28d) Eis na realidade o verdadeiro princìpio, Athéniens. Qualquer pessoa que ocupe um cargo, - que ela o tenha escolhido ela mesma como o mais honorável, ou que ela tenha sido escolhida para ocupar esse cargo por um chefe, - tem por dever, segundo a minha opinião, de continuar firme nesse cargo, qualquer que seja o risco, sem levar em conta a morte , nem nenhum outro perigo, em vez de sacrificar a honra. [....]
(29) O que é com efeito, juízes, que temer a morte, senão atribuir-se um saber que nós não temos? Não seria imaginar que nós sabemos o que nós ignoramos? Pois, enfim, ninguém sabe o que é a morte, nem se ela não é por acaso para o homem o maior de todos os bens. E, portanto, nós a tememos, como se (29b) nós soubéssemos que ela é o maior de todos os males. Como não seria essa ignorância verdadeiramente repreensível, que consiste em acreditar que nós sabemos o que nós não sabemos? [...]
(29c) Dessa maneira, suponhamos que vocês me absolvam, apesar de Anytos [....]. Admitamos que, apesar disso, vocês me digam essa linguagem : "Sócrates, nós não queremos acreditar em Anytos; nós vamos te absolver, a uma condição todavia: que você não passará mais seu tempo examinando como você faz as pessoas, nem a filosofar. (29d) Se nós te vermos fazer isso, você morrerá." Essa condição, juízes, se para me absolver vocês quisessem me infligi-la, eu vos diria: "Athénien, eu vos agradeço e eu vos amo; mas eu obedecerei ao deus em vez de obedecer a vocês; e, enquanto eu tiver um sopro de vida, enquanto eu serei capaz, tenham a certeza que eu não cessarei de filosofar, de vos exortar, de fazer a lição a qualquer um de vocês que eu encontre : E eu o direi como costumo fazê-lo : " Como! caro amigo, você é Athénien, cidadão de uma cidade que é maior, mais célebre que nenhuma outra por sua ciência e seu poder, e você não tem vergonha de ter mais cuidado com a sua fortuna, para aumentá-la cada vez mais, assim ( 29d) que com a sua reputação e a sua honra; mas quanto a razão, quanto a verdade, quanto a tua alma, que é preciso melhorá-la sem cessar você não se preocupa, você nem pensa !
"E se algum de vocês contesta, se ele afirma sua preocupação, não pensem que eu vou deixá-lo e partir imediatamente; não, eu o interrogarei, eu o examinarei, eu discutirei profundamente. Então, se parece-me uma certeza que ele não possui a virtude, seja o que for que ele me diga, eu o reprovarei de conceder um preço tão baixo ao que tem um grande valor, tanto valor ao que não custa tanto. Jovem ou velho, seja quem for que eu tenha encontrado, estrangeiro ou compatriota, é dessa maneira que eu agirei com ele; e sobretudo com vocês, meus compatriotas, pois vocês estão ligados mais perto de mim pelo sangue.
Pois é isso que me ordena o deus, compreendam bem; e, de meu lado, eu penso que jamais nada de mais vantajoso encalhou na cidade do que meu zelo a executar essa ordem. Minha única ocupação, é com efeito de ir pelas ruas para vos persuadir, jovens e velhos, de não vos preocupar nem de vosso ( 30b) corpo nem de vossa fortuna com a mesma paixão com a qual vocês devem se preocupar de vossa alma, para torná-la tão boa quanto possível. [....] Nisto, eu direi, acreditem em Anytos ou não acreditem, Athéniens, absolvam-me ou não absolvam-me, mas tenham a certeza que eu não mudarei jamais de conduta, mesmo (30c) se eu devesse mil vezes me expor à morte. [....] (37e) talvez alguém me dirá : "Como, Sócrates? você não pode nos livrar de sua presença e viver tranqüilamente sem discorrer? "Eis justamente o que seria o mais difícil (38) de fazer compreender a algumas pessoas entre vocês. Se eu vos digo que seria desobedecer ao deus e que, por conseguinte, eu não posso me abster, vocês não me acreditarão, vocês pensarão que eu falo ironicamente. E se eu digo, por outro lado, que talvez seja o maior de todos os bens para um homem de dialogar todos os dias ou da virtude, ou de outros objetos dos quais vocês me escutam falar, quando eu examino os outros e a mim mesmo, e se eu acrescento que uma vida sem exame não merece ser vivida, vocês me acreditarão menos ainda. Portanto, juízes, é a verdade; simplesmente, não é fácil de vos fazer admiti-la.
- Platon, Apologie de Socrate, 28D - 38B, Trad. M. Croiset- Les Belles-Lettres, 1925 -
(29) O que é com efeito, juízes, que temer a morte, senão atribuir-se um saber que nós não temos? Não seria imaginar que nós sabemos o que nós ignoramos? Pois, enfim, ninguém sabe o que é a morte, nem se ela não é por acaso para o homem o maior de todos os bens. E, portanto, nós a tememos, como se (29b) nós soubéssemos que ela é o maior de todos os males. Como não seria essa ignorância verdadeiramente repreensível, que consiste em acreditar que nós sabemos o que nós não sabemos? [...]
(29c) Dessa maneira, suponhamos que vocês me absolvam, apesar de Anytos [....]. Admitamos que, apesar disso, vocês me digam essa linguagem : "Sócrates, nós não queremos acreditar em Anytos; nós vamos te absolver, a uma condição todavia: que você não passará mais seu tempo examinando como você faz as pessoas, nem a filosofar. (29d) Se nós te vermos fazer isso, você morrerá." Essa condição, juízes, se para me absolver vocês quisessem me infligi-la, eu vos diria: "Athénien, eu vos agradeço e eu vos amo; mas eu obedecerei ao deus em vez de obedecer a vocês; e, enquanto eu tiver um sopro de vida, enquanto eu serei capaz, tenham a certeza que eu não cessarei de filosofar, de vos exortar, de fazer a lição a qualquer um de vocês que eu encontre : E eu o direi como costumo fazê-lo : " Como! caro amigo, você é Athénien, cidadão de uma cidade que é maior, mais célebre que nenhuma outra por sua ciência e seu poder, e você não tem vergonha de ter mais cuidado com a sua fortuna, para aumentá-la cada vez mais, assim ( 29d) que com a sua reputação e a sua honra; mas quanto a razão, quanto a verdade, quanto a tua alma, que é preciso melhorá-la sem cessar você não se preocupa, você nem pensa !
"E se algum de vocês contesta, se ele afirma sua preocupação, não pensem que eu vou deixá-lo e partir imediatamente; não, eu o interrogarei, eu o examinarei, eu discutirei profundamente. Então, se parece-me uma certeza que ele não possui a virtude, seja o que for que ele me diga, eu o reprovarei de conceder um preço tão baixo ao que tem um grande valor, tanto valor ao que não custa tanto. Jovem ou velho, seja quem for que eu tenha encontrado, estrangeiro ou compatriota, é dessa maneira que eu agirei com ele; e sobretudo com vocês, meus compatriotas, pois vocês estão ligados mais perto de mim pelo sangue.
Pois é isso que me ordena o deus, compreendam bem; e, de meu lado, eu penso que jamais nada de mais vantajoso encalhou na cidade do que meu zelo a executar essa ordem. Minha única ocupação, é com efeito de ir pelas ruas para vos persuadir, jovens e velhos, de não vos preocupar nem de vosso ( 30b) corpo nem de vossa fortuna com a mesma paixão com a qual vocês devem se preocupar de vossa alma, para torná-la tão boa quanto possível. [....] Nisto, eu direi, acreditem em Anytos ou não acreditem, Athéniens, absolvam-me ou não absolvam-me, mas tenham a certeza que eu não mudarei jamais de conduta, mesmo (30c) se eu devesse mil vezes me expor à morte. [....] (37e) talvez alguém me dirá : "Como, Sócrates? você não pode nos livrar de sua presença e viver tranqüilamente sem discorrer? "Eis justamente o que seria o mais difícil (38) de fazer compreender a algumas pessoas entre vocês. Se eu vos digo que seria desobedecer ao deus e que, por conseguinte, eu não posso me abster, vocês não me acreditarão, vocês pensarão que eu falo ironicamente. E se eu digo, por outro lado, que talvez seja o maior de todos os bens para um homem de dialogar todos os dias ou da virtude, ou de outros objetos dos quais vocês me escutam falar, quando eu examino os outros e a mim mesmo, e se eu acrescento que uma vida sem exame não merece ser vivida, vocês me acreditarão menos ainda. Portanto, juízes, é a verdade; simplesmente, não é fácil de vos fazer admiti-la.
- Platon, Apologie de Socrate, 28D - 38B, Trad. M. Croiset- Les Belles-Lettres, 1925 -
Sócrates, herói da filosofia
Xénophon, discípulo de Sócrates, diz em seus Memoráveis, as condições históricas do ato de acusação dirigido contra seu mestre, em 399 an. J.-C., por três de seus compatriotas : "Sócrates é culpado do crime de não reconhecer como deuses os deuses da cidade e de introduzir novos deuses : e ademais ele é culpado de corromper a juventude. Castigo pedido : a morte. "No mesmo ano, no fim do processo que foi feito, Sócrates, tendo fracassado na tentativa para se inocentar, foi condenado a beber a ciguë.
Antes a morte que a injustiça
Sua defesa, relatada por um outro discípulo Platão em sua célebre Apologia de Sócrates, ia determinar para os séculos futuros a figura ideal do filósofo. Com efeito, apesar do fracasso aparente de seu mestre, é a este último que Platão concede o crédito da verdadeira vitória diante seus adversários: a de ter, através de seu heroísmo de mártir da verdade, reanimado para a posteridade o desejo de filosofar. Em uma outra perspectiva, a "mise en scène platonicienne" da acusação e da condenação a morte de Sócrates exprimem o conflito, até mesmo a incompatibilidade, entre o exercício crítico do pensamento filosófico e a esfera do poder político ou da opinião pública. Através o processo e a apologia de Sócrates, encontra-se assim colocado o problema do filósofo na cidade e do engajamento intelectual.
A atitude de Sócrates não sofre nenhum compromisso. O filósofo inscreve sua atividade em um registro que não depende das autoridades civis: não é com efeito um homem, mas um deus que, pela boca do oráculo de Delphes, o consagrou "o mais sábio dos homens" e o investiu de sua missão: desmascarar a ignorância. Essa missão, Sócrates lembra a seus compatriotas que ele sempre teve e terá sem cessar de cumpri-la junto a eles, mesmo correndo o perigo de perder a vida. Ele reafirma diante seus juízes que é unicamente a procura do verdadeiro e do justo, se bem que essa atitude o tenha levado ao tribunal, que continuará a ditar sua conduta.
Mártir da verdade
Não se trata aqui de uma vulgar teimosia. Platão mostra que Sócrates não é motivado nem pelas honras, nem pela riqueza, nem pelo gosto do poder, nem pelo temor da morte. Mesmo confrontado a esta última, ele vai demonstrar até o fim, pelas suas palavras e pelos seus gestos, que o cuidado concedido a alma, nosso bem mais precioso, deve passar acima de tudo. ´É agindo de acordo com o que ele considera ser justo que ele evitará o verdadeiro infortúnio, aquele que toca a alma corrompida; para Sócrates é melhor sofrer uma injustiça do que cometê-la. O temor da morte ele mesmo não saberia ser dissuasivo, pois ele depende da opinião, enquanto que a sabedoria consiste precisamente a vencer essa opinião. Pelo seu último gesto, Sócrates eleva a filosofia além das exigências de um simples saber teórico para tornar-se uma pesquisa que engaja a pessoa que a ela se consagra. Ele convida o filósofo a uma forma de sacerdócio do qual o eco ressoa em todas as correntes da filosofia antiga, inclusive na corrente dos estóicos, de quem ele representa de uma certa maneira o santo patrono.
E até hoje, Sócrates, porque ele preferiu morrer em vez de renunciar a atividade filosófica, sem a qual a vida "não é digna de ser vivida", encarna, por assim dizer, o herói da filosofia ocidental.
S.-J.A. –
O mais sábio dos homens ?
O templo de Delphes, cidade situada no noroeste de Athénas, era consagrado a Apollon, deus da luz, das artes e da adivinhação. As pessoas consultavam a Pythie, célebre oráculo pela boca do qual o deus se pronunciava sobre os negócios humanos. Ele afirmou um dia que "ninguém era mais sábio que Sócrates." Surpreso por essa distinção insigne, o filósofo se empenha a descobrir o sentido dessas palavras indo interrogar uns e outros, até que ele realize que sua "sabedoria" consistia a saber que ele não sabia nada.
O mais sábio dos homens ?
O templo de Delphes, cidade situada no noroeste de Athénas, era consagrado a Apollon, deus da luz, das artes e da adivinhação. As pessoas consultavam a Pythie, célebre oráculo pela boca do qual o deus se pronunciava sobre os negócios humanos. Ele afirmou um dia que "ninguém era mais sábio que Sócrates." Surpreso por essa distinção insigne, o filósofo se empenha a descobrir o sentido dessas palavras indo interrogar uns e outros, até que ele realize que sua "sabedoria" consistia a saber que ele não sabia nada.
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