quinta-feira, 17 de julho de 2008

A ilha da Páscoa


Localizada no oceano Pacífico a 3200 km da costa do Chile, a Ilha da Páscoa, ou Rapa Nui como a chamam os polinésios, intrigou os europeus antes ainda que o primeiro deles pussesse os pés na ilha. No dia da páscoa do ano de 1722 o capitão Jacob Roggeveen ao avistar a desconhecida ilha, intimidou-se com o que, sob a difusa luz do entardecer, pareciam ser ameaçadores gigantes protegendo a costa. Os gigantes, descobriu o cauteloso capitão na manhã do dia seguinte, eram impressionantes estátuas de pedra, construídas por um povo que chamava à sua ilha de "Te-Pito-Te-Henua", ou "Umbigo do Mundo".

O nome de "umbigo do mundo" não poderia ser mais apropriado. A Ilha da Páscoa é um dos pontos mais remotos da Terra; está a quase 2000 km da civilização mais próxima, a ilha Pitcairn. Esta pequena ilha vulcânica, que se pode percorrer a pé em apenas um dia, reservou aos arqueólogos vários enigmas:

(1) De onde teriam vindo os primeiros habitantes da Ilha da Páscoa e como fizeram para chegar a um ponto tão isolado do oceano Pacífico sem dispor de grandes navios e instrumentos de navegação?

(2) Por que a ilha estava praticamente deserta quando foi visitada pela segunda vez em 1774? O que acontecera aos seus habitantes nos 50 anos que se passaram após sua descoberta?

(3) E finalmente, quem construiu e por quê, os colossais gigantes de pedra chamados pelos nativos de moai? E como fizeram para transportar e erguer estas estátuas, a maior delas de 90 toneladas, por distâncias que podiam chegar a 20 km?

Enquanto os pesquisadores falharam em dar respostas definitivas a estas questões, a Ilha da Páscoa foi alvo das mesmas especulações místicas/extraterrestres que atingiram outros sítios arqueológicos famosos como as pirâmides do Egito, as civilizações dos Maias e Incas, as linhas da planície de Nazca, etc. Entretanto, para desapontamento de grande quantidade de ufólogos e paranormais nenhuma das três questões permanece atualmente um mistério. Vejamos uma a uma.

Os mistérios (I)

De onde vieram os habitantes de Rapa Nui?

Muitos acreditam que os antigos habitantes da Ilha da Páscoa vieram do continente perdido da Lemuria. A Lemuria é uma terra mitológica, uma utopia como a famosa obra escrita por Thomas More, que segundo alguns teria existido no oceano Pacífico há "um ano galáctico atrás, ou 26000 anos, durante a Era de Ouro do Império do Sol". Esta sociedade tropical espiritualmente avançada e baseada no poder feminino teria vivido em perfeita paz e harmonia até ser submersa por uma inundação global (o dilúvio de Noé?). Diz a lenda que seus habitantes, que "praticavam comumente a levitação, a viagem astral e o teletransporte, de maneira que veículos não eram necessários" teriam sido os responsáveis por erguer os moai da Ilha da Páscoa, num local que outrora, antes do cataclisma, teria sido uma alta montanha da Lemuria (segundo os crentes, alguns locais da Terra como a cidade de Los Angeles e a Ilha da Páscoa seriam as pontas imersas deste continente submerso, e isso explicaria porque nestes locais há "tantas pessoas espirituais com tantas idéias de elevada consciência"). Esta explicação e toda a teoria "lemuriana" vai de encontro ao fato amplamente aceito pelos geólogos de que as ilhas polinésias não são parte de um continente afundado, mas os topos de extintos vulcões.

Outra explicação, esta com um pouco mais de embasamento teórico e experimental foi dada pelo arqueólogo Thor Heyerdahl nos anos 50. Intrigado com a existência de pés de tomate na ilha, uma planta nativa da América do Sul, e pela perfeição dos muros construídos, semelhantes aos dos Incas, Heyerdahl propôs que o povo de Rapa Nui seria descendente de uma civilização anterior aos Incas, que teria se lançado ao mar na costa do Peru e alcançado por acidente a remota ilha. Heyerdahl mostrou que a viagem seria possível organizando ele mesmo uma expedição que se tornou famosa, a Kon Tiki, que após três meses no mar chegou aos recifes da Ilha de Puka Puka (bastante ao norte de Rapa Nui). Mesmo tendo provado ser possível navegar grandes distâncias no oceano Pacífico utilizando canoas semelhantes a dos primitivos navegadores, esta teoria não foi amplamente aceita pela comunidade científica por falta de evidências arqueológicas e linguísticas. Hoje está definitivamente provado, através do exames de DNA de esqueletos encontrados na ilha, que os primeiros habitantes da Ilha da Páscoa não vieram do Peru mas das ilhas Polinésias, por volta do ano 400 D.C.

Por que desapareceram?

Este é ao mesmo tempo o "mistério" mais bem resolvido de todos e o mais inquietante. Estudos de pólen mostram que na época em que os polinésios chegararam à Rapa Nui, por volta do ano 400 D.C., a ilha era inteiramente coberta por florestas. No entanto quando os europeus chegaram em 1722, encontraram uma ilha completamente desmatada a não ser por umas poucas árvores nas regiões mais altas.

Os arqueólogos sabem hoje que enquanto houve abundância de recursos, a população de Rapa Nui cresceu e floresceu como uma das mais avançadas de seu tempo. Mas assim que a madeira, utilizada para cozinhar, para construir barcos e casas e especialmente para mover as pesadas estátuas esgotou-se, a civilização ruiu e a barbárie se instalou. Sem poder construir casas o povo passou a viver em cavernas. Sem redes (que assim como as roupas eram feitas à partir da madeira) não havia como pescar e o frango tornou-se praticamente a única fonte de alimento que tinha que ser defendido contra os saques. Com o alimento escasso e vivendo um estado de guerra constante, muitos apelaram para o canibalismo. E o mais trágico é que sem barcos para vencer os milhares de quilômetros até a ilha mais próxima, o povo de Rapa Nui se tornou prisioneiro em sua própria iha. Em poucos anos a população, que em seu auge tinha sido de quase 10.000 pessoas, reduziu-se para algumas centenas de sobreviventes apenas.

A trágica história do povo da Ilha da Páscoa tem sido muitas vezes usada como metáfora para a história da própria humanidade. Assim como os antigos habitantes de Rapa Nui nós também estamos ilhados em nosso planeta e dispomos de uma quantidade finita de recursos naturais. Será que podemos aprender com o fracasso daquele povo e descobrir um meio de evitar o colapso de nossa civilização antes de exaurir nossos recursos?



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Os mistérios (II) - os moai


O caos que reinou após o esgotamento de seus recursos naturais não foi a única tragédia pela qual passou o povo de Rapa Nui. No século XIX, sucessivos saques dos espanhóis levaram como escravos quase todos os sobreviventes da ilha para trabalhar em minas de guano (um tipo de fertilizante). É natural portanto que não tenham restado registros orais de como os moai foram construídos. O pouco do folclore que resistiu conta que alguns sacerdotes como o rei Tuu Ku Ihu e seu deus Make Make podiam dar vida às estátuas usando mágica, ou mana. Animadas por esta energia divina as estátuas criavam vida e simplesmente andavam até o seu local. Os atuais moradores da Ilha da Páscoa compreensivelmente acreditam nestas lendas contadas por seus antepassados. O prefeito da ilha (em abril de 1998) dá voz ao pensamento geral: "Quando se vive em um lugar isolado do mundo por gerações e gerações tem-se mais tempo para levar sua mente a um máximo. É possível que naquele tempo existisse o fenômeno chamado mana. Nós, como seres humanos, não usamos nem um quarto de nossos cérebros. Eles aperfeiçoaram isso porque eram capazes de se concentrar mais do que somos capazes hoje". Não se pede que o povo simples de Rapa Nui abandone suas tradições já tão maltratadas, mas é uma pena ver como estas histórias perdem sua beleza e poesia quando se tenta justificá-las por falácias como o tal mito de que usamos apenas parte do nosso cérebro.

Mesmo longe do isolamento cultural da Ilha da Páscoa pode-se encontrar pessoas que creêm em estátuas de pedra que criam vida (o que nos parece um pouco mais grave). Há alguns livros, felizmente não muitos, que ensinam como usar a energia das pedras, lápitus, ou energia akásica, e "como ouvir o que nos têm para contar as pedras".

Quando as pedras voavam

O livro "Quando as pedras voavam" (São Paulo: Mandala Livreiros, Editores e Importadores - 1977) do espanhol José Ramon Molinero (Supremo Grão Mestre da Ordem do Limão Branco) ensina estes e outros segredos, como por exemplo o que são os petrus: "seres elementais, guardiães de segredos que, vivendo dentro das pedras, confundindo-se com elas, movendo-as, dão-lhes a condição de objetos mágicos." Para obter diretamente a explicação de como esta energia pétrea foi usada para movimentar os gigantes da Ilha da Páscoa pode-se ler o outro livro do Prof. Molinero: O Mistério das Estátuas Tombadas". Mas houve tentativas de explicações ainda mais bizarras: O psicólogo Werner Wolff chegou a propor em seu livro "Island of Death" (Hacker Art Books, N.Y., 1948), que as estátuas teriam sido confeccionadas no interior do vulcão existente na ilha, aonde permaneceram até serem lançadas ao ar por uma erupção, caindo exatamente sob os pedestais onde jazem hoje (!). Para dizer o mínimo sob esta teoria, o vulcão de Rapa Nui já estava extinto muitos milhares de anos antes da data atribuída às estátuas.

Considerando-se as alternativas até aqui podemos considerar um avanço as teorias do conhecido escritor Erich Von Däniken. Däniken já vendeu mais de 40 milhões de cópias do seu livro de 1968 "Eram os Deuses Astronautas?" e desinformou pelo menos 40 milhões de pessoas com sua tese de que grandes obras de antigas civilizações, incluindo a pirâmide de Queops e os moai da Ilha da Páscoa, teriam sido construídas com a OVNIs e moai supervisão técnica de extraterrestres. Não cabe a este artigo discutir esta teoria dos deuses-astronautas, mas pelo menos no que diz respeito a Ilha da Páscoa, Däniken cometeu vários erros capitais: em seu livro "The Gold of Gods" ele diz que a ilha é composta de solo vulcânico estéril, sem vegetação nem árvores, e que as estátuas foram cortadas "como manteiga" à partir de pedras que não são encontradas na ilha. Claramente o sr. Däniken nunca pisou na Ilha da Páscoa antes de escrever seu livro senão teria constatado facilmente que nada disso é verdade: o solo da ilha é excelente para plantio, sabe-se mesmo que em tempos remotos havia abundante vegetação sobre a ilha; as pedras utilizadas na construção dos moai são sim, encontradas no vulcão da ilha, tanto é assim que no local de onde eram retiradas podem ser vistas centenas de estátuas inacabadas; e já foi provado que este material vulcânico é macio o bastante para ser trabalhado mesmo com ferramentas rudimentares. Com tantas inverdades impressas em milhões de livros Däniken é o grande responsável por propagar o "mistério" da Iha da Páscoa, mas não é o único. Celeste Korsholm (Jananda@sedona.net) que diz receber mensagens telepáticas do Conselho Interplanetário, segundo ela um conselho formado por representantes de cada um dos planetas do sistema solar (mais um representante para o cinturão de asteróides), também acredita que boa parte da mitologia das civilizações antigas, incluindo a dos habitantes da Ilha da Páscoa, são na verdade histórias de contatos imediatos com seres de outros planetas que têm nos visitado nos últimos 40000 anos.


Movendo os moai

Felizmente todas estas teorias podem hoje ser arquivadas sob o rótulo de "mitos sem fundamento" (ou sob a letra "X" se os ufólogos preferirem?); já está definitivamente provado que para mover os moai, os antigos habitantes da Ilha de Páscoa não precisaram do domínio de poderes telepáticos, mágicos ou extraterrestres.

Desde dos anos 50 os cientistas tentam descobrir como os moai poderiam ser transportados utilizando apenas cordas, madeira e força muscular. Nem todas as tentativas foram bem sucedidas: algumas técnicas se revelaram adequadas apenas para as estátuas menores, outras danificavam demais a rocha macia da base das estátuas e outras só teriam sido possível em terrenos planos, o que não é sempre o caso em Rapa Nui. Mas em 1998, um grupo de pesquisadores, incluindo vários arqueólogos, um engenheiro mecânico, um arquiteto e cerca de 75 voluntários, transportou e ergueu a réplica de um moai de 10 toneladas utilizando apenas material disponível na ilha. A história completa, com fotos e vídeos mostrando a técnica utilizada, bem como as técnicas usadas sem sucesso no passado, podem ser vistas no site do programa de televisão que patrocionou a empreitada.

Logicamente o experimento conduzido pelo time de pesquisadores não prova que os antigos habitantes empregaram a mesma técnica, mas prova que os gigantes de pedra da Ilha da Páscoa não eram tão inertes quanto se pensava; eles podiam ser movidos sem mágica nem ajuda extraterrestre, simplesmente através do esforço coletivo de seu povo. Neste aspecto a experiência foi muito além de desvelar um antigo mistério e desmitificar mitos sem fundamento; ela deu o justo crédito a quem o merece: o povo de Rapa Nui.

Movendo os moai 1 Movendo os moai 2

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