Se bem que nobre, Alexis de Tocqueville (1805 - 1859), não é um nostálgico do Antigo Regime, ao contrario. Em 1831 e 1832, ele viajou na América, a fim de observar e de analisar a prática da democracia que lhe parecia dever inelutavelmente se instalar na França. A seu retorno, ele redigiu "De la démocratie en Amérique", publicado em 1835 e 1840. O livro logo obteve um grande sucesso e lhe fez ganhar uma cadeira na Academia de ciências morais e políticas e pouco tempo depois uma cadeira na Academia Francesa.
Consciente que o movimento de modernização da sociedade é irreversível, Tocqueville pensa que é preciso abordá-lo positivamente, mas com precaução para evitar os desvios que um excesso de democratização poderia conduzir.
A liberdade política é um excelente valor, mas ela deve ser garantida pela separação dos poderes e a presença de contra-poderes como a imprensa ou a liberdade de associação.
- Ces Textes qui ont marqué l'Histoire de France - Esses textos que marcaram a História da França - De la Restauration à la République - France 2007
"SOBRE O SUFRÁGIO UNIVERSAL "
"Eu sei que aqui eu ando sobre um terreno ardente. Cada uma das palavras desse capítulo deve melindrar em alguns pontos, os diferentes partidos que dividem meu país. Eu direi assim mesmo todo o meu pensamento.
Na Europa, nós temos dificuldades para julgar o verdadeiro caráter e os instintos permanentes da democracia, porque na Europa há luta entre dois princípios contrários, e que não sabemos precisamente qual a parte que é preciso atribuir aos princípios neles mesmos, ou as paixões que o combate fez nascer.
As coisas são bem diferentes na América.
Lá o povo domina sem obstáculos, não existem perigos a temer, nem injúria a vingar.
Na América, a democracia segue suas próprias inclinações. É nisso que é preciso julga-la. E para quem esse estudo seria interessante e proveitoso, senão para nós, que somos conduzidos por um movimento irresistível cada dia que passa, e que andamos como cegos, talvez em direção ao despotismo, talvez em direção a república, mas com certeza absoluta em direção a um estado social democrático? [...]
Muitas pessoas, na Europa, acreditam sem dize-lo, ou dizem sem acreditar que uma das grandes vantagens do voto universal é de chamar à direção das Coisas Públicas, homens dignos da confiança pública. O povo não saberia governar-se dizem algumas pessoas, mas ele quer sempre sinceramente o bem do Estado e seu instinto nunca falta para designar àqueles que o mesmo desejo anima e que são os mais habilitados para ter o poder.
Para mim, eu devo dizê-lo, o que eu vi na América não me autoriza a pensar que isso é verdade. Quando eu cheguei nos Estados-Unidos, eu fiquei muito surpreso de descobrir a que ponto o mérito era comum entre os governados, e como ele era pouco nos governantes. É um fato constante que, nos dias de hoje, nos Estados Unidos, os homens mais notáveis são raramente chamados para encarregar-se das funções públicas, e nós somos obrigados de reconhecer que sempre foi assim à medida que a democracia avançou em todos os seus antigos limites.
É uma evidência que a raça dos homens de Estado americanos diminuiu singularmente desde um século e meio. Nós podemos indicar várias causas desse fenômeno.
É impossível, seja o que for que façamos, de elevar "as luzes do povo" além de um certo nível. Nós poderemos fazer todos os esforços para facilitar a acessibilidade aos conhecimentos humanos, melhorar os métodos de ensino e tornar a ciência barata, nós não conseguiremos jamais que os homens se instruam e desenvolvam sua inteligência sem consagrar a esses esforços o tempo necessário.
A mais ou menos facilidade que encontra o povo a viver sem trabalhar, forma o limite necessário desses progressos intelectuais. Esse limite é situado mais longe em certos países, mais perto em outros; mas para que ele não exista, seria preciso que o povo não tenha que se ocupar dos cuidados materiais da vida, quer dizer, que ele não fosse mais o povo.
Então é muito difícil de conceber uma sociedade onde todos os homens sejam muito esclarecidos, da mesma maneira que um Estado onde todos os cidadãos sejam ricos; eis então duas dificuldades correlativas. Eu admitiria sem problema que a massa dos cidadãos quer verdadeiramente o bem do país; eu vou mais longe ainda, e eu digo que as classes inferiores da sociedade, me parece misturar, em geral, a esse desejo menos de combinações de interesse pessoal do que as classes elevadas, mas o que lhes falta sempre, mais ou menos, é a arte de julgar dos meios querendo sinceramente o fim."
Consciente que o movimento de modernização da sociedade é irreversível, Tocqueville pensa que é preciso abordá-lo positivamente, mas com precaução para evitar os desvios que um excesso de democratização poderia conduzir.
A liberdade política é um excelente valor, mas ela deve ser garantida pela separação dos poderes e a presença de contra-poderes como a imprensa ou a liberdade de associação.
- Ces Textes qui ont marqué l'Histoire de France - Esses textos que marcaram a História da França - De la Restauration à la République - France 2007
"SOBRE O SUFRÁGIO UNIVERSAL "
"Eu sei que aqui eu ando sobre um terreno ardente. Cada uma das palavras desse capítulo deve melindrar em alguns pontos, os diferentes partidos que dividem meu país. Eu direi assim mesmo todo o meu pensamento.
Na Europa, nós temos dificuldades para julgar o verdadeiro caráter e os instintos permanentes da democracia, porque na Europa há luta entre dois princípios contrários, e que não sabemos precisamente qual a parte que é preciso atribuir aos princípios neles mesmos, ou as paixões que o combate fez nascer.
As coisas são bem diferentes na América.
Lá o povo domina sem obstáculos, não existem perigos a temer, nem injúria a vingar.
Na América, a democracia segue suas próprias inclinações. É nisso que é preciso julga-la. E para quem esse estudo seria interessante e proveitoso, senão para nós, que somos conduzidos por um movimento irresistível cada dia que passa, e que andamos como cegos, talvez em direção ao despotismo, talvez em direção a república, mas com certeza absoluta em direção a um estado social democrático? [...]
Muitas pessoas, na Europa, acreditam sem dize-lo, ou dizem sem acreditar que uma das grandes vantagens do voto universal é de chamar à direção das Coisas Públicas, homens dignos da confiança pública. O povo não saberia governar-se dizem algumas pessoas, mas ele quer sempre sinceramente o bem do Estado e seu instinto nunca falta para designar àqueles que o mesmo desejo anima e que são os mais habilitados para ter o poder.
Para mim, eu devo dizê-lo, o que eu vi na América não me autoriza a pensar que isso é verdade. Quando eu cheguei nos Estados-Unidos, eu fiquei muito surpreso de descobrir a que ponto o mérito era comum entre os governados, e como ele era pouco nos governantes. É um fato constante que, nos dias de hoje, nos Estados Unidos, os homens mais notáveis são raramente chamados para encarregar-se das funções públicas, e nós somos obrigados de reconhecer que sempre foi assim à medida que a democracia avançou em todos os seus antigos limites.
É uma evidência que a raça dos homens de Estado americanos diminuiu singularmente desde um século e meio. Nós podemos indicar várias causas desse fenômeno.
É impossível, seja o que for que façamos, de elevar "as luzes do povo" além de um certo nível. Nós poderemos fazer todos os esforços para facilitar a acessibilidade aos conhecimentos humanos, melhorar os métodos de ensino e tornar a ciência barata, nós não conseguiremos jamais que os homens se instruam e desenvolvam sua inteligência sem consagrar a esses esforços o tempo necessário.
A mais ou menos facilidade que encontra o povo a viver sem trabalhar, forma o limite necessário desses progressos intelectuais. Esse limite é situado mais longe em certos países, mais perto em outros; mas para que ele não exista, seria preciso que o povo não tenha que se ocupar dos cuidados materiais da vida, quer dizer, que ele não fosse mais o povo.
Então é muito difícil de conceber uma sociedade onde todos os homens sejam muito esclarecidos, da mesma maneira que um Estado onde todos os cidadãos sejam ricos; eis então duas dificuldades correlativas. Eu admitiria sem problema que a massa dos cidadãos quer verdadeiramente o bem do país; eu vou mais longe ainda, e eu digo que as classes inferiores da sociedade, me parece misturar, em geral, a esse desejo menos de combinações de interesse pessoal do que as classes elevadas, mas o que lhes falta sempre, mais ou menos, é a arte de julgar dos meios querendo sinceramente o fim."
- Alexis de Tocqueville,De la démocratie en Amérique,(1835 - 1840 )