segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Do horrìvel perigo da leitura

" Nòs Joussouf-Chérubi, pela graça de Deus mouphti do santo império ottoman, luz das luzes, eleito entre todos os eleitos,a todos os fiéis que estas presentes linhas verão, asneira e benção.Como assim seja que Saïd-Effendi, aqui presente, embaixador da Porta-Sublime em direção de um pequeno Estado chamado Frankrom, situado entre a Espanha e a Itàlia, trouxe para nòs o pernicioso uso da prensa, tendo consultado nossos veneràveis irmãos os caid e imans da cidade imperial de Istambul, e sobretudo os fakirs conhecidos pelo zelo deles contra o espirìto, nòs e Mahomet achamos que é uma coisa positiva e boa de condenar, proscrever, anatematisar a dita-cuja infernal invenção da prensa pelas seguintes causas que serão enunciadas.
1 Essa facilidade de comunicar seus pensamentos facilita evidentemente a dissipar a ignorância, que é a guardiã e a salvaguarda dos Estados bem policiados.
2 Nòs receamos que entre os livros trazidos do Ocidente, se encontrem alguns sobre a agricultura e sobre os meios de aperfeiçoar as artes mecanicas, livros que poderiam com o tempo, e que não seria agradàvel a Deus, despertar o gênio de nossos agricultores e de nossos operàrios, excitar o trabalho deles, aumentar suas riquezas, e inspirà-los um dia ou outro a alguma elevação da alma, algum amor do bem pùblico, sentimentos absolutamente opostos a santa doutrina.
3 Acabaria acontecendo enfim que nòs teriamos livros de Història sem a fantasia que mantem a nação em uma feliz estupidez.Nòs teremos nesses livros a imprudencia de pronunciar a justiça nas boas e màs ações, e de recomendar a equidade e o amor pela pàtria, o que é visivelmente contràrio aos nossos direitos e privilégios de governantes.
4 Seria tambem possìvel, com a passagem dos tempos, que miseràveis filòsofos, sob o pretexto especioso, mas punissàvel, de esclarecer os homens e de tornà-los melhores venham nos ensinar as virtudes perigosas que o povo não deve jamais tomar conhecimento.
5Eles poderiam, aumentando o respeito que ele tem por Deus, e imprimindo escandalosamentque ele cobre tudo todas as coisas com a sua presença, diminuir o nùmero de peregrinos da Mecque, provocando um grande prejuìzo na salvação das almas.
6 Aconteceria tambem sem dùvida alguma,que estando acostumados a ler os autores ocidentais, que trataram das doenças contagiosas, e da maneira de prevenì-las, nòs seriamos suficientemente garantidos contra a peste, o que seria um atentado imenso contra as ordens da Providência.Por essas e outras causas, pela edificação dos fiéis e pelo bem de suas almas, nòs os proibimos de jamais ler nenhum livro, sob a pena de eterna danação.E, por causa do medo que temos que a tentação diabòlica venha incità-los a se instruire, nòs proibimos aos pais e as mães de ensinar a ler a seus filhos.E, para prevenir toda contravenção a nossa ordenação, nòs os proibimos expressamente de pensar, sob as mesmas penas; ordenamos a todos os verdadeiros crentes de denunciar ao nosso governo qualquer pessoa que terà pronunciado quatro frases ligadas entre elas, das quais nòs poderiamos deduzir um senso claro e `coerente.Ordenamos tambem que em todas as conversações sejam utilizados termos que não significam nada,segundo o uso antigo da Porta-Sublime.E para impedir que algum pensamento entre em contrabando na cidade sagrada imperial, nos cometemos o médico principal de vossa alteza, nascido em uma maré do Ocidente septentrional; cujo medico, jà tendo matado quatro augustas pessoas da famìlia ottoman, està interessado mais do que qualquer outra pessoa a prevenir toda introdução de conhecimento no paìs;nos le damos o poder atravéis essas presentes linhas, de mandar prender toda idéia que se apresentarà por escrito ou oralmente nas portas da cidade, e nos trazer a dita-cuja idéia péis e mãos amarrados, para que nos possamos castigà-la da maneira que mais nos agradarà.Feito em nosso palàcio da estupidez, no dia 8 da lua Muharem, ano 1143 de l'Hégire "( o que corresponde ao ano de 23 de julho de 1730)- Voltaire - Textes sur l'Orient - 1. L'empire ottoman et le Monde Arabe -

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