João Amós Komensky nasceu na localidade mora morava de Uhersky Brod no dia 28 de Março de 1592 e faleceu em Naarden, na Holanda, a 15 de Novembro de 1670.
Ao longo dos 78 anos que medeiam entre estas duas datas foi protagonista de uma movimentada existência terrena pontuada por sucessivos reveses da sorte que o não impediram de produzir uma dilatada e fecunda obra que se traduz em quase centena e meia de títulos.
Considerando uma das grandes figuras da história checa (ou, mais correctamente, da Boémia e da Morávia), Komensky, que cedo latinizou o seu nome para Comenius (normalmente aportuguesado para Coménio) merece ser tido como um dos grandes vultos do pensamento universal.
A nova Pedagogia por ele desenvolvida, absolutamente revolucionária para a época, solicita a compreensão da criança, que deve descobrir por si própria o seu conhecimento.
Encorajando quer o ensino ao ar livre, quer a prática de jogos colectivos, o processo educativo por ele preconizado não se limita à escola e à família, sendo solidário de toda a vida social.
Coménio considera, com efeito, que a Educação não compete exclusivamente a um ou dois quadros restritos, cabendo pelo contrário a sua promoção à sociedade tomada como um todo. Reclama, deste modo, a instrução para todos, sem levar em conta o nascimento do indivíduo.
Ao colocar os dois sexos em pé de igualdade abalou, por outro lado, as estruturas mentais da época. Por todos estes motivos, as concepções de Coménio influenciaram profundamente os filósofos e os enciclopedistas do século XVIII e a UNESCO prestou-lhe a devida homenagem ao promover, em 1958, a publicação da sua obra completa.
A sua Didactica Magna valeu-lhe os epítetos de Bacon da Pedagogia e de Galileu da Educação. Animado pelo objectivo de mostrar que é possível ensinar tudo a todos, inventou um método inovador de ensino quer do Latim, quer das línguas vivas que, numa segunda fase, lançou abundantemente recurso à ilustração, motivo pelo qual muitos o consideram igualmente um precursor da banda desenhada.
O seu método de ensino da língua latina, então ainda o idioma franco da comunidade científica e cultural, é também um pioneiro das modernas técnicas de transmissão de conhecimentos linguísticos "sem mestre".
A sua paixão, neste campo, eram, porém, as línguas vivas, cujas potencialidades soube devidamente explorar a partir da devotada análise da sua língua materna, o checo, à qual dedicou um raiado que é simultaneamente uma gramática e um livro de estilo.
Partindo do princípio de que todos os ensinamentos e todas as pesquisas devem confluir num único ponto transcendental, sendo portanto necessário descobrir a cada passo a unidade essencial que desse todo emana em cada uma das suas partes.
Coménio, por vezes considerado ainda um precursor do Estruturalismo, reuniu o da maioria das suas concepções na Pansofia, obra e doutrina que tenta estabelecer uma metodologia conciliadora das diversas correntes religiosas, assim como das ciências e das técnicas.
Às ideias pedagógicas de Coménio não são alheios os estudos interiores de Francis Bacon e de Campanella, que no entanto refundiu aos quais imprimiu a marca da sua originalidade.
Membro do grupo dos Irmãos Morávios, que seguia os postulados de João Huss, Coménio só aos 16 anos principiou os seus estudos, tendo frequentado a Universidade de Herbon (Nassau), onde estudou Teologia e se apaixonou pelas línguas vivas, cedo elaborando um manual de Pedagogia e um dicionário de Latim-Checo.
Quando era tutor-mestre da escola de Fulnek, na Morávia, eclodiu a Guerra dos .trinta Anos, em consequência de cujas razias a sua casa foi pilhada e incendiada e a mulher e os filhos assassinados.
Principiou então a sua errância por casas senhoriais e por colégios da Europa Central e Ocidental e ainda da Grã-Bretanha e da escandinávia, ao longo da qual foi dando corpo à sua vasta obra.
Em França, Richelieu interessou-se pela sua actividade e convidou-o para fundar um Colégio Pansófico, projecto que se gorou com a morte do cardeal.
Conheceu pessoalmente Descartes e tendo-se encontrado, na Holanda, com o filho do governador da então colónia britânica de Massachusetts e mais tarde governador do Connecticut, ter-lhe-á sido oferecido o reitorado da nóvel Universidade de Havard.
No plano das relações internacionais, Coménio defendia a criação de um Parlamento Mundial com a função de derimir e evitar os conflitos, funcionando a par de outras instituições de apoio.
O plano de uma reforma universal deveria, no seu entender, ser preparado pelos povos cristãos, não lhe sendo alheia a unificação das religiões cristã e judaica.
Múltiplos são, pois, os motivos pelos quais Cornénio deve ser recordado e homenageado na data do quarto centenário do seu nascimento (1992).
Mª B. F.
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