segunda-feira, 4 de junho de 2007

A razão na história


Extratos da primeira tradução integral dessa obra, centro da filosofia hegeliana, e sobre a qual se funda todo o pensamento moderno. Com esse texto, o mais direto de Hegel, se abolem o Mundo dos Antigos e a Natureza do Século das Luzes ( Iluminismo). O real, que reordena um pensamento suficientemente poderoso para abraçar todos os aspectos - consciência, política, cultura - torna-se doravante o rosto de nossos tormentos.

"Igual a Mercúrio, o condutor de almas, a idéia é na verdade o que conduz os povos e o mundo, e é o Espírito, sua vontade razoável e necessária, que guiou e continua a guiar os acontecimentos no mundo." pág. 39

"Ver o mundo razoavelmente, é também ser visto razoavelmente pelo mundo; existe reciprocidade." pág. 50

"Uma toda-poderosa vontade divina reina no mundo; ela não é fraca a ponto de não poder determinar seu conteúdo. Nosso objetivo é de conhecer essa substancialidade, e para conhecê-la é preciso ter consciência da Razão." pg. 51

"[.....] Então o que se realiza na história é a representação do Espírito. A consciência dos povos depende do saber que o Espírito tem dele mesmo; e o estado final da consciência é o da liberdade humana." pg. 80

"Digamos que a consciência do povo é a consciência que ele tem de seu ser." pg. 82

"[....] Ao mesmo tempo, é a liberdade que contém nela mesma a infinita necessidade de tornar-se consciente – pois, segundo seu conceito, ela é conhecimento de si próprio - e dessa maneira do destino real. Na realidade, ela é ela mesma, o fim que ela realiza, o único fim do Espírito." pg. 85

"Na sua atividade, o Espírito do povo conhece antes de tudo os fins de sua realidade determinada - ele ainda não conhece a si mesmo. Ele tem todavia, o desejo de conhecer seus próprios pensamentos. Sua mais alta atividade é o pensamento e nas suas ações mais elevadas ele trabalha para apreender-se a si mesmo. O que é supremo para o Espírito, é de saber-se ele mesmo, de alcançar não somente a intuição, mas também o pensamento dele mesmo." pg. 86

"Cada povo faz progressos nele mesmo; ele progride, ele declina. A categoria que logo se impõe é a categoria da cultura (Bildung ), do excesso da cultura ( Uberbildung ) e da perversão da cultura (Verbildung), este último momento é para o povo ao mesmo tempo, o produto e a fonte de sua ruína. Mas a palavra "cultura" não especifica o conteúdo substancial do Espírito popular. A cultura é uma "mise en forme" e se constitui pela forma da universalidade; assim o homem culto é aquele que sabe imprimir a todas as suas ações o selo da universalidade." pg. 87

"[.....] Os povos são o que são seus atos. Seus atos são seu objetivo. O Espírito é essencialmente ativo." pg. 88

" A morte natural do Espírito de um povo pode se manifestar pela nulidade política." pg. 90

" Um Estado é bem ordenado e forte nele mesmo quando o interesse particular dos cidadãos está unido ao fim geral do Estado, quando o interesse particular e o fim do Estado encontram um no outro sua satisfação e sua realização. Isso é uma proposição de uma extrema importância. Mas essa unificação só pode tornar-se real na medida em que o Estado consegue - o que pressupõe longas lutas intelectuais - a conscientizar-se do fim geral e de se dotar de múltiplas instituições conforme a esse fim. Ademais, é preciso que ele lute contra os interesses particulares e as paixões e os submeta a um adestramento tanto demorado quanto difícil. A época onde uma tal unificação acontece, é aquela da eflorescência de sua virtude, de sua força e de sua felicidade." pg. 109

" O ponto supremo da cultura de um povo é de pensar sua vida e sua condição, de conhecer suas leis, seu direito, sua ética, pois nessa unidade reside a unidade mais íntima na qual o Espírito pode se encontrar com ele mesmo." pg. 208

"A coragem está essencialmente ligada a inteligência que é a astúcia suprema." pg. 229

"Basta que o homem tenha progredido um pouco na sua consciência para que ele tenha respeito pelo homem na sua qualidade de homem." pg. 259

"A escravidão é uma injustiça em si e por si, porque a essência do homem é a liberdade." pg. 260

" A liberdade encontra seu conceito na realidade e ela transformou o mundo secular em um sistema objetivo de uma existência (Dieses) hic et nunc orgânica."

"[....] Mas a passagem do tempo é uma coisa toda relativa e o Espírito pertence a eternidade. Para ele, a passagem do tempo propriamente dita não existe. Seu trabalho ulterior consiste em que esse princípio se desenvolva e se aperfeiçoe, que o Espírito chegue à realidade, à consciência de si próprio na realidade." pg. 296

- La Raison dans l'Histoire - Hegel -



EXTRATO ANEXO

342

"A história universal não é o tribunal onde é julgada sua "força", quer dizer a necessidade abstrata e irracional de um destino cego. Ao contrario, esse destino é em si e por si Razão e "l'être-pour-soi" da história é saber espiritual. A história é então segundo o único conceito de sua liberdade, o desenvolvimento necessário dos momentos da Razão de sua consciência de si próprio e de sua liberdade : ela é "explicitação " e a " realização do Espírito universal. " pg. 298


344

"Nessa obra do Espírito do Mundo, os Estados, povos e indivíduos, afirmam seu "princípio particular determinado" que se atualiza e se exprime em sua "Constituição" e em toda a extensão de sua realidade. Eles são conscientes disso." pg. 299

- Hegel - Filosofia do Direito, parágrafo 347 - 360 -

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