quarta-feira, 7 de novembro de 2007

A catallaxie, jogo criador de riqueza

"Os preços provocam a consideração dos desejos despercebidos"

A melhor maneira de compreender como o funcionamento do mercado conduz, não somente a criação de uma ordem, mas também á um grande crescimento do fruto que os homens tiram de seus esforços, é de pensá-lo [....] como um jogo, que nós podemos agora chamar o jogo de catallaxie. É um jogo criador de riqueza (e não o que a teoria dos jogos chama um jogo de soma nula), quer dizer que ele conduz á um crescimento do fluxo de bens e de chances para todos os participantes de satisfazer suas necessidades, mas ele conserva o caráter lúdico que o Oxford English Dictionary define dessa maneira: "uma confrontação praticada segundo regras e decidida por uma superioridade de habilidade, de força ou de chance". O fato que o resultado desse jogo será, por seus próprios caráter, determinado por uma mistura de habilidade e de chance, constitui um dos principais pontos que nós iremos tentar esclarecer.
O que confere principalmente a esse jogo seu caráter de produtividade, é que os ganhos que esses esforços valem a cada jogador, agem como uma certa quantidade de sinais, que lhe permitem de contribuir á satisfação das necessidades de qual ele não tem conhecimento, e de contribuir tirando partido das situações que ele só conhece, elas também, indiretamente: a saber, pelo reflexo deles nos preços dos fatores de produção a empregar. É dessa maneira um jogo criador de riqueza, porque ele dá a cada jogador a informação a fornecer as necessidades de quais ele não tem um conhecimento direto, e de fazê-lo graças aos meios de quais a existência ficar-lhe-ia desconhecida se esse jogo não intervisse nela; através isso torna-se possível a satisfação de uma gama de necessidades mais extensa.
O fabricante não produz sapatos porque ele sabe que os Dupont precisam deles. Ele fabrica porque ele sabe que algumas dezenas de comerciantes comprarão certas quantidades a preços variados porque eles mesmos (ou os détaillants que os servem) sabem que milhões de Dupont desconhecidos do fabricante desejam comprá-los. Da mesma maneira, um industrial vai liberar recursos graças aos quais outros industriais poderão aumentar a produção deles, substituindo, por exemplo, o magnésio pelo alumínio; se ele age dessa maneira, não é porque ele conheceria todas as mudanças "de l'offre et de la demande" que, no total, tornaram o alumínio menos raro e o magnésio mais raro, é porque ele sabe o único e simples fato que o preço que lhe é proposto do alumínio baixou relativamente o preço do magnésio.
Na realidade, o exemplo mais importante da maneira pela qual o sistema dos preços provoca a consideração de desejos que sem ele ficariam despercebidos, é provavelmente a contabilização dos custos; este é seu aspecto mais importante para a comunidade em geral, o mais vantajoso sem duvida para o maior número de pessoas, o que também na empresa privada manifesta sua excelência enquanto que a empresa estadual é evidentemente incapaz. Assim, na ordem do mercado, cada um é conduzido pelo ganho que lhe é visível, a servir as necessidades que lhe são invisíveis, e para isso, conduzido a tirar partido de circunstâncias particulares de quais ele não sabe nada, mas que o colocam na posição de satisfazer essas necessidades com o custo mínimo possível, em termos de outras coisas que lhe é possível produzir no lugar. E lá onde muitas poucas pessoas apenas já têm conhecimento de um fato novo importante, os especuladores tão criticados se encarregarão de difundir rapidamente a informação, graças a uma mudança apropriada dos preços. Isso tem evidentemente como importante conseqüência que todas as mudanças são constantemente levadas em conta quando eles "alcançam" o conhecimento de alguém na área da atividade interessada, o que não quer dizer que a adaptação aos fatos novos possa jamais ser perfeita.

- Droit, Législação et Liberté, tome 2, Le Mirage de la justice sociale (1978), Friedrich von Hayek, Trad. R. Audoin, PUF, 1995.


Jogo criador de riqueza

Julgar da influência de um autor no pensamento de seu tempo é sempre um exercício complicado. No caso de Friedrich von Hayek, o premio Nobel que lhe foi atribuído em 1974 por sua teoria da conjuntura (business cycles) leva a acreditar que é no terreno das ciências econômicas que é preciso procurar os sinais de sua herança intelectual. Mas se a incursão de Hayek nesse domínio deu inegavelmente nascimento a trabalhos influentes (principalmente no que é relativo às théories des cycles du commerce, des facteurs monétaires ou do capital), é no domínio da filosofia das ciências e da epistemologia das ciências sociais e políticas que sua influência parece mais importante.
Para as ciências sociais que durante muito tempo dividiram em diferentes domínios o estudo dos fenômenos sociais e dirigiram o estudo delas para o estudo das relações elementares entre efeitos e causas, Hayek lança um apelo a interdisciplinaridade e a consideração da existência de fenômenos complexos, que por natureza escapam a análise clássica. As causas são, diz ele, muito, múltiplas, os fenômenos muito diversos para autorizar uma análise dedutiva simples do processo de formação da ordem social.
A sociedade, da maneira que Hayek a descreve, possui três características fundamentais: ela é polycentrique, complexa e caracterizada por um grau surpreendente de coerência e de ordem.
Ordem que, na linguagem de Hayek, é um sistema que "serve nossas vistas guiando nossas ações e provocando uma certa correspondência entre as situações sobre as quais contam as diversas pessoas."


A ignorância fundamental


Uma tal visão encontra seu fundamento teórico na limitação natural do conhecimento individual, essa "irremediável ignorância" dos fatos que determinam os processos sociais. A hipótese da ignorância "fundamental" justifica a não-intervenção dos indivíduos com relação a uma ordem de qual o funcionamento ultrapassa o entendimento deles. A complexidade que Hayek diz "inerente" ao processo social deriva dessa mesma hipótese. A visão de Hayek da ordem social é deduzida do exemplo particular da ordem de mercado, que ele chama "catallaxie".
A ordem catallactique é uma ordem espontânea, o que a torna complexa, e composta de indivíduos de quais o conhecimento dos fatos é incompleto. Quer dizer que, globalmente, o conhecimento se apresenta sob uma forma parcial e dispersada. Em uma tal ordem, os preços, designando as necessidades de cada um, agem como uma interface e fornecem aos indivíduos a informação necessária para tomar uma decisão, permitindo de subvenir às necessidades de quais eles têm um conhecimento de maneira indireta, através do sistema de preços, e "que sua existência lhe seria desconhecida se esse jogo não intervisse".


Circulação das informações

No fim tudo consiste em um jogo criador de uma quantidade de riqueza que nenhuma planificação racional saberia igualar. Pois a livre concorrência é o "processo de descoberta" pelo qual a informação circula o mais rapidamente e o mais livremente possível, o que em retorno estimula as relações inter-individuais, quer dizer a quantidade e a diversidade das trocas: a liberdade de concorrência é essencial em um sistema que repousa sobre a livre propagação dos conhecimentos detidos sob forma parcial pelos indivíduos.
De uma maneira geral, em um mundo onde a rapidez, a variedade e a extensão dos fluxos de informação têm uma importância fenomenal, é preciso notar, e "c'est tout á l'honneur" de Hayek, a "banalidade" recentemente adquirida das principais instituições - a importância da interconexão individual, a dispersão dos conhecimentos, o sistema de preços como interface desses conhecimentos, ou ainda a complexidade da ordem social - que ele já defendia nos anos 1930.

E.K. –

Nenhum comentário: