quinta-feira, 27 de setembro de 2007

"O corpo, milagre por excelência"

O que nòs adquirimos, apòs todas essas pesquisas, é que não nos é suficiente de saber que nòs temos representações, que essas representações são de tal ou tal maneira, e dependem de tal ou tal lei, de qual a expressão geral é sempre o princìpio de razão. Nòs queremos saber a significação dessas representações; nòs perguntamos se o mundo não pode ultrapassa-las, e nesse caso ele deveria se apresentar a nòs como um sonho vão, ou como uma forma vaporosa semelhante a dos fantasmas; ele não seria digno de atrair nossa atenção: Ou então, ao contràrio, serà que existe alguma outra coisa que a representação, alguma coisa a mais; e então o que serà ? È evidente que essa tal coisa deve ser plenamente diferente da representação, por sua essência, e que as formas e a lei da representação devem ser para ela totalmente estrangeiras. Por conseguinte, nòs não podemos partir da representação, para alcança-la, com o fio condutor dessas leis, que são apenas o elo do objeto, da representação, quer dizer das manifestações do princìpio de razão. Nòs vemos então dessa maneira que não é do exterior que nòs devemos partir para chegar na essência das coisas; nòs podemos procurar de todas as maneiras, nòs chegaremos apenas nos fantasmas - ou em fòrmulas; nòs seremos semelhantes a uma pessoa que daria a volta em torno de um castelo, para encontrar a entrada, e que não a encontrando, desenharia a fachada. È portanto o caminho que seguiram todos os filòsofos antes de mim. [.....]


- O Mundo como Vontade e como Representação, Livro II, &17 e &18, Schopenhauer, Trad. A. Burdeau ( 1909 - 1913 ) -


Na realidade, seria impossìvel de encontrar a significação procurada desse mundo, que me parece absolutamente como minha representação, ou então a passagem desse mundo, na qualidade de simples representação do sujeito conhecido no que ele pode ser fora da representação, se o filòsofo ele mesmo não fosse nada mais que o puro sujeito conhecido (uma cabeça de anjo alado, sem corpo). Mas na realidade, ele tem suas raizes no mundo: na qualidade de indivìduo, ele faz parte dele ; sò o seu conhecimento torna possìvel a representação do mundo inteiro; mas esse mesmo conhecimento tem por condição necessària a existência de um corpo. [....] O sujeito do conhecimento, por sua identidade com o corpo, torna-se um indivìduo; logo, esse corpo lhe é dado de duas maneiras totalmente diferentes: de um lado como representação no conhecimento fenomenal, como objeto entre outros objetos e como submetido a lei deles; e de outro lado, ao mesmo tempo, como esse princìpio imediatamente conhecido de cada pessoa, que designa a palavra Vontade. Todo ato real de nossa vontade é ao mesmo tempo e com certeza um movimento de nosso corpo; nòs não podemos querer um ato realmente sem constatar logo em seguida que ele aparece como movimento corporal. O ato voluntàrio e a ação do corpo não são dois fenômenos objetivos diferentes, ligados pela causalidade; eles não são entre eles na relação de causa e de efeito. Eles são um ùnico e mesmo fato; simplesmente esse fato nos é dado de duas maneiras diferentes: de um lado imediatamente, de outro lado como representação sensìvel. [.....]


- Idem -


Essa identidade do corpo e da vontade é o mais imediato de nossos conhecimentos, e se nòs não a apreendemos e não a fixamos como tal, nòs tentaremos em vão de deduzi-la, de uma maneira qualquer, de um conhecimento anterior. È um conhecimento de um gênero especial, de qual a verdade, por esse motivo, não pode ser colocada em nenhuma das rubricas sob as quais eu coloquei toda verdade no meu expositivo do princìpio de razão, - à savoir - : verdade lògica, empìrica, metafìsica e "métadologique"; pois ela não é, como todas essas verdades, a relação de uma representação abstrata com uma outra representação, ou como forma necessària de uma representação intuitiva ou abstrata; ela é a relação de um julgamento com a relação que existe entre uma representação intuitiva e o que, longe de ser uma representação, é absolutamente diferente: a vontade. Por esse motivo, eu poderia distinguir essa verdade de todas as outras, e chama-la a verdade filosòfica por excelência.


- Idem -


O milagre do corpo


Schopenhauer continua, no seu raciocìnio, "tributàrio" da filosofia moderna, que concede a "preeminência" metodològica ao sujeito conhecido. Desse ponto de vista, o mundo sò é conhecido na medida em que ele se manifesta à consciência humana. Mas, o espìrito humano não é um simples "quarto de registro": ele é ele mesmo estruturado por leis e regras. As caracterìsticas que nòs atribuimos ingenuamente ao mundo - o tempo, o espaço, as relações de causa a efeito, os objetos - não são nada mais que as estruturas de nosso pensamento. Nossas representações são nesse ponto, um pouco como uma pintura que deforma as proporções do modelo segundo as leis de perspectiva para adapta-lo à superfìcie plana do quadro. E não somente nossas representações não podem jamais nos mostrar o mundo como ele é, mais elas o dissimulam, se situando entre o mundo e nòs mesmos. Elas constituem dessa maneira um véu que esconde o mundo, o que Schopenhauer chama o " o véu de Maïa", essa deusa hindu que, no "brahmanismo", personifica a ilusão.
Schopenhauer não adota por isso uma atitude cética, que o conduziria a renunciar à verdade aceitando o caràter desconhecido do mundo. Ao contràrio, ele define o projeto filosòfico pela vontade de saber o que està atràs do véu: por essa razão ele reivindica o nome clàssico de metafìsica, concebido como conhecimento das coisas em si.



Uma experiência direta


Todas as anàlises anteriores parecem portanto ter demonstrado a impossibilidade desse conhecimento, mas Schopenhauer precisa no texto acima que essas anàlises demonstraram a impossibilidade de conhecer o real atravéis a representação. È preciso então considerar como uma certeza que o mundo é nele mesmo totalmente diferente da representação, que ele não obedece a suas leis, e sobretudo que para alcança-lo é preciso contornar o obstàculo da representação e entrar em contato direto com ele. Para toda a filosofia clàssica, um tal projeto é absolutamente impossìvel: eu não posso sair de minha consciência para saber o que é o mundo fora de minha consciência. Certo, mas eu não sou apenas uma consciência: eu também sou um corpo. Em outras palavras, eu não conheço simplesmente o mundo: eu sou uma parte do mundo. Atravéis meu corpo, eu tenho então uma experiência direta, imediata, concreta de uma coisa que não é deformada pelas leis da representação. Então eu conheço meu corpo de duas maneiras distintas: de um lado, como todo o resto, como representação, como um objeto localizado no tempo e no espaço e obedecendo às leis da causalidade. Mas de outro lado, eu experimento meu corpo, eu vivo ele, eu o sinto, e nisso eu o conheço como ele é nele mesmo: como coisa em si. O corpo é dessa maneira para Schopenhauer o "milagre por excelência": ele é a porta que nos permite de rasgar o véu das representações e nos abre ao mundo da maneira que ele é em si. O saber que eu tenho de meu corpo é dessa maneira uma verdade incrìvel, que não pode se definir atravéis critérios lògicos e racionais: ele pertence a um outro tipo de verdade, que Schopenhauer chama na conclusão do texto " a verdade filosòfica por excelência". Isto é sem dùvida alguma, sua intuição mais profunda: não somente Nietzsche vai fundar seu pensamento nessa descoberta, mais também toda a fenomenologia, de Husserl até Michel Henry, que se desenvolveu nessas bases.

- J.V -

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Schopenhauer, Remédio para a Ilusão

Radicalmente pessimista, se empenhando a nos desiludir e a nos despir de nossas ilusões, o "sàbio de Francfort" fez um grande favor a filosofia: ele a fez descer na terra.


Fascinação e Repugnância


Esse homem tem tudo para desagradar.
Misantropo, amargo, pessimista, misògino, reacionàrio, avarento, desprezìvel, còlerico, pretencioso, egoista, megalomanìaco, paranòico....jà é muita coisa. Portanto, ainda não é suficiente. Esse solteirão determinado, sarcàstico e còlerico, também é anti-semita e demasiadamente niilista. Bref, nòs temos todas as razões para odia-lo. Não é o caso. Ao contràrio. O horrìvel homem suscita na realidade uma "furiosa ternura", como nòs dizemos com Molière Nòs gostarìamos de detesta-lo. No fundo, ele merece. Mas em vão: esse rabugento suscita a simpatia, verdadeiramente a admiração e quase, de uma certa maneira, a amizade. Porquê então ?
Primeiro porque ele se empenha, com a dureza necessària, a nos despojar de nossas ilusões. Ele repete o que nòs não queremos ouvir : o amor é uma impostura, a felicidade uma quimera, a vida um erro, um transtorno inùtil na pureza do vazio. Nòs sonhamos de grandes sentimentos, de serenidade possìvel, de prazer real. Nòs cantamos a grandeza da vida, sua plenitude, sua profusão, sua potência. Nòs nos repetimos que o mundo tem um sentido. Schopenhauer nos sopra na orelha que todas essas coisas são asneiras ineptas.
Seu primeiro mérito: nos desiludir. " Pela pròpria natureza, a vida não admite de maneira alguma uma felicidade verdadeira, ela é essencialmente um sofrimento com diversos aspectos, um estado de infelicidade radical."
È melhor compreede-lo imediatamente, e não mais se perder : " Hoje é negativo, e cada dia serà mais negativo - até que o pior aconteça." Vamos parar de nos contar històrias, vamos compreeder a situação real onde nos encontramos: " Uma vida feliz é uma contradição nos seus termos. " A afirmação dessa infelicidade radical tem tudo de um tratamento de choque. Eis um terapeuta que não procura dourar a pìlula. Ele nos tira completamente toda esperança, toda consolação, toda possibilidade de esquiva.


Negridão pedagògica


Nòs podemos julgar sua negridão excessiva. Ou quase ridìcula. Ou mesmo francamente risìvel. Ela continua assim mesmo, antes de qualquer coisa, pedagògica. Nietzsche não se enganou: Schopenhauer é essencialmente um educador. Ele começa para quebrar essa massa de falsas esperanças e horizontes ilusòrios que nos separa da rudeza do real. Destruindo nossas ilusões, ele nos dà a possibilidade de existir, de olhar de outra maneira nossa morte pròxima e nossas agitações efêmeras. Nesse mundo doravante absurdo, infinitamente cruel, desprovido da mìnima possibilidade de melhoramento, é necessàrio que nòs possamos continuar serenos, e verdadeiramente agenciar, contra todos os obstàculos e toda verosimilhança, uma certa alegria.
Pois esse desespero talvez não seja tão negro, mas sereno, de uma certa maneira. Se nòs aceitamos de admitir um uso tônico do pessimismo, Schopenhauer é um produto que dopa. Ele sugere na realidade de resistir ao pior sem fazer um drama. Nesse ponto de vista, esse burguês da Europa realiza uma união com a inspiração dos filòsofos da Antiguidade. Muito além da idade clàssica e do Iluminismo, apòs o tempo das ciências e da razão triunfante, ele recomeça a pràtica da vida filosòfica, a velha sabedoria solitària e sem deus, heròica, erguida em uma paisagem devastada, mas sem làgrimas. Um educador, sem dùvida alguma.
Que também ensina que o progresso não existe. A Història é apenas um miragem. Mais exatamente, como dizia Shakespeare, um conto repleto de barulho e de fùria contado por um idiota. " A raça humana està definitivamente e pela pròpria natureza destinada ao sofrimento e a ruìna." Vamos então parar de sonhar com o paraìso, que ele seja técnico, comunista ou globalizado. Que nòs tenhamos consciência, enfim, da maneira pela qual os eventos deformam a superfìcie do mundo sem que nada, no fundo, mude realmente. Certo, essa idéia não é progressista....
Não podemos esperar nada da polìtica. " O Estado é apenas o açaimo que tem por objetivo de tornar inofensiva essa besta carniceira, o homem, e de fazer de uma certa maneira que ele tenha o aspecto de um herbìvoro."
Eis novamente um argumento pessimista. Todavia, se nòs tivessemos verdadeiramente escutado Schopenhauer, em vez de Hegel e Marx, ou Staline, ou Hitler, que todos acreditavam nas grandes mutações da Història e na possibilidade de construir um homem novo, quantos milhões de mortos nòs terìamos a menos ?


Um Heròi especial


Esse pensamento liberado do progresso, da utopia, das revoluções também é radicalmente sem Deus. Ele torna inùtil todas as " asneiras" relativas ao "senso" que as "falsas" doutrinas nos ensinaram. Para começar a ser humano, dito em substância esse perturbador, é preciso ter consciência que o mundo é radicalmente desprovido de senso. O que nos resta como salvação possìvel ? Fugir dessa realidade maldita, ou tranforma-la atravéis a criação artistica. A grande transformação não tem por objetivo a depressão, mas o mìstico e a vida artista. Não é um acaso se nosso filòsofo se interessou mais do que qualquer outra pessoa do seu tempo na India. E também não é sem razão que ele tocava, cada manhã, a flauta e que ele compôs, as suas mais belas anàlises, relativas a mùsica.
Nòs deverìamos então concluir que esse personagem repulsivo é de uma certa maneira um hèròi. Heròi da filosofia, de qual ele consagrou sua vida inteira, e todas as suas forças, até mesmo sua fortuna. Se ele parece avarento, é apenas para assegurar sua independência, para conseguir viver apenas escrevendo livros que não lhe dão nenhum lucro. Se ele se afastou dos amores, foi também para sò poder pensar. Heròi da ternura igualmente. Se ele é tão malvado com a humanidade, é por causa de uma demasiada sensibilidade ferida, imensa compaixão sem eco, imenso altruìsmo sem esperança.


"Misogynie" e anti-semitismo


Ficam duas coisas que nòs temos dificuldade para suportar. Sua "misogynie" demasiada, seu anti-semitismo repulsivo. Muito difìcil de atribui-los inteiramente à sua época. Sem dùvida o que nos choca e nos dà repugnância era percebido de outra maneira no contexto de origem. Existem limites a esse argumento: Serà que na realidade não existia na Alemanha de seu tempo, alguém que fosse feminista e amigo dos judeus ?
Serà em vão que nòs tentaremos desculpa-lo. Nòs poderiamos dizer que com relação às mulheres, ele não perdoa as pròprias insuficiências dele mesmo e sua incapacidade de poder ama-las. Nòs poderìamos ainda dizer que ele condena os judeus, de terem inventado a Història, o otimismo e esse Deus criador que, contemplando sua obra, viu que "ela era boa". Seriam explicações medìocres, esquivas negativas. Nesses dois pontos que são essenciais, ele não é magnìfico, ele é apenas odioso. A não ser que seja preciso reler sua obra inteira no outro sentido, começando por sua "misogynie" e seu òdio pelos judeus para discernir os sinais importantes de seu mal estar relativo à vida e à lei, as razões de sua impossibilidade de ver o mundo de uma maneira positiva. Seria um outra forma de se interessar aos motivos que ele tem para desagradar.

- Roger-Pol Droit, pesquisador no CNRS e cronista do jornal Le Monde, autor entre outros, na editora Odile Jacob, de 101 experiências de filosofia cotidiana (2001), de A Companhia dos filòsofos ( 2002 ) e de Sua vida serà perfeita ( 2005 )

terça-feira, 25 de setembro de 2007

O que ensinam às nossas crianças

Por Ali Kamel *

Artigo reproduzido do jornal O Globo de 18/9, página 7. Não vou importunar o leitor com teorias sobre Gramsci, hegemonia, nada disso. Ao fim da leitura, tenho certeza de que todos vão entender o que se está fazendo com as nossas crianças e com que objetivo. O psicanalista Francisco Daudt me fez chegar às mãos o livro didático “Nova História Crítica, 8ª série” distribuído gratuitamente pelo MEC a 750 mil alunos da rede pública. O que ele leu ali é de dar medo. Apenas uma tentativa de fazer nossas crianças acreditarem que o capitalismo é mau e que a solução de todos os problemas é o socialismo, que só fracassou até aqui por culpa de burocratas autoritários. Impossível contar tudo o que há no livro. Por isso, cito apenas alguns trechos.

Sobre o que é hoje o capitalismo: “Terras, minas e empresas são propriedade privada. As decisões econômicas são tomadas pela burguesia, que busca o lucro pessoal. Para ampliar as vendas no mercado consumidor, há um esforço em fazer produtos modernos. Grandes diferenças sociais: a burguesia recebe muito mais do que o proletariado. O capitalismo funciona tanto com liberdades como em regimes autoritários.”

Sobre o ideal marxista: “Terras, minas e empresas pertencem à coletividade. As decisões econômicas são tomadas democraticamente pelo povo trabalhador, visando o (sic) bem-estar social. Os produtores são os próprios consumidores, por isso tudo é feito com honestidade para agradar à (sic) toda a população. Não há mais ricos, e as diferenças sociais são pequenas. Amplas liberdades democráticas para os trabalhadores.”

Sobre Mao Tse-tung: “Foi um grande estadista e comandante militar. Escreveu livros sobre política, filosofia e economia. Praticou esportes até a velhice. Amou inúmeras mulheres e por elas foi correspondido. Para muitos chineses, Mao é ainda um grande herói. Mas para os chineses anticomunistas, não passou de um ditador.”

Sobre Revolução Cultural Chinesa: “Foi uma experiência socialista muito original. As novas propostas eram discutidas animadamente. Grandes cartazes murais, os dazibaos, abriam espaço para o povo manifestar seus pensamentos e suas críticas. Velhos administradores foram substituídos por rapazes cheios de idéias novas. Em todos os cantos, se falava da luta contra os quatro velhos: velhos hábitos, velhas culturas, velhas idéias, velhos costumes. (...) No início, o presidente Mao Tse-tung foi o grande incentivador da mobilização da juventude a favor da Revolução Cultural. (...) Milhões de jovens formavam a Guarda Vermelha, militantes totalmente dedicados à luta pelas mudanças. (...) Seus militantes invadiam fábricas, prefeituras e sedes do PC para prender dirigentes ‘politicamente esclerosados’. (...) A Guarda Vermelha obrigou os burocratas a desfilar pelas ruas das cidades com cartazes pregados nas costas com dizeres do tipo: ‘Fui um burocrata mais preocupado com o meu cargo do que com o bem-estar do povo’. As pessoas riam, jogavam objetos e até cuspiam. A Revolução Cultural entusiasmava e assustava ao mesmo tempo.”

Sobre a Revolução Cubana e o paredão: “A reforma agrária, o confisco dos bens de empresas norte-americanas e o fuzilamento de torturadores do exército de Fulgêncio Batista tiveram inegável apoio popular.”

Sobre as primeiras medidas de Fidel: “O governo decretou que os aluguéis deveriam ser reduzidos em 50%, os livros escolares e os remédios, em 25%.” Essas medidas eram justificadas assim: “Ninguém possui o direito de enriquecer com as necessidades vitais do povo de ter moradia, educação e saúde.”

Sobre o futuro de Cuba, após as dificuldades enfrentadas, segundo o livro, pela oposição implacável dos EUA e o fim da ajuda da URSS: “Uma parte significativa da população cubana guarda a esperança de que se Fidel Castro sair do governo e o país voltar a ser capitalista, haverá muitos investimentos dos EUA.(...) Mas existe (sic) também as possibilidades de Cuba voltar a ter favelas e crianças abandonadas, como no tempo de Fulgêncio Batista. Quem pode saber?”

Sobre os motivos da derrocada da URSS: “É claro que a população soviética não estava passando fome. O desenvolvimento econômico e a boa distribuição de renda garantiam o lar e o jantar para cada cidadão. Não existia inflação nem desemprego. Todo ensino era gratuito e muitos filhos de operários e camponeses conseguiam cursar as melhores faculdades. (...) Medicina gratuita, aluguel que custava o preço de três maços de cigarro, grandes cidades sem crianças abandonadas nem favelas... Para nós, do Terceiro Mundo, quase um sonho não é verdade? Acontecia que o povo da segunda potência mundial não queria só melhores bens de consumo. Principalmente a intelligentsia (os profissionais com curso superior) tinha inveja da classe média em desenvolvimento dos países desenvolvidos (...) Queriam ter dois ou três carros importados na garagem de um casarão, freqüentar bons restaurantes, comprar aparelhagens eletrônicas sofisticadas, roupas de marcas famosas, jóias. (...) Karl Marx não pensava que o socialismo pudesse se desenvolver num único país, menos ainda numa nação atrasada e pobre como a Rússia tzarista. (...) Fica então uma velha pergunta: e se a revolução tivesse estourado num país desenvolvido como os EUA e a Alemanha? Teria fracassado também?”

Esses são apenas alguns poucos exemplos. Há muito mais. De que forma nossas crianças poderão saber que Mao foi um assassino frio de multidões? Que a Revolução Cultural foi uma das maiores insanidades que o mundo presenciou, levando à morte de milhões? Que Cuba é responsável pelos seus fracassos e que o paredão levou à morte, em julgamentos sumários, não torturadores, mas milhares de oponentes do novo regime? E que a URSS não desabou por sentimentos de inveja, mas porque o socialismo real, uma ditadura que esmaga o indivíduo, provou-se não um sonho, mas um pesadelo?

Nossas crianças estão sendo enganadas, a cabeça delas vem sendo trabalhada, e o efeito disso será sentido em poucos anos. É isso o que deseja o MEC? Senão for, algo precisa ser feito, pelo ministério, pelo congresso, por alguém.


* Ali Kamel é jornalista

domingo, 23 de setembro de 2007

O Nascimento da Filosofia Contemporânea

Reconsiderando o otimismo e o racionalismo do Iluminismo, Schopenhauer, Kierkegaard e Nietzsche, abriram, cada um a sua maneira, as portas da era da desconfiança e da "desconstrução", estabelecendo dessa maneira os fundamentos da filosofia contemporânea.


Schopenhauer, Kiekegaard e Nietzsche


O primeiro é célebre por seu pessimismo, o segundo por seu cristianianismo, e o terceiro por sua crìtica radical dos dois primeiros ! Qual a relação entre eles ? E qual é a atualidade ? A resposta se impõe: cada um a sua maneira, eles instauram uma ruptura fundamental e irreversìvel com o otimismo e o racionalismo do Iluminismo. E é atravéis essa ruptura que eles abrem o espaço do pensamento contemporâneo, o espaço da "desconstrução" e da "genealogia", no qual nòs ainda nos encontramos. Eis o que é essencial compreender para a introdução de uma leitura desses três gigantes do pensamento.
Vamos começar por Schopenhauer. De seu pensamento, inùmeros escritores da moda se contentam de guardar algumas noções vagas e fàceis que podem se resumir dessa maneira: a vida não tem sentido e nossa ùnica consolação se situa na arte.
È curto, terrivelmente curto: se a mensagem de Schopenhauer se reduzisse a essas fòrmulas, eu vejo mal a razão para continuar a falar dela. Como mostrou Clément Rosset no pequeno ensaio que ele consagrou a Schopenhauer ( Schopenhauer, filòsofo do absurdo, PUF, 1993), sua verdadeira originalidade està em outro lugar: primeiro e antes de tudo no fato que ele mostra de maneira implacàvel que o universo da consciência - da "representação" é apenas um momento ìnfimo do real, a parte emergida do iceberg. Nòs diremos que Freud nos habituou tanto a essa idéia que ela nos parece banal. Sem dùvida. Mas a consequência que tira Schopenhauer disso não é banal: todas as grandes narrações cientìficas, metafìsicas ou religiosas atravéis das quais nòs procuramos dar sentido as nossas vidas, são puras e vães ficções.
O fundo do real, que se identifica a uma sorte de querer anônimo e còsmico, é o absurdo mesmo, o reino sem divisão de pulsões sem causa alguma e de toda finalidade como objetivo.
Contrariamente a famosa sentença de Hegel, não somente o real não é racional, mas ele é, em ùltima instância, o não-racional por excelência. È dessa maneira que todos os ideais do Iluminismo, todos os "ìdolos" de otimismo e de humanismo racionalistas e progressistas se encontram aniquilados

Antiracionalismo


O que ele tem de comum com o cristianismo de Kierkegaard ? Justamente, é esse antiracionalismo argumentado que, além das divergências ulteriores, reùne com profundidade nossos dois autores e os associa em uma aversão comum pelo "hegelianismo". Pois para um como para o outro, o universo das representações racionais, que ele seja cientìfico ou filosòfico, passa totalmente ao lado do real. A existência singular é rebelde a todas as categorias da razão. Ora é ela e apenas ela que importa. Pois nòs somos essa existência singular e é nesse nìvel que se realiza nosso destino, e não no nìvel das leis e dos conceitos abstratos elaborados pela razão. Bref, que seja Kiekegaard ou Schopenhauer, e sejam quais forem as divergências abissais que os separam, é primeiro e antes de tudo por uma verdadeira "desconstrução" da razão que deve começar todo pensamento sério.
Nisso eles abrem o caminho a essa filosofia contemporânea que vai inaugurar verdadeiramente a crìtica "nietzschéenne" do "niilismo".

O além e o mundo terrestre


Aqui, é preciso pararmos um pouco mais demoradamente. Trata-se de quê finalmente ?. Atualmente nòs dizemos de alguém que ele é "niilista", para significar que ele não acredita em nada, que ele é "cìnico", bref que ele não tem ideal. Para Nietzsche, é rigorosamente o contràrio: o niilista é justamente aquele que é cheio de "convicções fortes" e altamente morais. È aquele que possui ideais superiores sejam quais forem: religiosos, metafìsicos ou laicos, humanistas e materialistas. Porquê então empregar esse termo ? Simplesmente porque aos olhos de Nietzsche os ideais, todos os "idolos", como nòs os chamamos, conduzem novamente à estrutura metafìsico-religiosa do além oposta ao mundo terrestre, desse céu de qual nòs nos servimos sempre para aniquilar a terra. Quer dizer que os valores transcendentes e que dão sentido de qual Nietzsche anuncia o crepùsculo são inventados pelos humanos para dar um sentido a vida, para se consolar de sua dureza, então, em muitos aspectos, para recusa-la da maneira que ela é, quer dizer para nega-la. E é nisso que o idealismo, compreendido no sentido pròprio como o fato de ter ideais, é um niilismo, uma atitude que nega o real em nome do ideal como o faz toda tentativa de melhoramento do que é em nome de um futuro melhor, de um senso escondido, de um projeto superior.
Desse ponto de vista, o materialismo ateu herdado do Iluminismo é na maior parte do tempo tão niilista quanto pode ser a religião ou o idealismo clàssico.
No lugar do mundo inteligìvel de Platão ou do paraìso dos cristãos, nòs colocamos o Progresso, os Direitos do homem, a Ciência, a Repùblica, a Liberdade, a Razão, e daqui a pouco tempo o socialismo, o anarquismo, o comunismo.....
Mas essas novas figuras do ideal, por serem em aparência laicas, conservam de certa maneira o elemento fundamental do religioso: a estrutura, justamente, do além oposto ao mundo terrestre. Que o paraìso resida em um jardim de qual são Pedro teria as chaves ou em uma sociedade sem classe de qual o proletariado seria o vector não muda nada afinal no assunto: as religiões de salvação terrestre, por se pretender sem fé, continuam assim mesmo sendo religiões.
O espìrito crìtico então deve recomeçar seu trabalho, e continuar a "desconstruir" o que o Iluminismo ele mesmo deixou subsistir das antigas formas religiosas. Em outras palavras, se "Deus està morto", o Homem do humanismo também està. È então o racionalismo, esse ponto culminante do niilismo, que é, como para Schopenhauer ou Kiekegaard, a besta negra de Nietzsche. È ele que nòs devemos negar agora, de uma certa maneira, porque duas negações valem uma afirmação, alcançar a sabedoria: aquela que consiste a se reconciliar enfim com o real, a lamentar um pouco menos, esperar um pouco menos para ama-lo como ele é - o que Nietzsche chama o "amor fati", o amor de seu destino, do presente como ele nos é dado.

Até a borra.....


Assim, a filosofia teòrica adquire uma forma nova. Doravante, seu trabalho fundamental serà o da "desconstrução" ou, para empregar a palavra de Nietzsche, da "genealogia". Como dirà de uma maneira bonita o livro O Crepùsculo dos ìdolos, "todo julgamento é um sintoma" ou, para falar como Lacan, não existe mais "metalinguagem", nem lugar de onde a verdade cientìfica poderia pretender falar do alto do que ela analisa, pois a palavra do genealogista também é um jogo de linguagem que não possui mais verdade do que o outros. Simplesmente mais vida, mais realismo de uma certa maneira, quando ele consegue se liberar das ilusões do niilismo, quer dizer dos miragens do ideal.
Podemos concluir dessa maneira ? Esta é aos meus olhos toda a questão da filosofia futura, e a minha convicção é que não. Mas é preciso pelo menos fazer essa reflexão, beber o vinho até a borra não deixa nenhuma dùvida. Por isso devemos ler e meditar a mensagem desses três primeiros filòsofos da desconfiança.

- Luc Ferry, filòsofo, antigo ministro, autor entre outros, de, Familias, eu gosto de vocês: Polìtica e vida privada na idade da mundialização ( XO, 2007 )

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Ètica e felicidade

" Uma vida conforme ao espirito serà verdadeiramente divina"

Felicidade e virtude
Da confissão geral, a felicidade é completa, se satisfaz a ela mesma pois ela é o fim de nossa atividade. Mas, talvez, de acordo com o fato que a felicidade é o bem soberano, nòs desejamos ter algumas posições suplementàrias. Nòs chegariamos rapidamente a um resultado tendo consciência do que é a função pròpria do homem. Para o mùsico que toca flauta, para toda espécie de artesão e em uma palavra para todos que praticam um trabalho e exercem uma atividade, o bem e a perfeição residem, de uma certa maneira, na função ela mesma. De toda evidência, é da mesma maneira para o homem, se existe alguma ação que lhe seja pròpria
.È preciso então admitir [....] que a natureza fez do homem um ocioso ? [....]
Se a ação pròpria ao homem é a atividade da alma, de acordo completo ou parcial com a razão [....], nòs supomos que a função do homem é um certo tipo de vida e que esse tipo de vida é a atividade da alma, acompanhada de ações razoàveis [...]; nessas condições, o bem pròprio ao homem é a atividade da alma em conformidade com a virtude; e, se as virtudes são numerosas, segundo aquela que é a melhor e a mais realizada.

- Ètica à Nicomaque, 1, 7, 8-15 y- Aristote - Garnier- Flammarion, Trad. J. Voilquin. -


O justo meio-termo


Em todo objeto homogêneo e divisìvel, nòs podemos distinguir o mais, o menos, o igual, seja no pròprio objeto, seja em relação a nòs mesmos. Ora, o igual é intermediàrio entre o excesso e a falta. [....] Acrescetemos ainda que a virtude, da mesma maneira que a natureza, prevalece na exatidão e na eficacidade sobre toda espécie de arte; em tais condições, o objetivo que se propõe a virtude poderia de alguma maneira ser uma sensatez média. Por exemplo, os sentimentos de terror, de segurança, de desejo, de còlera, de piedade, enfim de prazer ou de dificuldade podem nos afetar ou muito ou muito pouco, e de uma maneira defeituosa nos dois casos. Mas se nòs experitamos esses sentimentos no momento oportuno, [.....] para fins e em condições convenientes, nòs permanecemos em uma excelente média, e é nessa média que se encontra o pròprio da virtude. Da mesma maneira, nòs encontramos nas ações excesso, falta e justo meio-termo. [....]
A virtude é então uma disposição adquirida voluntària, consistindo em relação à nòs mesmos no justo meio-termo, definida pela razão em conformidade com a conduta de um homem prudente. Ela se situa no justo meio-termo entre duas extremidades prejudiciais, uma pelo excesso, a outra pela falta.

- Idem, II, 6, 4-15.


A vida contemplativa


Se é verdade que a felicidade é a atividade conforme a virtude, é de toda evidência que é esta que é conforme a virtude mais perfeita, quer dizer àquela da parte do homem mais alta. Que se trate do espìrito ou de toda outra faculdade de qual parece pertencer por natureza o império, o mandamento, o conhecimento de que o que é o bem é divino; que essa faculdade também seja divina ou o que existe em nòs de mais divino, é a atividade dessa parte de nòs mesmos, atividade conforme a sua pròpria virtude, que constitue a felicidade perfeita. Nòs dissemos que ela é contemplativa.

- Idem, X, 7, 1

Uma tal vida, todavia, poderia estar além da condição humana. O homem então não vive mais na qualidade de homem, mais na medida em que ele possui algum caràter divino; e, tanto esse caràter divino prevalece no que é composto, tanto essa atividade serà excelente com relação àquela que resulta de todas as outras virtudes. Se então o espìrito, com relação ao homem, é um atributo divino, uma vida conforme ao espìrito serà, com relação a vida humana, verdadeiramente divina. Então nòs não devemos escutar as pessoas que nos aconselham, sob o pretexto que nòs somos mortais, de renunciar às coisas imortais. Mas, na medida do possìvel, nòs devemos nos tornar imortais e fazer tudo para viver conforme a parte mais excelente de nòs mesmos.

- Idem, X, 7, 8


Ètica a Nicomaque


Longe de ser um còdigo de moralidade, A Ètica a Nicomaque, de Aristote, se interroga sobre a orientação que a vida humana deve seguir para alcançar a felicidade, designada como um "bem soberano" desejado por ele mesmo. Para Aristote, esta não pode ser alcançada atravéis uma vida de prazeres. Os bens exteriores como os prazeres, as honras, as riquezas são insuficientes. È do ser interior, de certas disposições da alma humana apoiadas por um gênero de vida adequado, que a felicidade deve proceder.


A razão, "pròprio" do homem


A verdadeira felicidade se obtem graças a um modo de vida podendo realizar o que Aristote estima ser a "função" essencial do homem. Essa função, é na alma que ele procura, alma que ele divide em parte racional e parte irracional - àquela da vida e dos desejos orgânicos, suscetìveis todavia de obedecer a razão: é então atravéis ela que se define a pròpria função deles. A felicidade vai consistir dessa maneira em uma vida conduzida conforme a razão. Aristote qualifica de "virtuoso" o homem que segue sua razão. Então é o homem virtuoso que serà feliz.
Na Ètica a Nicomaque, Aristote trata primeiro do controle dos sentimentos pela razão ( livros II até IV ), graças as virtudes morais pròprias a essa parte irracional e adquiridas pelo hàbito. Isso não significa nega-las, mais dar a elas uma justa medida "entre o excesso e a falta": a coragem é dessa maneira o meio-termo entre a temeridade e a covardia, a moderação entre o desregramento e a insensibilidade, a grandeza da alma entre a vaidade e a humildade. Da mesma maneira, o prazer não é negado, pois ele pode se associar a uma atividade honesta ( o pensamento, a pràtica da virtude ) ou a uma profissão. Mais os sentimentos segundo ele excessivos, como o temor da dor ou a procura dos prazeres, devem ser controlados pois eles impedem a vocação humana de se realizar.
A moral de Aristote é então menos uma moral de constrangimento do que um pensamento de realização.Essa realização se faz pela razão (noûs). Atravéis esse argumento, Aristote não compreende a intelectualidade no sentido moderno, mais de uma certa maneira uma parte imortal de nòs mesmos, naturalmente voltada em direção do divino: o espìrito é o centro das virtudes intelectuais: a arte opera a escolha apropriada no bom momento, a ciência demonstrativa,a intuição espiritual dos princìpios ( indução ).
Mais a sua mais alta virtude é a sabedoria, união da intuição e da ciência, de qual a atividade pròpria é a contemplação do divino graças a ciência ( livro X ).


Metafìsica


No livro Metafìsica, Aristote se extasiava diante a felicidade eterna e perfeita de um Deus absorvido em sua pròpria contemplação. È então pela sabedoria que o homem pode participar dessa beatitude, pois sua contemplação se acompanha de um prazer sem mistura. Essa "vida segundo o espìrito" serà então a melhor vida, inclusive porque os deuses saberão recompensar essa escolha radical. È preciso ressaltar que o sàbio de Aristote, ao contràrio do sàbio de Platão, se recusa a toda vida polìtica, sem fugir da vida social: a autarquia divina sendo impossìvel de se alcançar, ele lhe substitui numerosos amigos, ingredientes necessàrios da felicidade.
De uma grande influência na filosofia ulterior, principalmente em Thomas d'Aquin que assimila vida contemplativa e vida monàstica, a ética de Aristote parece ter perdido sua influência hoje em uma sociedade marcada pelo hedonismo. Mais a exigência atual de realização pessoal poderia dar-lhe novamente uma importância.

- O.S -

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Os limites do individualismo

" Essa sorte de servidão, regulada, doce e serena...."

Eu quero imaginar sob quais traços novos o despotismo poderia se produzir no mundo: eu vejo uma multidão imensa de homens semelhantes e iguais que rodam sem descanso sobre eles mesmos para realizar pequenos e vulgares prazeres, de quais eles enchem suas almas. Cada um deles, ficando de lado, é como estrangeiro ao destino de todos os outros: seus filhos e seus amigos particulares formam para ele toda a espécie humana; quanto ao resto de seus compatriotas, ele està ao lado deles, mais não os vê; ele os toca sem senti-los; ele sò existe nele mesmo e para ele unicamente, e, se ainda lhe resta uma familia, nòs podemos pelo menos dizer que ele não tem mais uma pàtria.
Acima deles se eleva um poder imenso e tutelar, que se encarrega sozinho de assegurar o prazer deles e de velar sobre seus destinos. Ele é absoluto, detalhado, regular, previdente e doce. Ele se pareceria com o poder paterno se, como ele, ele tivesse por objeto de preparar os homens para a idade viril; mais ele sò procura, ao contràrio, a fixa-los irrevocavelmente na infância; ele gosta que os cidadãos se regozijem, e que eles sò pensem nisso. Ele trabalha de boa vontade para a felicidade deles; mais ele quer ser o ùnico responsàvel e o ùnico àrbitro; ele se ocupa da segurança deles, facilita os prazeres, conduz as suas principais tarefas, regula as sucessões, divide as heranças; sò falta tirar deles a dificuldade de pensar e de viver ?
È dessa maneira que todos os dias ele torna inùtil e raro o emprego do livre arbìtrio, que ele encerra a ação da vontade em um espaço menor, e tira pouco a pouco de cada cidadão até mesmo o uso dele mesmo. A igualdade preparou os homens a todas essas coisas.
Apois ter se encarregado de colocar em suas mãos poderosas cada indivìduo, e tê-lo transformado, o soberano estende seus braços na sociedade inteira; ele cobre toda a sua superfìcie com uma rede de pequenas regras complicadas, minuciosas e uniformes, atravéis de quais os espìritos mais originais e as almas mais vigorosas não saberiam despertar para ultrapassar a multidão; ele não quebra as vontades, mais ele as torna moles, as dobra e as dirige; ele força raramente a agir, mais ele se opõe sem cessar à nossa ação; ele não destroi nada, ele impede o nascimento; ele não tiranisa, ele incomoda, comprime, enerva, apaga, torna estùpido, e ele reduz enfim cada nação a ser um rebanho de animais tìmidos e industriosos, de quem o governo é o pastor.
Eu sempre acreditei que essa sorte de servidão, regulada, doce e serena, de qual eu fiz o quadro agora, poderia se combinar melhor do que nòs possamos imaginar com algumas das formas exteriores da liberdade, e que não lhe seria impossìvel de se estabelecer na sombra da soberania do povo.
Nossos contemporâneos são incessantemente trabalhados por duas paixões inimigas: eles sentem a necessidade de ser conduzidos e a vontade de ficar livre. Não podendo destruir nem um nem outro desses instintos contràrios, eles se esforçam de satisfazer os dois ao mesmo tempo. Eles imaginam um poder ùnico, tutelar, todo poderoso, mais eleito pelos cidadãos. Eles combinam a centralização e a soberania do povo. Isso lhes dà um certo descanso. Eles se consolam de estar sob tutela, pensando que foi eles mesmos que escolheram o tutor. [....]
Esse uso tão importante, mais tão curto e tão raro, do livre arbìtrio, não poderà impedir que eles percam pouco a pouco a vontade de pensar, de sentir e de agir por eles mesmos, e que eles caiam gradualmente abaixo do nìvel de humanidade.

- Da Democracia na America, tome 2 ( 1840, quarta parte, cap.VI - Alexis de Tocqueville ( 1805 - 1859 ).


Democracia


Cinco anos apois a publicação do livro Da Democracia na America, Alexis de Tocqueville publica em 1840, com o mesmo tìtulo, um segundo volume que completa o primeiro procurando mostrar qual é a influência da democracia no movimento intelectual, nos sentimentos e nos costumes.
Vasto sujeito, principalmente porque Tocqueville não se contenta mais de estudar a America mais ele constroi um modelo teòrico da democracia que lhe permite de compreender todas as formas, na America e na Europa. A obra também é mais sombria. O liberalismo de Tocqueville é um liberalismo tràgico, que esclarece as "facilidades" que oferece o estado social democràtico no estabelecimento de um novo despotismo.

O "materialismo honesto"



O quadro visionàrio acima descreve em pàginas célebres os traços desse despotismo. A primeira vista, as sociedades democràticas parecem ser sociedades livres. Emancipados do jugo da Igreja e da aristocracia, os indivìduos se ocupam de suas tarefas comerciais ou particulares. Nas democracias, que são sociedades de classe média, cada um segue naturalmente o conselho de François Guizot, grande ministro da monarquia de julho: " Se enriqueçam pelo trabalho e pela poupança".
Tocqueville, aristocrata educado no culto da grandeza, sò tem desprezo por essa busca de "pequenos e vulgares prazeres" do bem estar. Absorvidos nesse "materialismo honesto", o homem democràtico se desinteressa da prosperidade coletiva.
Para descrever esse movimento de retiro, Tocqueville emprega uma palavra inventada nos anos 1820 e com um belo futuro, o individualismo: " um sentimento refletido e sereno que dispõe cada cidadão a se isolar da massa da sociedade com sua familia e seus amigos"
.Mais o pior não é essa degradação moral dos indivìduos indiferentes ao exercicio do livre arbìtrio na sociedade politica. Por uma estranha vira-volta, o indivìduo que se proclamava autônomo começa a alienar sua liberdade. Tocqueville descreve o poder tentacular do Estado, primeiro industrial da nação, primeiro banqueiro, ùnico responsàvel da felicidade pùblica. Essa visão dramàtica do despotismo doce do Estado providência devia pouco à observação de uma administração francesa no campo de ação ainda restrito.
Ela também não anuncia os totalitarismos modernos que não são nem "regulares" nem "tutelares". O gênio de Tocqueville não consiste a explicar as formas do despotismo democràtico, mais o imaginàrio do poder que as tornam todas possìveis, quer dizer o gosto da servidão voluntària.

Inquietude e vigilância


O autor do livro Da Democracia na America mostra dessa maneira que a liberdade de pensar e de agir por si mesmo està em perigo desde o momento em que ela não tem por garantia a responsabilidade cìvica. Mais essa visão negra da democracia é uma sorte de apelo a vontade, que encerra a obra: " As nações dos dias de hoje sò saberiam fazer no seio delas que as condições não sejam iguais; mais sò depende delas que a igualdade lhes conduzam à servidão ou a liberdade, ao esclarecimento ou a barbaridade, à prosperidade ou as misérias".

Uma referência de alta importância


Apois 1945, a experiência do totalitarismo deu ao liberalismo inquieto de Tocqueville uma pertinência renovada, de tal maneira que ele se tornou na Europa e nos Estados Unidos uma referência muito importante para os liberais. Na França, o filòsofo Raymond Aron encontrou na obra de Tocqueville os instrumentos para alimentar sua reflexão sobre o futuro da liberdade nas sociedades igualitàrias.

- F. M -

terça-feira, 18 de setembro de 2007

A cidade ideal

" O que torna o Estado justo torna o indivìduo justo "

A justiça

[ Sòcrates ] - O que torna o Estado justo torna igualmente o indivìduo justo. [...] Nòs também não esquecemos que o Estado é justo, quando cada uma das três ordens que o compõem cumpre o dever que lhe é pròprio, e que ele é nele mesmo moderado, corajoso e sàbio, por certas disposições e qualidades relativas a essas três ordens.

- A Repùblica, IV, 435B, Trad. V. Cousin, Ed. Rey e Gravier, 1834.

[Sòcrates] - Gerar a justiça, é estabelecer entre as partes da alma a subordinação que a justiça organiza na natureza: gerar a injustiça, é dar a uma parte sobre a outra um império que não é natural.

- Idem, IV, 44D.

Sòcrates] - Você esquece mais uma vez, meu caro amigo, que o legislador deve se propor, não a felicidade de uma ordem particular de cidadãos excluindo os outros, mais a felicidade de todos, estabelecendo entre eles a união pela persuasão e pela autoridade, levando-os a se comunicar entre eles as avantagens que cada um pode dar a sociedade; e que se ele se aplica a formar no Estado esses cidadãos, não é para deixa-los livres de fazer das faculdades deles o emprego que eles quiserem, mais para faze-los concorrer a fortificar a relação com o Estado.

- Idem, VII, 319 - 520A

Cidade e solidariedade


[...] - O Estado é então como um sò homem; eu me explico; quando nosso dedo recebe alguma ferida, a màquina inteira do corpo e da alma, de qual o unidade é a obra do princìpio supremo da alma, sente uma sensação, e toda inteira e ao mesmo tempo sofre do mal de uma de suas partes, assim nòs dizemos de um homem, que ele sente uma dor no dedo. Assim é da mesma maneira de toda outra parte do homem, que seja de uma dor ou de um prazer.

[Glaucon] - Sim, da mesma maneira; e, como você disse, eis a imagem de um Estado bem governado.

[Sòcrates] - Que aconteça a um cidadão um bem ou um mal, o Estado, da maneira que nòs o concebemos, participarà disso como se ele o sentisse ele mesmo; ele se regozijarà ou sofrerà inteiramente.

- Idem, V, 462 - E

A realização do Estado ideal


[Sòcrates] - Enquanto os filòsofos não serão reis, ou que aqueles que nòs chamamos hoje reis e soberanos, não serão verdadeiramente e seriamente filòsofos; Enquanto o poder politico e a filosofia não se encontrarão [...], não existirà remédio para os males que desolam os Estados, nem mesmo, na minha opinião, para os males do gênero humano, e jamais nosso Estado poderà nascer e ver a luz do dia.
Eis o que eu hesitava muito tempo a dizer, prevendo que eu revoltaria com essas palavras a opinião comum; com efeito é difìcil conceber que a felicidade pùblica e particular dependam dessas condições.

- Idem, V, 473t - E


A degenerescência dos regimes


[Sòcrates] - Você concluia mais ou menos como você fez ainda pouco, considerando bom o Estado que você tinha descrito e o homem que seria semelhante a esse modelo [....] mas, você dizia se essa forma de governo é boa, todas as outras são defeituosas e na minha lembrança você considerava quatro espécies que mereciam ser examinadas e comparadas nos seus defeitos com os indivìduos que o tipo corresponde a cada uma dessas espécies. [....] Primeiro vem o governo mais considerado de todos, o de Crète e o de Lacédémone; depois o segundo, que nòs colocamos também na segunda categoria, que é a oligarquia, governo repleto de males; em seguida a democracia, inteiramente oposta a oligarquia e que vem apois ela, enfim a boa tirania que não é semelhante a nenhum dos três outros governos e é a quarta e a maior doença de um Estado.

- Idem, VIII, 543D - 544c.

A cidade ideal


Chefe da escola filosòfica, Platão também sonhou ser legislador, como nos mostra o grande diàlogo do livro A Repùblica, e os textos mais tardivos do Politico e das Leis. Duas preucupações o guiam: a procura da virtude, sem a qual não existe salvação possìvel ( A Repùblica, XI ), e a procura da felicidade. Para ele, sò uma sociedade justa pode permitir a seus cidadãos de alcançar esses dois objetivos.
O que é então a justiça para Platão ? A Repùblica estabelece, bem antes da sociologia, uma correspondência entre o cidadão e a cidade. Na alma humana ( livro IV), a justiça é realizada pela harmonia de três elementos: a razão vê o Bem e controla os apetites naturais graças a coragem. Um homem injusto, ignorando o Bem, se deixa levar por suas paixões. A cidade ideal copia esse modelo. Se ela é justa, a harmonia reina entre essas três classes, os dirigentes, gardiães das leis, são sàbios realizados; os guerreiros os obedecem e dirigem a massa dos artesãos e dos trabalhadores. Uma cidade justa é aquela onde cada um cumpre sua tarefa sem ultrapassar seus direitos. A Lei torna os cidadãos solidàrios, e assim os torna felizes. Se o egoismo domina, a cidade é vìtima de dissenssões e corre em direção da ruìna.
Para Platão, a legitimidade vem de alto. Sò o filòsofo pode fundar uma cidade justa e governa-la. Iniciado ao Bem, ele pode se " conduzir com sabedoria na vida polìtica".Ele conhece com efeito as ciências descrevendo a ordem divina do universo e pode transpor essa ordem na cidade para fazer dela, como o "démiurge" do diàlogo do Timée, um todo harmonioso.O Estado ideal segundo Platão é dessa maneira uma sorte de monarquia, onde o poder é legitimado pela sabedoria. O contexto grego se identificava com esse tipo de reflexão e de experimentação politica: as cidades eram pequenas, e as numerosas colônias, que surgiam do nada, podiam ser consideradas como laboratòrios. Platão ele mesmo tentarà instaurar um governo ideal na Sicilia. Sem sucesso. Alguns de seus alunos contudo se tornaram governantes.



Gênese dos regimes


E os outros regimes politicos ? Para Platão, eles são apenas as deformações da " monarquia" filosòfica da idade de ouro. Na "timocracia", fundada no conceito de honra, os governantes, apaixonados pelas gloria, escravizam as classes inferiores. Mais eles são ultrapassados pelos ricos, virtuosos mais àvidos de ganhos materiais; nòs passamos então para a oligarquia do grego "oligos", alguns. As desigualdades criam tensões e os pobres, derrubam os ricos, e instauram a democracia - do grego demos, povo - , regime que, para Platão, é o regime da liberdade sem freio, onde todos sò querem se escravizar a seus desejos inconstantes.
Os tiranos demagogos recuperam finalmente esse desejo de igualdade e escravizam o povo, mais ou menos consciente da situação: é a tirania. O diàlogo tardivo Politico descreverà esse processo em termos cosmològicos: é o universo inteiro que se degrada e esquece a Lei, até que uma intervenção divina coloque novamente tudo em ordem.


Utopias politicas


È importante ressaltar que o indivìduo, nessa cidade platônica autoritària e hierarquisada, sò tem valor na sua relação com o todo. Como conciliar a exigência de solidariedade e de liberdade individual ? Esta serà a grande questão da filosofia politica. Os socialistas utopistas franceses do século XIX, como Etienne Cabet ( 1788-1856) ou Charles Fourier ( 1772-1837) se reclamarão de Platão. Alguns pensadores liberais, Karl Popper principalmente ( 1906-1994), vendo na liberdade individual a condição do bem coletivo, acusarão Platão ao contràrio de ser o pensador das "sociedades closes", hostis ao progresso e anti-individualistas. Mais as fronteiras são as vezes confusas: assim o filòsofo germano-americano Leo Strau ( 1895-1973), exegeta contestado de Platão, pode ter inspirado certos neoconservadores da equipe de Bush.....

- O.S -

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

CANSEI E LUTO CONTRA...

Os larápios que continuam a expropriação da sociedade em 1/3 do que ela produz;

Os canalhas que continuam pagando um salário mínimo de miséria para a grande maioria da população, inclusive os aposentados e pensionistas;

Os patifes que continuam relegando a 40 milhões de brasileiros a viverem abaixo da linha de pobreza absoluta (na miséria);

Os covardes e os comprometidos que continuam a deixar o crime organizado do narcotráfico controlar e manter sobre terror os maiores centros urbanos do país;

Os pulhas que deixam a saúde, educação, segurança, moradia, saneamento básico, infra-estrutura em geral... continuar sendo sucateada e esquecida;

Os pilantras corruptos que assaltam diariamente os cofres públicos e dos bastardos que os defendem, protegem, blindam e os deixam impunes;

Os títeres sanguessugas que dizem estar tudo bem...;

Os intelectualóides néscios e comprometidos que fazem chacotas e tentam desmoralizar e imputar de “golpismo das elites”, a indignação, o clamor e a luta daqueles – indivíduos, instituições e parte da mídia - que não se curvam a tirania e a corrupção.

“É preferível comermos um só pão ao dia, do que sermos corruptos ou servis”


Texto cedido gentilmente pelo Sr. Arthur da Távola - arthurdatvola@yahoo.com

Movimento 7 de setembro

Esta é a hora ! Participe !http://fr.youtube.com/watch?v=6QLcG0seyFM





BRASIL :
2 compromissos dia 7 de setembro
BRASIL ;
2 COMPROMISSOS DIA 7 DE SETEMBRO.
A T E N Ç Ã O
Temos 2 compromisso dia 7 de setembro!
01 - Vamos fazer nosso protesto pacifico e silencioso nos desfiles, pela manhã, vestidos de preto.
02 - As 17:00, convoco todos os brasileiros de bem para aderir a esse movimento de brasilidade.
Por favor, vejam o vídeo:http://www.thehamers.name/7setembro17h.pps
DIVULGUEM
DIVULGUEM
DIVULGUEM
DIVULGUEM
Multipliquem esse tópico nas diferentes comunidades da forma como está, penso que assim está bem CLARO E OBJETIVO.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Por acaso

Por acaso o dia dormiu

E a noite acordou

Por acaso

Ninguém notou

O sol ficou constrangido de ver a lua desfilando na rua

Que por acaso

Se emocionou

Como jà estamos acostumados

Ninguém percebeu

Que a noite amanheceu

E o dia adormeceu

Por acaso ?

Isso é conto de vigàrio que foi expulso da igreja, levando santo no bolso e demônio na cabeça

Mais jà é outro caso

Nesse caso eu não me meto, pois se vocês notaram o assunto é meio enrolado

Vem de frente, vem de lado

Apenas um pensamento meio atordoado que saiu da minha alma

Por acaso

Isso jà està virando caso de mago ou orixà

Qualquer um vem de là

Sabe?

Do além que por acaso

Virou casa de ninguém

E eu que não sei mais se sou gente

Deixo esse caso por aqui

Talvez alguém note ou perceba

Por acaso

Que a noite e o dia

Estão de caso !