"Nosso liberalismo se inspira de uma inexorável paixão libertária"
A civilização liberal
A concepção liberal da história revela-se ser o horizonte da civilização moderna.[....] O fundamento psicológico do liberalismo não é apenas um movimento de liberação e uma defesa das iniciativas individuais, é igualmente um índice de maturidade histórica, um sinal de aristocracia do saber e uma diplomacia refinada nas relações sociais.
- La Rivoluzione Liberale. Saggio Sulla Lotta Politica In Italia (1924) - Piero Gobetti - Turin, Einandi, 1995
A revolução liberal
O Estado democrático não conseguiu tornar-se um Estado favorecendo a autonomia, os poderes locais permanecem sempre dependentes do poder central; a hiperpotência desse poder central reduz as classes medias a funções parasitas, ela as torna escravas de uma burocracia.
- Revue La Rivoluzione Liberale (1925) - Piero Gobetti
Nosso liberalismo, que nós chamamos revolucionário [....], se inspira de uma inexorável paixão libertária; ele vê na realidade uma relação de forças capaz de produzir continuamente novas aristocracias dirigentes na medida em que novas classes populares possam revivificar a luta com a vontade desesperada delas de elevação social; ele compreende o equilíbrio das organizações políticas em termos de autonomia econômica e ele aceita a Constituição como garantia de renovação.
- Revue La Rivoluzione Liberale (1923)
Elites e luta de classes
O processo de gênese das elites é profundamente democrático: [.....] as diferentes classes exprimem nas aristocracias que as representam a força e a originalidade delas.[....] O regime parlamentar, longe de derrogar a essa lei histórica de sucessão dos grupos de poder e das minorias dominantes, é apenas o instrumento mais refinado para a utilização de todas as energias presentes e a escolha rápida de melhores adaptados.
- La Rivoluzione Liberale ( 1924 ), Piero Gobetti, Turin, Einandi, 1995
A luta de classes [....] representa na política o que incumbe em economia ao fenômeno de troca e do comercio. Ela é o instrumento infalível para a formação de novas elites, o verdadeiro motor [.....] da renovação popular. [....] Na nossa vida moderna, a economia se funda no liberalismo, a política promove experiências de autonomia através a pratica liberal, a filosofia visa a ser crítica e immanentiste, a moral se funda no realismo e no valor fundamental que é a atividade, a lógica é dialética. [.....] A luta de classes evita, na sua ação presente, a civilização capitalista, que está acima das classes e necessita a atividade de todos os grupos sociais que participam dela e a criam juntos, se bem que eles lutem entre eles de maneira inexorável na vontade deles de dominação recíproca. A crise econômica que forneceu os elementos da crítica socialista não foi o sinal de um desgaste definitivo, e "les palingénésies" socialistas [renascimentos concebidos como fontes de aperfeiçoamento] eles mesmas só tiveram o valor de mitos de ação e não de indicadores de um crepúsculo: o capitalismo moderno opõe a seus adversários, exigências econômicas e práticas que não podem ser ultrapassadas e os obriga a contribuir ao sucesso dele.
- Idem -
Liberalismo e historicidade
A igualdade social é o ideal [....] de todos os sonhos rebeldes, ela sempre foi a aspiração mais tragicamente afetiva do homem, mas ela desgasta sua força no aparecimento do impulso revolucionário. Na luta messiânica de dois princípios ideais, vivenciados um como sonho [o mito marxista] e o outro como realidade econômica e política [o liberalismo], a história não apresenta uma solução de continuidade e se serve dos mitos das convicções e das ilusões para renovar sua eternidade.
- Idem - (Tradução Originales Jean Petitot)
O liberalismo, último objetivo da civilização
O liberalismo italiano do século XX esteve profundamente marcado pela figura legendária de um jovem teórico, Piero Gobetti (1901 - 1926), morto em Paris com a idade de 25 anos, assassinado pelas milícias fascistas por ordem pessoal de Mussolini. Ele tornou-se na Península uma referência tão fundamental quanto seu predecessor e opositor Antonio Gramsci, no começo do partido comunista italiano. Confrontado ao aumento do fascismo, ele foi na época o mais ardente defensor da idéia segundo a qual o capitalismo liberal constituía a verdadeira alternativa aos regimes totalitários emergentes
Realização da história
Sua originalidade na história do liberalismo é dupla. Homem do Iluminismo, inspirado por Adam Smith e Max Weber, ele considera o liberalismo econômico (que nós chamamos também na Itália, após o filósofo Benedetto Croce, o "libérisme") como a chave das liberdades políticas e da prosperidade, e mesmo, como mostra nossa primeira citação, "o horizonte" da civilização moderna. Ele lhe atribui uma dimensão métapolitique válida para todas as sociedades fundadas nos valores das ciências e das técnicas, do trabalho, do mérito, da iniciativa individual, da responsabilidade pessoal e do heroísmo moral. Mas, como mostra nosso segundo grupo de citações, Gobetti relaciona também o liberalismo econômico à paixão dos povos pela liberdade política, pois só o liberalismo pode livra-los da tutela e da servidão impostas pelo Estado. Para pensar essa unidade do liberalismo e do "libérisme", Gobetti integra a esse último uma teoria das "elites" no sentido que dá Vilfredo Pareto e Gaetano Mosca, teoria segundo a qual as classes dirigentes produtivas de progresso e de prosperidade se atrofiam progressivamente e degeneram em classes simplesmente dominantes. Por essa razão é preciso uma transformação, devida a concorrência entre grupos sociais.
Astúcias da razão liberal
Como mostra nosso terceiro grupo de citações, ele vem a pensar a luta de classes ela mesma como um processo de renovação que, por uma sorte de "astúcia da razão", estaria ao serviço da civilização capitalista. O capitalismo moderno é, com efeito, para ele "impossível de ultrapassar" e se situa "acima das classes". Por isso sua oposição determinada ao comunismo. Com uma rara lucidez, ele denuncia o profetismo messiânico que mistifica as classes sociais e só pode conduzir a democracias populares totalitárias. As utopias socialistas só podem segundo ele acabar em burocracias estaduais que destroem o espírito de empreendimento. Mas, como ele afirma no nosso quarto grupo de citações, elas são entretanto necessárias como mitos de ação. Através as "astúcias da razão " já evocadas, a história "se serve delas" para se realizar
Profeta no seu país
A obra de Gobetti continuou após sua morte a ter um impacto considerável. Fundado em Paris em 1929 pelos exilados políticos (incluindo os irmãos Rosseli, assassinados pelos fascistas em 1927), o social-liberalismo italiano oriundo do movimento Ginstizia e Libertà se inspirou diretamente dessa obra. Para Norberto Bobbio, seu representante mais importante após guerra, o liberalismo e a democracia formal dos estados de direito são os dois aspectos de uma mesma realidade. A re-edição do livro La Rivoluzione liberale (1924) em 1995 provocou o retorno a Gobetti, que aparece hoje como "o liberal do futuro", e inspira cada vez mais as elites culturais e os responsáveis políticos italianos.
- Jean Petitot, coauteur (dir) de l'Histoire du Libéralisme en Europe ( PUF, 2006)
A civilização liberal
A concepção liberal da história revela-se ser o horizonte da civilização moderna.[....] O fundamento psicológico do liberalismo não é apenas um movimento de liberação e uma defesa das iniciativas individuais, é igualmente um índice de maturidade histórica, um sinal de aristocracia do saber e uma diplomacia refinada nas relações sociais.
- La Rivoluzione Liberale. Saggio Sulla Lotta Politica In Italia (1924) - Piero Gobetti - Turin, Einandi, 1995
A revolução liberal
O Estado democrático não conseguiu tornar-se um Estado favorecendo a autonomia, os poderes locais permanecem sempre dependentes do poder central; a hiperpotência desse poder central reduz as classes medias a funções parasitas, ela as torna escravas de uma burocracia.
- Revue La Rivoluzione Liberale (1925) - Piero Gobetti
Nosso liberalismo, que nós chamamos revolucionário [....], se inspira de uma inexorável paixão libertária; ele vê na realidade uma relação de forças capaz de produzir continuamente novas aristocracias dirigentes na medida em que novas classes populares possam revivificar a luta com a vontade desesperada delas de elevação social; ele compreende o equilíbrio das organizações políticas em termos de autonomia econômica e ele aceita a Constituição como garantia de renovação.
- Revue La Rivoluzione Liberale (1923)
Elites e luta de classes
O processo de gênese das elites é profundamente democrático: [.....] as diferentes classes exprimem nas aristocracias que as representam a força e a originalidade delas.[....] O regime parlamentar, longe de derrogar a essa lei histórica de sucessão dos grupos de poder e das minorias dominantes, é apenas o instrumento mais refinado para a utilização de todas as energias presentes e a escolha rápida de melhores adaptados.
- La Rivoluzione Liberale ( 1924 ), Piero Gobetti, Turin, Einandi, 1995
A luta de classes [....] representa na política o que incumbe em economia ao fenômeno de troca e do comercio. Ela é o instrumento infalível para a formação de novas elites, o verdadeiro motor [.....] da renovação popular. [....] Na nossa vida moderna, a economia se funda no liberalismo, a política promove experiências de autonomia através a pratica liberal, a filosofia visa a ser crítica e immanentiste, a moral se funda no realismo e no valor fundamental que é a atividade, a lógica é dialética. [.....] A luta de classes evita, na sua ação presente, a civilização capitalista, que está acima das classes e necessita a atividade de todos os grupos sociais que participam dela e a criam juntos, se bem que eles lutem entre eles de maneira inexorável na vontade deles de dominação recíproca. A crise econômica que forneceu os elementos da crítica socialista não foi o sinal de um desgaste definitivo, e "les palingénésies" socialistas [renascimentos concebidos como fontes de aperfeiçoamento] eles mesmas só tiveram o valor de mitos de ação e não de indicadores de um crepúsculo: o capitalismo moderno opõe a seus adversários, exigências econômicas e práticas que não podem ser ultrapassadas e os obriga a contribuir ao sucesso dele.
- Idem -
Liberalismo e historicidade
A igualdade social é o ideal [....] de todos os sonhos rebeldes, ela sempre foi a aspiração mais tragicamente afetiva do homem, mas ela desgasta sua força no aparecimento do impulso revolucionário. Na luta messiânica de dois princípios ideais, vivenciados um como sonho [o mito marxista] e o outro como realidade econômica e política [o liberalismo], a história não apresenta uma solução de continuidade e se serve dos mitos das convicções e das ilusões para renovar sua eternidade.
- Idem - (Tradução Originales Jean Petitot)
O liberalismo, último objetivo da civilização
O liberalismo italiano do século XX esteve profundamente marcado pela figura legendária de um jovem teórico, Piero Gobetti (1901 - 1926), morto em Paris com a idade de 25 anos, assassinado pelas milícias fascistas por ordem pessoal de Mussolini. Ele tornou-se na Península uma referência tão fundamental quanto seu predecessor e opositor Antonio Gramsci, no começo do partido comunista italiano. Confrontado ao aumento do fascismo, ele foi na época o mais ardente defensor da idéia segundo a qual o capitalismo liberal constituía a verdadeira alternativa aos regimes totalitários emergentes
Realização da história
Sua originalidade na história do liberalismo é dupla. Homem do Iluminismo, inspirado por Adam Smith e Max Weber, ele considera o liberalismo econômico (que nós chamamos também na Itália, após o filósofo Benedetto Croce, o "libérisme") como a chave das liberdades políticas e da prosperidade, e mesmo, como mostra nossa primeira citação, "o horizonte" da civilização moderna. Ele lhe atribui uma dimensão métapolitique válida para todas as sociedades fundadas nos valores das ciências e das técnicas, do trabalho, do mérito, da iniciativa individual, da responsabilidade pessoal e do heroísmo moral. Mas, como mostra nosso segundo grupo de citações, Gobetti relaciona também o liberalismo econômico à paixão dos povos pela liberdade política, pois só o liberalismo pode livra-los da tutela e da servidão impostas pelo Estado. Para pensar essa unidade do liberalismo e do "libérisme", Gobetti integra a esse último uma teoria das "elites" no sentido que dá Vilfredo Pareto e Gaetano Mosca, teoria segundo a qual as classes dirigentes produtivas de progresso e de prosperidade se atrofiam progressivamente e degeneram em classes simplesmente dominantes. Por essa razão é preciso uma transformação, devida a concorrência entre grupos sociais.
Astúcias da razão liberal
Como mostra nosso terceiro grupo de citações, ele vem a pensar a luta de classes ela mesma como um processo de renovação que, por uma sorte de "astúcia da razão", estaria ao serviço da civilização capitalista. O capitalismo moderno é, com efeito, para ele "impossível de ultrapassar" e se situa "acima das classes". Por isso sua oposição determinada ao comunismo. Com uma rara lucidez, ele denuncia o profetismo messiânico que mistifica as classes sociais e só pode conduzir a democracias populares totalitárias. As utopias socialistas só podem segundo ele acabar em burocracias estaduais que destroem o espírito de empreendimento. Mas, como ele afirma no nosso quarto grupo de citações, elas são entretanto necessárias como mitos de ação. Através as "astúcias da razão " já evocadas, a história "se serve delas" para se realizar
Profeta no seu país
A obra de Gobetti continuou após sua morte a ter um impacto considerável. Fundado em Paris em 1929 pelos exilados políticos (incluindo os irmãos Rosseli, assassinados pelos fascistas em 1927), o social-liberalismo italiano oriundo do movimento Ginstizia e Libertà se inspirou diretamente dessa obra. Para Norberto Bobbio, seu representante mais importante após guerra, o liberalismo e a democracia formal dos estados de direito são os dois aspectos de uma mesma realidade. A re-edição do livro La Rivoluzione liberale (1924) em 1995 provocou o retorno a Gobetti, que aparece hoje como "o liberal do futuro", e inspira cada vez mais as elites culturais e os responsáveis políticos italianos.
- Jean Petitot, coauteur (dir) de l'Histoire du Libéralisme en Europe ( PUF, 2006)
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