Radicalmente pessimista, se empenhando a nos desiludir e a nos despir de nossas ilusões, o "sàbio de Francfort" fez um grande favor a filosofia: ele a fez descer na terra.
Fascinação e Repugnância
Esse homem tem tudo para desagradar.
Misantropo, amargo, pessimista, misògino, reacionàrio, avarento, desprezìvel, còlerico, pretencioso, egoista, megalomanìaco, paranòico....jà é muita coisa. Portanto, ainda não é suficiente. Esse solteirão determinado, sarcàstico e còlerico, também é anti-semita e demasiadamente niilista. Bref, nòs temos todas as razões para odia-lo. Não é o caso. Ao contràrio. O horrìvel homem suscita na realidade uma "furiosa ternura", como nòs dizemos com Molière Nòs gostarìamos de detesta-lo. No fundo, ele merece. Mas em vão: esse rabugento suscita a simpatia, verdadeiramente a admiração e quase, de uma certa maneira, a amizade. Porquê então ?
Primeiro porque ele se empenha, com a dureza necessària, a nos despojar de nossas ilusões. Ele repete o que nòs não queremos ouvir : o amor é uma impostura, a felicidade uma quimera, a vida um erro, um transtorno inùtil na pureza do vazio. Nòs sonhamos de grandes sentimentos, de serenidade possìvel, de prazer real. Nòs cantamos a grandeza da vida, sua plenitude, sua profusão, sua potência. Nòs nos repetimos que o mundo tem um sentido. Schopenhauer nos sopra na orelha que todas essas coisas são asneiras ineptas.
Seu primeiro mérito: nos desiludir. " Pela pròpria natureza, a vida não admite de maneira alguma uma felicidade verdadeira, ela é essencialmente um sofrimento com diversos aspectos, um estado de infelicidade radical."
È melhor compreede-lo imediatamente, e não mais se perder : " Hoje é negativo, e cada dia serà mais negativo - até que o pior aconteça." Vamos parar de nos contar històrias, vamos compreeder a situação real onde nos encontramos: " Uma vida feliz é uma contradição nos seus termos. " A afirmação dessa infelicidade radical tem tudo de um tratamento de choque. Eis um terapeuta que não procura dourar a pìlula. Ele nos tira completamente toda esperança, toda consolação, toda possibilidade de esquiva.
Negridão pedagògica
Nòs podemos julgar sua negridão excessiva. Ou quase ridìcula. Ou mesmo francamente risìvel. Ela continua assim mesmo, antes de qualquer coisa, pedagògica. Nietzsche não se enganou: Schopenhauer é essencialmente um educador. Ele começa para quebrar essa massa de falsas esperanças e horizontes ilusòrios que nos separa da rudeza do real. Destruindo nossas ilusões, ele nos dà a possibilidade de existir, de olhar de outra maneira nossa morte pròxima e nossas agitações efêmeras. Nesse mundo doravante absurdo, infinitamente cruel, desprovido da mìnima possibilidade de melhoramento, é necessàrio que nòs possamos continuar serenos, e verdadeiramente agenciar, contra todos os obstàculos e toda verosimilhança, uma certa alegria.
Pois esse desespero talvez não seja tão negro, mas sereno, de uma certa maneira. Se nòs aceitamos de admitir um uso tônico do pessimismo, Schopenhauer é um produto que dopa. Ele sugere na realidade de resistir ao pior sem fazer um drama. Nesse ponto de vista, esse burguês da Europa realiza uma união com a inspiração dos filòsofos da Antiguidade. Muito além da idade clàssica e do Iluminismo, apòs o tempo das ciências e da razão triunfante, ele recomeça a pràtica da vida filosòfica, a velha sabedoria solitària e sem deus, heròica, erguida em uma paisagem devastada, mas sem làgrimas. Um educador, sem dùvida alguma.
Que também ensina que o progresso não existe. A Història é apenas um miragem. Mais exatamente, como dizia Shakespeare, um conto repleto de barulho e de fùria contado por um idiota. " A raça humana està definitivamente e pela pròpria natureza destinada ao sofrimento e a ruìna." Vamos então parar de sonhar com o paraìso, que ele seja técnico, comunista ou globalizado. Que nòs tenhamos consciência, enfim, da maneira pela qual os eventos deformam a superfìcie do mundo sem que nada, no fundo, mude realmente. Certo, essa idéia não é progressista....
Não podemos esperar nada da polìtica. " O Estado é apenas o açaimo que tem por objetivo de tornar inofensiva essa besta carniceira, o homem, e de fazer de uma certa maneira que ele tenha o aspecto de um herbìvoro."
Eis novamente um argumento pessimista. Todavia, se nòs tivessemos verdadeiramente escutado Schopenhauer, em vez de Hegel e Marx, ou Staline, ou Hitler, que todos acreditavam nas grandes mutações da Història e na possibilidade de construir um homem novo, quantos milhões de mortos nòs terìamos a menos ?
Um Heròi especial
Esse pensamento liberado do progresso, da utopia, das revoluções também é radicalmente sem Deus. Ele torna inùtil todas as " asneiras" relativas ao "senso" que as "falsas" doutrinas nos ensinaram. Para começar a ser humano, dito em substância esse perturbador, é preciso ter consciência que o mundo é radicalmente desprovido de senso. O que nos resta como salvação possìvel ? Fugir dessa realidade maldita, ou tranforma-la atravéis a criação artistica. A grande transformação não tem por objetivo a depressão, mas o mìstico e a vida artista. Não é um acaso se nosso filòsofo se interessou mais do que qualquer outra pessoa do seu tempo na India. E também não é sem razão que ele tocava, cada manhã, a flauta e que ele compôs, as suas mais belas anàlises, relativas a mùsica.
Nòs deverìamos então concluir que esse personagem repulsivo é de uma certa maneira um hèròi. Heròi da filosofia, de qual ele consagrou sua vida inteira, e todas as suas forças, até mesmo sua fortuna. Se ele parece avarento, é apenas para assegurar sua independência, para conseguir viver apenas escrevendo livros que não lhe dão nenhum lucro. Se ele se afastou dos amores, foi também para sò poder pensar. Heròi da ternura igualmente. Se ele é tão malvado com a humanidade, é por causa de uma demasiada sensibilidade ferida, imensa compaixão sem eco, imenso altruìsmo sem esperança.
"Misogynie" e anti-semitismo
Ficam duas coisas que nòs temos dificuldade para suportar. Sua "misogynie" demasiada, seu anti-semitismo repulsivo. Muito difìcil de atribui-los inteiramente à sua época. Sem dùvida o que nos choca e nos dà repugnância era percebido de outra maneira no contexto de origem. Existem limites a esse argumento: Serà que na realidade não existia na Alemanha de seu tempo, alguém que fosse feminista e amigo dos judeus ?
Serà em vão que nòs tentaremos desculpa-lo. Nòs poderiamos dizer que com relação às mulheres, ele não perdoa as pròprias insuficiências dele mesmo e sua incapacidade de poder ama-las. Nòs poderìamos ainda dizer que ele condena os judeus, de terem inventado a Història, o otimismo e esse Deus criador que, contemplando sua obra, viu que "ela era boa". Seriam explicações medìocres, esquivas negativas. Nesses dois pontos que são essenciais, ele não é magnìfico, ele é apenas odioso. A não ser que seja preciso reler sua obra inteira no outro sentido, começando por sua "misogynie" e seu òdio pelos judeus para discernir os sinais importantes de seu mal estar relativo à vida e à lei, as razões de sua impossibilidade de ver o mundo de uma maneira positiva. Seria um outra forma de se interessar aos motivos que ele tem para desagradar.
- Roger-Pol Droit, pesquisador no CNRS e cronista do jornal Le Monde, autor entre outros, na editora Odile Jacob, de 101 experiências de filosofia cotidiana (2001), de A Companhia dos filòsofos ( 2002 ) e de Sua vida serà perfeita ( 2005 )
Fascinação e Repugnância
Esse homem tem tudo para desagradar.
Misantropo, amargo, pessimista, misògino, reacionàrio, avarento, desprezìvel, còlerico, pretencioso, egoista, megalomanìaco, paranòico....jà é muita coisa. Portanto, ainda não é suficiente. Esse solteirão determinado, sarcàstico e còlerico, também é anti-semita e demasiadamente niilista. Bref, nòs temos todas as razões para odia-lo. Não é o caso. Ao contràrio. O horrìvel homem suscita na realidade uma "furiosa ternura", como nòs dizemos com Molière Nòs gostarìamos de detesta-lo. No fundo, ele merece. Mas em vão: esse rabugento suscita a simpatia, verdadeiramente a admiração e quase, de uma certa maneira, a amizade. Porquê então ?
Primeiro porque ele se empenha, com a dureza necessària, a nos despojar de nossas ilusões. Ele repete o que nòs não queremos ouvir : o amor é uma impostura, a felicidade uma quimera, a vida um erro, um transtorno inùtil na pureza do vazio. Nòs sonhamos de grandes sentimentos, de serenidade possìvel, de prazer real. Nòs cantamos a grandeza da vida, sua plenitude, sua profusão, sua potência. Nòs nos repetimos que o mundo tem um sentido. Schopenhauer nos sopra na orelha que todas essas coisas são asneiras ineptas.
Seu primeiro mérito: nos desiludir. " Pela pròpria natureza, a vida não admite de maneira alguma uma felicidade verdadeira, ela é essencialmente um sofrimento com diversos aspectos, um estado de infelicidade radical."
È melhor compreede-lo imediatamente, e não mais se perder : " Hoje é negativo, e cada dia serà mais negativo - até que o pior aconteça." Vamos parar de nos contar històrias, vamos compreeder a situação real onde nos encontramos: " Uma vida feliz é uma contradição nos seus termos. " A afirmação dessa infelicidade radical tem tudo de um tratamento de choque. Eis um terapeuta que não procura dourar a pìlula. Ele nos tira completamente toda esperança, toda consolação, toda possibilidade de esquiva.
Negridão pedagògica
Nòs podemos julgar sua negridão excessiva. Ou quase ridìcula. Ou mesmo francamente risìvel. Ela continua assim mesmo, antes de qualquer coisa, pedagògica. Nietzsche não se enganou: Schopenhauer é essencialmente um educador. Ele começa para quebrar essa massa de falsas esperanças e horizontes ilusòrios que nos separa da rudeza do real. Destruindo nossas ilusões, ele nos dà a possibilidade de existir, de olhar de outra maneira nossa morte pròxima e nossas agitações efêmeras. Nesse mundo doravante absurdo, infinitamente cruel, desprovido da mìnima possibilidade de melhoramento, é necessàrio que nòs possamos continuar serenos, e verdadeiramente agenciar, contra todos os obstàculos e toda verosimilhança, uma certa alegria.
Pois esse desespero talvez não seja tão negro, mas sereno, de uma certa maneira. Se nòs aceitamos de admitir um uso tônico do pessimismo, Schopenhauer é um produto que dopa. Ele sugere na realidade de resistir ao pior sem fazer um drama. Nesse ponto de vista, esse burguês da Europa realiza uma união com a inspiração dos filòsofos da Antiguidade. Muito além da idade clàssica e do Iluminismo, apòs o tempo das ciências e da razão triunfante, ele recomeça a pràtica da vida filosòfica, a velha sabedoria solitària e sem deus, heròica, erguida em uma paisagem devastada, mas sem làgrimas. Um educador, sem dùvida alguma.
Que também ensina que o progresso não existe. A Història é apenas um miragem. Mais exatamente, como dizia Shakespeare, um conto repleto de barulho e de fùria contado por um idiota. " A raça humana està definitivamente e pela pròpria natureza destinada ao sofrimento e a ruìna." Vamos então parar de sonhar com o paraìso, que ele seja técnico, comunista ou globalizado. Que nòs tenhamos consciência, enfim, da maneira pela qual os eventos deformam a superfìcie do mundo sem que nada, no fundo, mude realmente. Certo, essa idéia não é progressista....
Não podemos esperar nada da polìtica. " O Estado é apenas o açaimo que tem por objetivo de tornar inofensiva essa besta carniceira, o homem, e de fazer de uma certa maneira que ele tenha o aspecto de um herbìvoro."
Eis novamente um argumento pessimista. Todavia, se nòs tivessemos verdadeiramente escutado Schopenhauer, em vez de Hegel e Marx, ou Staline, ou Hitler, que todos acreditavam nas grandes mutações da Història e na possibilidade de construir um homem novo, quantos milhões de mortos nòs terìamos a menos ?
Um Heròi especial
Esse pensamento liberado do progresso, da utopia, das revoluções também é radicalmente sem Deus. Ele torna inùtil todas as " asneiras" relativas ao "senso" que as "falsas" doutrinas nos ensinaram. Para começar a ser humano, dito em substância esse perturbador, é preciso ter consciência que o mundo é radicalmente desprovido de senso. O que nos resta como salvação possìvel ? Fugir dessa realidade maldita, ou tranforma-la atravéis a criação artistica. A grande transformação não tem por objetivo a depressão, mas o mìstico e a vida artista. Não é um acaso se nosso filòsofo se interessou mais do que qualquer outra pessoa do seu tempo na India. E também não é sem razão que ele tocava, cada manhã, a flauta e que ele compôs, as suas mais belas anàlises, relativas a mùsica.
Nòs deverìamos então concluir que esse personagem repulsivo é de uma certa maneira um hèròi. Heròi da filosofia, de qual ele consagrou sua vida inteira, e todas as suas forças, até mesmo sua fortuna. Se ele parece avarento, é apenas para assegurar sua independência, para conseguir viver apenas escrevendo livros que não lhe dão nenhum lucro. Se ele se afastou dos amores, foi também para sò poder pensar. Heròi da ternura igualmente. Se ele é tão malvado com a humanidade, é por causa de uma demasiada sensibilidade ferida, imensa compaixão sem eco, imenso altruìsmo sem esperança.
"Misogynie" e anti-semitismo
Ficam duas coisas que nòs temos dificuldade para suportar. Sua "misogynie" demasiada, seu anti-semitismo repulsivo. Muito difìcil de atribui-los inteiramente à sua época. Sem dùvida o que nos choca e nos dà repugnância era percebido de outra maneira no contexto de origem. Existem limites a esse argumento: Serà que na realidade não existia na Alemanha de seu tempo, alguém que fosse feminista e amigo dos judeus ?
Serà em vão que nòs tentaremos desculpa-lo. Nòs poderiamos dizer que com relação às mulheres, ele não perdoa as pròprias insuficiências dele mesmo e sua incapacidade de poder ama-las. Nòs poderìamos ainda dizer que ele condena os judeus, de terem inventado a Història, o otimismo e esse Deus criador que, contemplando sua obra, viu que "ela era boa". Seriam explicações medìocres, esquivas negativas. Nesses dois pontos que são essenciais, ele não é magnìfico, ele é apenas odioso. A não ser que seja preciso reler sua obra inteira no outro sentido, começando por sua "misogynie" e seu òdio pelos judeus para discernir os sinais importantes de seu mal estar relativo à vida e à lei, as razões de sua impossibilidade de ver o mundo de uma maneira positiva. Seria um outra forma de se interessar aos motivos que ele tem para desagradar.
- Roger-Pol Droit, pesquisador no CNRS e cronista do jornal Le Monde, autor entre outros, na editora Odile Jacob, de 101 experiências de filosofia cotidiana (2001), de A Companhia dos filòsofos ( 2002 ) e de Sua vida serà perfeita ( 2005 )
Um comentário:
Gostei muito do texto ... Tanto que tomei a liberdade de repassar para alguns amigos meus. Eu gosto muito da filosofia do Grande Schopenhauer. Ela vai ser sempre atual.
As vezes são os pensamentos mais pessimistas que nos trazem consolo diante da existência ...
Um amigo.
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