" O sàbio não teme a morte, a vida não é um fardo para ele "
.È besteira de se afligir pela razão que nòs esperamos a morte, pois é alguma coisa que, quando ela vem, não faz mal. Assim então, o mais estarrecedor de todos os males, a morte, não é nada para nòs, pois enquanto nòs vivemos, a morte não existe. E quando a morte se apresenta, então, nòs não somos mais. A morte então não existe nem para os vivos, nem para os mortos, pois para uns ela não é, e que os outros não são mais. Mas a multidão, ora teme a morte como o pior dos males, ora a deseja como término dos males da vida. O sàbio não teme a morte, a vida não é um fardo para ele, e ele não acredita que seja um mal de não mais existir. Da mesma maneira que não é a abundância das iguarias, mas sua qualidade que nos agrada, da mesma maneira, não é o comprimento da vida, mas seu charme que nos agrada. [....]
È preciso [.....] compreender que entre os desejos, alguns são naturais e outros são inuteis, e que entre os desejos naturais, alguns são necessàrios e os outros apenas naturais. Enfim, entre os desejos necessàrios, alguns são necessàrios à felicidade, os outros à tranquilidade do corpo, e os outros à vida ela mesma. Uma teoria verìdica dos desejos sabe relacionar os desejos e a aversão à saùde do corpo e a ataraxie da alma, pois este é o fim de uma vida bem-aventurada, e que todas nossas ações têm por objetivo de evitar ao mesmo tempo o sofrimento e o transtorno.
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O princìpio de tudo isso e ao mesmo tempo o maior bem, é então a prudência. È preciso considera-la superior à filosofia ela mesma, pois ela é a fonte de todas as virtudes, que nos ensinam que nòs não podemos alcançar a vida feliz sem a prudência, a honestidade e a justiça, e que prudência, honestidade, justiça não podem se obter sem o prazer. As virtudes, com efeito, nascem de uma vida feliz, que é ela mesma inseparàvel das virtudes.
- Èpicure, Lettre à Ménécée, In Diogène Laërce, Vies, Doctrines et Sentences des Philosophes Illustres, Trad. R.Genaille, Garnier, 1933.
O limite da grandeza dos prazeres é a eliminação de tudo o que provoca a dor.
Là com efeito onde se encontra o prazer, e durante todo o tempo em que ele se encontra , existe ausência de dor ou de màgoa, ou dos dois ao mesmo tempo.
- Maximes Fondamentales, III, In Doctrines et Maximes d'Èpicure, Trad. M.Solovine, Hermann, 1940.
" Por minha parte, eu não vejo o que eu poderia compreender por soberano bem, abstração feita dos prazeres que causam o gosto, as coisas do amor e a audição dos cantos, abstração feita também das sensações agradàveis que as manifestações da beleza causam aos nossos olhos e, de uma maneira geral, de todos os prazeres que no conjunto do corpo humano são produzidos por qualquer sentido. Nòs também não saberìamos nos dizer que o bem consiste apenas no bem da alma, pois là onde eu reconheci essa alegria, é exclusivamente na esperança que nosso ser entrarà em possessão de todas as coisas que eu disse sem mistura de dor."
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" Sempre [.....] eu perguntei àqueles que nòs chamavamos de sàbios o que poderia lhes permanecer em matéria de bens, abstração feita dos bens que eu disse e ao menos que eles sò se contentem de fòrmulas vazias: eu nada pude tirar deles. Eles poderão muito bem fazer soar as grandes palavras de virtude e de ciência, eles não indicarão outro meio do que aquele atravéis de qual são realizados os prazeres dos quais eu falei acima."
- Èpicure, Sentences, Citées dans Cicéron, Tusculanes, III, XVIII, 40, Trad. J.Humbert, Les-Belles-Lettres, 1931.
Epicuro, chamado o "filòsofo do jardim"
O epicurismo, a doutrina de Epicuro, não é fàcil compreender. De uma temìvel complexidade, ela provocou inevitàveis confusões, uma delas consistindo a reduzi-la a uma atitude moral, quando na realidade, a moral sò ocupa uma parte dessa filosofia. Um outro erro vem de sua interpretação popular que confunde epicurismo e hedonismo ou culto do prazer. Epicuro vê certamente no prazer a ùnica fonte da felicidade. Mas seu hedonismo se apresenta como uma verdadeira ascese, onde a busca do prazer é tudo menos desenfreada. È preciso, segundo ele, saber se contentar dos prazeres mais simples, e dessa maneira evitar a decepção e o sofrimento.
Isolado no jardim que ele adquiriu em Athènes, ele mesmo demonstrava uma grande frugalidade nos seus prazeres. Contrariamente às alegações de seus adversàrios que o caluniavam, pretendendo que o "filòsofo do jardim" se abandonava à devassidão com seus discìpulos, ele lia, ensinava e escrevia sem descanso, se contentando de pão, de um copo de vinho e de àgua.
Desejos bem moderados
Nòs perdemos a maior parte dos textos que comportava sua obra, 300 volumes ! Mas sua Lettre à Ménécée é suficiente para nos convencer do rigor de sua moral. Epicuro, como os estòicos e os céticos, busca antes de tudo a tranquilidade da alma (ataraxie). Para permitir de alcança-la, ele propõe dois princìpios cardinais: não se ocupar dos deuses, não temer a morte. Séculos mais tarde, Schopenhauer identificarà a ataraxie ao nirvana dos Orientais, definido como a extinção de todo desejo. A posição de Epicuro é ligeiramente diferente. Segundo ele, o corpo e a alma são sempre animados pelos desejos. Ao contràrio, ele considera como o estado ideal a "apatia" no senso etimològico do termo, quer dizer a ausência de paixão. A regra poderia se resumir dessa maneira : nòs vivemos nossos desejos, mas não é aconselhàvel de se abandonar a eles apaixonadamente, sem prudência. Eis a chave da vida feliz ( eudémonia).
Mas o filòsofo do jardim estava convencido que nòs não alcançamos a felicidade unicamente atravéis as forças do espìrito. È preciso também satisfazer os prazeres do corpo, mas sem excesso. Essa mensagem, os Gregos e seus herdeiros romanos ( entre eles Cicéron) a deformaram até a sàtira, confundindo os ensinamentos de Epicuro com o hedonismo como pôde preconizar Aristippe de Cyrène ( 435-356 av.J.-C.), um aluno de Sòcrates que recomendava de se abandonar cegamente aos prazeres imediatos do corpo. Epicuro, ele, insiste na prudência, que ele coloca acima da filosofia, e que pode nos fazer preferir o sofrimento se ele nos dà um maior prazer.
Ètica e ordem natural.
Essa filosofia ao mesmo tempo sensual e rigorista se inscreve em uma visão global da natureza. Epicuro quer mostrar que sua moral se conforma à realidade fìsica. Filòsofo atomista da mesma maneira que Démocrite, ele estima todavia, de uma outra maneira que Démocrite, que os àtomos podem livremente se desviar de seu percurso. Essa desviação ( em grego, clinamen) permite a eles de compor todas as coisas, inclusive a alma. Certo, a relação entre a moral e a fìsica permanece muito obscura, mas ela é seriamente estudada por Epicuro. Pois se os àtomos não fossem livres, a alma não poderia sê-lo. Ela não poderia escolher seus prazeres. A ambição de estabelecer uma coerência entre a fìsica e a ética marca uma das grandes originalidades da filosofia epicuriana, que vai influenciar mais tarde Spinoza e Hegel.
- S.-J.A.
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