O que nòs adquirimos, apòs todas essas pesquisas, é que não nos é suficiente de saber que nòs temos representações, que essas representações são de tal ou tal maneira, e dependem de tal ou tal lei, de qual a expressão geral é sempre o princìpio de razão. Nòs queremos saber a significação dessas representações; nòs perguntamos se o mundo não pode ultrapassa-las, e nesse caso ele deveria se apresentar a nòs como um sonho vão, ou como uma forma vaporosa semelhante a dos fantasmas; ele não seria digno de atrair nossa atenção: Ou então, ao contràrio, serà que existe alguma outra coisa que a representação, alguma coisa a mais; e então o que serà ? È evidente que essa tal coisa deve ser plenamente diferente da representação, por sua essência, e que as formas e a lei da representação devem ser para ela totalmente estrangeiras. Por conseguinte, nòs não podemos partir da representação, para alcança-la, com o fio condutor dessas leis, que são apenas o elo do objeto, da representação, quer dizer das manifestações do princìpio de razão. Nòs vemos então dessa maneira que não é do exterior que nòs devemos partir para chegar na essência das coisas; nòs podemos procurar de todas as maneiras, nòs chegaremos apenas nos fantasmas - ou em fòrmulas; nòs seremos semelhantes a uma pessoa que daria a volta em torno de um castelo, para encontrar a entrada, e que não a encontrando, desenharia a fachada. È portanto o caminho que seguiram todos os filòsofos antes de mim. [.....]
- O Mundo como Vontade e como Representação, Livro II, &17 e &18, Schopenhauer, Trad. A. Burdeau ( 1909 - 1913 ) -
Na realidade, seria impossìvel de encontrar a significação procurada desse mundo, que me parece absolutamente como minha representação, ou então a passagem desse mundo, na qualidade de simples representação do sujeito conhecido no que ele pode ser fora da representação, se o filòsofo ele mesmo não fosse nada mais que o puro sujeito conhecido (uma cabeça de anjo alado, sem corpo). Mas na realidade, ele tem suas raizes no mundo: na qualidade de indivìduo, ele faz parte dele ; sò o seu conhecimento torna possìvel a representação do mundo inteiro; mas esse mesmo conhecimento tem por condição necessària a existência de um corpo. [....] O sujeito do conhecimento, por sua identidade com o corpo, torna-se um indivìduo; logo, esse corpo lhe é dado de duas maneiras totalmente diferentes: de um lado como representação no conhecimento fenomenal, como objeto entre outros objetos e como submetido a lei deles; e de outro lado, ao mesmo tempo, como esse princìpio imediatamente conhecido de cada pessoa, que designa a palavra Vontade. Todo ato real de nossa vontade é ao mesmo tempo e com certeza um movimento de nosso corpo; nòs não podemos querer um ato realmente sem constatar logo em seguida que ele aparece como movimento corporal. O ato voluntàrio e a ação do corpo não são dois fenômenos objetivos diferentes, ligados pela causalidade; eles não são entre eles na relação de causa e de efeito. Eles são um ùnico e mesmo fato; simplesmente esse fato nos é dado de duas maneiras diferentes: de um lado imediatamente, de outro lado como representação sensìvel. [.....]
- Idem -
Essa identidade do corpo e da vontade é o mais imediato de nossos conhecimentos, e se nòs não a apreendemos e não a fixamos como tal, nòs tentaremos em vão de deduzi-la, de uma maneira qualquer, de um conhecimento anterior. È um conhecimento de um gênero especial, de qual a verdade, por esse motivo, não pode ser colocada em nenhuma das rubricas sob as quais eu coloquei toda verdade no meu expositivo do princìpio de razão, - à savoir - : verdade lògica, empìrica, metafìsica e "métadologique"; pois ela não é, como todas essas verdades, a relação de uma representação abstrata com uma outra representação, ou como forma necessària de uma representação intuitiva ou abstrata; ela é a relação de um julgamento com a relação que existe entre uma representação intuitiva e o que, longe de ser uma representação, é absolutamente diferente: a vontade. Por esse motivo, eu poderia distinguir essa verdade de todas as outras, e chama-la a verdade filosòfica por excelência.
- Idem -
O milagre do corpo
Schopenhauer continua, no seu raciocìnio, "tributàrio" da filosofia moderna, que concede a "preeminência" metodològica ao sujeito conhecido. Desse ponto de vista, o mundo sò é conhecido na medida em que ele se manifesta à consciência humana. Mas, o espìrito humano não é um simples "quarto de registro": ele é ele mesmo estruturado por leis e regras. As caracterìsticas que nòs atribuimos ingenuamente ao mundo - o tempo, o espaço, as relações de causa a efeito, os objetos - não são nada mais que as estruturas de nosso pensamento. Nossas representações são nesse ponto, um pouco como uma pintura que deforma as proporções do modelo segundo as leis de perspectiva para adapta-lo à superfìcie plana do quadro. E não somente nossas representações não podem jamais nos mostrar o mundo como ele é, mais elas o dissimulam, se situando entre o mundo e nòs mesmos. Elas constituem dessa maneira um véu que esconde o mundo, o que Schopenhauer chama o " o véu de Maïa", essa deusa hindu que, no "brahmanismo", personifica a ilusão.
Schopenhauer não adota por isso uma atitude cética, que o conduziria a renunciar à verdade aceitando o caràter desconhecido do mundo. Ao contràrio, ele define o projeto filosòfico pela vontade de saber o que està atràs do véu: por essa razão ele reivindica o nome clàssico de metafìsica, concebido como conhecimento das coisas em si.
Uma experiência direta
Todas as anàlises anteriores parecem portanto ter demonstrado a impossibilidade desse conhecimento, mas Schopenhauer precisa no texto acima que essas anàlises demonstraram a impossibilidade de conhecer o real atravéis a representação. È preciso então considerar como uma certeza que o mundo é nele mesmo totalmente diferente da representação, que ele não obedece a suas leis, e sobretudo que para alcança-lo é preciso contornar o obstàculo da representação e entrar em contato direto com ele. Para toda a filosofia clàssica, um tal projeto é absolutamente impossìvel: eu não posso sair de minha consciência para saber o que é o mundo fora de minha consciência. Certo, mas eu não sou apenas uma consciência: eu também sou um corpo. Em outras palavras, eu não conheço simplesmente o mundo: eu sou uma parte do mundo. Atravéis meu corpo, eu tenho então uma experiência direta, imediata, concreta de uma coisa que não é deformada pelas leis da representação. Então eu conheço meu corpo de duas maneiras distintas: de um lado, como todo o resto, como representação, como um objeto localizado no tempo e no espaço e obedecendo às leis da causalidade. Mas de outro lado, eu experimento meu corpo, eu vivo ele, eu o sinto, e nisso eu o conheço como ele é nele mesmo: como coisa em si. O corpo é dessa maneira para Schopenhauer o "milagre por excelência": ele é a porta que nos permite de rasgar o véu das representações e nos abre ao mundo da maneira que ele é em si. O saber que eu tenho de meu corpo é dessa maneira uma verdade incrìvel, que não pode se definir atravéis critérios lògicos e racionais: ele pertence a um outro tipo de verdade, que Schopenhauer chama na conclusão do texto " a verdade filosòfica por excelência". Isto é sem dùvida alguma, sua intuição mais profunda: não somente Nietzsche vai fundar seu pensamento nessa descoberta, mais também toda a fenomenologia, de Husserl até Michel Henry, que se desenvolveu nessas bases.
- J.V -
- O Mundo como Vontade e como Representação, Livro II, &17 e &18, Schopenhauer, Trad. A. Burdeau ( 1909 - 1913 ) -
Na realidade, seria impossìvel de encontrar a significação procurada desse mundo, que me parece absolutamente como minha representação, ou então a passagem desse mundo, na qualidade de simples representação do sujeito conhecido no que ele pode ser fora da representação, se o filòsofo ele mesmo não fosse nada mais que o puro sujeito conhecido (uma cabeça de anjo alado, sem corpo). Mas na realidade, ele tem suas raizes no mundo: na qualidade de indivìduo, ele faz parte dele ; sò o seu conhecimento torna possìvel a representação do mundo inteiro; mas esse mesmo conhecimento tem por condição necessària a existência de um corpo. [....] O sujeito do conhecimento, por sua identidade com o corpo, torna-se um indivìduo; logo, esse corpo lhe é dado de duas maneiras totalmente diferentes: de um lado como representação no conhecimento fenomenal, como objeto entre outros objetos e como submetido a lei deles; e de outro lado, ao mesmo tempo, como esse princìpio imediatamente conhecido de cada pessoa, que designa a palavra Vontade. Todo ato real de nossa vontade é ao mesmo tempo e com certeza um movimento de nosso corpo; nòs não podemos querer um ato realmente sem constatar logo em seguida que ele aparece como movimento corporal. O ato voluntàrio e a ação do corpo não são dois fenômenos objetivos diferentes, ligados pela causalidade; eles não são entre eles na relação de causa e de efeito. Eles são um ùnico e mesmo fato; simplesmente esse fato nos é dado de duas maneiras diferentes: de um lado imediatamente, de outro lado como representação sensìvel. [.....]
- Idem -
Essa identidade do corpo e da vontade é o mais imediato de nossos conhecimentos, e se nòs não a apreendemos e não a fixamos como tal, nòs tentaremos em vão de deduzi-la, de uma maneira qualquer, de um conhecimento anterior. È um conhecimento de um gênero especial, de qual a verdade, por esse motivo, não pode ser colocada em nenhuma das rubricas sob as quais eu coloquei toda verdade no meu expositivo do princìpio de razão, - à savoir - : verdade lògica, empìrica, metafìsica e "métadologique"; pois ela não é, como todas essas verdades, a relação de uma representação abstrata com uma outra representação, ou como forma necessària de uma representação intuitiva ou abstrata; ela é a relação de um julgamento com a relação que existe entre uma representação intuitiva e o que, longe de ser uma representação, é absolutamente diferente: a vontade. Por esse motivo, eu poderia distinguir essa verdade de todas as outras, e chama-la a verdade filosòfica por excelência.
- Idem -
O milagre do corpo
Schopenhauer continua, no seu raciocìnio, "tributàrio" da filosofia moderna, que concede a "preeminência" metodològica ao sujeito conhecido. Desse ponto de vista, o mundo sò é conhecido na medida em que ele se manifesta à consciência humana. Mas, o espìrito humano não é um simples "quarto de registro": ele é ele mesmo estruturado por leis e regras. As caracterìsticas que nòs atribuimos ingenuamente ao mundo - o tempo, o espaço, as relações de causa a efeito, os objetos - não são nada mais que as estruturas de nosso pensamento. Nossas representações são nesse ponto, um pouco como uma pintura que deforma as proporções do modelo segundo as leis de perspectiva para adapta-lo à superfìcie plana do quadro. E não somente nossas representações não podem jamais nos mostrar o mundo como ele é, mais elas o dissimulam, se situando entre o mundo e nòs mesmos. Elas constituem dessa maneira um véu que esconde o mundo, o que Schopenhauer chama o " o véu de Maïa", essa deusa hindu que, no "brahmanismo", personifica a ilusão.
Schopenhauer não adota por isso uma atitude cética, que o conduziria a renunciar à verdade aceitando o caràter desconhecido do mundo. Ao contràrio, ele define o projeto filosòfico pela vontade de saber o que està atràs do véu: por essa razão ele reivindica o nome clàssico de metafìsica, concebido como conhecimento das coisas em si.
Uma experiência direta
Todas as anàlises anteriores parecem portanto ter demonstrado a impossibilidade desse conhecimento, mas Schopenhauer precisa no texto acima que essas anàlises demonstraram a impossibilidade de conhecer o real atravéis a representação. È preciso então considerar como uma certeza que o mundo é nele mesmo totalmente diferente da representação, que ele não obedece a suas leis, e sobretudo que para alcança-lo é preciso contornar o obstàculo da representação e entrar em contato direto com ele. Para toda a filosofia clàssica, um tal projeto é absolutamente impossìvel: eu não posso sair de minha consciência para saber o que é o mundo fora de minha consciência. Certo, mas eu não sou apenas uma consciência: eu também sou um corpo. Em outras palavras, eu não conheço simplesmente o mundo: eu sou uma parte do mundo. Atravéis meu corpo, eu tenho então uma experiência direta, imediata, concreta de uma coisa que não é deformada pelas leis da representação. Então eu conheço meu corpo de duas maneiras distintas: de um lado, como todo o resto, como representação, como um objeto localizado no tempo e no espaço e obedecendo às leis da causalidade. Mas de outro lado, eu experimento meu corpo, eu vivo ele, eu o sinto, e nisso eu o conheço como ele é nele mesmo: como coisa em si. O corpo é dessa maneira para Schopenhauer o "milagre por excelência": ele é a porta que nos permite de rasgar o véu das representações e nos abre ao mundo da maneira que ele é em si. O saber que eu tenho de meu corpo é dessa maneira uma verdade incrìvel, que não pode se definir atravéis critérios lògicos e racionais: ele pertence a um outro tipo de verdade, que Schopenhauer chama na conclusão do texto " a verdade filosòfica por excelência". Isto é sem dùvida alguma, sua intuição mais profunda: não somente Nietzsche vai fundar seu pensamento nessa descoberta, mais também toda a fenomenologia, de Husserl até Michel Henry, que se desenvolveu nessas bases.
- J.V -