quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Nas Origens do Liberalismo Clàssico

" No sentido forte da palavra, os primeiros liberais eram "revolucionàrios".Na medida em que essa afirmação surpreenderà certamente os Franceses que associam sistematicamente "ultra" a "liberal", "selvagem" a "concurrência" e "selva" a "mercado", ela merece de ser meticulosamente argumentada.
Em primeiro lugar, o liberalismo é e continua sendo um combate pela tolerância e pela liberdade. Entrando no mundo como crìtico do Antigo Regime, do absolutismo real e do poder de coercição de uma Igreja exclusiva, ele afirma o direito natural do indivìduo à liberdade e postula que o homem deve disposer de uma autonomia tão larga como possìvel.Atestado pela primeira vez em 1760 na pluma do marquês d'Argenson", a palavra "liberal" se opõe a "conservador", oposição que continua pertinente.Combatendo os poderes e os sistemas que pretendem entravar o desenvolvimento do indivìduo em nome de lògicas ou de interesses que o depassam, ele estima que o indivìduo é uma fonte insubstituìvel de invenção e de criação, e um motor essencial do progresso material e moral.

Contra a censura

Escrito em 1644 por John Milton, " l'Areopagitia", pela liberdade de imprimir sem autorização nem censura, é sem dùvida o primeiro manifesto de um pensamento para o qual matar um livro, é como matar a pròpria razão.
"Como um homem pode ensinar com autoridade - fonte vital do ensino -, como ele pode instruìre atravéis seu livro [...]quando tudo o que ele ensina, quando tudo o que ele exprime fica sob a guarda, sob a correção desse novo "patriarca" de censor, apagando ou retocando tudo que não concorda perfeitamente com os preconceitos teimosos que ele chama seu julgamento ?"
Uma interrogação que não perdeu nada da sua atualidade nesse momento onde o "pensamento ùnico" pretende exercer sua censura sobre tudo o que não corresponde a sua vulgata "bem pensante" que tomam o lugar dos oukases das antigas igrejas.
Convite permanente a tolerância, mergulhando suas raìzes na filosofia polìtica inglesa, nourrindo-se da necessidade constante de reconstruir o mundo sob a base do livre exame e da responsabilidade individual, o combate liberal, inscrito nos genes da Renascência e da Reforma, envolve-se com força no século XVII quando Baruch Spinoza "afirma :
" Quando cada homem procura o que lhe é ùtil, então os homens são mais ùteis uns aos outros" ( Ethique, IV ).
Acentuado no século XVIII pelo combate do Iluminismo na França, na Inglaterra, na Alemanha ou nos Estados Unidos, o liberalismo ia conduzir as explosões polìticas destrutivas da antiga ordem e as declarações dos direitos do homem e do cidadão que são a matriz de nossa modernidade.
Certo, o indivìduo pode transferir seus direitos naturais a um corpo polìtico do qual ele respeitarà as pressões, mas é para fazer respeitar melhor seus direitos e lhe dar os meios de fazê-lo
Não é um acaso se o imposto que não pode ser suspendido sem ter o consentimento do corpo social ou dos seus representantes foi um elemento determinante no desenvolvimento das revoluções americanas e inglêsas.

O direito a revolta.

Não são revolucionàrios àqueles que como John Locker, inscrivem o direito à revolta nos fundamentos mesmos da instituição polìtica ?
O povo escrevia ele, tem o direito de se revoltar desde que ele é exposto as sévìcias de um poder arbitràrio.
Certo, " Cada uma das pequeninas faltas que foram cometidas na administração dos affairs pùblicas não provocarà uma revolução.O povo, suportarà, sem motin nem murmùrio, certos erros graves dos seus gouvernantes,inùmeras leis injustas e inoportunas e todos os desvios da fraqueza humana.Mas, se uma longa continuação de abusos, de prevaricações e de fraudes revelam uma unidade de desenho que não poderia escapar ao povo, este concientiza-se do pêso que o oprime e ele vê o que o espera; não devemos então ficar surpresos se ele se revolta".
Finalmente, não são eles os liberais, àqueles que hoje em dia, muito facilmente chamados "populistas", se reclamam desse povo, esse juiz, o mais qualificado no bem comum ? Não seriam tambem liberais, àqueles que seriam tentados de se revoltar contra o Estado que, pelas suas enormes dìvidas incontroladas e sua incapacidade a dominar os "deficits", viola o ùnico fim pelo qual ele foi constituìdo e que sò pode ser o bem do povo ?
Como nòs esquecemos muito frequentemente, liberalismo e espìrito revolucionàrio tem raìzes comuns. Mas surpreendente ainda sem dùvida para àqueles que vivem sob a ditadura do " politicamente correto", o liberalismo tambem é uma doutrina econômica "revolucionària".Em 1776, no mesmo ano em que as colônias inglêsas da América proclamam sua independencia, Adam Smithpublica les "Recherches sur la nature et les causes de la richesse des nations","Pesquisas sobre a natureza e as causas da riqueza das nações".Estranha e oportuna coincidencia.Os Americanos fundam uma repùblica comercial destinada a tornar-se a mais poderosa do mundo, porque é a mais rica.O filòsofo escosseis expõe as leis que devem conduzir ao crescimento das riquezas e ao bem estar dos povos.Mesmo se hoje em dia, é um lugar comum de opôr o liberalismo polìtico ao liberalismo econômico, é pourtanto o mesmo princìpio que os anima,a importância acordada à responsabilidade individal.Contrariamente ao que se escreve frequentemente com preguiça, Adam Smith,e apois ele, os economistas liberais não fazem a apologia da burguesia nascente, mesmo se eles respeitam seu empenho no trabalho; seus objetivos não são o enriquecimento de uma casta, mas a riqueza da nação inteira.Eles querem quebrar com os tesouros reais, os privilégios dos "fermiers généraux" e das corporações.Sò privilégios impròprios, monopòlios que devem quebrar a concurrencia organisada por um mercado que, abandonado às suas pròprias leis, permitirà a cada indivìduo de tirar da melhor maneira " sua carta do jogo".Consideremos por exemplo, o problema dos preços altos.Suponhamos que existe uma centena de fabricantes de luvas.O interesse egoista de cada um lhe farà aumentar seus preços além do razoàvel para realizar um "profit" suplementàrio.Mas ele não pode fazer, pois, se ele aumenta dessa maneira seus preços, seus concurrentes vão aproveitar para pegar seu mercado vendendo mais barato do que ele. E mesmo se todos os fabricantes decidissem de se entenderem para impor um preço excessivamente elevado, sempre teria um empresàrio nacional ou estrangeiro para quebrar essa coalição, em bebefìcio do consumador.

Todos iguais perante a concurrência

Filosofo e economista, Adam Smith ilustra o essencial do liberalismo, à saber,a crença no triunfo inevitàvel da racionalidade sob o arbitràrio e a ordem do caos.Nada melhor do que um filòsofo para pensar o fato que os instintos egoistas de cada indivìduo podem se transformar em virtudes sociais.Nada melhor do que um liberal para desejar que as regras do jogo sejam equitàveis e que a igualdade de chances seja assegurada."Toda essa luta pela riqueza e pela glòria encontram sua ùltima justificação no bem comum", escreveu Adam Smith.È preciso tambem lembrar,que os pioneiros do liberalismo foram também àqueles que condenaram com uma grande determinação a colonização ?Como escreve ainda Adam Smith, " as verdadeiras colonias de um povo comerciante, são os povos independentes de todas as partes do mundo".Riqueza e liberdade,responsabilidade individual e eqüidade : francamente o liberalismo nunca acaba de ser "revolucionàrio".-
Jacques Marseille - Historiador e Essaiste, Autor entre outras de "La guerre des deux France, celle qui avance et celle qui freine" (Plon 2004)" A guerra das duas França, a que avança e a que freia" e "Du bon usage de la guerre civile en France" ( Perrin 2006 ) - " Do bon uso da guerra civil na França "
-Le Point - Edição Especial,janeiro, fevereiro 2007

Nenhum comentário: