quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O Neoliberalismo a procura de Equilibrio



No século XX, o centro de gravidade do liberalismo se desloca da Europa em direção aos Estados-Unidos, onde o pensamento neoliberal dá nascimento a múltiplas escolas, ás vezes radicais. Enquanto que na Europa, os liberais tentam conjugar justiça social e economia.

Em abril de 1947 se constitui, pela iniciativa do economista Friedrich von Hayek, uma sociedade de pensamento que reúne entre outros, Ludwig von Mises, Milton Friedman, George Stigler, Karl Popper, Luigi Einandi, Jacques Rueff, Bertrand de Jouvenel e Lionel Robbins. Ou seja, a maior parte dos autores importantes da volta decisiva do liberalismo no curso da segunda metade do século XX. O objeto da Sociedade du Mont-Pèlerin (nome da localidade suíça onde realizou-se a conferência inaugurativa): aproveitar a saída da Segunda Guerra mundial para engajar a refundação de um liberalismo praticamente desaparecido da paisagem política e intelectual desde 1910-1920. E dessa maneira se opor ao coletivismo tanto na sua forma brutal do totalitarismo comunista que sob a forma democrática do igualitarismo. Todas essas personalidades de primeiro plano estão de acordo para proclamar a prioridade de um certo número de valores: liberdade individual de escolha, liberdade de consciência e de expressão, responsabilidade individual, igualdade dos direitos, pleno direito a propriedade privada, pluralismo, cooperação voluntária e contratual....Tendo, por conseqüência, um elo indivisível entre a liberdade política e uma liberdade econômica fundada sobre o libre-échange e o mercado de livre concorrência; e uma necessária limitação das intervenções do Estado voltando a sua função de servidor do estado de direito.


Renascimento americano

Esse episódio foi várias vezes qualificado de ato de nascimento do "neoliberalismo" - um termo já utilizado em 1938 no colóquio Walter Lippmann, de orientação mais "social" que ficou sem conseqüência por causa da guerra. Mas tratava-se na realidade nem mais nem menos de reafirmar a validade dos princípios do liberalismo clássico reconsiderando e adaptando sua aplicação em um contexto inédito. Nessa qualidade, essa sociedade permanecerá muito discreta sem jamais ter uma influência direta de grupo de pressão ou de think tank. È por intermédio de seus membros e das relações criadas entre eles que sua influência determinante se fará sentir, pois a história contemporânea e plurielle do liberalismo novamente no primeiro plano da atualidade se fará essencialmente com relação a suas opções compartilhadas, amendées ou criticadas.
Em 1950 - 1960, o centro de gravidade desse renascimento liberal se desloca da Europa para os Estados-Unidos, onde os neoliberais devem se chamar classical liberals, libertários ou conservadores, o label do liberalismo se encontrando desde 1930 reservado aos progressistas (liberals), artesãos do Welfare state em seguida adeptos de uma política intervencionista de inspiração Keynésienne. Muitos deles foram recompensados por prêmios Nobel de economia, eles se livram a um combate ideológico feroz contra a planificação, às nacionalizações, a redistribuição fiscal, ao excesso de legislação ou l'ingénierie social que encontrará finalmente, na era Reagan-Thatcher, uma tradução política de liberalização realizando a trilogia privatização-déréglementation-globalização.
O que não impedirá esses adeptos de um capitalismo de free market envolto de todas as virtudes- as mais famosas sendo a auto-regulação e a capacidade de gerar a prosperidade- de declinar suas convicções teóricas em várias escolas. A monétariste escola de Chicago de Friedman rivaliza com a escola dos Austríacos Hayel e Mises, ou a do public choise de James Buchaman.
Sinal de intensa vitalidade: aparece também uma corrente libertária defendendo uma plena soberania do indivíduo, que radicaliza a lógica liberal. Ela mesma se subdivide em "minarchistes", como os filósofos Ayn Rand ou Robert Nozick que dão novamente importância á idéia de Estado minimal, e em grupos gropusculaires mais imaginativos anarcho-capitalistas como Murray Rothbard, zeladores de um Estado zero e de uma privatização total da sociedade. Um outro Nobel de economia que estende a tudo e leva até o fim o raciocínio econômico liberal, Gary Becker se situa nessa última sensibilidade.


A economia social de mercado

Na Europa, todavia, se desenvolveu um liberalismo de facture mais moderada, apegada a promover uma justiça social implicando uma notável intervenção do Estado no respeito das liberdades fundamentais. Criador da famosa "economia social de mercado" presente até no defunto projeto de constituição européia e a base do milagre alemão após guerra devido a Ludwig Erhad l'ordo-liberalismo da escola de Fribourg ilustrada por Wilhelm Röpke e Walter Eucken - todos dois membros da Sociedade du Mont-Pèlerin - é o pivot . Se a originalidade dessa corrente é devida a sua vontade de reduzir a asymétrie de negociação entre salariados e patrões e de estar atentiva ás condições culturais e morais necessárias ao livre empreendimento, ela é decididamente contra o Estado e adversária do Estado providência. O que não é o caso na época de figuras liberais independentes como Raymond Aron, que permaneceu afastado da Sociedade du Mont-Pèlerin, de Karl Popper e de Norberto Bobbio, que devem ser relacionados a esse movimento liberal mais social.
De volta aos Estados-Unidos onde, em 1970, se realiza um sensível regain du Welfare liberalism devido ao sucesso acadêmico das teses de J.K.Galbraith, John Rawls e Ronald Dwoukin. Quando, mais tarde, o debate entre "communautariens" e "liberais" escandaliza a crônica, é exclusivamente a eles que se faz a alusão como "liberais". Levando a reflexão mais longe que o liberalismo social europeu e o equilíbrio entre liberdade e igualdade, esses sócio-democratas americanos "reprennent le flambeau" do new liberalism inglês de L.T.Hobhouse e do modern liberalism americano de John Dewey que já tinham na primeira metade do século, deformado demasiadamente o sentido do termo liberalismo.


"Voie médiane et grands écarts"

Podemos a procura de um liberalismo de esquerda, ir ainda mais longe e passar do social-liberalismo a um "socialismo liberal" em oposição ao socialismo autoritário, designado único herdeiro legítimo do liberalismo clássico como gostariam algumas pessoas na Europa? Considerando até o paradoxo o deslize semântico do termo e criando uma lamentável fonte de confusão, isso não seria guardar do liberalismo unicamente a liberdade política, abolindo sua relação com a liberdade econômica que sempre constituiu a idéia central da teoria liberal?
De um ponto de vista pragmático bem mais que doutrinal, a importância primordial dessa concretização de um liberalismo que não saberia se separar de maneira hemiplégica em liberalismo político e econômico foi recentemente sublinhada pelo escritor espanhol Mario Vargas Llosa e o Francês Jean-François Revel. Para o primeiro, " a liberdade econômica é inseparável da liberdade política" (Le Poisson dans l'eau, 1993); e para o segundo, " não existe liberdade política sem liberdade econômica" (Commentaire, hiver 1998-199). Dois autores que, longe de todo economismo oferecem uma interpretação razoável da tradição liberal, "une voie médiane" permitindo uma outra orientação em uma paisagem onde a demasiada complexidade e a extensão do campo coberto pelo liberalismo - do anarquismo libertário ao socialismo liberal! - podem parecer tão surpreendentes quanto estimulantes.


- Alain Laurent, filósofo e essayiste, diretor aux Belles Lettres da coleção " Les classiques de la liberté", autor entre outros, nesse editor, de La Philosophie libérale (2002 )e Le Libéralisme américain, histoire d'un détournement ( 2006) -

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