram todos, fórmulas de uma vida boa e a situaram na felicidade, no prazer, ou na sabedoria.
Assim, nós herdamos dos problemas que os Gregos nos deixaram, na física, na lógica, na ética, três disciplinas de nome grego. Nossas soluções não são necessariamente as deles. Mas as dos Gregos merecem talvez nossa admiração, sem duvida nosso respeito, pelo menos um estudo sério.


- Rémi Brague, professor de filosofia árabe e medieval em Paris - I, e de filosofia das religiões na universidade de Munich. Entre suas últimas publicações, "A sabedoria do mundo", "Introdução ao mundo grego", e "A lei de Deus".

Diversificação do liberalismo

"No século XIX, o liberalismo se diversifica subindo ao poder. Na França, Guizot favorece um Estado forte e centralizado em nome do interesse geral. Defensores dos direitos individuais, os liberais ingleses e americanos se apóiam, no entanto, no Parlamento e na Constituição"

O liberalismo a prova do poder

Convém distinguir a tradição filosófica do liberalismo e as idéias liberais presentes no combate político entre 1800 e os anos 1880; pois as lógicas de pensamento, os riscos e as respostas não são idênticas.
O liberalismo na filosofia pensou a autonomia do indivíduo e, nisso, ele é portador de toda a modernidade, a partir de Montaigne, de Bayle e de Locke.
Na política, a tendência majoritária do liberalismo francês, que Guizot é o fundador, tentou disciplinar e frear a independência do julgamento individual, no qual ele temia os fermentos da "anarquia".
A filosofia de Montesquieu visa a preservar os direitos da propriedade privada face a potência pública ( Do espírito das leis, VI, 5 e XXVI, 15), e os "doctrinaires" no poder (grupo de Guizot) temem os "interesses particulares" e protegem as prerrogativas do "Conseil d'Ètat" criadas por Napoleão primeiro; trata-se do "contentieux" administrativo, em relação aos conflitos entre o indivíduo, ou o cidadão, e a administração. É um cavalo de batalha do liberalismo defensor do indivíduo - Constant, Tocqueville - contra o liberalismo de Guizot, protetor da preeminência “etàtica”, em nome do interesse geral. Curioso "governo da burguesia" na monarquia de Julho (1830 - 1848) que restringe a independência individual (prensa, associação, ensino, direitos, face a administração) e privilegia, para o recrutamento parlamentar, os funcionários, os juízes, os militares, os professores da universidade - em vez dos financistas, os empresários e o mundo do câmbio-livre.
A aliança dos notáveis e da administração engendra um "liberalismo pelo Estado" e não contra o Estado, que é a marca francesa do liberalismo post-revolucionário (com equivalentes na Itália e na Alemanha). Essa primeira tendência ganhou com sucesso para o que foi criado por Mme. de Staël e Benjamin Constant, liberalismo do indivíduo e do sujeito crítico (quer dizer julgando as leis e o poder), em aliança também com um constitucionalismo que não recusa o Estado mas o limita: o estado deve ser poderoso na sua esfera, diz Constant, mas limitado a essa esfera.

O Orleanismo triunfante

O liberalismo pelo estado, do tipo Orleanista, ganhou também para o "catolicismo liberal" - representado por Lamenais, Lacordaire e Montalembert, terceira tendência, muito revelador das tensões francesas.
O catolicismo liberal é a favor das liberdades de 1789 (reunião, prensa, ensino, etc.) e ele reclama outras (direito de associação, não reconhecido em 1789, descentralização), mas é a fim de servir, em última analise, o "poder espiritual" do papa e os "direitos da Verdade". Pois até Vatican II (1962 - 1965) "só a verdade tem direitos", e o erro não tem nenhum direito na doutrina da Igreja.
Está claro que o liberalismo francês, marcado pela importância acordada ao Estado desde a monarquia absoluta, é muito diferente do liberalismo de Will.
Este pode dialogar com Tocqueville, segundo laços de amizade importantes a uma certa época, mas encontra-se afastado de um Guizot ou ainda de um Montalembert (que tem seu equivalente na Inglaterra, um católico liberal, na pessoa de Lord Acton).
È revelador que a escola "écossaise" do "Common sense", que surgiu no século XVIII, receba mais queixas do que homenagens do filósofo Cousin, quando ela se caracteriza por um liberalismo do tipo empirista muito atento a economia do mercado e que ela desenvolve uma teoria da "simpatia", com a preocupação de uma moral fundada na importância do elo social.
Cousin, crítico de Hume e de Smith, e apoio do orleanismo na política, vai dominar a vida universitária francesa durante mais de cinqüenta anos, primeiro graças as suas funções de professor, de ministro da instrução pública e de presidente do juri da agregação de filosofia, em seguida por suas obras e através seus discípulos.
No século XX, o filósofo Bergson testemunha ainda dos ecos do cousanismo, doutrina "eclética" e espiritualista.
Na prática, o liberalismo político britânico soube mostrar uma grande capacidade de adaptação.
O partido "whig" pega a apelação de liberal em 1845, reencontrando um termo que apareceu na Espanha (Constituição de Cadix, 1812), que viajou na Inglaterra e desenvolveu-se particularmente na França.
É característico que Mme. de Staël fale no "De l'Allemangne" da "liberdade de julgamento" para caracterizar a independência de espírito a qual ela aspira, e antes de tudo contra o "despotismo" de Napoleão, que proíbe o livro em 1810; ela então utiliza um termo que veio da Inglaterra, a palavra liberality.
O liberalismo parlamentar britânico soube se reformar, integrar progressivamente no voto as "couches populaires" através várias leis judiciosas: o filósofo alemão Hegel consagra "toda uma escrita" ao célebre "Reform Bill " de 1838.

L'exception française

Assim, o "divorcio entre o liberalismo e a democracia" constantemente sublinhado atualmente por seus adversários, não tem nada de estrutural na realidade. Ele responde as condições sociológicas nas quais aparece na França, após Napoleão, uma força política liberal (a esquerda do "échiquier" político na Restauração).
O teste, mas também o fracasso, foi em 1830 a monarquia "tricolore" de Julho, nascida das barricadas contra o "coup" de força de Charles X ao encontro da imprensa e das eleições.
Tornando-se estranhamente surdo à sociedade, o brilhante historiador e teórico do político que foi Guizot, uma vez no poder, reforçou o antigo duc d'Orléans, que se tornou o rei Louis-Philippe em seus preconceitos e suas imprudências.

O improvável monarca republicano

As liberdades, o parlamentarismo, a educação primária e o desenvolvimento de uma política cultural foram as realizações do liberalismo orleanista. Mas, sob o impacto de insurreições incessantes, ele restringiu as liberdades, ele manteve o "poder pessoal" do rei - segundo a expressão da época que Guizot reivindicava.
Caindo em 1848 sob a pressão revolucionária, quando ele tinha nascido ele mesmo da revolução de 1830, o liberalismo orleanista vai doravante ter uma imagem desvalorizada, que ele ainda paga através certos leaders políticos importantes do século XX, como Valéry Giscard d'Estaing.
É preciso notar que o "monarca republicano", síntese difícil mas insistente, paira sobre nós após os debates de setembro 1789, em que Mirabeau Fils defendia essa visão: a união das liberdades e do poder forte é a maneira da qual os Franceses receberam a mensagem liberal, o que torna-se evidentemente problemático no momento da mundialização e da Europa.
Na França, contrariamente á Grã-Bretanha ou dos Estados Unidos, a questão essencial que o liberalismo tinha que resolver na política e na economia pode enunciar-se assim: o que é preciso fazer das instituições legadas por Napoleão?
A resposta do orleanismo foi que em vez de abolir as instituições, era preciso "liberá-las", e guardar o caráter central do Estado.
Os liberais ingleses geraram a situação deles através do parlamentarismo e do pragmatismo de uma aristocracia aberta as classes médias, os americanos estabeleceram a supremacia da Constituição e o controle do juiz como poder político.

- Lucien James - diretor de pesquisas no CNRS, professor no Instituto de estudos políticos de Paris, autor, entre outros, de "L'individu effacé" ou o "Paradoxe du liberalisme français" ( Fayard,1997) e de "La Liberté et la loi" ( Fayard,2000) - France -

Història do Brasil

Um livro a ler absolutamente por todos os Brasileiros
Um Exemplo de Coragem, Sucesso e Honestidade
Um Grande Homem de nossa Història
Maravilhoso !

Mauà

Empresàrio do Império - Jorge Caldeira

Pioneirismo,guerras,intrigas,reis e escroques:a carreira do visconde de Mauà (1813 - 1889 ) teve de tudo.Para montar a primeira indùstria - um grande estaleiro e uma fundição em Niteròi - a primeira estrada de ferro e o primeiro banco a operar em grande escala no Brasil,ele teve de brigar contra uma sociedade provinciana,que considerava o feitor de escravos como o melhor gerente de recursos humanos.Quando expandiu seus negòcios em escala planetària,com dezessete empresas em seis paìses,aì sim vieram os grandes adversàrios,Banqueiros internacionais,ditadores latinos,polìticos de alto coturno e figuras da sociedade passaram a fazer parte da luta diària do visconde,numa història que se confunde com a do pròprio nascimento de um paìs chamado BRASIL.

domingo, 8 de abril de 2007

Eleição presidencial na França

Uma ideia a explorar....

"Sprint"

As paixões se exasperam e o interesse se enfraquece.
"Ela me tratou de patife!" "Nem é verdade, espécie de mentiroso...
"Isso cheira os últimos metros do "antes-primeiro turno"(sic).
Com essas doses, justamente, de baixaria e de mentira, que dão sempre vontade de fugir bem rápido.
Os candidatos crispam-se. Os aparelhos se excitam.
As conversações se endurecem. Serramos os parafusos e os dentes, nós "serramos ao meio" sobre seus "fundamentos", como dizem os esportivos. A mídia, esperando a mínima baixaria, faz toda uma estória. Os programas, promessas e outros engajamentos perdem em visibilidade, atrás de uma nuvem de polêmica que nós vemos subir no horizonte. E tudo isso inspira uma forte vontade de fugir.
Nada de novo sob o sol eleitoral.
Uma vez que se falou da segurança, da escola, da dívida, da defesa, dos impostos, do clima, da identidade nacional, da imigração, da justiça, da moradia, dos transportes, da saúde pública, do salário mínimo, do RMI - (salário mínimo de "inserção" para as pessoas desfavorizadas que não trabalham, entre 300 e 400 euros por mês)- do desemprego, do trabalho, das trinta e cinco horas - (redução do tempo de trabalho imposto pelos socialistas ), das sondagens, dos jovens, dos velhos, das mulheres, dos agricultores, dos artistas, dos patrões, dos operários, da laicidade, de "l'outre-mer", da eutanásia....
Uma vez falado de todas essas coisas, e de todos àqueles, o que vocês querem que eles (e elas) digam? Ou façam? Tirar as tripas no ordinário das "etripages" republicanas. Piques e contra-piques. Ataques e contra-ataques. "Eu, eu não atacarei jamais meus adversários", e vlan! um míssil retórico atravessa a paisagem. "Vocês encontrarão em mim a linguagem da verdade", e zou! Uma mentira imensa se espalha sobre o Hexagone. " Coups bas? eu, jamais!" e pan! o "coup" partiu.
Nós podemos nos indignar, mas é preciso surpreender-se? Tudo isso não é absolutamente inédito e mesmo, nós podemos reconhecer que no seu começo, a campanha eleitoral 2007 foi de uma assaz "bela postura". Falávamos da profundidade das coisas, pelo menos de certas coisas. Antes do equilíbrio forçado do tempo de antena (na televisão) os "grandes" candidatos tinham o direito de se expressar longamente e os Franceses estavam atentos. Interessados. Reconheçamos que, depois de alguns dias, a segmentação da mídia forçada contribui a esquematizar o debate. Ao atribuir equitavelmente à cada um e à cada uma, a ocasião de ver repercutir suas frases choques, suas fórmulas assassinas e não mais os desenvolvimentos que as teriam preparado. Uma lei de igualdade abaixa o nível.(sic)
Muito bem para os "pequenos" que fizeram irrupção após terem em vão levantado o colo da camisa, durante meses, atrás dos "grandes" "du premier rang". A qualidade que se dane (sic). Isso começa a parecer com o zapping, e com os "Guignols de l'info" - (programa humorístico político onde todas as personalidades políticas nacionais e internacionais, principalmente o presidente americano, são ridicularizadas representadas por marionetes, um enorme sucesso aqui na França). No entanto, resta a imprensa, onde nós continuamos a procurar os "assuntos", a dar aos uns e aos outros a ocasião de sair do "schematisme".


Detalhe


Existiria, para renovar o gênero, uma idéia, que não foi explorada até agora? (ao menos que tenha um erro de falta de atenção, mas nós permanecemos atentos...). Seria porque tendo, durante semanas (meses, para alguns) falado aos Franceses das preocupações dos Franceses, nós começamos a falar do resto. A sair do pequeno jardim, "en quelque sorte". Para falar desse detalhe minúsculo que se chama o resto do mundo.
Falar da África, onde países inteiros se afundam na "déréliction" - (estado em que uma pessoa se sente cada vez mais abandonada do socorro humano ou divino mais precisamente) - à violência, aos interesses sórdidos enquanto que outros, como por milagre, parecem começar a se erguer.
Da China, é claro, e da Índia, que amanhã dominarão, e então dirigirão o planeta. Não unicamente para falar mal ou para vigiar a ameaça (sic), "au creneau de notre vieux donjon". Mas para melhor compreendê-los, analisar como eles se comportam,suas diversidades,suas forças, suas fraquezas, seus povos, seus rituais, suas culturas. Para começar a se demandar como vamos falar com eles.(sic)
Da Rússia, que abandonou a retórica do sovietismo, mas só abandonou isso, reunindo o chauvinismo e a xenofobia aos métodos policiais herdados do tsarismo e do comunismo; e substituindo o egoísmo desigual à antiga impostura do coletivismo.(sic)
Do Oriente, próximo ou extremo, que se debate em uma história sem fim muitas vezes narrada como "uma revista em quadrinhos" cruel com seus maus demasiadamente maus, e suas vítimas que passam em nossa frente, sobre as macas, entre as pedras que tornaram-se negras dos edifícios.(sic)
Da América do Norte, também, que continua a nos fascinar ao mesmo tempo que ela nos exaspera, o que faz a metade do seu charme.
Da América Latina, descendente de nossa "vieille Europe", onde resiste uma certa leveza, dançante e colorida, mas onde voa sempre a morte familiar atrás dos aspectos mil da opressão.(sic)


Europa


E a Europa ? A Europa, a Europa, a Europa, que de Gaulle se gabava fortemente. Essa Europa "tancée" pelo papa no momento de seus 50 anos "au dam posthume", sem dúvida, dos fundadores, que eram grandes cristãos. Essa Europa que a maior parte das pessoas não ousa sustentar a voz e o gesto. Essa construção complicada a realizar, mas nascida assim mesmo de uma intuição genial. Ela tornou-se o que os "psys" chamam um "objeto negativo".(sic)
Uma sorte de punching-ball contra o qual nós podemos focalizar todos os erros. Essa Europa que a França parou de amar e que os Franceses cessaram de construir. Nós vamos, Mesdames e Messieurs les candidats, deixa-la afogar-se no desprezo, na negligência, na desilusão? Não existe nada a dizer aos Franceses quando nós sabemos o que se desenha no resto do mundo com a recomposição das potências?(sic) Nós vamos nos "disputailler" entre "nações" (sic), perpetuamente, aos pés do edifício em construção, enquanto os outros impérios se consolidarão em todos os lugares, (sic), à l'est e à l'ouest? Isso pode ser uma escolha. Alguns a fazem,dizem e assumem.
Mas o pior de tudo, é o silêncio encabulado. Nada a dizer sobre a Europa? Não é possível! E vocês vão presidir o quê? O planeta França, navegando perdido em um cosmos geopolítico incompreensível? (sic) Vocês vão nos deixar afastados de tudo o que se prepara no exterior?
De tanto seduzir os Franceses lhes falando dos Franceses, o risco existe (mesmo, ele está aqui) de não dizer nada da França no seu diálogo com o resto da terra. Não vamos sonhar com a insularidade (identitária, social, econômica, cultural...).
O mundo existe, se vocês não sabem! Ele não nos é estrangeiro e o será cada vez menos.


- A crônica de Bruno Frappat - jornal, la Croix - domingo 8 de abril 2007 - France.

A Religião é Realmente Importante?


A religião é regida ainda hoje, por princípios de milhares de anos atrás, onde os costumes, as condições sociais, o desenvolvimento, e principalmente, o conhecimento, eram muito diferentes dos dias atuais. A religião não se preocupa apenas com os aspectos puramente teológicos ou ligados à fé. Ela também se preocupa em ditar normas de comportamento, de valores éticos, morais e educacionais, de acordo com seus próprios interesses. Nossos filhos são muito diferentes de nós, assim como nós somos diferentes dos nossos pais, nossos pais de nossos avós, e assim sucessivamente. Imagine agora nós nos transportarmos para uma época há mais de 2000 anos atrás, com uma população mundial completamente desinformada, onde só os nobres e alguns poucos privilegiados eram alfabetizados. O mundo evoluiu muito, podemos citar como exemplo, os meios de transportes, onde no início, os pés eram o principal meio de transporte do homem, depois o cavalo, as caravelas, o navio, o automóvel, o avião e hoje já estamos na época das espaçonaves, em viagens interplanetárias, conquistando outros planetas. Outro exemplo são os meios de comunicação, que no início, o homem utilizava a fumaça, os tambores, o telégrafo, o telefone, o fax, e hoje já vivemos na era do micro chip com a internet. Outro exemplo importante é o da questão energética, que já foi gerada pelo vento, pela água, pelo carvão, pelo petróleo, e hoje nos encontramos na era do átomo. Como pudemos ver acima, as diferenças nas questões da informação e do conhecimento, evoluíram de uma forma impressionante.

Mas voltando a questão do crescimento religioso, este fato é marcado de uma maneira bastante expressiva pelo povo judeu, que eram nômades e habitavam a região da Palestina. Este povo sempre foi muito oprimido e humilhado, e hoje mesmo usamos a expressão judiar no sentido de maltratar, castigar, que se origina da saga do povo judeu. Depois de centenas de anos de destruições de sua cidade, de seus cativeiros, a única alternativa que julgaram possuir, era a esperança bíblica que dizia que Deus enviaria um salvador. Na época, apareceram dezenas de candidatos a salvador, mas João Batista escolheu e batizou Jesus Cristo, que era descendente d Davi, e isto causou uma cisão entre as várias facções de judeus, que entendiam que o salvador deveria ser descendente de Abraão. Apesar da história possuir a biografia de milhares de personagens históricos, existem poucos registros sobre a vida de Jesus Cristo, a não ser de seus últimos 4 a 6 anos de vida, e mesmo a bíblia, faz poucas referências a Jesus Cristo, a não ser nos evangelhos e epístolas. Deu-se início então a um período de perseguição ao cristianismo, que era considerado uma ameaça ao poder constituído da época, até aparecer um imperador chamado Constatino, que era um jovem possuidor de muita coragem e inteligência, que sempre foi muito admirado e até hoje é motivo de muitas pesquisas. Esse jovem imperador possuía um pequeno exército e quando conquistava uma cidade, ao invés de destruí-la, castigar e matar seus inimigos, ele os tratava com elegância e educação, dividia parte das riquezas com a população, e desta forma, o povo e os soldados desta cidade se tornavam seus admiradores e seguidores, aumentando o seu exército, e assim ele conquistou praticamente todo o mundo da época (350 DC). Neste período ela funda a cidade de Constantinopla, transfere a capital do império d Roma para Constantinopla, depois de ter uma visão de uma espada iluminada, pois ele entendeu ser isso uma mensagem divina, e se converte ao cristianismo, instituindo essa religião como sendo oficial e obrigatória, e este fato marca o início do que conhecemos como idade média.

Mesmo na idade da pedra, na idade do bronze, na idade antiga, as civilizações tiveram grandes desenvolvimentos na fabricação de ferramentas, na agricultura, arquitetura, astronomia, matemática, etc., porém, a idade média é conhecida como a idade das trevas, do total desconhecimento e involução, e é justamente o período de grande desenvolvimento do cristianismo, que promoviam verdadeiros massacres aos que não concordavam com os seus mandamentos religiosos, promovendo inquisições, cruzadas, etc..

Eis que no início d 1400, surgem sinais de mudanças com relação ao mundo, pois os portugueses inventam as caravelas, que permitiriam viagens inter oceânicas, e o infante D. Henrique, funda a Escola d Sagres, para formação de navegadores. Este fato é de grande importância comercial e inicia-se o período dos grandes descobrimentos. Em 1455 um ourives alemão chamado Johann Gutemberg tem um invento que transforma completamente a trajetória e história da humanidade. Ele inventa a imprensa, e seu primeiro trabalho foi imprimir 200 bíblias, cada página da bíblia demorou um dia para ser montada. Este invento traz enorme impulso ao conhecimento.

No início d 1500 surge um personagem que promove um duro golpe na Igreja Católica, chama-se Martin Lutero, formado em artes, atravessa uma grande crise existencial, com a perda repentina de seu melhor amigo, e de ter escapado por pouco da morte, quando quase foi atingido por um raio. Resolve então estudar teologia, e em seguida, quando residia em Roma, revolta-se com os baixos valores morais do clero, com a vida profana levada pelos líderes religiosos e com a venda de indulgências. Quando é iniciada uma campanha para a construção da Basílica de São Pedro, com venda de indulgências (pedaços do manto sagrado de Cristo, pedaços de madeira da cruz de Cristo, etc.), Lutero rompeu com a Igreja Católica, e pregou suas 95 teses d ensinamento religioso, na porta da Igreja de Todos os Santos, em Wittemberg, na Alemanha, onde determina que a igreja, os padres e os sacramentos, são inúteis para a salvação da alma, que o homem só se salva pela fé, pela obediência à bíblia. Lutero admite apenas dois sacramentos, o batismo e a eucaristia, e não os sete da Igreja Católica. Condena a hierarquia da igreja, o voto de celibato, a invocação de santos, as peregrinações e as relíquias religiosas. Lutero é excomungado pelo papa Leão X, mas rasga em praça pública o documento de excomunhão, sendo então considerado um fora da lei, podendo ser condenado à morte. É então refugiado, protegido e escondido, por um príncipe alemão amigo, e em 1522 traduz do grego para o alemão o Novo Testamento, e em 1534 o Velho Testamento, tornando assim, acessível à população, a leitura da bíblia. Lutero funda então, o Protestantismo. Toda essa trajetória de Lutero só foi possível porque interessava muito aos nobres, aos reis e à burguesia, o confronto com a Igreja Católica, para que assim recuperassem suas propriedades. Portanto, havia as condições ideais na Alemanha, para o rompimento com a Igreja Católica. Há, porém, uma passagem extremamente negativa na vida d Lutero, houve uma revolta por parte dos camponeses, que apoiaram Lutero e não tiveram suas terras apropriadas pela nobreza de volta. Então Lutero recomenda aos nobres, o extermínio dos camponeses, porque eles representavam uma ameaça para os nobres, e assim houve o massacre de mais de cem mil camponeses, tendo sido o líder Thomas Munzer, decapitado.

Paralelo às pregações de Lutero, surge o movimento que determinaria a transição da idade média para a idade moderna, que além de promover grandes transformações, também mudaria o destino da humanidade e enfraqueceria de forma crucial a Igreja Católica, que foi o Renascimento. Num mesmo período, viveram e impulsionaram as artes, a cultura e a ciência, Leonardo da Vinci (Monalisa, Santa Ceia...que é o quadro mais reproduzido no mundo), Michelangelo (Capela Sistina), Nicolau Copérnico (Teoria Heliocêntrica), Galileu Galilei (Leis do Movimento), William Harvey (Pai da Circulação Sangüínea...todos pensavam ser o fígado o responsável pela circulação), André Vesalius (Pai da Anatomia), William Shaskepeare(Maior Escritor da História), etc.. Cabe aqui, uma observação sobre os antagonismos existentes entre a ciência e a religião, pois existem muitas controvérsias sobre essa questão, e como exemplo, destacamos a teoria geocêntrica, q entendia q tds os planetas giravam em torno da terra, defendida pela igreja e também por Ptolomeu (sujeitinho teimoso esse Ptolomeu!), contra a teoria heliocêntrica, que determina que todos os planetas giram em torno do sol, repelida pela igreja e comprovada por Copérnico, que já era defendida por Pitágoras 600 AC e também por Eratóstenes 300 AC, que como ilustração irei descrever: As cidades de Alexandria e Siena ficavam sob o mesmo meridiano, e Eratóstenes sabia o ângulo formado pelo sol às 12 horas em cada uma das cidades. Medindo a distância entre as duas cidades em passos e usando a teoria das triangulações, calculou que o ângulo formado pelas duas cidades tendo o vértice do sol era de 7,2º e dividindo pelo ângulo da circunferência (360º), em cálculo azimutal, determinou q a circunferência da Terra era a distância entre Alexandria e Siena multiplicada por 50. Tendo determinado então 44.000 km, e errou por pouco, pois a circunferência da Terra é d 40.000 km.

Mas continuando a questão religiosa, a Igreja Católica, tomou providências para neutralizar a sua desmoralização com o surgimento do Renascentismo e o avanço do Protestantismo, restabelecendo a inquisição, colocando como comandante, o militar espanhol, Inácio de Loyola, que criou a instituição militar, Companhia de Jesus. Isto fez com q à exceção da Inglaterra e da Alemanha, a Igreja Católica não perdesse o seu poder e o seu patrimônio, principalmente na Itália, Portugal e Espanha.

Na Inglaterra, o rei Henrique VIII, querendo se apossar das terras e de outros bens materiais da Igreja Católica, rompe com a mesma, e funda a Religião Anglicana, que no fundo era bem semelhante ao catolicismo.
Outro personagem importante é João Calvino, francês refugiado na Suíça, que também se volta contra a Igreja Católica, e estabelece ensinamentos religiosos para agradar à nobreza, já que Henrique VIII ganhava muitos lucros com a comercialização de lã. Calvino exaltava as atividades econômicas, dizia que só os eleitos vencem na vida e que vencer na vida significava acumulação de riquezas. Ensinava também que Deus destina a alguns a vida eterna e a outros a eterna danação. Calvino também não se contentava que os cultos de Lutero eram mais freqüentados que os seus, e espionando Lutero, descobriu que Lutero introduzia cânticos em seus cultos, já que o mesmo tinha grande conhecimento sobre música, e este era um dos motivos do sucesso dos cultos de Lutero.

Segue-se então o êxodo europeu para a América do Norte, onde os emigrantes que ali se instalavam, sentiam-se livres da imposição religiosa, e estimulados a seguirem a crença que quisessem, começaram a fundar as mais diferentes seitas, como: batistas, presbiterianos, congregacionais, mormons, adventistas, testemunhas de jeová, etc.. Mas o grande salto do segmento protestante, foi sem dúvida, o desenvolvimento do pentecostalismo, a partir da suposição do pregador William Seymour, 1906, de que a emissão de sílabas incompreensíveis (glossolalia) por parte dos fiéis, significa um sinal de batismo no espírito santo. Isto impulsionou deforma impressionante o movimento pentecostal, que possui suas bases no recebimento do espírito santo e nos seus dons, falar em línguas estranhas, profetizar e na cura divina. Dá para acreditar??? E hoje o segmento pentecostal já é representado por mais de 400 seitas.

Enfim, considero que a religião não convive de forma harmoniosa com a questão racional, que ela cria um mundo irreal e abstrato de amor, esperança, igualdade e fraternidade, para muitas pessoas que na realidade são completamente opostas a esses sentimentos, embora reconheço a importância das religiões. Penso que as pessoas podem ser extremamente generosas, resolverem seus conflitos e praticarem ações positivas, sem necessariamente, pertencerem a algum segmento religioso. Amém!!!!!!!!!

Ruy Basílio

Reflexões sobre a Revolução francesa

"Posso atualmente felicitar a França de sua liberdade ?

"As circunstâncias (que aos olhos de certos senhores,não tem nenhuma valor ) dão na realidade a todo princìpio polìtico sua cor distintiva e seu efeito discriminante.As circunstâncias são o que tornam todo Sistema Civil e Polìtico Benéfico ou Nocivo para a humanidade.Falando " de maneira abstracional?"- não sei se a palavra existe ? -, o governo,da mesma maneira que a liberdade, é bom;portanto, poderei razoavelmente felicitar a França,dez anos atràs, de possuir um governo (pois ela tinha um governo) sem procurar saber de que natureza era esse governo ou de qual maneira ele se exercia ?
Posso agora felicitar a mesma nação da sua liberdade ? Serà que, pela razão da liberdade "no modo abstrato" pode colocar-se entre as dàdivas da humanidade, eu sou seriamente suposto felicitar um demente que se libertou das estraves protetoras e da obscuridade sadia de sua célula de ter encontrado a fruição da luz e da liberdade ?
Sou suposto felicitar um assassino de grande celebridade por seus crimes de ter fugido da prisão e ter reencontrado seus direitos naturais? Seria pôr em cena novamente os criminosos condenados às galeras e o seu libertador heroìco, o metafìsico cavalheiro com sua triste expressão.
Quando eu vejo o espìrito de liberdade em ação, eu vejo um poderoso princìpio agindo; e é nesse momento, durante um tempo, tudo o que posso conhecer.
[...]Antes de me aventurar publicamente a felicitar os homens de uma benção, eu preciso estar mais ou menos certo que eles receberam realmente uma benção.A lisonja corrompe o que a recebe e seu autor; a adulação não serve nem ao povo nem a seu rei.Eu tenho então que suspender minhas felicitações sobre o sujeito da nova liberdade da França,antes de saber como ela se conjugou com o governo; com qual força pùblica; com a disciplina e a obediência das forças armadas; com a utilização dos impostos de maneira eficaz e bem distribuìdos; com a moralidade e a religião; com a estabilidade da propriedade; com a Paz e a Ordem; com os costumes pùblicos e sociais.
Todas essas coisas são (com suas maneiras) coisas boas; e, na ausência delas, a liberdade não é uma benção enquanto ela dura e não tem a mìnima chance de continuar muito tempo.O efeito da liberdade, para os indivìduos, é que eles podem fazer o que querem e os agrada;È preciso saber o que lhes serà agradàvel de fazer, antes de arriscar felicitações que poderiam logo se transformar em queixas.È o que ditaria a prudência no caso de indivìduos privados separados e isolados;mas a liberdade, quando os homens agem como se formassem um corpo ùnico, é uma Potência,e particularmente de uma coisa tão redutàvel que uma Potência Nova nas mãos de Novas Pessoas, cujos princìpios, o temperamento e as disposições não lhes são conhecidos ou pouco conhecidos, e nas situações ou aqueles que parecem mais agitados na cena poderiam muito bem não ser aqueles que dominam a situação.
[...]Todas essas considerações unidas, a Revolução francesa é a mais espantosa que apareceu até agora nesse mundo.As coisas mais maravilhosas são causadas, em vàrias situações, por razões bem absurdas e ridìculas, da maneira mais "risìvel", e a meu ver, com os instrumentos mais "desprezìveis" ( de desprezo ).
Tudo parece estrangeiro à natureza nesse estranho caos de leveza e de ferocidade e todas as formas de crimes são misturados a todas as formas de loucuras.Quando consideramos essa cena tràgico-cômica monstruosa, as paixões mais opostas se sucedem necessariamente e, as vezes, se misturam no espìrito; o desprezo alterna-se com a indignação, o sorriso com as làgrimas, o desdenho com o horror.

- Reflexões sobre a Revolução francesa ( 1790 ), Trad.Original F.Lessay - Edmund Burke


Edmund Burke : liberalismo e contra-revolução

O pensamento liberal percorreu, no curso de sua història, bifurcações que o afastou de suas primìcias.Foi o que aconteceu quando, no fim do século XIX, ele deu nascimento na Inglaterra ao socialismo democràtico da Sociedade fabienne, antepassado do partido trabalhista. Um século antes, foi sua declive conservadora que se manifestou na pluma de Edmund Burke ( 1729 - 1797 ).
A preucupação predominante das liberdades não se apagou no entanto.

Um "franc-tireur"

Anglo-Irlandês, Edmund Burke nascido em Dublin em 1729.Estabelecido na Inglaterra apois seus estudos, ele planeia primeiro uma carreira jurìdica, frequenta os meios literàrios, depois entra na polìtica ao lado do partido "whig".
Ele é eleito deputado pela primeira vez em 1774.
Ele atira a atenção no Parlamento atravéis suas intervenções em favor de uma flexibilidade da legislação anti-catòlica, das concessões aos Americanos revoltados, de uma redução da influência da coroa na "Chambre des Communes".
Contrariamente a maioria de seus amigos polìticos, ele denuncia com força a Revolução francesa.
Ele morre em 1797.
È em 1790 que é publicada sua principal obra polìtica, "Reflexões sobre a Revolução francesa", extrato acima.Esse livro tem um forte caràter polêmico.O primeiro objetivo é a vontade de demonstrar que, contrariamente às pessoas que acreditam muito em "whigs", a Revolução francesa, evento monstruoso a seu ver,não tem nada em comum com as relações que a Inglaterra conheceu no século XVII.Essas sò tinham como objetivo de defender as liberdades dos Ingleses - as das pessoas como as do Parlamento - contra as tentativas de instauração de um regime de monarquia absoluta.Elas visavam a salvaguarda de uma herança constitucional forjada pela història.

Despotismo revolucionàrio

Os revolucionàrios franceses, ao contràrio, se esforçam de fazer "table rase du passé" - apagar o passado - e, em nome de direitos abstratos,construir instituições radicalmente novas fundadas na ficção de um cidadão universal.
Essa violência feita à realidade històrica é uma loucura aos olhos de Burke, e se bem que a Revolução ainda não se transformou em uma polìtica de terror, ela conduzirà ao despotismo, ùnica saìda para o caos que surgirà inevitavelmente.


As liberdades como Tradição

Nesse ataque racional pode-se perceber a hostilidade contra ao "hyperracionalismo" do Iluminismo que, segundo Burke, tem sua origem em 1789.Nòs não teriamos razão, no entanto,de sò estudar na sua obra, o que ele, analisa como uma filosofia contra-revolucionària de inspiração romantica.O ensaio polêmico de Burke oferece um condensado de um discurso tipicamente "whig" que privilegia " une approche" que nòs poderiamos dizer "historicista" da polìtica, sem recusar de maneira alguma as leções da razão.Para ser o produto de uma evolução secular, as liberdades são como podemos ver, autênticas.Privilégio do povo inglês, elas procedem de uma inclinação natural de Todos os Homens à Justiça, ao Respeito do Direito, ao livre percurso do bem-estar. O respeito devido a antiguidade das Leis e dos costumes reposa na convicção que os homens que os formaram foram razoàveis e capazes de Progresso da mesma maneira que a atual geração.A Confiança Indestrutìvel na Capacidade da sociedade para Produzir ela-mesmo uma Ordem Justa é um dos aspectos do liberalismo.
Logo não é surpreendente que o crìtico da Revolução francesa tenha sido admirado por alguns pensadores liberais do século XX, como Friedrich Von Hayek

F.L - France

"O sistema simples da liberdade natural.....

""O sistema simples da liberdade natural apresenta-se dele-mesmo "

Quando um animal quer obter alguma coisa de outro animal ou de um homem, ele não tem outra possibilidade a não ser a de procurar ganhar o favor daquele que ele precisa.
A criança faz um carinho na sua mãe, e o cachorro que assiste ao jantar de seu mestre se esforça de mil maneiras para atirar à sua atenção esperando obter um pouco de comida. O homem age algumas vezes da mesma maneira com seus semelhantes, e quando ele não tem um outro caminho para os engajar a fazer o que ele deseja, ele procura ganhar suas boas graças atravéis lisonjas e atenções servis.No entanto ele não dispõe sempre como ele quer de pôr esses meios em obra.Em uma sociedade civilisada, ele precisa em vàrios momentos da assistência e do concurso de uma multitude de homens, enquanto que sua vida inteira não seria suficiente para ele ganhar a amizade de algumas pessoas.
Em quase todas as espécies de animais, cada indivìduo, quando ele chega a seu crescimento pleno, é totalmente independente e , enquanto ele fica no seu estado natural, ele pode se passar da ajuda de qualquer outra criatura viva.Mais o homem tem quase continuamente a necessidade do socorro de seus semelhantes, e é em vão que ele esperaria deles o sentimento ùnico de benevolência.Ele serà bem mais certo de conseguir, se ele se dirige a seu interesse pessoal e se ele o convence que é sua pròpria avantagem que lhe ordena de fazer o que ele deseja.È o que faz àquele que propõe a um outro um mercado qualquer; o sentido de sua proposição é o seguinte: Me deem o que eu preciso, e vocês terão de mim aquilo que vocês precisam; e a maior parte desses bons oficios que nos são necessàrios obteem-se dessa maneira.Não é à benevolência do cortador, do comerciante de cerveja e do padeiro, que nòs esperamos no nosso jantar, mais o cuidado que eles têm para com seus pròprios interesses.

- Pesquisa sobre a natureza e as causas da riqueza das nações ( 1776 ), livro I, Cap. 2, Trad.G.Garnier, Revista por A.Blanqui ( 1881 ).

Assim, deixando de lado todos esses sistemas ou de preferências ou de obstàculos, o sistema simples e fàcil da liberdade natural vem se apresentar dele-mesmo e encontra-se totalmente estabelecido.
Todo homem, enquanto ele não transgride às LEIS DE JUSTICA, permanece em plena liberdade de seguir o caminho que lhe mostra seu interesse, e de portar onde lhe agrada sua industria e seu capital, concurrentemente - Não sei se essa palavra existe?; de concurso, concorrer ?, me perdoem, resgatando a lìngua Pàtria, Grata - com aqueles de toda outra classe de homens. O soberano se encontra inteiramente livre de uma responsabilidade que ele não poderia tentar cumprir sem se expor infalivelmente a ser incessantemente enganado de mil maneiras, e que para o cumprimento conveniente dessa responsabilidade não existe nenhuma sabedoria humana nem conhecimento que possam satisfaze-la, a responsabilidade de ser o superintendente da indùstria dos particulares, de dirigir em direção aos empregos mais apropriados ao interesse geral da sociedade.
No sistema da liberdade natural, o soberano sò tem três Deveres a cumprir; TRÊS DEVERES, na realidade de uma ALTA IMPORTANCIA, mais que são CLAROS, SIMPLES e ao Alcance de uma Inteligência ordinaria.O primeiro é o DEVER de DEFENDER a sociedade de TODO ATO DE VIOLÊNCIA ou de INVASÃO da parte de Outras Sociedades INDEPENDENTES. - O segundo, é o DEVER de PROTEGER, na medida do possìvel, Cada Membro da sociedade contra a INJUSTICA ou a OPRESSÃO de TODO OUTRO MEMBRO, ou então o DEVER de ESTABELECER UMA ADMINISTRACAO EXATA DA JUSTICA. - E o terceiro, é o DEVER de ERIGIR e de se OCUPAR de CERTAS OBRAS PUBLICAS e CERTAS INSTITUICÕES que o interesse privado de um particular ou de alguns particulares não poderia jamais lhes portar a erigir ou se ocupar, porque jamais o benefìcio não reemborsaria a despesa a um particular ou a alguns particulares, se bem que em consideração de uma grande sociedade esse benefìcio faça muito mais do que reemborsar as despesas.

- Idem - Livro IV, CAP.9 - Adam Smith -

A autoregulação do mercado

"Entre a doutrina dos economistas [ que os precederam no século XVIII] e a de Adam Smith, existe a mesma distancia que separa o sistema de Tycho Brahé da fìsica de Newton "
È assim que Jean-Baptiste Say, o grande economista liberal do começo do século XIX, faz uma homenagem a Adam Smith, vendo nele o Newton da economia.Sua admiração vai, evidentemente, à "Pesquisa sobre a natureza e as causas da riqueza das nações " ( 1776 ), o livro fundador do liberalismo economico.Sem dùvida algumas obras preconisando a liberdade do comercio foram publicadas antes da "Pesquisa", entre elas a de David Hume ou a dos fisiocratas.Mais jamais antes de Smith a doutrina liberal tinha sido exposta de maneira tão sistematica e tão fortemente argumentada:David Hume sò escrevia ensaios dispersos, enquanto que o partido dos fisiocratas em favor da agricultura foi julgado pouco "convaincant" - de convencer, adj.me perdoem,resgatando a lìngua Pàtria - para a posteridade.
Smith relaciona toda troca economica com a procura do interesse privado.Serà uma maneira de dizer cinicamente que os homens sò se preucupam naturalmente que deles-mesmos ? Certamente que não, por três razões pelo menos.Primeiramente, se os homens devem se dirigir ao interesse de outrem em vez de se dirigir a benevolência deles, não é por causa de um egoismo iredutivelmente inerente à natureza humana.Isso é devido ao desenvolvimento històrico de nossas sociedades, onde a abundancia da produção reposa na divisão do trabalho, esta tendo por consequência que todo homem depende de uma multitude de outros homens para obter os bens que ele deseja.Ora, està excluìdo o fato que nòs possamos fazer apelo a benevolência de uma multitude de desconhecidos.
Em segundo lugar, mesmo em uma sociedade dominada pela divisão do trabalho, existem mùltiplas relações de benevolência; simplesmente, eles não tem a função da troca economica.Em outras palavras,Smith jamais pretendeu fazer do mercado o paradigma de todo elo social.Em terceiro lugar, como ensina outra grande obra de Smith, a "Teoria dos sentimentos morais" ( 1759), a procura do interesse passa necessariamente pela simpatia com outrem, que conduz a uma avaliação moral. A simpatia dita dessa maneira aos homens uma forma de conciliar seus interesses uns com os outros que leva em conta necessariamente a moral : o mercado supõe duas virtudes, a prudência e a justiça. Sem elas,nenhuma troca economica é possìvel.
O mercado se autoregula de maneira a coordenar todas as demandas e todas as "offres" oriundas do interesse privado, como se os homens fossem conduzidos sem saber por uma "mão invisìvel".Essa metàfora significa que os interesses privados,trabalhando para se satisfazer,servem ao mesmo tempo o interesse geral, mesmo se eles o fazem sem querer e sem saber.

Jamais antes Smit
a doutrina liberal
tinha sido exposta
de maneira tão sistematica
e tão bem argumentada.

O Estado indispensàvel

No entanto, o mercado precisa do Estado, que deve cumprir três deveres indispensàveis a atividade economica ( SEGURANCA NACIONAL, PAZ CIVIL, TRABALHOS DE UTILIDADE PUBLICA ).
Porquê não pedir mais ao Estado ? simplesmente porque o mercado é tão complexo que a inteligência, em particular a dos legisladores, é incapaz de apreender o mecanismo de detalhe.
As boas intenções legislativas possuem efeitos perversos que ninguém pode prever.Melhor então não fazer nada que fazer mal. A não-intervenção do Estado tem aos olhos de Smith uma justificação moral, reposando aqui tambem nos ensinamentos da "Teoria : os efeitos perversos das decisões dos legisladores riscam de ser contràrias a virtude de justiça.

- M.B - France - 2007

O mercado supõe
A Prudência e a Justiça
Sem elas, nenhuma
Troca economica
È possìvel.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

A farsa da Campanha da Fraternidade socialista - (e do Ensino Religioso)


Preparem-se para mais uma decepção: o Papa vem aí! Primeiro foi o Bush, agora o Papa. Eles têm tudo a ver – são visíveis como dois bons alvos! Mas neles encontramos a mesma posição diante do óbvio. Pois eles vêm visitar quem não gosta deles e gostaria de vê-los mortos! Estou me referindo à decepção que será causada na mente das pessoas informadas, como nós, que sabem para quê e para quem trabalha a CNBB. Não estou me referindo à acolhida calorosa que o povo brasileiro dará ao Papa. Será uma grande emoção, sem dúvida. Por isso mesmo a decepção, por não podermos ver o Papa dizendo a verdade que gostaríamos que o povo brasileiro soubesse, se é que ele sabe. Isso da boca de um Papa seria maravilhoso.
Mas o mote da Campanha da Fraternidade deste ano é conhecer a “realidade” dos povos da Amazônia. Segundo o texto oficial desse órgão do Foro de São Paulo, a Campanha desse ano ( Vida e Missão Neste Chão) “visa a conhecer a realidade em que vivem os povos da Amazônia, sua cultura, seus valores e as agressões que sofrem por causa do atual modelo econômico e cultural, e lançar um chamado à conversão, à solidariedade, a um novo estilo de vida e a um projeto de desenvolvimento à luz dos valores humanos e evangélicos, seguindo a prática de Jesus no cuidado com a vida humana, especialmente a dos mais pobres, e com toda a natureza”.
Quanto aos povos da Amazônia (ou os índios):
“Os povos da Amazônia, profeticamente, convidam a mudar o estilo de vida. Não basta preservar a Amazônia para garantir a vida do planeta. Cada uma e todas as pessoas, dentro das condições e no bioma em que vivem, precisam converter-se a um estilo de vida baseado na simplicidade e na sobriedade, no respeito e no cuidado para com a natureza, na valorização do outro como parte imperativa da sua existência no presente e no das futuras gerações”.
Mas analisemos o texto oficial da CNBB que selecionei. Aqui estão bem claras duas mentiras: a primeira, que aponta o “sofrimento causado pelo atual modelo econômico e cultural” (!); e a segunda, uma falsa preocupação com a prática de Jesus naquela região (por que mesmo naquela região?). Até aí, nenhuma novidade – a Igreja Católica do Brasil faz isso há anos, mas o modelo econômico e cultural que ela farisaicamente condena é o dos governos que ela apóia! O que ressalta de novo mesmo é o uso de outra instituição, a Educação, e o instituto do “Ensino Religioso” da cartilha vagabunda do MEC como veículo da propaganda da Teologia da Libertação. Temos, então, dois problemas: a farsa do Ensino Religioso no Brasil, e a Teologia da Libertação, as duas faces da mesma moeda. A Igreja brasileira está no chão. Hoje você olha para baixo e desce escadas para encontrá-la, na companhia do governo Lula!
Da mesma maneira e pelo mesmo motivo que a Guerra Fria foi vencida pelos comunistas, a Teologia da Libertação é amplamente vitoriosa no mundo de hoje, pelo menos desde o Concílio Vaticano Segundo. Ela é a linguagem verdadeira da Igreja. A outra é a linguagem oficial, política, diplomática. No mínimo é a sua luz pública, desde que o Papa, seguindo João Paulo II, evita cuidadosamente de fazer desaparecer pela via da informação, desprezando o seu enorme poder de persuasão as sandices criminosas da Teologia da Libertação. Prefere, ao contrário, se valer de aspectos pontuais, ora penalizando um, ora penalizando outro religioso recalcitrante pela ruptura das aparências através do instituto da censura obsequiosa. Ora, isso é ainda fazer o jogo do Concílio Vaticano II que negociou a Igreja com o comunismo internacional, se comprometendo a não tocá-lo, senão na forma inquisitorial de dar exemplos. Em outras palavras, a Igreja Católica não tem capacidade articulada de fazer frente à onda avassaladora do socialismo triunfante dos nossos tempos, deixando de tocar sempre no essencial. O Papa nos visitará como antes Fidel foi visitado e fará as concessões de sempre.
A visita do Papa ao Brasil selará de forma indelével essa verdade. Tal conclusão, vinda de um não-católico e de um ex-cristão como eu, poderia ser interpretada com sarcasmo e desprezo. Aconselho aos sarcásticos, em geral, que meditem mais, que façam seu mea culpa e admitam por fim que o conservadorismo cristão esteja sofrendo o seu pior golpe. A Igreja Católica de hoje é refém do socialismo e de seus subterfúgios e morre sem nenhuma dignidade. Quando se posiciona em alguns aspectos contra ele, o faz de maneira imprudente de modo a espantar o seu rebanho, como é o caso da ex comunio dos casados pela segunda vez. Dela sobrarão apenas os justos, os puros, os inocentes, os incautos e os inadvertidos de sempre do perigo mortal.
Mas agora passemos a olhar mais de perto algumas mentiras da Campanha da Fraternidade. Lembro aos nossos ouvintes* que as minhas críticas e denúncias se referem apenas à CNBB e seu envolvimento político-ideológico com as esquerdas revolucionárias comunistas da América e do mundo, e com o corrupto governo Lula. Em primeiro lugar, vocês saberão agora o que é a Amazônia hoje e desde há 10 anos. Hoje a Amazônia perdeu suas fronteiras ao norte com a Venezuela, ao oeste com a Bolívia e a Colômbia, este último país com uma parte perdida para as FARC. As fronteiras nacionais estão desaparecendo e caindo nas mãos de guerrilhas comunistas. Soldados comunistas venezuelanos, bolivianos e colombianos entram e saem do Brasil como se fossem suas casas. O Brasil finge que não vê nada. Como sempre, Lula nega tudo. O Exército brasileiro faz um papel de tolo na região. A falsa preocupação da Igreja comunista brasileira com a Amazônia é política e estratégica – a Igreja, obedecendo ordens de Cuba e Venezuela, não quer ninguém lá dentro que não esteja sob o controle comunista dela mesma e das ONGs que têm permissão do governo brasileiro para estar lá e cuja missão “ é internacionalizar a Amazônia, um falso patrimônio da humanidade”. Patrimônio da humanidade é conversa fiada de quem quer a Amazônia e está ganhando todo dia um pedacinho dela.
A CNBB quer falar em narcotráfico? Pois bem, falemos. A guerrilha comunista das FARC que comete crimes e mais crimes, e é a principal responsável pelo narcotráfico de cocaína na região, é defendida pela Igreja comunista, pelo governo Lula, por Hugo Chávez e Fidel Castro. Olivério Medina passa por padre aqui no Brasil e pertence às FARC. Todos pertencem ao Foro de São Paulo, uma entidade que dá as diretrizes de ação, inclusive para a Igreja da CNBB e suas campanhas de fraternidade que não são fraternidade coisíssima nenhuma, mas sim o uso descarado e sacrílego da voz de Cristo e dos Evangelhos para a comunização dos povos.
Leio, a seguir, da Cartilha comunista da CNBB algumas passagens que farão vocês saberem a verdade. Da Cartilha dos Encontros Catequéticos com Crianças e Adolescentes, na página 19, encontramos uma heresia e um crime sem nome contra a religião cristã verdadeira, a de Cristo: EU VOU CRIAR UM NOVO CÉU E UMA NOVA TERRA” – objetivo: perceber que a criação de um novo céu e uma nova terra como grande sonho de nosso Deus é responsabilidade de todos”. Isto é de um pecado sem tamanho! Agora já não falam mais em terra, falam no Céu, no Reino dos Céus de Nosso Senhor! Desde quando isso é sonho de Deus ou de Jesus? Os bispos da CNBB que estão por trás dessa frase infame deveriam ser excomungados pelo Papa! Alguém tem que avisar o Papa. Aliás, seria um bom teste para o Sumo Pontífice, uma escolha de sabedoria, uma escolha de Sophia.
Reparem a preocupação com a palavra nova, novo. Parece o Forum Social Mundial e seu mundo novo possível – é a mesma conversa marxista, revolucionária. E o pior, a palavra de Deus é usada desavergonhadamente por estes bispos vermelhos!
“Trabalho e educação para uma nova sociedade” Cartilha Encontros Quaresmais e CNBB, pagina 18. O objetivo da Campanha é “chamar à conversão e um novo estilo de vida”, pág. 5. O que é um novo estilo de vida senão a vida no socialismo?
Na pág. 5 está estampada a “preocupação” evangélica com a biopirataria, a militarização, o narcotráfico e exploração de outros países. Mas, que países estão lá? A Venezuela, a Colômbia, a Bolívia, não os Estados Unidos. Vocês não ficariam sabendo imediatamente se fossem os Estados Unidos? Haveria passeatas nas ruas do mundo todo contra os Estados Unidos. O mundo que morre de paixão pela Amazônia e odeia americanos sairia às ruas; veríamos no Jornal Nacional. Mas sobre a Venezuela comunista de Hugo Chàvez, nenhuma palavra contra. Pelo contrário, só há elogios e proteção. Vejam o seguinte na Cartilha Jovens na CF, à pág. 39: “Os grandes países capitalistas intensificam a corrida pelo controle da região, principalmente os Estados Unidos. O Plano Colômbia, a ofensiva contra a Revolução Bolivariana na Venezuela e a ALCA são exemplos contundentes dos interesses sobre a região”. O que isso tem de fraterno? Quem protege os comunistas venezuelanos é a Igreja brasileira! A Revolução Bolivariana é uma revolução comunista, sem Deus, assassina! O Plano Colômbia é uma invenção americana socialista de Bill Clinton que deixou as FARC sozinhas para a exploração da cocaína! Quem fala contra a ALCA é o PT, o PSOL da Heloisa Helena, a Maria do Rosário!
Ouçam o sacrilégio nessas linhas, à pág. 10 dos Encontros Quaresmais: “Senhor, pedimos pelos povos da Amazônia a difusão de alternativas de convivência frente ao modelo consumista neoliberal”. Estejam certos: Deus não vai ouvir tal sacrilégio. Quem fala em modelo consumista neoliberal é alguém da esquerda; é um socialista de algum partido dos porcos no Congresso; isso é linguagem de políticos comunistas. Deus não os ouve. Onde está a Fraternidade cristã nessa frase ideológica e política?
Na pág. 13 dos Encontros, que se refere à Regional Sul 3 da CNBB, há essa pouca vergonha: “Cristo aponta para a Amazônia. A realidade da Amazônia também está presente em nosso estado do Rio Grande do Sul onde temos realidades de arenização do solo, de plantio de monoculturas (eucalipto, fumo) que embora sejam geradoras de renda, geram o empobrecimento das culturas, do solo e escassez de água”. Ah, D. Dadeus Grings, eu confiava no senhor! Só faltou falar em desertos verdes! Quem é que tem essa conversa mole e mentirosa senão o MST?
Os exemplos se multiplicam nessas cartilhas comunistas. Na Celebração Penitencial nos Encontros Quaresmais, na pág. 21, há a seguinte heresia: “hoje queremos pedir perdão, quando nos acomodamos e nos deixamos levar pelo demônio da economia neoliberal que tem sido a raiz dos males na Amazônia”.
Pensem agora comigo: quem é o demônio, senão o chefe da Igreja comunista do Brasil e sua CNBB? Qual é o partido do demônio que está no poder há 10 anos? Não existe marxismo cristão. Ou se é marxista, ou se é cristão!
Esse é o programa de hoje. Amanhã falarei como os comunistas da Igreja brasileira se aproveitam da ignorância do povo, dos políticos humildes, das pessoas de boa-fé, e do poder público, ao usar o Ensino Religioso como veículo de propaganda marxista-leninista. Amanhã vocês saberão o que é Ensino Religioso do ministro Paulo Renato de Sousa e a quem ele serve. Vocês já adivinharam, não é?

Este artigo foi originalmente lido no programa “A Verdade dói” da Rádio Amaralense FM 101.9, da cidade de Amaral Ferrador – RS