sexta-feira, 1 de junho de 2007

VOCÊ É, MAS NÃO SABE

Tenho insistido na denúncia de sofismas, distorções conceituais e uso gramsciano de determinados vocábulos. Há pouco mais de um mês mostrei como a palavra neoliberal serviu para combater tudo que deu certo na economia brasileira: Plano Real, privatizações, pagamento pontual da dívida externa, exportações, agronegócio, superávit primário, responsabilidade fiscal e assim por diante.

Outras palavras, com uso obrigatório na política, têm peculiaridades que exigem esclarecimento, mormente em presença de seus antônimos. Veja, por exemplo, o conceito político de "conservador". Tenho certeza de que qualquer cidadão brasileiro, minimamente familiarizado com o idioma, tratará de manter distância de quem se declare conservador.

No entanto, prezado leitor, os conservadores defendem tudo aquilo que você, por certo, desejaria ver conservado: as liberdades, a ordem, a família, os valores, a religião, a democracia, o respeito à propriedade privada. Se opõem às revoluções e à violência como instrumento de ação política. Sabem que a justiça social é resultado do progresso econômico e da boa política, e não das utopias, das revoluções, do relativismo, e do desprezo pela ordem e pelos valores morais. Os conservadores, prezado leitor, respondem pelo progresso e produzem excelentes governos. Eram conservadores os políticos que tiraram a Europa da fome endêmica, fazendo avançar a democracia constitucional, enquanto outros, lá no Leste Europeu e na Ásia, pelo viés oposto, impuseram o totalitarismo e a preservação institucional da miséria.

Pense comigo. Quem foi que saiu às ruas, em abril de 2000, para vociferar contra o Descobrimento, chamando o episódio de Invasão? Aliás, não sei por qual obscuro motivo eles ainda não escolheram Cabral, "primeiro invasor", como patrono do MST. Saiba, porém: se os portugueses tivessem tocado direto para as Índias, nosso país seria hoje o que são as tribos que se mantiveram sem contato com a civilização. Vale dizer, viveríamos lascando pedra.

Quem age como se o Brasil fosse um imenso e satânico usucapião? Na conseqüência de suas posições, os brancos deveriam voltar para a Europa, os negros para a África e os índios ficariam autorizados a promover uma continental desapropriação do solo e das malfeitorias aqui implantadas. Saiba, porém: os defensores de tão escabrosa geopolítica se aborrecerão terrivelmente se você apontar o racismo embutido em tais conceitos.

Quem vocifera contra a globalização? No entanto, para evitá-la, teríamos que retornar às cavernas e combater o nomadismo como um fenômeno perigoso, precursor do maldito neoliberalismo. Quem é contra o "grande capital"? Saiba, porém: isso não significa ser favorável ao "pequeno capital", porque capital, nessa lógica, é coisa que degenera enquanto cresce.

Se os que apontam os conservadores como agentes da maldade tivessem poder ao longo dos séculos, estaríamos plantando com as mãos, tocando tambor para chover, trocando mercadorias e tratando de desinventar o dinheiro, a democracia representativa, a pesquisa genética, as privatizações, o mercado, as máquinas e toda a tecnologia. Abertamente cultuam Marx, Lênin, Fidel, Che e, agora, Hugo tChávez. Como gostam de ditadores e como são reacionários!
Percival Puggina - http://www.puggina.org/

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