sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Le Siècle des Lumières....Iluminismo

Em 1784, um jornal periòdico interrogou :
" O que significa o "Iluminismo ?
" Duas respostas ficaram na història. Mendelssohn prefere formular uma questão mais concreta : " O que significa esclarecer, iluminar ?", significa divulgar a sabedoria e o ensino nos limites do "contexto social". A resposta de Kant é bem mais radical: O Iluminismo se define como uma utilização livre da razão e por uma constituição de uma opinião pùblica.O Iluminismo caracteriza a conjugação de uma época e de um espìrito : a época da enciclopédia e das reformas polìticas na Europa, e o espirìto crìtico que em todas as épocas recusa a crença para julgar por ele-mesmo.Uma exposição sobre o Iluminismo na Biblioteca Nacional da França deu um brilho novo a esses debates que continuam brutalmente nossos, entre a fé e a razão, o fanatismo e a tolerância, o partidarismo e o senso do universal. O retorno das comunidades religiosas, étnicas, nacionais,sexuais nos fazem pensar novamente sobre a questão da liberdade individual e sobre a coerência dos grupos sociais baseados na noção de "escolha" e de "contrato". Todos sentimos vontade de gritar : "Voltaire, Socorro !"Mas não é para opor um dogma a um outro, o Iluminismo não se caracteriza em um sistema.O Iluminismo é uma arte de pensar e uma arte de viver.- Magazine Littéraire - France -

Um Movimento de emancipação
Tzvetan Todorov
Entrevista de Arlette Armel e Michel Delon
O que significa O Iluminismo ?
Quais foram os pricìpios inventados e defendidos ?
Quais são as crìticas atuais contra ele?
Tzvetan Todorov ficou conhecido atravéis seus trabalhos sobre a Poética e a Linguìstica desde 1968.Diretor de pesquisa no CNRS, ele prolongou suas investigações as questões de moral e de polìtica ( "A Conquista da América", Nois e os outros"; ed.Seuil, "As Morais da Història", ed.Hachette Littératures). Ele deu monografias de pensadores como Rousseau ou Benjamin Constant e ensaios sobre a pintura ( Èloge de l'individu";ed. Adam Biro).


Tzetan Todorov, comissàrio da Exposição Iluminismo, Responde.

Le Magazine Litéraire. No perìodo històrico, como o senhor caracteriza o Iluminismo ?

Tzetan Todorov. O ponto central do pensamento do Iluminismo, é a crìtica das tutelas exteriores e a afirmação da autonomia.Um movimento de emancipação, que implica primeiramente que cabe ao ser humano de dirigir seu destino, polìtico e individual.Não é mais a tradição, são os homens que devem fazer a lei e assumì-la: o povo é soberano.Este é o sentimento da "vontade geral", essa noção que Rousseau introduz no "Contrato Social". A vontade do povo é inalienàvel, ela sò pode ser confiada provisoriamente e o monarca ele-mesmo é responsàvel perante o povo.Esse rejeito de tutela provoca ao mesmo tempo o desencanto do mundo.Todo o universo obedece as leis da natureza, o sobrenatural sò tem lugar na fé que torna-se uma coisa particular: Galilée e Newton estabeleceram a homogeneidade do mundo fìsico.Desde o instante que vivemos em um mundo inteiramente natural, que não é mais submisso as forças màgicas, as ciências podem nascer: ciências da natureza e também, antropologia, psicologia, història.Tudo torna-se objeto de conhecimento, não existe mais tabou proibindo de conhecer as coisas.Os homens abrem-se ao mesmo tempo à diversidade do universo: abertura geogràfica - uma curiosodade crescente pelos costumes dos outros - e abertura històrica.Eles começam a descrever os perìodos anteriores não como um repertòrio de exemplos como fazia Montaigne, mas pesquisando a pròpria coerência deles.O Iluminismo, é ao mesmo tempo universalismo e descoberta das diferenças infinitas.Todos os princìpios essenciais de nossa modernidade foram inventados e introduzidos na sociedade na época do Iluminismo.

M.L. Não é uma visão idìlica ? desde sua origem o Iluminismo confronta-se à crìticas muito fortes !

T.T. Algumas dessas crìticas são legìtimas, outras são o fruto de mal-entendidos.Uma das primeiras crìticas feitas ao projeto do Iluminismo é relativa ao perigo da vontade ilimitada.Ao quê é submisso o ser humano se ele não obedece
mais as leis vindas do além ? Sem a barreira das proibições alguns dirão no XX século, o homem acaba fabricando o goulag e exterminando as raças inferiores.No pensamento do Iluminismo, a vontade humana confronta-se a dois freios. Primeiro, o humanismo: a ação humana tem como objetivo o bem-estar da humanidade.A conquista da felicidade toma o lugar da conquista da salvação.Si uma ação decidida por um invìduo autonomo, não serve aos interesses da humanidade, si ela não dà ao povo uma felicidade maior, essa ação deve ser abandonada.O segundo freio, é a universalidade.Todos os grandes pensadores do Iluminismo foram sensìveis a essa exigência.Segundo Rousseau, para conhecer o que é justo, é preciso observar o que vai no sentido do interesse geral.Montesquieu afirma que é preciso abandonar toda idéia contrària aos interesses da humanidade.Kant em seguida deu a essa noção de universalidade sua formulação filosòfica.A autonomia é reivindicada, autonomia do indivìduo, do conhecimento, do povo, mas também é uma autonomia refreada, cercada pelas idéias de universalidade e de humanidade.

M.L.Os princìpios do Iluminismo definiram uma perspectiva de progresso.Atualmente, todo discurso que se referencia a esses princìpios confronta-se aos horrores da història e a impossibilidade de acreditar em um futuro melhor.

T.T. Contrariamente a uma idéia muito divulgada, todos os homens do Iluminismo não reivindicou a idéia de um progresso lineàrio.Todos, no entanto, reivindicaram o aperfeiçoamento da espécie humana, e esse conflito entre uma teoria do progresso e uma teoria do aperfeiçoamento produz uma tensão interessante.Turgot é um dos grandes defensores do progresso.Ele recupera o esquema de Bossuet, o de alcançar as grandes feições da providência, substituindo a este um conteùdo profano.Voltaire, é mais hesitante: ele afirma que a humanidade avança lentamente em direção ao progresso,sublinhando a palavra lentamente.Lessing pleita por uma concepção da història que é a da educação do genero humano:é unicamente por ignorância que cometemos o mal, o bem tem que ser ensinado.Esse grupo do Iluminismo acredita no progresso, mas ele tem que enfrentar inùmeras crìticas, como as de Hume ou Mendelssohn. A idéia do progresso é um dos temas essenciais do conflito entre Rousseau e os enciclopedistas.Rousseau acredita que cada progresso se paga muito caro com uma regressão.No "Discurso sobre a origem da desigualdade", ele chama a atenção sobre o fato que quanto mais facilitamos a vida do indivìduo mais sobrecarregamos a espécie.Os progressos da ciência tornam-se dissabores para os homens.O que é particularmente perigoso é de pensar que podemos conceber o paraìso na terra.Rousseau não pretende instaurar uma humanidade perfeita, nem curà-la de suas moléstias.Para ele, o bem e o mal esvaem da mesma fonte, que é nossa liberdade.Curar a humanidade do que ela é produziria uma outra espécie.Ele pensa a vida humana como um "jardim imperfeito", para retomar a metàfora de Montaigne.Não é um bom programa polìtico, ou uma redistribuição dos meios de produção que podem tudo resolver.As revoluções sò compreenderam uma parte do Iluminismo.No entanto, Rousseau insiste na idéia de aperfeiçoamento, ( pefectibilité, palavra que parece ter sido inventada por Rousseau),a todo instante, o ser humano é capaz de conceber um estado melhor que o estado em que ele se encontra, quando um animal não tem consciência e não pode imaginar outra coisa além do que ele vive.O ser humano tem a capacidade singular de ter um ideal, de querer mudar.Ele vivia no pecado, diria um crente, e ele decidiu de não mais pecar.Mas isso não dà um sentido a història ! Quando criticamos a fé ingênua no progresso, nois continuamos fieis ao Iluminismo.Ao Iluminismo de Mondelsshon, Rousseau e Kant, em vez de Turgot, Lessing ou Condorcet.

M.L. Apois a Revolução ter "transtornado" toda a Europa e ter-se transformado"em exercito de Napoleon para conquistar", nois assistimos a um aumento dos nacionalismos, um retorno ao solo, ao sangue, ao passado, a profundeza dos mitos.Atualmente esses demônios nacionalistas que pensavamos enterrados reaparecem novamente.

T.T. A imagem que vem ao meu espìrito, é a imagem da "Hydre" que tendo suas cabeças cortadas, essas renascem constantemente.Tirando a legitimidade da realeza e da igreja, os homens do Iluminismo sonhavam de ser o "Hercules" que corta essas cabeças sem vê-las renascerem rapidamente.O Aperfeiçoamento ,( La perfectibilité), sozinho não provoca um progresso claro e isso nos obriga a recomeçar constantemente.As reações contra a autonomia, o humanismo, o universalismo voltam regularmente : o ser humano não é tão simples como acreditava a antropologia do Iluminismo.Ele aspira à liberdade e à emancipação, mas ele também conhece o medo da liberdade, o desejo de ser protegido, de viver na rotina, de se abandonar ao egoìsmo.Eu tenho que precisar, que desde o fim do XVIII século, o Iluminismo foi atacado por duas posições opostas, que o acusavam simultâneamente de fazer muito e muito pouco.Montesquieu dizia sentir-se como alguém que morava no primeiro andar: incomodado ao mesmo tempo pela fumaça de baixo e pelo barulho de cima...Na carta de "Beaumont", Rousseau explicava que apenas acabado o seu debate com os devotos, ele devia combater os "fiòsofos".

M.L. Existe uma outra maneira de se opor ao Iluminismo : O conhecimento é livre, mais ele não està mais ao serviço do bem-estar da humanidade.

T.T. È preciso distinguir os "rejeitos" das deturpações que forçam o Programa do Iluminismo ao extrêmo, até transforma-lo no seu contràrio.Quando Sade explica, no livro "La Philosophie dans le boudoir" que não devemos de nenhuma maneira obedecer as tutelas vindas do além, nem se submeter a moral tradicional, ele està no espìrito do Iluminismo.Mas quando ele reivindica o direito de provocar o sofrimento no outro porque esse sofrimento causa prazer, ele nega a procura do bem comum, esse freio oposto à vontade ilimitada, e bem mais grave, ele imagina o homem autosuficiente.Da mesma maneira, os totalitarismos são filhos ilegìtimos do Iluminismo.O comunismo por exempl por exemplo proclama uma transparência total do ser humano no plano do conhecimento: uma capacidade de saber tudo e a possibilidade de criar um homem novo atraveis a reeducação, e a transformação social das condições de vida.Ora, o projeto do Iluminismo comporta um princìpio de incerteza. Montesquieu afirma a existência de uma parte de inconcebìvel no homem, ligada a sua pròpria liberdade, pela qual ele escapa ao determinismo causal.O Iluminismo introduziu a idéia da pluralidade humana: os Negros da Africa são seres humanos iguais aos Brancos da Europa.Esse reconhecimento da diversidade implica no entanto uma visão de união da humanidade. O relativismo radical pode, no entanto, chegar a idéia que as raças são tão diferentes que elas não podem nem comunicar, nem se misturar.Atualmente, nois estamos bem mais ameaçados pelas deturpações do Iluminismo que pelos "rejeitos".O Iluminismo quis substituir um fim humano ao fim divino de nossas ações, justificação de nossa existência.Ora, cada vez mais, nois estamos induzidos por um movimento que conduz ao abandono dessa finalidade humana : agora sò existem meios.Nois esquecemos que eles existem para sevir a um fim, e nois perseguimos sem pausa a idéia de desenvolvimento, de produção, sem mais nos interrogarmos sobre a finalidade desse ativismo "desenfreado".Ora, o desempenho econômico não é um fim nele-mesmo, ele sò é positivo na medida em que ele serve ao nosso maior bem-estar.

M.L. Entre os filhos legìtimos ou não do Iluminismo, encontramos o liberalismo, noção sistematicamente associada, no XIX século, ao espìrito do Iluminismo.O termo mudou de sentido e se confunde atualmente com essa economia que funciona sozinha.

T.T.Na qualidade de historiador das idéias, sinto-me constrangido pelo uso da palavra "liberalismo".Prosseguindo uma sorte de desconsideração do vocabulàrio marxista, essa palavra tornou-se substituto para a palavra "capitalismo". Ora, o liberalismo da época era antes de tudo polìtico.Ele tinha como objetivo de botar um freio na ação do Estado, para que esse mesmo não possa nos impor a sua maneira de pensar e de viver.Atualmente, nois queremos poder escolher nossa religião,a escola de nossos filhos, a cidade onde moramos.Na Bulgària da minha infância, democracia popular, era muito difìcil de morar em Sofia se tinhamos nascido em outro lugar, de escolher nossa profissão ou o lugar onde trabalhariamos.Era o contràrio do liberalismo.Eu tenho muita dificuldade para imaginar nossos contemporâneos hostis a esse liberalismo polìtico, que era o de Montesquieu, de Benjamim Constant e de Tocqueville, ou de Raymond Aron, esse herdeiro do Iluminismo.

M.L. Um dos fundamentos do Iluminismo, era a constituição de uma opinião pùblica.Atualmente, mesmo nas democracias liberais, a manipulação da opinião tornou-se uma técnica que funciona sozinha, e onde a finalidade humana corre o risco de ser esquecida.

T.T. A mìdia està sempre ao serviço de um fim que não tem nada de nobre:aumentar e consolidar o seu poder.È uma deturpação do Iluminismo que nos priva de nossa autonomia.Nois acreditamos ser livres, mais nois somos submissos a propaganda que nos é destilada pela televisão e pelos jornais.Eles são pluralistas, mas no interior de um contexto predeterminado. O Iluminismo constitue um apelo a vigilância.No "Discurso sobre a origem da desigualdade" Rousseau lembra que diante de qualquer e toda pressão, o ser humano, e somente ele, tem a capacidade de aceitar ou de resistir.Não devemos jamais esquecer: Nois podemos, tambem, resistir.

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