" A virtude é suficiente para a felicidade "
A virtude segundo Antisthène
A virtude pode ser ensinada. Aqueles são nobres que são virtuosos. A virtude é suficiente para dar a felicidade, sem que ela necessite de outra coisa que a força de um Sòcrates. Ela consiste na ação e não nas palavras nem nas doutrinas. O sàbio é suficiente a ele mesmo, pois ele tem nele tudo o que pertence aos outros. A obscuridade do nome é um bem igual ao sofrimento. O sàbio não vive segundo as leis de sua pàtria, mas segundo a virtude. Ele terà um mulher para ter filhos, e ele amarà, pois apenas o sàbio sabe quais são as mulheres que é preciso amar.
Dioclès lhe atribui ainda as seguintes sentenças : Ao sàbio, nada é estrangeiro, nada causa embaraço. O homem de bem é digno de ser amado. È preciso ter amigos virtuosos. È preciso ter como aliados aqueles que têm a alma nobre e justa. A virtude é uma arma que é preciso guardar sempre consigo. È melhor atacar todos os bandidos do mundo com um punhado de pessoas de bem do que um punhado de pessoas de bem com uma assembléia de bandidos. È preciso vigiar seus inimigos, pois eles veem em primeiro nossos defeitos. È preciso estimar um homem de bem mais que um parente. Para o homem e para a mulher, a virtude é a mesma. O que é bem é bonito, o que é mal é feio.
Tudo o que é injusto, é preciso considerar como devendo nos ser estrangeiro. A prudência é a proteção mais segura, pois ela jamais cai, e jamais ela é levada por traição. È preciso construir em nossas almas proteções inatingìveis.
- Diogène Laërce, Doctrines et Sentences des Philosophes Illustres, Trad. R. Genaille, Germain, 1933.
Fatos e ações do sàbio Diogène
Tendo um dia visto um rato que corria sem se preucupar de encontrar uma casa, sem temor da obscuridade, e sem nenhum desejo de tudo o que torna a vida agradàvel, [Diogène] o tomou por modelo e encontrou o remédio para sua indigência. Primeiro ele fez forrar seu casaco, para sua comodidade, e para dormir de noite envolvido nele, depois ele pegou um alforje, para botar provisões, e decidiu comer, dormir e falar em qualquer lugar [.....]
Ele escreveu a um amigo lhe pedindo para que ele indique uma pequena casa; como o amigo demorava para responder, ele pegou como morada um tonel vazio que ele encontrou no Métroon. Ele conta isso ele mesmo em suas cartas. [.....]
Ele era estranhamente arrogante, chamava a escola de Euclide escola de bìlis, e o ensinamento de Platão perda de tempo. Ele chamava os concursos em honra de Dionysos os grandes milagres loucos, e os oradores empregados do povo. [....]
Ele se surpreendia de ver os gramàticos estudarem tanto os costumes de Ulysse, e neglicenciar os deles, de ver os mùsicos acordar tão bem a lyre, e esquecer de acordar a alma deles, de ver os matemàticos estudar o sol e a lua, e esquecer o que eles têm sob os pés, de ver os oradores plenos de zelo para falar bem, mas nunca apressados de fazer bem, de ver os avaros censurar o dinheiro, e portanto ama-lo como loucos. Ele criticava aqueles que elogiam as pessoas virtuosas porque elas desprezam as riquezas, e ao mesmo tempo invejavam os ricos. [.....]
Um dia , um homem o fez entrar em uma casa ricamente mobiliada, e ele lhe disse: "Sobretudo, não cuspa no chão." Diogène, que tinha vontade de cuspir, lançou seu cuspe no rosto do homem, lhe gritando que era o ùnico lugar sujo que ele encontrou e onde ele podia cuspir. [.....]
Vendo um dia um pequeno menino que bebia na sua mão, ele pegou a escudela que ele tinha no seu alforje, e a jogou fora dizendo: " Eu estou vencido, essa criança vive mais simplesmente do que eu." [.....]
Um dia em que ele saia do banho, alguém lhe perguntou se ele tinha visto là muitos homens; ele respondeu não, mas a um outro que lhe perguntou se là tinha multidão, ele respondeu sim.Platão tendo definido o homem como um animal com dois pés sem penas, e seu auditòrio tendo lhe aprovado, Diogène levou na sua escola um galo depenado, e disse: " Eis o homem segundo Platão." Por isso Platão acrescentou na sua definição : " e que tem unhas planas e largas ".
- Diogène Laërce, Vies, Doctrines et Sentences des Philosophes Illustres, Trad. R. Genaide, Garnier, 1933.
Os Cìnicos- Antisthène e Diogène
O termo "cinismo" vem do grego Kuôn que significa cachorro. Se uma tal denominação passou a designar uma corrente de pensamento, é de um lado porque o fundador da escola dos cìnicos, Antisthène ensinava em um ginàsio chamado o "Cynosarge" ( cachorro àgil) e, por outro lado, por causa da atitude dos filòsofos cìnicos, particularmente Diogène de Sinope que afirmava querer ser enterrado como um cachorro.
Antisthène, um Athènien de origem thrace, foi primeiro o aluno do sofista Gorgias, em seguida de Sòcrates, de quem o ensinamento o conduziu a desenvolver uma filosofia essencialmente moral segundo a qual apenas a virtude é suficiente para a felicidade do sàbio. Para ele, nem o estudo, nem o saber, nem os discursos valem a ausência de vaidade (atuphia), que o filòsofo deve alcançar para possuir a liberdade que conduz à sabedoria. As poucas màximas de Antisthène que Diogène Laërce repete ( pequeno fragmento de uma obra que, nòs pensamos, ter contido dez volumes) testemunham dessa orientação ética e muito concreta. Em vez de conformar a vida deles às leis ou às convenções, os cìnicos, atravéis a existência deles, desejavam permanecer o mais perto possìvel da natureza e de seus princìpios. A atração do ganho, o desejo do prazer ou a procura do prestìgio social devem dessa maneira ceder o passo a busca de uma vida tão desinteressada quanto possìvel.
Se a conduta dos cìnicos foi voluntariamente provocante e o modo de vida deles diferente com relação ao modo de vida de seus compatriotas, foi precisamente para denunciar a vacuidade das normas sociais. O anticonformismo e a superstição, a transgressão, o escàrnio, a ironia, a demonstração pelos fatos em vez dos discursos, assim que a pràtica das màximas deles na vida cotidiana, constituem os seus melhores argumentos.
Ironia e anticonformismo
È bem mais por seus numerosos fatos salientes do que por uma doutrina precisa que Diogène tornou-se o mais célebre dos filòsofos cìnicos. Assim é contado que ele vivia em um tonel ( mais precisamente em um vaso largo, pithos), que ele andava com os pés descalços, mendigava sua comida e se masturbava na praça pùblica.Sua vontade de independência e sua franqueza não recuavam diante nada nem ninguém. Ele respondia dessa maneira a Alexandre o Grande que lhe perguntava se ele desejava alguma coisa mas que ao mesmo tempo lhe fazia sombra :
" Saia da frente do meu sol ".....
O aspecto anedòtico não deve esconder a dimensão filosòfica relativa a atitude de Diogène e que a justifica. Atravéis seus atos, Diogène educava seus compatriotas: ele esclarece as falsas evidências, a hipocrisia, a mediocridade conformista. Longe de ser exclusivamente negativa, sua atitude crìtica faz dele um precursor, capaz por exemplo de se afirmar "cidadão do mundo" em uma época onde a grandeza da cité é exaltada por todos.
A sabedoria na vida cotidiana
Ademais, contrariamente a seu contemporâneo Platão, que situa a verdadeira realidade no mundo inteligìvel das idéias, Diogène reduz o real unicamente aos eventos e aos indivìduos concretos. È então se ocupando do que ele tem "sob os pés" que o sàbio deve se apoiar para alcançar a sabedoria na vida cotidiana evitando as ilusões que produzem inevitavelmente os discursos.
Sem discìpulos nem escola, Diogène conhecerà uma certa posteridade atravéis a retomada pelos estòicos da tendência ascética que domina a vida cìnica. Nos dias atuais, "cìnico" é uma palavra pejorativa designando uma atitude franca e impudente. Evolução paradoxal na medida em que as qualidades colocadas em evidência por Diogène - a independência do espìrito e da palavra, o cosmopolitismo, etc. - conduzem aos valores essenciais das sociedades ocidentais.
- S.-J.A.
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