terça-feira, 6 de novembro de 2007

Ludwig von Mises


“Não existe nenhuma outra ordem social possível que o capitalismo”.


Tão breve e limitada que tenha sido a supremacia das idéias liberais, ela foi suficiente para mudar a face do mundo. Produziu-se um formidável desenvolvimento econômico. A liberação das forças produtivas do homem multiplicou os meios de subsistência. Na véspera da [primeira] guerra mundial [....] o mundo era bem mais povoado do que ele nunca foi, e cada habitante podia viver bem melhor do que nunca foi possível no decorrer dos séculos precedentes. A prosperidade que o liberalismo havia criado reduziu consideravelmente a mortalidade infantil dos períodos precedentes, e prolongou a esperança de vida media. Essa prosperidade não era apenas destinada a uma classe particular de indivíduos privilegiados. Na véspera da [primeira] guerra mundial, o operário das nações industrializadas da Europa, dos Estados-Unidos e das colônias inglesas vivia melhor e com mais elegância que o nobre de um passado ainda recente. O liberalismo não é uma doutrina completa ou um dogma imóvel. Ao contrário: ele é a aplicação dos ensinamentos da ciência econômica à vida social dos homens. [....] Ele é uma doutrina inteiramente consagrada ao comportamento dos homens nesse mundo. Em última análise, ele não tem nada mais em vista do que o progresso do bem estar exterior e material deles.
[....]

O liberalismo só procura produzir o bem material porque ele sabe que as riquezas espirituais interiores só podem vir do seu próprio coração. Ele não procura criar outra coisa que as condições exteriores necessárias ao desenvolvimento da vida interior. E não pode existir nenhuma dúvida que o indivíduo relativamente próspero do século XX pode mais facilmente satisfazer suas necessidades espirituais do que, por exemplo, o indivíduo do século X.
Existe uma opinião muito comum segundo a qual o liberalismo se distingue dos outros movimentos políticos no sentido em que ele coloca os interesses de uma parte da sociedade - as classes privilegiadas, os capitalistas, os empresários - acima dos interesses das outras classes. Essa afirmação é totalmente falsa.
O liberalismo sempre teve como objetivo o bem de todos, e não o bem de um grupo particular. [.....] O programa do liberalismo deveria então, resumindo em uma única palavra, se formular dessa maneira: propriedade, quer dizer propriedade privada dos meios de produção. [....]
Todas as outras exigências do liberalismo têm sua origem nessa exigência fundamental. A objeção mais importante do economista de encontro á possibilidade de uma ordem socialista é que é preciso renunciar a essa divisão intelectual do trabalho, que reside na cooperação de todos os empreendedores, capitalistas, proprietários e trabalhadores na qualidade de produtores e consumidores, em vista da formação dos preços de mercado. Sem essa divisão do trabalho, toda racionalidade, quer dizer toda possibilidade de cálculo econômico, é inconcebível.
De qualquer maneira que nós possamos considerar o intervencionismo, é sempre um fato que ele chega a um resultado que não se proporia seus autores e defensores e que, do próprio ponto de vista deles, ele deve parecer como uma política absurda e inoportuna. Se o capitalismo foi um sucesso, apesar da hostilidade que ele sempre encontrou da parte da massa e dos governantes, se ele não foi obrigado de conceder o lugar a outras formas de cooperação social [....], nós só podemos atribuí-lo ao fato que não existe absolutamente nenhuma outra ordem social possível. O liberalismo [....] diz simplesmente que apenas a ordem social capitalista corresponde aos objetivos que os homens se propõem e que as construções sociais do socialismo, do intervencionismo, do socialismo agrário e do sindicalismo são irrealizáveis e contraprodutivas.

- O Liberalismo (1927), Ludwig von Mises, Trad. H. De Quengo.


A teoria do ciclo

Ludwig von Mises (1881 - 1973) fez seus estudos de direito na universidade de Viena, onde, diz ele, ninguém era mais a favor do Estado do que ele. Depois, a partir de 1903, a leitura de Carl Menger e o seminário de Engen von Böhn-Bawerk que ele vai freqüentar regularmente até 1914, o transformam em economista. Seus conhecimentos econômicos imensos lhe permitirão contribuições particularmente originais.


Crítica do coletivismo

As experiências coletivas inauguradas entre 1917 e 1919 na União Soviética foram fracassos espetaculares, forçando Lénine a reintroduzir em grande parte o capitalismo com sua "nova política econômica " (NEP).
Mises pesquisou a causa profunda desse fracasso, e sua análise foi publicada em dois livros de grande impacto, O Socialismo (1922) e o Liberalismo (1927), extrato acima. Ele mostra que a propriedade coletiva dos meios de produção não permite mais o cálculo econômico racional.
Só a propriedade privada dos bens de equipamento torna possível esse cálculo, o sistema dos preços e a alocação eficaz dos recursos. O socialismo que pretende melhorar a condição dos povos leva então a uma regressão econômica, quer dizer o contrário do objetivo esperado.
Mises e seu discípulo Friedrich von Hayek ganharam facilmente o debate teórico e a história, com a queda do muro de Berlim em 1989, lhe deu definitivamente razão. Como ainda mostra o texto acima, Mises explica que as diferentes formas de intervenções (controle dos preços, fiscalidade, inflação monetária, etc) levam também ao contrário do objetivo esperado. Por exemplo, as flutuações conjunturais vêm da expansão artificial do dinheiro e do crédito. A análise profunda dessa teoria dita "austríaca" do ciclo, vai durar mais de cinqüenta anos (de 1912 até 1966)


Malefícios intervencionistas

Em 1912, Mises publica La Théorie de la monnaie et du crédit que ficará marcado na história da análise econômica introduzindo a noção de criação monetária artificial. Trata-se, com efeito, de distinguir o verdadeiro crédito, aquele que vem da poupança, e aquele fabricado ex nihilo pelo sistema bancário.
O primeiro induz a um aumento da prosperidade que é um benefício para todos, o segundo investimentos injustificados que dão origem às flutuações conjunturais.
Essa teoria será completada em 1928 pelo livro Stabilisation monétaire et politique cyclique, estudo que acusa a política monetária da época prevendo uma crise econômica importante. Essa crise se produzirá no ano seguinte e será prolongada artificialmente por múltiplas intervenções que formarão na realidade, muitos obstáculos aos reajustamentos necessários.


Otimismo liberal

Para Mises, as flutuações cíclicas não são inerentes ao sistema de economia de mercado, mas ao contrário o resultado inevitável do intervencionismo em geral e da ingerência do Estado nas instituições de crédito em particular. Essas análises serão retomadas no monumental tratado de economia que Mises chamará L'Action humaine (1949). O dirigismo monetário também é para ele tão contraprodutivo que as outras formas de intervencionismo.
Mas se o coletivismo e o intervencionismo têm efeitos nefastos, será preciso concluir que só existe uma única possibilidade para o progresso econômico e social, aquele que demonstrou suas provas desde dois séculos e meio, o regime liberal, conhecido sob o nome de capitalismo?
È exatamente o que ele escreve, desde os anos 1920, no livro Le Libéralisme, texto fundamental da doutrina liberal

.P.N.

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