ELE É O DOUTRINADOR do terror islâmico, o tradutor para o inglês de textos em árabe que pregam a Jihad (Guerra Santa), o recrutador que atrai jovens para o Al-Qaeda (A Base). Ele levou um jovem nigeriano dócil e brilhante a embarcar num avião para matar a si próprio e as quase 300 pessoas a bordo com 80 gramas de explosivos escondidos sob a cueca e orientou por email o major do Forte Hood que assassinou 13 pessoas no final do ano passado. Ele pregou para três terroristas que participaram do duplo ataque aéreo às Torres Gêmeas em que 3000 pessoas morreram em 11 de setembro de 2001. Ele é hoje mais influente e mais perigoso que Osama bin Laden: sua arma é a palavra que laça mentes em grande quantidade e não a AK-47 do líder do Al-Qaeda. Ele nasceu em 1937 no Novo México, nos Estados Unidos, onde foi um estudante de alto desempenho e conheceu nos detalhes os aspectos da vida e da cultura americana, e só adulto se mudou para o Iêmen, com a mulher e os filhos. Ele tem patente religiosa e fala em nome de Alá e de Maomé. Ele até recentemente não encontrou obstáculos para sua obra de recrutamento: era conferencista da universidade em que o nigeriano da cueca explosiva estudou árabe em Sana, capital do Iemên. Ele é o rosto barbudo que simboliza o conflito cada vez mais radical e sangrento entre o Ocidente e o Oriente. Ele é Anwar al-Awlaki e equivale hoje a um exército de homens-bomba — embora ele próprio não pareça muito disposto ao martírio que prega para os outros.
Al-Awlaki é um exemplo notável da dificuldade dos Estados Unidos em lidar com o terrorismo islâmico. Agora ele está sob os holofotes do serviço americana de inteligência, mas até recentemente levava aos que o ouviam seu evangelho destruidor sem maiores embaraços. Não é exagero dizer que o homem-bomba do vôo 253 foi mentalmente conduzido à escadaria do avião pelas mãos de Al-Awlaki, assim como a decisão de puxar o gatilho contra soldados desprevenidos no Forte Hood foi inspirada por ele, a milhares de quilômetros. Que os Estados Unidos em sua Guerra ao Terror não tenham criado empecilhos potentes, até há pouco, para este homem das preces e das bombas é um desafio à lógica.
Al-Awlaki é autor de um copioso material de propaganda da Jihad. Astutamente, ele o elabora em inglês, que domina como nativo americano, para alcançar um número muito maior de pessoas. E é um propagandistas multimeios. Sua pregação se encontra em livros, cds, dvds, vídeos no YouTube e por aí vai. Sua obra mais conhecida tem um título autoexplicativo: “44 Maneiras de Apoiar a Jihad“. Não 42 e nem 43: 44. É um texto que incita ostensivamente ao terror com todos os argumentos possíveis, inclusive financeiros. Ali está dito que você deve dar seu dinheiro para a causa. “Você precisa do Jihad, e o Jihad precisa de dinheiro”, diz ele. Você receberá de volta, de alguma forma, 700 vezes aquilo que deu. Todo mundo deve aderir à Guerra Santa, segundo al-Awlaki, aí incluídos “o filho cujo pai não queira” e “a mulher cujo marido recuse”. Numa sociedade em que a mulher deve submissão completa ao marido, esta deve ser a única situação em que a desobediência é louvada.
2 comentários:
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